Despertar escrita por Seto Scorpyos


Capítulo 1
Capítulo 1




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- Eu sinto muito, Kou... – a voz de Reita denunciou a pena que estava sentindo.


O loiro sacudiu a cabeça, incrédulo.


- Vocês estão tirando a única coisa boa que sobrou na minha vida?


O baixista suspirou e passou a mão pelo cabelo. Trocou um olhar angustiado com o baterista e voltou a encarar o amigo.


- Olha... eu sei que é difícil para você. E até admito que tenho uma parcela de culpa pelo que está passando, afinal fui eu que te incentivei a se declarar para o Aoi. Eu sinto muito... achei mesmo que o namoro com aquela garota não significava nada para ele.


Uruha desviou os olhos, tentando não chorar. Reita mordeu o lábio, perfeitamente ciente de que estava machucando o outro, mas o loiro precisava acordar.


- O problema é que você não está conseguindo administrar isso. Seu desempenho caiu e você vive chorando pelos cantos, seguindo o Aoi com os olhos por onde ele passa... O clima está horrível e ninguém está conseguindo fazer nada. – o baixista sentou-se ao lado do amigo no sofá, tentando achar palavras menos sofridas – Eu sei que está sofrendo... mas isso não pode continuar desse jeito. Está atrapalhando a banda...


Uruha se levantou de um salto, encarando o outro com lágrimas nos olhos.


- Então vocês simplesmente me colocam para fora? – o tom magoado em sua voz fez Reita quase desistir.


Kai resolveu ajudar o baixista a fazer o outro entender.


- Uruha, você não está num bom momento e não consegue reagir. Aoi e Akaya estão felizes juntos, você mesmo vê todo dia. – a menção dos namorados fez Uruha se contrair – Estamos tentando te ajudar, mas nada parece surtir efeito. Não dá para continuar assim. É melhor você parar e dar-se um tempo... talvez alguns meses...


Uruha limpou o rosto e deu um suspiro cansado.


- Então estou fora da banda? – perguntou, olhando nos olhos de Reita – É isso, Aki?


- Não tem outro jeito... não agora. – o amigo respondeu, baixo – Por favor, tenta entender...


- Ok.


O loiro se virou e juntou suas coisas. Mordeu o lábio com força para se concentrar e não cair nas lágrimas ali mesmo. Os outros dois se entreolharam, cansados.


- Eu te levo para casa. – Reita disse, aproximando-se.


- Esquece, Akira.


A resposta seca fez o baixista suspirar. Sabia que estava magoando o amigo com aquela decisão, mas não podiam perder o sonho da vida deles diante de um problema como aquele. Sentia muito pelo outro, mas não havia mesmo outro jeito.


- Eu sinto muito... – o baixista comentou, encolhendo os ombros.


Uruha não respondeu, pegou suas coisas e deixou a garagem da casa de Kai. Respirou fundo e se concentrou em chegar em casa. Só precisava chegar em casa.


 


Reita acompanhou o amigo sair com o olhar. Estava muito triste e decepcionado consigo mesmo. Uruha nunca teria dito nada se não tivesse incentivado.


- Ele vai ficar bem? – o baterista perguntou, penalizado.


- Não. - Kai ergueu a sobrancelha, surpreso com a resposta e Reita simplesmente encolheu os ombros – Vem, vamos falar com os outros.


 


***


 


- Ele está saindo. – o vocalista comentou, sério.


Os três à mesa acompanharam os passos do guitarrista loiro, do outro lado da rua. Aoi se encolheu ao ver a expressão desolada do jovem e acompanhou-o com o olhar até que virasse a esquina. Uruha não percebeu que estava sendo observado, perdido em pensamentos.


- Eu não queria que isso tivesse acontecido. – o moreno comentou, baixinho.


Akaya olhou o namorado e entrelaçou os dedos nos dele, sorrindo.


- A culpa não é sua, amor. Ninguém podia prever isso e infelizmente, não tem outro jeito. Não com ele agindo daquela maneira.


- Ele está sofrendo. – Ruki rebateu, incomodado com a falta de consideração que ela demonstrou.


- Eu sei e nunca vou negar isso. – ela respondeu – Mas ele estava impondo o sofrimento dele a todo mundo, fazendo a gente ver e se culpar por isso. Aoi não tem culpa de não poder retribuir ao sentimento dele. Nós não temos culpa de estarmos juntos e felizes. Eu também sinto muito por ele.


Ruki desviou os olhos, um pouco exasperado. Viu com alívio Reita e Kai atravessando a rua para juntarem-se a eles. Ambos se sentaram em silêncio e pediram uma bebida. Depois de alguns minutos, Aoi não conseguiu se segurar.


- E então?


- Ele está fora da banda. – Kai respondeu, olhando o copo distraidamente.


Ruki olhou desconsolado para Reita, que simplesmente se encolheu.


- Eu não queria isso. – Aoi repetiu, suspirando – Não queria que chegasse a esse ponto.


- A culpa não é sua. – o baterista respondeu, olhando o moreno – Às vezes isso acontece e ninguém pode prever. Lamentamos muito, mas não dava para ser de outro jeito.


O silêncio reinou à mesa. Cada um dos músicos mergulhado em pensamentos.


- Temos que trabalhar a lista de músicas para o próximo festival – Kai falou, chamando a atenção para o trabalho que tinham que fazer – Tem certeza de que pode fazer a parte do Uruha?


A moça sorriu, confiante.


- É claro!


- Então vamos ensaiar e nos preparar. Esse festival será importante para nós. – o líder se ergueu, terminando sua bebida.


Aoi pediu a conta e depois de acertarem, levantaram-se. O moreno estranhou não ver a figura conhecida do outro lado da garagem e tentou não pensar em como o loiro estava.


 


“Eu te amo... não sei como aconteceu, mas não dá para ignorar isso por mais tempo... eu... eu não... não consigo.”


“Uru... sinto muito... é impossível... Eu gosto de você como amigo... desculpe.”


 


- Aoi? Aoi? – a voz de Akaya o tirou das lembranças, fazendo-o olhar em volta.


- O quê?


- Estava sonhando acordado? – ela perguntou, sorrindo – Começamos e nem percebeu!


- Desculpem.


Kai lhe deu um olhar intenso. Recomeçaram o ensaio e Aoi se concentrou nas notas, tentando tirar Uruha da cabeça. Depois de duas músicas, o moreno franziu a testa, desgostoso. Akaya não era uma guitarrista à altura. Ela até tocava bem, mas não parecia encaixar em sua música.


No fim da quarta, Kai interrompeu o ensaio.


- Não está bom. Akaya, leu as partituras do Aoi?


- É claro! Eu estava tocando bem! – a moça rebateu, ajeitando a guitarra no ombro.


- As notas estão mais graves do que deveriam. – o líder comentou, sacudindo a cabeça – Vamos recomeçar.


Depois de quase uma hora, Ruki simplesmente parou de cantar e trocou um olhar significativo com o líder. Largou o microfone e sentou-se, colocando a cabeça entre as mãos.


- Vamos parar por hoje. Aoi, ensaie com Akaya as entradas dos solos. Não está bom. – Kai disse, deixando seu lugar atrás da bateria. – Amanhã no mesmo horário, gente.


Reita juntou suas coisas e ajudou Ruki. Os dois foram os primeiros a irem embora. Aoi e Akaya saíram logo em seguida. Kai rolou os olhos ao ouvi-la resmungar que não estava errando tanto assim. O guitarrista moreno simplesmente negou com a cabeça e a ajudou com a guitarra.


Depois que todos saíram, Kai deixou a garagem e subiu para seu quarto. Tentou esquecer a expressão quase desesperada de Uruha mas não conseguiu. Suspirou, desanimado.


- Espero que as coisas fiquem bem... – comentou, baixinho.


 


****


 


- MAIS QUE MERDA!! – Ruki gritou, entrando no camarim improvisado.


Reita e os outros entraram atrás dele. O baixista olhou o pequeno vocalista, querendo no fundo fazer exatamente como ele. A frustração podia ser vista nas expressões cansadas e carregadas.


- Ruki, acalme-se. – Kai disse, conciliador.


- Esse é o terceiro festival, Kai. O terceiro!! – o vocalista enfatizou, segurando a cabeça com as mãos.


- Não dá para fazer mais nada. – o baterista argumentou – Estou tão frustrado quando você, mas...


- Duvido muito. – o comentário, baixo e seco, surpreendeu o líder.


Aoi e Akaya sentaram-se juntos, um pouco mais afastados. A moça não conseguiu esconder o constrangimento.


- Desculpe, pessoal. Eu sei que me avisaram sobre o fanservice, mas eu não consegui aceitar aquilo.


- Fanservice? – Ruki perguntou, sarcástico – Não... eu só dancei com seu namorado. Fanservice eu fazia com o Uruha.


- Ruki... – Reita chamou a atenção do pequeno, tentando evitar mais estress na banda.


Akaya mordeu o lábio, contrariada. Olhou de lado para o namorado e viu que Aoi estava distante, com uma expressão indecifrável na face.


- Já deu para nós por hoje. Vamos voltar para casa. – Kai disse, recolhendo suas coisas.


- Mais prejuízo. – Ruki comentou, ácido – Esse sonho está virando um pesadelo.


Não esperou por ninguém. Simplesmente pegou sua mochila e saiu do camarim. O pequeno vocalista nem se preocupou em tirar a maquiagem ou trocar de roupa. Precisava sair dali ou mataria alguém com requintes de crueldade.


Os outros logo o seguiram. Assim que se aproximaram do micro ônibus que alugaram, Kai ouviu seu nome ser chamado. Virou-se e encarou um senhor que se aproximou sorrindo.


- Uke Yutaka ?


- Sim?


- Você é o líder da banda? – o homem se aproximou, curvando-se levemente.


- Sim, e o senhor é?


- Komatari Nadao. Eu sou um empresário e estou interessado no trabalho de vocês. Podemos conversar?


Kai deu uma olhada em volta e notou que os amigos estavam parados ao lado do micro ônibus, olhando para os dois.


- Tudo bem, se o senhor quiser posso apresentar os músicos da banda.


O homem olhou os jovens nas roupas chamativas e sorriu de leve.


- Não é necessário no momento. Depois, se nos entendermos, faço questão. Posso lhe pagar um chá?


Com um gesto, Kai avisou que se afastaria um pouco. Os dois homens se sentaram num quiosque de chá e o baterista olhou em volta, notando que o espaço já estava quase vazio.


- Eu tenho acompanhado o trabalho de vocês nos últimos meses. – diante do olhar surpreso do jovem, o homem se endireitou na cadeira e puxou um cartão do bolso e o estendeu ao baterista - Eu trabalho com algumas bandas e aqui está meu telefone. Você pode se informar sobre o meu trabalho, se desejar.


- Tudo bem. Só fiquei um pouco surpreso. – Kai respondeu, olhando o nome no cartão.


- Eu notei que vocês mudaram a formação. O antigo baterista saiu e você entrou. Confesso que ficou melhor... você é mais agressivo. - Kai ergueu o olhar, encarando o outro – Mas também tenho que confessar que não gostei muito da última alteração. A moça não substituiu o guitarrista loiro à altura.


O baterista olhou o homem à sua frente atentamente. Não tinha porque duvidar da palavra dele, mas não queria falar sobre os problemas da banda para um estranho.


- Nadao-san, pode ser um pouco mais claro do que isso? – o baterista pediu, recebendo o chá que o empresário havia pedido.


- Tenho um contato com a PS Company e eles estão procurando uma banda com as características de vocês. Uma banda nova com um som diferente. O visual de vocês também ajuda muito e se encaixa no que eles estão querendo investir.


Kai ficou em silêncio. A gravadora com a qual trabalhavam havia ajudado e muito, mas ainda faltava para o que eles queriam. A PSC nem chegou a ser cogitada, longe demais da realidade que enfrentavam.


- O senhor está dizendo que podemos ter um contrato com a PSC? – o baterista perguntou, tomando um pouco do chá para desfazer o nó na garganta.


- Sim. Estou dizendo isso, mas não acredito que o som de vocês esteja bom para o teste na gravadora. A segunda guitarra não está boa. O jovem desistiu?


- Ele precisava de um tempo. – Kai respondeu, econômico.


- Espero que ele já tenha tido esse tempo. Quem escreve as letras de vocês?


- O vocalista, Ruki. Quer dizer, Matsumoto Takanori.


- E a música?


- Nos fazemos juntos... – parou, incerto – Aoi e Uruha compuseram a maior parte das nossas canções. Reita e eu também damos um pouco de palpites, mas eles são... quero dizer... eram os principais.


- Isso é bom. Deixa vocês completamente independentes. O visual também é muito peculiar. O guitarrista moreno, o guitarrista loiro, o baixista com aquela faixa no rosto. – o homem sorriu – Vocês formam um quadro diferente e interessante.


Kai sorriu de leve, começando a achar que talvez tudo não estivesse tão ruim assim.


- O que acontece agora? – o baterista perguntou, curioso e um pouco empolgado.


- Agora vocês voltam para Tóquio e esperam um contato meu. – o homem pareceu hesitar alguns minutos – Eu posso ter esperança de contar com a formação antiga, com o guitarrista loiro?


Kai mordeu o lábio. Isso era um problema. Na verdade, um problema com “P” maiúsculo.


- Bem, vamos fazer assim – o homem voltou a falar, notando o desconforto do líder – Vocês voltam para Tóquio e conversam com o rapaz. Depois você pode me ligar, está bem?


- Assim fica melhor. Obrigado pela consideração.


- Quero conhecer os outros músicos, então.


Kai deu um sorriso, mostrando as covinhas. Nadao sorriu com a certeza de estar fazendo o certo. Os rapazes tinham futuro. O baterista o levou até o micro ônibus e o apresentou aos outros músicos e a Akaya.


- Sua voz é realmente poderosa, Matsumoto. – Nadao disse, francamente impressionado com o tom profundo da voz de Ruki.


- Obrigado. – o pequeno deu um sorriso constrangido e aproximou-se de Reita, inconscientemente.


O homem analisou os jovens à sua frente e sorriu.


- Nos vemos em Tóquio. – o empresário despediu-se com um cumprimento, depois de trocar telefones de contato com Kai e se afastou.


- PSC? – Aoi perguntou, ainda incrédulo.


- É. PSC. – Kai respondeu, tentando se segurar e não sair gritando de felicidade.


Seu sorriso morreu assim que olhou em volta e viu Akaya. O nível de empolgação caiu um pouco.


- O que foi, Kai? – Ruki perguntou, surpreso com a mudança de expressão no líder.


- Ele quer a formação antiga, com Uruha. – o baterista respondeu, de uma vez.


A moça arregalou os olhos, surpresa.


- Porquê? É algum amigo dele? – ela perguntou, incrédula.


- Ele nos acompanha há algum tempo e acha melhor a formação antiga. – Kai explicou, olhando para ela – Na verdade é a formação antiga que ele espera ver em Tóquio. – o silêncio se tornou pesado – Vamos embora.


 


A viagem de volta foi silenciosa. Ruki e Reita se sentaram no fundo, juntos. Aoi e Akaya mais próximos ao meio e Kai na frente, perto do motorista. O baterista não queria conversa com ninguém. A chance da vida deles e no caminho, uma coisa como aquela. Levantou-se e foi para o fundo do ônibus, sentando-se perto do casal. Reita e Ruki olharam para ele.


- Reita, tem conversado com Uruha? – o baterista perguntou, sério.


- Mais ou menos, ele sempre dá um jeito de fugir de mim. – o baixista respondeu, endireitando o corpo.


Ruki se ajeitou e afastou-se um pouco.


- Ele está tocando com alguém?


- Até onde sei, não. Ele está trabalhando na loja de verduras de dia e à noite, é garçom num bar. - ao ver a cara surpresa do líder, Reita deu um sorriso leve - Tudo para não pensar, eu acho.


- Entendo. Quais as chances de ele aceitar voltar? O que você acha?


Reita encolheu os ombros.


– Não sei, Kai. Não sei mesmo. Ele parece bem, mas não dá margem para eu me aproximar. Ele ficou um tempo magoado com aquilo que o Ruki fez, lembra? - o baterista assentiu e Ruki desviou os olhos, constrangido – Já tem quase cinco meses, mas eu sinceramente não sei se ele aceita voltar.


- Podemos tentar. – a voz de Aoi interrompeu a conversa, fazendo os três olharem para ele – Se é isso o que o empresário quer, temos que tentar.


Akaya se encolheu, decepcionada consigo mesmo. Kai inclinou-se para olhar para ela.


- Entende o que precisamos fazer não é, Akaya?


- É. Eu notei que não consigo acompanhar vocês, por mais que eu queira. – ela respondeu, baixo – Eu pensei que pudesse e fico realmente triste com isso.


- Se ele não aceitar voltar, o que vamos fazer? – Ruki perguntou, ignorando a moça e encarando Kai.


- Eu não sei. Nadao-san deixou claro que com essa formação perdemos um pouco – ele tentou ser diplomático – Ele espera que Uruha esteja lá para o teste com a gravadora. – o baterista mordeu o lábio, pensativo - Bem, se ele não aceitar vamos assim mesmo, para ver no que dá.


- Não dá para estranhar se ele não aceitar. As coisas foram... bem... meio barra para ele. É compreensível se ele não quiser tocar mais conosco. – Reita comentou, sério.


- Nós sabemos disso, Reita. – Akaya respondeu – Mas agora o mínimo que ele pode fazer é...


- Nada disso, Akaya! – o baixista cortou, sem conseguir vê-la de onde estava – Ele tem todo o direito de se recusar e nem pense em julgá-lo por isso. Ninguém é culpado do que aconteceu e muito menos ele.


- Eu não quis dizer... – ela começou, incerta.


- Ele não tem culpa de ter se apaixonado pelo cara errado. – o baixista completou, colocando um fim na conversa.


Kai o olhou e levantou-se, voltando para o lugar que ocupava. Ruki olhou de lado o baixista e resolveu não dizer nada. Reita e Uruha se conheciam desde sempre e um sempre protegia o outro. Sabia que o namorado se culpava por ter incentivado o loiro a se declarar e, além disso, tinha ficado uma fera quando resolveu colocar um ponto final na choradeira do guitarrista.


Na verdade, o vocalista se arrependeu do jeito como gritou com Uruha ao telefone. O loiro sempre ligava para um dos três, chorando e tentando desabafar, depois que deixou a banda. O problema é que deixava todo mundo estressado e culpado. Um dia o loiro ligou e deixou Reita sem palavras, totalmente constrangido sem saber o que fazer. Ruki nem pensou quando tirou o celular da mão dele e saiu da sala. Uruha não voltou a ligar depois daquilo.


Preocupado, Reita foi atrás do guitarrista dois dias depois. O loiro se desculpou com ele e pediu para que dissesse a Kai e a Ruki que sentia muito. Nunca mais faria aquilo de novo. E não fez mesmo. Quando queria saber do outro, tinha que ir até o apartamento do guitarrista. Uruha mudou completamente a rotina e arrumou trabalhos fixos. Não freqüentou mais os mesmos lugares e trocou de celular.


O vocalista podia rir da ironia. Eles tinham tirado Uruha da banda por estar atrapalhando o sonho deles, e agora precisavam dele para realizá-lo.


 


Akaya se encolheu, deitando a cabeça no ombro do namorado. Estava irritada, triste e muito frustrada. Tinha certeza de conseguir substituir Uruha na banda, mas a realidade não era bem assim. Tocava bem, ninguém negava isso, mas não conseguia se encaixar com a guitarra de Aoi. Não como Uruha.


Não sabia se a química entre as guitarras acontecia por Uruha ser apaixonado por seu namorado ou porque o loiro era bom. Talvez as duas coisas. Negar que ele era um guitarrista e tanto era burrice e ela nunca faria isso. Só esperava poder estar com o namorado.


- Você vai atrás dele? – ela perguntou, baixinho.


- Isso não é assim, Kaya. Nós precisamos dele para a banda.


- Será que ele aceita voltar? – o tom dela soou esperançoso.


- Eu espero que sim, se quisermos sair desse círculo vicioso de festivais. – o tom dele a repreendeu de leve – O que deu em você hoje?


Ela mordeu o lábio, tentando achar uma resposta aceitável.


- Eu não sei. Quando vi o Ruki se insinuando para você...


- Ele só estava dançando comigo. – o moreno balançou a cabeça, descrente.


- Fiquei com ciúmes. – ela concluiu, desgostosa.


- Não é nada demais. Você sabe que ele namora o Reita. – Aoi pareceu inconformado.


- Não sei como ele não fala nada diante disso! – ela rebateu, começando a se irritar.


- Porque ele sabe que não significa nada. É diversão e show, só isso. – o moreno concluiu secamente.


Ela se calou, ciente de que o namorado estava irritado com ela.


- Eu não consegui substituir, não é? – perguntou, triste – Eu não toco tão bem quanto ele...


Aoi não respondeu. Recostou-se e fechou os olhos. Desde a saída de Uruha que o som deles tinha mudado. Akaya não conseguia ter a mesma paixão do loiro nos solos e nem se divertir tocando. Ela encarava como um trabalho e Uruha, como a vida que pulsava em suas veias. Essa era a diferença entre eles. A guitarra do loiro vibrava, contagiante. Ele todo parecia brilhar quando estava tocando, no palco ou fora dele. Aquele jeito avoado e distraído era completamente esquecido e uma sensualidade natural fazia de Uruha uma coisa incrível de se ver.


Não podia negar que o companheiro era bonito. E muito. Os traços delicados e o corpo bem definido, além das pernas. Uruha tinha pernas belíssimas para um japonês. As coxas grossas na medida, a pele branca e sem marcas. Ficou lisonjeado por ser alvo de seus sentimentos e muito angustiado por não corresponder. Realmente gostava do loiro, mas como amigo.


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