Dezessete escrita por Femme


Capítulo 1
Shot At The Night


Notas iniciais do capítulo

Once in lifetime...



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Não sabia o que estava fazendo ali, parada na frente da porta daquele restaurante tão familiar e mudando de posição a cada cinco segundos de maneira nervosa. Ainda por cima não entendia o porque estava usando o seu melhor vestido e saltos altos se iria se encontrar com uma pessoa que não deveria ficar ansiosa por reencontrar.

Não sabia o porquê tinha aceitado o convite para jantar com o ex.

Ah, ela sabia sim. Sabia muito bem.

Quando entrou na loja de CDs do pai ―um viúvo que dedicara a vida na música e nos dois filhos― Lauren pensou que seria somente mais uma visita despretensiosa durante a semana de descanso da primavera da faculdade. Estava cansada dos dois cursos que estava tomando― Artes Plásticas e Antropologia ― e cogitou a possibilidade de passar o fim de semana em Los Angeles junto do pai e do irmão.

Ela havia ligado para o irmão antes, a ponto que o rapaz estivesse a esperando na frente do sobrado de tijolos e a recebesse pessoalmente. Quando ela parou o carro, percebeu que o pai o obrigara a usar o avental de vendedor da loja. Mordeu a língua para não dar uma gargalhada. Entraram abraçados na loja de portas de vidro e começaram a contornar as bancadas de CDs tentando alcançar o balcão no fundo do salão. Lauren ria pelo nariz das piadas do irmão mais novo quando algo atraiu sua atenção.

Ele se destacava no salão como um dedão machucado; cabelos louros arrumados de uma maneira extremamente formal e sensual, usava camisa e calça social segurando o paletó no antebraço direito, Lauren notou que o penúltimo botão da camisa estava aberto fazendo a garota olhar fixamente para aquele ponto de pele clara. Ele olhava discos de rock alternativo.

Parou abruptamente, forçando o irmão a soltá-la e parar à sua frente. Ele seguiu o olhar dela e percebendo o que a garota olhava sorriu de canto.

― Depois eu falo pro velho que você chegou.― Ele a cutucou com o cotovelo ― Vai lá falar com ele. ―O irmão saiu de perto, dando espaço para Lauren. A garota congelou no ato, lembrando-se da última vez que vira Andrew. Ambos tinham dezessete.

Lembrou-se do jeito calmo dele quando ela falou que teria de desmanchar o namoro de dois anos por causa da faculdade. Ela sabia que não conseguiria administrar dois cursos e um namorado em sua nova vida; também sabia que Andrew tentaria cursar direito em Yale, seguindo seu sonho original.

Também se lembrou do primeiro Ano Novo que passaram juntos. Jantaram no "restaurante deles" ― lugar onde tiveram seu primeiro encontro― e o rapaz a levou de carro até a parte mais alta que conheciam, uma estrada antiga que saia da cidade e era via direta com o vale de São Francisco. Ficaram conversando sobre seus sonhos e planos para um futuro próximo até que deu meia-noite e fogos foram soltos. Ele a olhou profundamente nos olhos, fazendo Lauren ver seu próprio reflexo nas orbes verdes do rapaz, e a disse que a amava.

Fizeram amor no banco de trás pela primeira vez.

Meses depois terminaram o relacionamento, por mais que Andrew insistiu que casassem. Ela recusou terminantemente, não queria atrapalhar os planos dele.

Já se faziam quase quatro anos e Lauren ainda sentia as tão famosas “borboletas no estômago” quando o via. Inconscientemente aproximou-se dele, ficando de esguelha ao seu lado. Andrew percebeu sua presença e se virou, tomando um susto ao vê-la.

― Oi. ― Conseguiu dizer Lauren, com voz embargada. ― Você está diferente.

Ele titubeou com o comentário, depois abrindo um sorriso de relações públicas.

― Oi. E você está idêntica.

Ficaram se encarando por minutos até que a garota limpou a garganta e colocou as mãos atrás das costas.

― Você está trabalhando? Entrou em Yale?

― Estou trabalhando num escritório de advocacia. E sim, entrei com méritos, Laurie.

Ela sentiu as borboletas em seu estômago se intensificarem, como sentira falta do apelido que ele a dera há tempos.

― Deixe-me ver... ― disse ele, com um sorriso de canto ― Veio ver o seu pai?― Ela balançou a cabeça levemente. ― Como ele está?

Lauren percebeu que ainda não cumprimentara o próprio pai. Falou exatamente isso para o rapaz à sua frente e girou o carpo nos calcanhares. Sentiu o pulso ser preso pelas mãos ásperas de um homem. Andrew a virou.

― Vamos sair hoje. ― ele disse ― Jantar no “nosso lugar”. Às oito. Eu te encontro lá.

Ela afirmou com a cabeça, ainda confusa com o toque tão familiar. Andrew a soltou e deu mais uma vez seu sorriso de relações públicas, voltando sua atenção para os discos quando a garota se afastou.

Agora estava ali, parada na frente do restaurante com a brisa quente batendo no rosto e tentando não ter um ataque de nervosismo. Viu um utilitário preto se aproximar e parar numa vaga à alguns metros de si. Andrew saiu do carro e o trancou.

O coração de Lauren deu um salto. Ela dissera que ele mudara, mas não mudara nada realmente. Os mesmos ombros largos vestidos em uma camiseta cinza e a mesma figura imponente e magnética de sempre. Ele se aproximou e a cumprimentou.

Apertaram as mãos. Ela sabia que fora um gesto estúpido, porém não conseguiria abraçá-lo sem desmanchar-se em lágrimas em seu peito.

No restaurante pediram cerveja, queijos quentes e torta de maçã. O mesmo que pediram cinco anos atrás, naquele ano novo. Conversaram sobre suas vidas atuais, sem tocar em assuntos muito íntimos, afinal não eram mais namorados.

Andrew pagou a conta apesar dos protestos de Lauren. Oferecera carona à garota que apesar de estar com seu próprio carro estacionado a alguns metros, aceitou.

Fizeram o trajeto de volta em silêncio. Lauren observava a paisagem sem prestar muita atenção, retomando-a quando o carro parou. Não estavam na frente da casa de seus pais.

Estavam na estrada do vale São Francisco.

Andrew desligou o carro e tirou a chave do contato. Esticou o braço para apoiá-lo no banco do passageiro. Ficaram em silêncio por mais ou menos cinco minutos.

― Senti falta dessa vista.― disse ele por fim. ― A cidade é linda de noite.

Lauren concordou com a cabeça, sem entender aonde ele queria chegar.

― Mas acho que de todas as coisas que senti falta daqui, a que mais me afetou foi você, Lauren. ― Ela esbugalhou os olhos e sentiu o sangue fluir mais rápido nas veias ― Não pense que eu ensaiei nada disso ou que eu já havia planejado isso. É que eu me senti ― Ele olhou para ela de forma intensa e sorriu sincero ― meio nostálgico.

Lauren não precisava de muitas coisas. Alguns copos de café e uma faixa de música inspiradora já eram o suficientes. Preferia quando as pessoas alegavam que precisavam dela ― como Andrew estava fazendo naquele exato momento. Mas não pôde negar que precisava do rapaz que estava ao seu lado tão desesperadamente.

Avançou nele, tomando seus lábios com urgência. Sentiu uma onda de calor nostálgico atingir seu corpo e enlaçou os braços no pescoço de Andrew. Não se importou quando roupas começaram a ser tiradas.

Não era Ano Novo; não conversaram sobre seus futuros; não olharam para as estrelas; não houve nenhuma declaração de amor explícita.

Definitivamente, não tinham mais dezessete.

Mas se amaram como se tivessem.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? *--* HAPPY HOLIDAYS



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