Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 76
Capítulo 75


Notas iniciais do capítulo

Sentiram minha falta? Senti de vocês! E dessas pestes!

Adivinha quem devia tá de cama DE NOVO? Mas não consigo parar quieta, que posso fazer haha Como sei que essa semana vai ser um pouco lou-cu-ra vim logo postar esse capítulo. Imaginei que seria esse um capítulo-bomba!

Que nada, tranquilo.
Mas tem revelações e... Leiam pra saber!

De gargalhadas a sorriso bobo, enjoy!



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Hoje é um daqueles dias em que nada me tira um belo sorriso do rosto – e eu quis tirar! – nem mesmo presenças não desejadas. De tudo já tinha acontecido e a faculdade estava mais uma vez agitada. Ao fim da aula, me despeço de meus amigos, me encaminho pelo pátio e me direciono para a sala de Djane. Glorinha, sua secretária, é outra que detém um sorrisinho feliz e me deixa passar. Faço toc toc na porta, enfio a cabeça na fresta que abro e digo:

– E aí, como está a mais nova agitadora de fofocas dessa faculdade?

Djane já agitava diversas fofocas, mas dessa vez era com algo bom.

E bote bom nisso!

– Um pouco sem jeito, mas ainda na anestesia. Ou adrenalina. Ah, num sei.

– Mas tá feliz.

Entro na sala, coloco minhas coisas numa cadeira e em outra sento. Ela, por outro lado, ri, boba, e esconde o rosto com ambas mãos, como se o mundo pudesse desver aquele seu showzinho particular. Melhor dizendo, do professor Carvalho.

– Ainda não acredito naquilo.

– Ah, Djane, só... uns milhões de queixos foram ao chão.

Chocada, ela mostra o rosto e me repreende.

– Milena!

– Tô mentindo?! Tá, foram uns milhares.

Ela faz carinha de “esse conserto não tá melhorando”. Mais uma vez nesse dia eu seguro minha intensa e verdadeira vontade de rir. O que mundo tem contra mim? Fica me mostrando coisas gargalháveis e nem posso me dar o luxo de aliviar meus desejos. Tava difícil, viu.

Que nada, eu tava quase gritando em ironia “manda mais que tá pouco”!

– Centenas?! Ah, Djane, um beijo daqueles foi quase de cinema em aeroporto. Teve até palmas!

Teve! Foi show demais!

Nunca pensei que estaria especialmente feliz pela aparição do ex-professor Bart ali na faculdade de novo, embora tenha imaginado algumas vezes como poderia esfregar na cara dele como estávamos bem sem ele. Mas Djane deu conta do recado. Agora sim as fofocas do prédio estavam divididas. A história da suposta namorada do Sávio rendia, além de outros rumores, mas o do dia não era apenas a surpresa do Bart na instituição ou sobre como ele saiu com o rabinho entre as pernas.

Na hora do intervalo de geral, os alunos ficaram vidrados com a cena que se passava. O diretor acompanhou aquele cidadão até a porta de sua sala ao fim da suposta reunião. Nessa hora, Djane fez questão de aparecer, e logo mais, o professor Carvalho. Não ouvimos o que disseram uns aos outros, só sei que pareceu que Bart fez uma última tentativa de ofender Djane e nessa hora ela lhe deu, ao que pareceu, uma boa resposta. No segundo seguinte, professor Carvalho deu as mãos a ela e lhe tascou o maior beijão. Acho que geral perdeu o fôlego.

Eles se assumiram pra todo mundo! Bart ficou com cara de tacho!

Podia esse dia ser melhor? PO-DI-A.

Ao chegar na faculdade hoje, eu estava uma perfeita hiena. Se é que hienas riem desse jeito. Ok, eu gargalhava. Nível doer a barriga, ficar sem ar e até cair na calçada – e eu de fato caí. Talvez eu parecesse mais uma bêbada do que uma hiena... Se para falar estava difícil, imagina explicar o motivo de minhas altas risadas para Gui.

– Não vai dizer, né? Tá. Beleza.

Meu melhor amigo se fingiu de chateado e me deixou para trás como uma louca no estacionamento. Só voltou porque escorreguei da porta do carro para o chão sujo sem ligar minimamente para tal fato. É que era tão tão tão tão tão... TÃO (sim, era tanto que o próprio advérbio “tão” virou adjetivo... ou substantivo?) e uma vez que o riso estava liberto, tava difícil de fazê-lo parar. Mesmo com tantos olhos dos alunos sobre minha pessoa.

Gui pegou minhas coisas, colocou sobre o carro e me puxou do chão, eu que me segurava nele por ainda estar sem forças para me manter de pé. Céus, eu nem lembrava de rir tanto na vida. Meu pulmão ardia, sei lá, fazia certa pressão e ainda assim não dava pra parar. Meus olhos então, eles queimavam lágrimas gostosas, o ar faltava e eu sentia que tinha uns bons porcentos de risos à frente.

– Porra, Milena, conta logo.

– E-eu-não-pos-ssssss-oo.

– Pode sim, conta logo essa merda.

– O-Mu-u-ri-lo-me-ma-a-ta.

– E tu lá tem medo do Murilo?

Bom ponto.

Com a ajuda dele, busquei me recuperar. Res-pi-ra, Milena, Respira.

– Então... errrrr... eu recebi um link de um contato... sobre certo vídeo... que foi postado na rede... e o Murilo tava nele. No vídeo quer dizer.

– Vazou um vídeo do Murilo?!

Peguei minhas coisas de cima do carro, me ajeitei e começamos a caminhar para a instituição. Como era a entrada de trás da faculdade, e ele estacionou um pouco longe, tinha uns metros antes de alcançarmos o pátio. Ao passo que eu detalhava um pouco sobre o caso, Gui tentava compreender mais da situação.

– Nããaao. Eu postei um vídeo dele faz um tempo por um vingancinha... e depois de tempos o vídeo voltou à tona na internet. Mas, calma, não tem as imagens claras do rosto dele.

Ou de qualquer outra pessoa, pra todo caso.

Acho que só a Flávia sabia dessa história por completo, porque né, foi bem constrangedor o porquê de eu ter colocado aquele vídeo na internet. Dizia respeito às minhas intimidades com o Vinícius. Além disso, quando meu irmão descobriu, foi no meio de um rolo na faculdade, quando o professor Bart saiu suspenso. Tava todo mundo tão apreensivo pelo que tinha rolado que quase ninguém se deu conta de que o Murilo apareceu lá meio que do nada. E se notaram, não perguntaram. Professor Bart roubou a atenção de jeito.

Então isso era um pouco de novidade para Gui, que, é claro, ralha comigo.

– Você post...?! Milena! E tu fica é rindo, palhaça. Onde vai tá a graça quando ele te matar mesmo? Vou achar é bem feito!

– Poxa, Gui. Eu fiz ele ficar famoso internacionalmente, cara! Sabe o quanto é difícil? Sabe quantas pessoas tentam isso todos os anos? Todos os meses? TODOS OS DIAS?!

Ok, eu estava sendo dramática. E inspirava fundo pra conter mais uma vez a força superpotente das gargalhadas que queriam voltar. Gui me olhou com tédio por isso e por pouco não mandou que eu “falasse com sua mão”. Voltei a esclarecer:

– O caso que não é bem o vídeo a questão... é a repercussão dele. Tem gente imitando ele, viralizando a.... errr... a suposta brincadeira. E uma paródia apareceu no quadro de um programa coreano! Meu Deus, você sabe o que isso significa?

Minutos antes de acabar definitivamente o expediente, recebi uma mensagem do Luciano, o quebra-galho-hacker-esquemista da faculdade, com um link especial para visitar. Só deu tempo de carregar, ver e sair da área de sinal da internet para encontrar o Gui na lanchonete. Lanchei rápido esperando por ele, Iara hoje não deu as caras. Soube que tinha uns figurões na empresa, ela devia estar no meio, cuidando da recepção. Foi no fim de meu sanduíche que voltei a rir de novo e Gui apareceu, colocando seu material na cadeira vazia de nossa mesa.

– Ih, o que já tu aprontou?

– Eu? Na-di-nha.

Fechei a mão e a apertei contra meu riso que queria escapar em qualquer fresta. Meu esforço foi tamanho que me perguntava se meu rosto estava vermelho por tanto conter uma nova gargalhada. Havia toda uma afronta de volta contra esse esforço. Concentra, Milena, e abstrai. Pensa em outra coisa.

Que coisa?

Meu amigo só estreitou os olhos pra mim e foi para o balcão da lanchonete. Soltei um pouco de ar assim que ele saiu e tentei resgatar uma respiração sem novamente a gargalhada vir à tona. Eu apenas mal podia esperar pra mostrar pro Vini e principalmente o Murilo. Podia mandar o link, mas eu queria revelar pessoalmente. Enquanto isso, o Gui passou o caminho todo da empresa pra faculdade tentando arrancar de mim, até que não resisti.

E então ria pela reação dele.

– Talvez fosse hora para você começar a procurar caixões? Os tamanhos das coroas de flores?

Chegamos ao pátio e continuamos andando. Dei um pequeno empurrão no meu amigo, só pra reforçar meu ponto.

– Fala aí, tu também quer rir que eu sei.

– Não, não quero não.

– Quer sim.

– Não, não qu... E que brincadeira era essa, afinal? A do vídeo?

Um Doce incentivo... era o título do vídeo. Já do vídeo coreano, não deu pra ver a tradução pelo Google Tradutor, pois logo tive que sair e perdi o sinal de internet da empresa, o do meu celular não era suficientemente compatível para vídeos.

– Ah... Era só uma técnica pra... hã... fazer o Murilo tomar injeção.

– Espera... Não é um que a garota bate no cara com um troço de metal?

Apertei um lábio no outro e virei o rosto, segurando mais uma vez o riso, que, CÉUS, como uma coisa dessas podia ser tão difícil? Isso é o bastante para Gui, que parou de repente no nosso caminho para a rampa que levava para as salas.

– Eu NÃO acredito, Milena Lins Albuquerque! Não a-cre-di-to.

Ele não disse o nome completo, completo. Podia eu ter esperanças?

Não.

– Se você diz que não acredita, acredito em você, cara.

Mas Gui pareceu perdido em algumas lembranças.

– Eu lembro desse vídeo! Lembro que vi na empresa, inclusive! E-eu...

– Prazer, sou a garota. Pense pelo lado bom, agora você conhece duas estrelas! A Daniela e eu! Ah, e o Murilo!

Nisso, entrando na nossa bolha de discussão, apareceu Bruno de repente, pegando esse último gancho e nos acompanhando pela subida na rampa.

– O que tem minha namorada no meio?

– Sabia que a Dani tá no youtube? Tô dizendo pro Gui que ele tem amigos famosos.

– E por que ele tá com essa pseudocarranca já tão cedo?

– Porque ele descobriu agora certo vídeo do Murilo que vazou faz um tempo.

– Que vídeo?

E CLARO e COM CERTEZA que o Gui me entregou da pior forma possível? Os dois conversavam quase como se eu não estivesse entre eles. Literalmente entre os dois, olhando de um para o outro.

– Essa bonitinha é aquela DOIDA daquele vídeo chamado “Doce Incentivo”. Lembra dele?!

– Lembro e... Nãããão. A Lena?!

– Siiiiim.

– Mentira.

– Tô te falando! Ela acaba de me confessar.

– Pô, Lena, não bastou aquele vaso que tu quebrou na cabeça do Vini? Diria o barman lá do tour da praia, tu é o perigo, garota!

– E ela faz é rir! Rir não, ela veio gargalhando desde a empresa. Vô fazer que nem o barman também, vô afastar minha cadeira da dela na sala.

– Depois eu que sou dramática, seus medros...

E foi aí que vimos o professor Bart caminhar pelo pátio em direção à diretoria. Burburinhos logo surgiram, mas a aula começou e eu mal podia me conter. Não por o Bartolomeu estar na instituição, era pelo Murilo ser famoso na Coreia. Era demais para um dia só. Estava doida para sair da classe e correr para a sala de Djane. Aí Renato aprontou essa no intervalo... Haja coração dentro de mim!

Era ansiedade, era felicidade, era traquinagem, era orgulho, era tudo junto.

Inevitavelmente abro um sorrisão para minha sogrinha, que desconfiada, acho que esperava o momento de eu quicar na cadeira e saltar para cima dela de tanta alegria.

– Não me olhe assim, Milena!

– Assim como?

– Assim... Não sei. A Glorinha também fica me dando essas olhadas.

– Aposto que Renato faz mais qu...

– Não termine essa sentença, mocinha!

– Ah, Djane, deixa eu curtir minha felicidade. Não é todo dia que a senhora é aplaudida pela faculdade ou que o Murilo fica famoso.

Ela retorna ao monitor na sua mesa, devia estar finalizando seu trabalho para ir para casa. Ao ouvir sobre a fama de meu irmão, logo imagina ser sobre aquele seu projeto que rodou na tv local por um tempo.

– Ainda rodam aquela propaganda dele na tv?!

– Não. Algo MUITO melhor que isso.

A sogrinha novamente me olha desconfiada, e dessa vez pela tamanha e suspeita animação que emana de mim sobre o Murilo. Já pode querer gritar para o mundo?

– Pois conte, qualquer coisa para momentaneamente esqu... Conte, Milena, conte.

Como se fosse possível esquecer, ainda que momentaneamente, os eventos deste maravilhoso dia. Ainda iria aporrinhá-la bastante sobre o professor Carvalho, mas, por hora, era a vez de ela ter conhecimento sobre algo especial do meu querido irmãozinho.

– Então...

~;~

Uma pena meu mano não ter chegado ainda em casa e uma pena maior ainda o Vinícius não ter podido passar para me ver. Era quase torturante. Saber de dois super babados e não poder contar até vê-los pessoalmente era sacanagem.

Convidei Djane para entrar uns minutinhos, ela quem me deu carona. Diz sempre ser um prazer e que faz tempo que a gente não apenas sentava e conversava durante um trajeto. Sem mentira nenhuma, ela riu a danar quando contei detalhadamente sobre a fama repentina do Murilo, embora continuasse a me repreender por tal comportamento (de ter postado o vídeo).

Também comentei da super coincidência do ex-professor Bartolomeu aparecer na faculdade. Da outra vez, o dia que postei o vídeo foi o dia em que ficamos os dois na sala de reunião e discutimos a ponto de várias pessoas ouvirem nossa conversa. Já hoje, tinha essa notícia do vídeo e aí o homem faz uma de suas aparições. Após ele adentrar a sala dos professores, que em segundos eu pude ver e ouvir novos cochichos, inspirei fundo e voltei a caminhar para sala com Gui. Lembro de ter pensado que o Murilo podia ter conquistado a internet pela segunda vez por um mesmo vídeo, mas ai do Bart se tentasse arrumar uma segunda briga. Tentou, na verdade, e levou uma boa de uma resposta, contou-me Djane.

– Ele disse na cara de pau que eu nunca chegaria ao nível dele, como se fosse um nível digno. Eu respondi “ainda bem que não, Deus me livre”! E aí o Renato complementou com um “você quem nunca chegará aos pés dela; a propósito, ela nunca esteve com Fabiano, ela estava comigo”. E aí sim me beijou.

– Ai, meu Deus, ai, meu Deus, ai-meu-Deus, Djane! A gente não ouviu nada, mas o Renato TOTALMENTE mereceu aquelas palmas. Tô bege!

A sogrinha ainda se mostrava boba, porém, não mais se escondia. No carro, seu sorriso se desenhava lindamente ao seu rosto, eu bem vi. A ficha havia caído, acho.

– E mais! Sabe quem chamou o Renato quando soube da reunião com o Bart? Fabiano.

– Uia, eles voltaram a ser amigos?

– Não tenho certeza, mas acho que sim. Aquele almoço de ontem na casa do seu Júlio deve ter significado algo para os dois, mesmo que eles não tenham se falado tanto lá. Algo deve ter acontecido. Não que aqueles dois teimosos vão me contar, ficam de segredinho. Amizade entre homens às vezes é uma droga.

– E eu num sei? Eu tenho que arrancar as coisas do Vini e do Murilo.

Só eu mesma para falar do seu filho desse jeito na cara da sogra. Ela fez foi rir mais, pois conhece bem as duas peças para sacar a veracidade da minha reclamação.

Acabamos jantando juntas – meu irmãozinho que se virasse depois, era provável que nem desse as caras antes de meia-noite, então por que não dividir com Djane? – colocando um pouco do papo em dia. Ela não deu os detalhes da surpresa de aniversário de Renato, mas aquela sua carinha de apaixonada já dizia tudo: fora perfeito. E sim, estavam de boa de novo, tanto que a presença de Bart neste dia em nada influenciava.

– Por que ele foi chamado? Pensei que ele não mais iria aparecer.

– Houve um erro em uns documentos da demissão dele, e tivemos que chamá-lo para resolver coisas do tipo. Fabiano tomou a frente, só me avisou em cima da hora. Ao que parece, Renato soube primeiro que eu, só demorou a aparecer porque ficou ocupado no outro prédio, no departamento de Economia. Como estavam as fofocas?

– Um pouco de tudo, eu acho. Que o Bart devia ser apaixonado pela senhora, que devia rolar alguma tensão com Fabiano, que de todos os professores, não imaginavam o professor Carvalho... Me perguntaram se eu sabia, e antes mesmo de responder algo, já espalharam que eu tinha algo no meio, não sei o quê exatamente... Bobagens.

Olhando para o fundo do chocolate quente que rapidamente preparei, Djane desanimou um pouco nessa parte.

– Ainda te chamam de queridinha, Milena?

– Às vezes, mas nada que me afete de verdade. Acho que as pessoas aos poucos tem visto nossa relação com bons olhos. Algumas vieram até me cumprimentar, dizer que tinha gostado da novidade. Você também anda ficando bem falada, principalmente depois da entrada do professor Max. Se as alunas não te abraçaram, é porque ainda sentem algum receio.

Minha sogrinha suspirou e tomou um gole do chocolate. Parecia cansada e não era bem do trabalho do dia. Logo lançou:

– Eu era tão má professora assim? A ponto de as pessoas pensarem o pior de mim?

– Não diria que era má professora. Só... difícil? As pessoas não costumam pensar que para cada atitude há uma razão e quando ainda sequer pensam, não são boas coisas. Acho que preferem dar o papel de vilões antes de se dar ao trabalho de ver melhor. Não dá para culpar o ser humano, ele é assim por natureza. Isso é culpa das más pessoas de nossa realidade. Alguém sempre paga o pato, não é?

Ela assente, considerando meu ponto, depois ri um risinho que não chega a seus olhos. Toma um novo gole, saboreando a bebida e descansa a cabeça sobre o seu braço, na mesa. Pelo seu olhar vago, parecia longe dali.

– Se alguém me dissesse neste mesmo dia há um ano atrás que eu estaria me sentindo plena dessa maneira, diria que era uma piada de mau gosto.

– Eu diria o mesmo. Ainda brigava muito com o Murilo e chutava as coisas para debaixo do tapete. Se me dissessem que a essa altura estamos como estamos, eu perguntaria o que teriam fumado.

Agora sim um riso chega aos olhos de Djane. Estava para resgatar o assunto do Murilo famoso se não se reanimasse.

– Como seu irmão está? Sobre Denise, digo.

– Acho que ainda espera amarrá-la com fita isolante, jogar gasolina e tacar fogo.

Ou esse era um sonho meu, na verdade, penso, encarando as ondinhas que faço no meu achocolatado.

– Ele não diz muito, mas sei que dói nele. Até porque é como despertasse aquela antiga fúria, que teve um resultado mal sucedido naquela história com André. Mesmo saber que ela foi presa, e pega por vários crimes, é como se Denise saísse imune de tudo o que ela deixou aqui, pra trás. Isso queima dentro dele e ele resiste. Vai demorar para ele se recuperar.

Pisco os olhos rapidamente e Djane nota. Levanta um pouco sua cabeça, corre o braço pelo espaço que nos distancia na mesa, nós de frente uma pra outra, e toma minha mão para um leve carinho. Faço de tudo pra engolir esse sentimentalismo que não vale o momento.

– Ele vai se recuperar, querida. Com tamanha força de vontade que vejo nele, sei que ele vai.

– Eu sei, tenho o apoiado muito. Às vezes a gente só precisa de alguém para nos dizer que vai ficar tudo bem, e tenho dito muito isso. Tenho me esforçado também para deixá-lo feliz. Apesar de adorar aquele sorriso besta dele mais que tudo, tenho ido com calma e também o deixando a par das coisas. Acho que é nosso novo sistema. Tava mais que na hora de atualizar a máquina, por assim dizer.

– Fico bastante feliz com isso. Até porque, nada como um pouco de calmaria por agora, não? Sua mãe até me ligou no outro dia, querendo saber do feriado próximo, na sexta. Já quer todos seus pintinhos debaixo da asa dela de novo. Palavras dela, não minhas.

– Ai, minha mãe e suas dramaticidades. Estava pensando em deixar para viajar só no evento da vovó, mas do jeito que ela me ligou semana passada, se eu dissesse meus planos, ela vinha aqui só pra nos sequestrar e levar ao seu cativeiro, com tortura de todos os mimos possíveis. Tive que remarcar algumas coisas por essas mudanças de planos. Mas a senhora vai? Pensei que queria ficar com Renato.

– Ainda não tenho resposta, quero conversar com ele primeiro, não sei se tem algum plano surpresa. Você está sabendo de algo?

– Não, sei nada não. Juro juradinho, dessa vez se tiver, não tenho conhecimento.

Era verdade.

– Sei...

Djane termina seu chocolate e logo levanto para lavar a louça. Imaginei que ela iria embora, estava tarde e seu dia sempre começava tão cedo, não queria desgastar a mulher logo no começo da semana, mas aí se ofereceu pra me ajudar. Era ótimo ter sua companhia por um pouco mais de tempo. De vez em quando a casa parecia enorme quando era só eu dentro dela.

Após eu ensaboar e ela enxaguar, ela enxugava e eu guardava. Estávamos conversando sobre meu avô e as tendências de seu Júlio virar uma figura parecida quando de repente Djane se demorou numa xícara em específico e algo a desconectou de nosso papo. Eu ajeitava o conjunto de pratos na prateleira quando me dei conta de seu súbito silêncio. Antes que eu perguntasse algo, ela mesma tomou a frente.

– Milena, como anda a situação sobre a investigação?

Imagino que seu Júlio deve ter comentado algo para ela questionar agora.

– Do mesmo jeito que da última vez em que lhe contei. Parado. Mas... surgiram umas poucas coisas mais. Iara encontrou umas coisas de Viviane que estavam guardadas faz anos com a mãe dela, a ex-mulher de Filipe. Nada muito substanc...

– Eu conversei com ele.

Isso me faz parar instantaneamente de equilibrar as xícaras umas nas outras na prateleira e elas quase caem. Seguro a tempo de recolocá-las num ponto bom.

– Com Vinícius?

– Não! Com Filipe. Foi... por acaso. Tivemos uma longa conversa.

Com o olhar baixo, Djane se mostra insegura pelo tópico e fico na dúvida se levo adiante ou não agora que tocou no assunto. Espero que ela diga algo mais primeiro.

– Foi na semana passada, um dia aí que tive que ir numa reunião com diretores de outras instituições sobre bolsas de pesquisa e... Bom, isso não importa agora. Acontece que houve uma batida horrível na avenida da instituição, congestionando os dois lados e eu não tinha outro caminho senão aquele que estava interditado.

Colocando o pano que tinha em mãos no suporte ao lado da torneira da pia, Djane termina seu trabalho e eu alcanço os últimos utensílios para guardar. Ela se senta novamente na mesa e eu continuo de pé, ouvindo seu relato.

– Tinha que esperar o trânsito melhorar, então fui numa pequena praça de alimentação que tinha por perto, dar um tempo. Filipe estava lá, ao que parecia, também terminando uma reunião. Finalizava seus cumprimentos com os senhores quando percebeu que eu o observava.

– E aí?

– Olhei para o outro lado, claro. Ouvi que os senhores estavam saindo e imaginei que ele iria também, mesmo com aquele trânsito horrível. Dava para ouvir as sirenes da ambulância, o local estava um pouco alvoroçado. Pedi um café assim que vi um garçom e quando achei que era meu pedido chegando, Filipe estava de pé na minha frente. Levei um susto!

– Eita. E ele?

– Pediu para se sentar. De começo conversamos como duas pessoas educadas falando sobre o acidente da avenida e como meio que estávamos presos ali e o café era bom. Houve um minutinho de “silêncio” quando a ambulância passava por perto do nosso local, e como estava muito ruim para trafegar, demorou a sair do local. Quando finalmente saiu, ele me surpreendeu de novo.

– Como assim? O que ele fez?

– Ele disse algo como “acho que temos coisas não resolvidas faz muito tempo, não?”. Imaginei que iria falar algo sobre Gustavo ou mesmo sobre Vini... e não era. Não era nada disso. Filipe estava me pedindo perdão, Milena. Ele disse com todas as letras.

– Oh. Isso... isso é bom, não?

– Acho que sim. É... estranho.

Dizem muito isso quando se trata de Filipe.

– Estranho ele ter pedido?

– Estranho eu ter dito que lhe daria uma chance. Não sei, Milena, antes eu simplesmente o odiava, e agora... não sei mais. Não sei. Não sei o que está acontecendo comigo. Eu devia ter raiva dele, não devia?!

Djane soa mais perdida das ideias que outra coisa.

– A senhora não o vê mais como antes, talvez esteja superando aquela velha guerra de vocês. Já passou o tempo da raiva, Djane, aquele ódio estava estragando todo mundo. Pensei que isso estivesse mais certo em sua cabeça. Tanta coisa já rolou de lá pra cá.

– Eu sei. Mas sempre ficava a insegurança, quando não, a pena. E olha que me esforçava para não ter pena do que achava ser o homem mais desprezível da face da Terra. Mas vê-lo quebrado naquele hospital quando ele foi escorraçado por bandidos... Vê-lo afastado de Vini, e então saber da investigação, ou da vez que ele cuidou de você quando sumiu, e do Murilo quando se excedeu... Quem era aquele bom homem e onde ele estava o tempo todo?!

Escondido nele mesmo, retruco mentalmente.

– A gente conversou tanto, Milena, tanto que nunca imaginaria apenas sentar e falar com ele. Ouvi-lo de verdade, sabe? Na casa de seu Júlio, somos apenas respeitosos e educados, mas ali... foi diferente. Estávamos mais a vontade, dizíamos o que pensávamos, e... sei lá. De repente estávamos conversando sobre tanta coisa mais e... como você disse ainda há pouco, escolhi ele para ser o vilão e não me dignei a olhar mais de perto. Tinha meus motivos, claro, mas agora, não dá pra deixar de pensar que poderíamos ter feito isso de outra maneira. Uma mais civilizada.

– Às vezes me pego pensando sobre isso também. Quer dizer, duraram anos e ninguém realmente fazia algo senão se defender ou contra-atacar. E vocês aguentaram por tanto tempo.

– Aguentávamos o quanto podíamos porque era o jeito.

– Eu sei. Eu também era adepta desse pensamento quando se tratava de Denise e de tudo o que ela tinha feito. Mas nunca se tratou só de mim, assim como não se tratava só de vocês. Isso, infelizmente, demorou tempos para percebermos, não é?

– Sim. Acho que n... não estávamos preparados para aceitar.

– E agora você se sente bem para seguir em frente?

– Sinto que não posso ficar no meio deles como antes. Que agora posso fazer algo a respeito. Não sei ainda bem o quê, mas...

– Aquela fé que você apostou sobre a investigação foi um passo e tanto.

– Foi, foi sim. Eu não cheguei a perdoá-lo ainda, porém, não mais me fechei. Acho que isso é o importante no momento, não?

– Sim, Djane. Isso são... boas notícias. Boas notícias para um dia maravilhoso.

– Posso estragar perguntando como isso está na cabeça de meu filho?

– Melhor do que a senhora pensa, na verdade. Apesar de umas recaídas, a cabeça dele anda... Anda reconsiderando algumas coisas, por assim dizer. Todos estamos nos esforçando para que não seja simplesmente um novo choque e por enquanto, ele tem aceitado mais, sabe? Ele tá indo bem.

– Fico mais tranquila. Ultimamente estava o achando bem caidinho. Se era a faculdade, ou o trabalho, como acusava ser, espero que as coisas melhorem logo. Que esse feriado venha para um descanso.

– Acho que já estou sonhando com esse descanso. E tá na sua hora, né?

– Mas o Murilo ainda nem chegou.

Posso apertar suas bochechas por esse muxoxo?

– A senhora jura que quer esperar por aquela criatura? Ele pode chegar 5h, sabia?

– Tudo bem. O papo tava tão bom que nem senti o tempo passar.

– Porque eu sou uma ótema pessoa, só por isso.

Eu nem me achava.

Djane levanta-se e logo que ia pegar suas coisas na mesinha de centro da sala, volta-se para mim, que estava bem atrás. No mesmo instante, parece ansiosa.

– Milena, posso pedir uma última coisa?

– Não sendo a receita especial do meu cupcake que a senhora gamou, tá valendo.

– Posso ver os documentos de investigação da família de Viviane?

Paro por um segundo e nós nos encaramos.

Aqueles documentos não eram meus, eu não tinha nenhum direito sobre eles. Enquanto não estava nas mãos certas, nas de Vinícius para explorar sua própria história perdida, eu não podia também barrar de chegarem nas de sua mãe. Eu não gostava pelo fato de que era péssimo a gente saber mais do que o próprio, quem motivou toda aquela busca, no entanto, também não poderia negar esse pedido de Djane.

Por isso me viro, vou até o armário perto da mesa de estudos, procuro rapidamente e de pronto apresento-os para Djane.

– Pode levar. Se a senhora sentir que deve lê-los, não tenho como impedir. A senhora sabe como me sinto sobre isso.

– Sei. Não podia pedir nora melhor para cuidar de meus meninos. Mesmo que tenha feito um deles famoso em outro país. Diga ao Murilo meu muito obrigada e... meus parabéns.

Ela soava mais orgulhosa que nunca.

Queria eu ter gravado para mostrar ao meu irmão quando possivelmente pirasse.

Porque, ah, ele iria. E mais uma vez neste maluco dia eu abria um sorriso imenso para gastar mais umas gargalhadas que viriam.


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Notas finais do capítulo

Tanta coisa num cap. só que tá difícil até saber por quem quicar!

Mas geeeeeeeeeeente, Murilo famoso na Coreia! Quais as suas apostas: ele mata ou não a Milena? HAHAHAHA

Sobre o capítulo bomba... Vamos esperar pra ver *faz suspense*

Bjos,

A.



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