Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 68
Capítulo 67


Notas iniciais do capítulo

Em função da bagaça do vestido de ontem (thank you, internet), vai ter capítulo novo! Mas aqui em MoE vocês sabem que o vestido é branco, né? Tenho a Milena e companhia como testemunhas. Enjoy!

P.S.: tá perdido e quer saber o caso do vestido? Veja aqui: ow.ly/JHUt1

P.P.S.: já escrevi uma shortfic sobre uns vestidos (tbm brancos!): http://fanfiction.com.br/historia/406885/The_Big_Wedding/

P.P.P.S.: é sina mesmo esse vestido branco hahaha

Propaganda off.



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Eu pedi um dia de muito amor e o que o Mu faz? Aparece na sala do vô-sogro com Iara nos ombros, como um homem das cavernas que soca a mulher nas costas e sai andando. Iara esperneava, dava gritinhos e... é, ela sorria. Só por isso eu perdoava a criatura. Mas, claro, ele recebeu pelo menos uns três tapas naquela testa dele por isso. E não foram somente meus.

Não havia essa coisa de climão quando todos chegaram para o almoço na casa de seu Júlio, ainda que vez e outra eu tenha captado uns olhares cabisbaixos de um e outro, mas estavam mais uma vez tentando, assim a tensão se dispersava por si. Mesmo com Filipe presente tampouco havia isso de efeito “elefante na sala”, pelo menos não como era antes. Isso ou então todo mundo tava acatando ferrenhamente meu pedido de dar apoio à Iara.

Além de Filipe e de mim, apenas quem sabia sobre o caso sumiço dela nessa semana eram meu irmão e Vinícius. Quando o vô-sogro perguntou sobre o estado tristinho de sua neta, só comentei que era algo sobre o outro lado da família dela, que ela não entrara em detalhes nem comigo e que era melhor assim deixar. Notei a artimanha de seu Júlio perguntar logo a mim, por seu filho ter lá suas reservas de contar as coisas a ele, mas preferi respeitar o espaço dele e de Iara. Nesse meio tempo, só queríamos mimá-la.

Até Djane, que também andava tristinha pela baita briga que teve com Fabiano e Renato no outro dia, estava mais aberta e dava atenção à Iara, fazendo-a sua cúmplice em um jogo de perguntas e respostas que passava na Tv. Murilo era esse folgado que deitava sobre elas no sofá e elas deixavam, embora aporrinhassem a ele de algum modo. Aline não pôde vir e, por motivos óbvios, nem Renato.

Murilo também roubava algumas entradas que dona Fanny servia. A senhorinha dizia estar testando algumas receitas mais leves e éramos as cobaias. Seu Júlio que ora e outra ficava, de brincadeira, resmungando que nada na alimentação dele era preciso mudar, já bastava ficar trabalhando em casa e tendo ela controlando tudo que comia. Quando ele mencionou sobre biscoitos escondidos, eu segurei meu riso e mandei um olhar enviesado para o Vini, que entendeu bem. Que seu avô estava ficando muito parecido com o meu nesse sentido.

A pergunta, Vini disse, era quem seria a trambiqueira para passar a parada ilegal. Eu só disse que era bem possível de o avô dele convencê-lo, apesar de em meu íntimo saber que o Vini metido em esquemas não rolava, ele se entrega e entrega todo mundo por nada. Talvez fosse melhor eu dar a dica ao vô-sogro de não tentar a sorte com seu neto justamente por isso? Era um caso a se pensar.

Na hora do almoço as coisas melhoraram mais, as figuras à mesa nem pareciam que tinham problemas demais na cabeça. Ou não, já que Murilo era aquele que mais se revelava com parafuso solto. Por ter passado essa semana na tv o remake d’A Fantástica Fábrica de Chocolate, meu irmão queria nos convencer que seria aquele nobre menininho que passa por todas as provações, com destaque para princípios como generosidade e ingenuidade. Aham! Ele ainda não só rouba meus bolinhos de padaria que a dona Bia compra, como também finge que não sabe de nada, mesmo deixe um rastro de farelos em evidência.

Ante meu argumento, ele jogou a bola para mim, perguntando se eu achava que seria a criança de coração puro sortuda. Imagina se o universo me daria um papel dourado em uma barra de chocolate – uma barra que muito provavelmente seria arrancada de mim pela Flávia.

– E eu lá tenho sorte, Murilo? Se eu não levanto cedo, não sobra nem café pra mim!

Lá estava o bico do meu irmão, que era esse palhaço que distraía o papo. Uma vez ele já precisou de uma reunião assim, só de apoio das pessoas mais próximas, e, ok, ele estava sendo uma pessoa de muito bom coração ultimamente para ultrapassar as duras penas do momento. Murilo não apenas fazia isso para devolver o favor, na verdade, ele conseguia ser um grande urso abraçável quando queria.

No dia anterior ele foi muito compreensível. Além de ter me deixado na casa de Sávio, já no fim da noite, na cama (minha), pediu para saber como foi e se eu tinha descoberto algo mais sobre a Iara. Não foi possível contar-lhe todos os detalhes, mas ele me ouviu, não brigou, e até me aconselhou. Mas isso já são outros papos gigantes. O fato era que estávamos tornando tudo muito confortável para que Iara sentisse que havia uma família de verdade que se importava com ela.

Outro que merecia a estrela na testa por bom comportamento era o Vinícius. No início ele se manteve um pouco distante, mas bem humorado pelas besteiras que Murilo falava antes de pensar. Houve um momento um pouco antes de irmos para a mesa que eu fui entregar à dona Fanny a bandeja que ficara na mesinha da sala e quando voltei, vi de longe que Vini falava algo com a Iara a sós e escapuli para dar privacidade a eles.

À mesa, Vinícius se mantinha mais espirituoso e participante da conversa. Ele é sempre esse que diz que tenho sorte sim e às vezes se gaba por se considerar um grande prêmio do universo a minha pessoa. É uma dessas verdades que nego para que ele não fique se achando demais, porque, né, o Murilo se achando era o bastante para toda uma vida. Mas apreciava de verdade sua atitude, principalmente por ter, recentemente, mentido para ele, mesmo que por uma boa causa. Ontem quando voltei para casa e já o encontrei na minha porta, não tinha como prolongar minha mentira, então abri logo o jogo.

Ao sair da casa de Sávio, não aceitei carona, nem nada, quis andar. Até quando o ônibus me deixou em um ponto à frente de onde eu deveria descer, não me importei, porque, ao passo que aumentava minha caminhada, aumentava meu tempo para refletir e entender o que eram as peças que faltavam (agora não mais) no quebra-cabeça que era o Sávio. Mais calma, andei devagar e com a cabeça longe, chutando em um momento e outro uma pedrinha, às vezes tampinha, o que aparecesse pelo caminho. Quando virei na minha rua e topei com o Vini descendo de seu carro e me vendo, lembrei que ele nada sabia para onde eu tinha me metido e pensei: bom, só tem um jeito de fazer isso funcionar.

Ali mesmo na rua, com o dia escurecendo e uma brisa passando leve, mantive o ritmo de meus passos e fui na direção do namorado. Acho que ele pensou que era algum tipo de brincadeira minha o fato de não simplesmente correr e abraçá-lo ou mesmo parecer muito animada em vê-lo. Estava, claro, mas também com a cabeça a mil, desgastando um pouco de meus pensamentos. Por um instante só quis abraçá-lo e só, só ficar ali. Foi o que fiz, foi assim que me entreguei de que havia algo errado.

– Mi? Aconteceu algo lá?

Inspirei seu perfume e... Defina lá, pensei.

Fiz Vinícius crer que estaria com a Aline em uma ação de caridade recolhendo umas doações de roupas – até quis mesmo ajudá-la, só não deu – e esperava que ele não ficasse tão chateado por tê-lo deixado de fora do pequeno plano. Abraçada a ele, aproveitava os últimos segundos de sua ignorância completa sobre o assunto.

– Possivelmente...

Ele me deu um beijo ao rosto, delicado e voltou a me abraçar quando eu fiz que não queria largá-lo tão cedo.

– Quer me contar?

– Sim. E você vai se chatear. Quer que eu faça pipoca primeiro?

– Vou dar todo um showzinho, é?

– Possivelmente.

Por debaixo da mesa senti que Vini apertava minha mão, ele fazia isso às vezes até mesmo sem estar inseguro. Dessa vez acho que era eu quem precisava. Não tinha uma insegurança comigo, era mais... ansiedade. Sim, ansiedade. Poderia tudo parecer flores e flores com risos e palhaçadas, mas o almoço chegava ao fim e sabíamos o que viria após. Quer dizer, eu pelo menos ansiava por uma conversa com Iara.

E pelo olhar que ela me lança quando seu Júlio anuncia seu break de descanso, ela também previra algo do tipo.

~;~

À sombra na beira da piscina, sentamos eu e Iara, ela abraçando as pernas, eu em posição de ioga. Apesar de um pouco acanhada e mais séria, mexendo em uma folhinha de grama que arrancara antes, Iara é a primeira a falar. E fala sem rodeios.

– Ele contou, não contou? Sobre a minha mãe?

Sim, Sávio não parece não ter deixado nada de fora no nosso papo. O que aconteceu na segunda foi fruto de um empenho de Iara em conseguir se conectar mais com a história de vida da sua mãe, e o que veio nessa última correspondência do investigador foi o encerramento da vez, não só de seus serviços, mas da busca de Iara. Ela descobriu mais coisas sobre sua mãe e não foram, por assim, coisas boas. Lígia foi uma mulher poderosa que usou muito de seus recursos para acabar com pessoas que entravam em seu caminho, ela perseguia mesmo.

Não pude perguntar a Sávio se havia algo sobre uma moça chamada Viviane porque queria lançar essa diretamente para Iara. Contudo, mesmo ansiosa por uma resposta, eu precisava me ater ao presente antes de qualquer coisa, até porque seria um pouco egoísmo de minha parte ignorar o resto, que é exatamente a merda que o ventilador atirou essa semana.

– Contou. Não todos os detalhes, mas de geral, acho que tô sabendo bem.

– Apesar de uns bons feitos, ela era mesmo uma megera.

Por mais que o mundo nos alerte e evidencie que está povoado de gente má, a gente sempre tem uma pequena esperança de que todo cuidado vai ser suficiente de nos proteger e aí a gente topa com pessoas que nos fazem desacreditar um pouco mais da humanidade. Mas a coisa toda muda de perspectiva quando é alguém tão próximo, alguém de seu parentesco. Denise ao menos não foi uma grande perda pra mim, já Lígia representou muito para Iara, principalmente por não tê-la conhecido. Não posso imaginar o que passa em sua cabeça por ter crescido apenas com pouco sobre sua mãe e pouco esse que meio mundo desprezava. Se há algum consolo é que o destino não precisa ser reprisado.

– Algumas pessoas apenas são assim. Mas você, I, não. E não é qualquer pessoa.

– E ainda assim eles me rejeitaram.

Eles, a família da mãe dela. Filipe não mais teve contato com eles após a morte da esposa, e quando tinha era com algo relacionado à empresa ou algum bem, que sempre foram bem formais e sucintos, mas nunca trataram a respeito de Iara, nunca voltaram por ela, que sequer conheceu algum deles, pois da antiga cidade se mudaram. Nessa busca do detetive, ele entrou em contato com a família como uma última tentativa de Iara de conhecê-los e eles não quiseram. O único interesse dela era saber mais da mãe e eles foram mesquinhos de negar. Mais que isso, declararam que não gostariam de estar ligados a ela, que não pertencia à família deles.

Rejeitaram-na sem ao menos conhecê-la ou dar a chance, apenas desprezaram.

Não à toa Iara tivera aquela reação, sumira. Embora ela tivesse poucas esperanças de ser recebida, levar uma porta na cara dessa maneira foi brutal. É o tipo de coisa que quebra uma pessoa, por mais forte que ela seja.

Para Iara, isso só corroborou ao seu antigo sentimento de não pertencer e à sua estima em recair quanto a sua significância para as pessoas. Acho que ela viveu tanto tempo não sendo querida pelas pessoas que se acostumou a essa nuvem de tensão, uma que vivia de olhar enviesado para ela e de renegá-la o quanto pudesse. Podia eu reclamar de proteções excessivas e extremas, mas a Iara... ela não chegou a ter isso praticamente. Porque, primeiro, quase ninguém a tomou como importante em sua vida.

E isso é uma merda. Queria poder socar todos se possível. Mesmo sua avó sendo uma velha bem velha, para mim ainda é uma velha má.

– Eles não te merecem.

– Eu só... sempre quis encontrar meu lugar, sabe? Uma família para pertencer. Para me encaixar. Meu pai vivia me dizendo para deixar essas buscas e eu de teimosa... Brigamos tanto nesses últimos tempos, Mi! Ele quis me proteger, pois sabia que eu ia me decepcionar, e eu segui em frente, esperando não sei o quê!

Inevitavelmente Iara mexia em uma pulseira ao braço, algo como um movimento involuntário. Acho que nem ela mesma percebia, já que mantinha ambos braços envolta de suas pernas, mas eu, ao seu lado, podia ver bem. De início imaginava eu que se tratava da pulseira que funcionava como substituta por uma que perdeu, que foi de sua mãe, mas não, era outra.

Me surpreendo ao atentar para isso, pois Iara quase nunca tirava, por mais simples que fosse o adorno em si. Eu havia dado a ela há um tempinho atrás, quando a vaca da sua avó interceptou a verdadeira. Com essa, fico um pouco hesitante de perguntar, uma vez que a expressão de Iara não era das melhores. Temo que isso abra caminho para muito sentimento ruim que ela anda engolindo e não estamos em um bom local para ela simplesmente se abrir. Já me arrependo um pouco de ter insistido para ela vir.

Quer dizer, na noite anterior, após ter conversado bastante com o Murilo, mandei uma mensagem a ela, que dizia para ela considerar meu pedido e viesse, mesmo se não fosse sua vontade de vir. Que Filipe também se fizesse presente. Para isso, eu conversei com Vinícius antes também. E agora não sei se foi uma boa ideia.

– Hey, não se martirize. Você só queria uma resposta, não é? Antes isso que passar uma vida se perguntando “e se...”, certo? Agora você tem certeza que essas pessoas não valem o seu esforço. Além do mais, o seu lugar é aqui.

Frustrada por tudo, Iara fecha os olhos e se encolhe em si mesma, enfiando o rosto nos joelhos levantados. De lá, sua voz sai abafada e falha, entregando que ali começava seu choro.

– Você s-sabe o que eu quero d-dizer, Mi.

– Eu sei, eu sei... Mas hoje tudo está diferente, não? Eu vejo que muita coisa mudou.

– Sim... Não... N-não sei. As coisas não andam muito favoráveis, na verdade.

– Como não? O que quer dizer?

Iara expira e nega com a cabeça, de repente não querendo falar sobre isso, então não insisto, só passo meu braço por ela e a trago para meu ombro, que ela deita delicada e sinto o tremor de seu corpo repercutir no meu. Consolo-a por um tempo, e quando ela se acalma mais, me abraça. De repente eu queria ser uma pessoa má para infringir essa dor em quem a machucou.

– Eles não te merecem, ok? Você não está sozinha. Tem o Filipe, seu Júlio, o Murilo, eu, o Gui...

– Vocês brigaram por minha causa.

– Não exatamente. A gente ia brigar mais cedo ou mais tarde, só isso.

– Ele tá me odiando, não? Porque eu menti para ele.

– O Gui não te odeia, ele só... Ele só acha que poderia ter feito algo e que não confiamos o bastante nele para tanto. Acho que só está magoado. Tirou a pior hora, mas, vá lá, tem hora pra essas coisas? Além disso, tem também o Sávio agora, não?

Sávio me contara que gostava de verdade de Iara, e que por isso ele fazia o apelo dele de não o afastarmos dela. Desde o primeiro momento, estranhei muito em pensar sobre os dois juntos. Não digo que era uma coisa absurda, só... só me surpreendeu. Tipo wow mesmo, por essa eu não esperava. Já tendo pensado um pouco mais a respeito, além de ter lembrado certas situações em que estavam juntos, mas não de fato juntos, me parecia... natural. Digo, aconteceu.

Que eu poderia dizer sobre relações repentinas, se eu mesma tinha conseguido essa proeza com o Vinícius? Como poderia desacreditar (ou até condenar) pessoas que se gostaram em tão pouco tempo?

Mas em um ponto ao menos o Gui tava “certo” e, de alguma forma sem noção, errado ao mesmo tempo. Como poderia eu considerar o Sávio como uma boa pessoa para estar com Iara, sabendo o que até então sabíamos? Quer dizer, naquele mesmo dia eu tinha contado para o Gui sobre como funcionava a relação com André e como mais ou menos o Sávio tava metido e a gente ficou cogitando coisas para adivinhar do que poderia se tratar. Foi compreensível esse surto de meu amigo, no entanto eu ainda não concordava, porque havia muito mais acontecendo naquele instante para nos preocuparmos com justamente isso.

E agora eu sei a verdade. As verdades sobre tantas questões que me acompanharam nos últimos meses e que Sávio abriu o jogo – ou teve de abrir – para não perder Iara. Ele não o faria com tamanho afinco se fosse por si. Acho que está mesmo apaixonado por ela, não importa o que Gui vier a afirmar. Eu vi! Não sei ainda como reagir a isso, mas estou do lado da Iara, apenas isso. A decisão é dela.

– Também fui pega de surpresa com aquele beijo, Mi.

– Não tanto como eu, pode ter certeza. Massss... Vocês se gostam, então não há mal algum, certo?

– Eu quis muito, não nego, porque gosto dele, mas nunca tive a certeza se ele gostava de mim de volta.

– Ele pode ser muito evasivo às vezes, não?

– Até que não, só achei que não pudesse gostar mesmo de mim.

– Por que não?

– Achei que ele estivesse interessado em outra pessoa. E pela maneira como falava de você, tive... tive até ciúme.

– Ciúme de mim?

– Sim, mas aí rolou tanta coisa nesse meio tempo que... Vocês não têm noção do quanto ele os preza, Lena. E o André era esse ser mais repugnante que tinha o Sávio em suas mãos. Isso o machucava muito.

– Acho que ainda não caiu minha ficha sobre isso de Sávio e André. Mas por que você escondeu sua relação com ele?

– No começo não era bem que escondíamos, só foi rolando e não comentávamos. Aí quando ele me contou sobre a histórica com o André e o que acontecido com vocês na viagem, a gente só temeu qual seria a reação de vocês. Tínhamos muito receio e logo tudo foi se complicando mais e... O quê?

Eu mal tinha notado que havia me desvencilhado dela, mas Iara notou de imediato e parou para me observar. Ainda me sentia estranha com isso, porque era tudo tão... confuso.

– É só que... Você sabia. Você sabia o tempo todo.

– E-eu... é, eu sabia, mas o que eu poderia fazer a respeito?

– Não sei. Mas o Sávio foi bem corajoso. De mandar a real pra mim no fim das contas, sabe. Ele tomou a coragem que ele não teve em meses porque ele se importa demais com você. O Gui ficou maluco daquele jeito porque quis – ou quer – te proteger demais, ele não quer falhar.

Acho que meu argumento serve de algum alento, pois Iara inspira e parece recuperar-se mais. Nada como ter noção de que as pessoas te amam, mesmo quando tudo parece perdido. Seria então a boa mensageira a lhe transmitir isso.

– O Murilo também quebraria uns ossos se pudesse se isso fizesse você ficar melhor, assim como ofereceria só um abraço se você precisasse. E o Vini... bom, o Vini é o Vini, cabeça-dura, mas que não te deseja mal algum. Ele só tem às vezes muitas questões na cabeça e isso pode parecer que ele não ligue, é só o jeito dele.

Uma ponta de sorriso sem graça se desenha no perfil de seu rosto que vejo e eu continuo meu propósito.

– Ainda tem a Aline, Djane, o Renato, vô-sogro... que, a propósito, quis arrancar de mim o motivo de sua tristeza e não foi dessa vez que conseguiu. O que eu quero dizer é que todos te aceitamos, nos importamos com você e queremos que esteja confortável conosco. Melhor, que seja feliz. Por mais destrambelhados que possamos ser.

Mais disposta, ela parece estar mais segura.

– Gosto que sejam... que sejam destrambelhados.

– Ainda bem, porque preciso de uma parceira de vez em sempre e só a Aline não dá conta.

– Então não tá chateada comigo?

– Por que estaria?

Ok, imagino porque ela teria imaginado uma coisa dessas, afinal, ela tava sabendo mais do que eu e em nenhum momento me confidenciou. Além do mais, estava embarcando num relacionamento que, para dizer a verdade, era outra complicação. Quer dizer, ela temeu que fosse, por causa das circunstâncias. Não tem como eu repreendê-la por essa preocupação natural.

– Olha, Iara, isso tudo que tá espocando agora é meio novo pra mim. Tem coisas que, como eu disse, a ficha ainda não caiu. Tô até agora incerta sobre que princípio meu devo seguir, porque o Sávio... Ele me enganou. Por fortes motivos, que seja. É algo que tenho de pensar muito a respeito, mas... Humf, não posso deixar de admirá-lo por sua perseverança. Melhor ainda, de enfim ter tomado alguma atitude. E ele fez isso por você. Lembre-se disso.

Ela passou a mão ao rosto e fungou para dissipar mais suas emoções. Sua cor e expressão aos poucos estavam melhorando.

– Eu vou.

– O que eu puder fazer para você se sentir melhor sobre essa história da sua família, pode me dizer. Se quiser, pego a estrada, caço eles e jogo tudo na cara deles e... Uh, sabe o que poderíamos fazer?

Uma velha traquinagem me povoa a cabeça.

– O quê?

– Pedir mil pizzas e mandar entregar na casa deles. Ou caixões! Ok, eu li isso em um livro uma vez e foi tão legal.

– Parece ter sido um bom livro.

– Foi. Era um desses bem juvenil, sabe, acabei lendo uns enquanto minha avó se recuperava em resguardo de seu tratamento. Por um tempo ela não pôde ler ou escrever, então eu a ajudei nisso, era o pouco que eu podia fazer.

– Você é que sempre faz muito e é humilde em dizer, Milena.

– Se eu amo, eu cuido. Mesmo com todos os disparates que o Murilo me apronta. Mas, voltando ao assunto... A perda foi deles, I. Perderam a pessoa incrível que você é. Então acho melhor porque sobra mais pra gente!

Brinco porque, nossa, eu tava emotiva demais. Sem choro, Milena, sem choro!

– Obrigada, Mi, de verdade.

Fica tão difícil não chorar depois dessa, principalmente depois de receber mais um abraço e um abraço bem mais apertado da parte dela, mas pelo bem da humanidade – e de minhas emoções – existe o Murilo e um Murilo um tantinho ciumento de carinho. Sua voz carregada de ciumeira logo entrega sua presença, que se senta ao lado de nossa companheira resgatada.

– Comigo não rola abraço, né? Muito bonito de sua parte, dona Iara.

– Ai, Murilo, te amo também.

Ela então abraça a criatura, que a aninha em seus enormes e acolhedores braços. Mesmo que ele disfarce, sei que se sentia agoniado e preocupado com Iara. Baixinho ele fala com ela com carinho e, por estar perto deles, ouço bem. Ainda que saísse abafada por eles estarem tão grudados.

– Fica bem, ok? Eles não te merecem. Além disso, preciso de alguém para rir das minhas piadas, só a Aline não dá e a Milena faz é rir da minha cara. Não ligo que seja uma botafoguense. E eu ainda vô dar uma avaliada nesse tal rapaz que tá de olho em ti.

Impossível não repreendê-lo, mesmo sabendo que agora ele não é mais aquele protetor desprezível.

– Murilo!

– Aff, vou avaliar de um jeito ou de outro, só tô avisando.

Finalmente quando estamos todos de boa e que Iara parecia melhor para encarar o mundo – embora precisasse dar uma passada no banheiro e dar uma retocada, quem sabe, na sua leve maquiagem – que nos levantamos e sinto uma melhor sintonia vindo dela, ela nos para por um momento na grama. Um pouco séria, mas também animada e receosa, ela manda essa:

– Aproveitando que vocês estão aqui, queria dizer que encontrei algo que possa... que possa interessar vocês.

Murilo assim como eu não entende e ele questiona logo.

– Como assim?

– Em minhas buscas eu cheguei a um cofre, é meio que longa história. Pra encurtar, achamos uma fita de canções que pertencia à Viviane. Eu sei, quem hoje tem fitas, né? Ainda mais um tocador de fitas...

Não tendo respostas nem minhas nem de Murilo, ela prossegue.

– O caso é que guardei e acho que vocês poderiam querer...?

Meu mano olha pra mim um pouco hesitante. Isso porque ele bem sabia de minhas reservas quando se tratava dos relatórios sobre a família de Viviane, e, por conseguinte, de Vinícius. Era simplesmente algo que acho que não deveríamos remexer.

Assim dou um toque em Iara, que se surpreende, embora não devesse.

– Prefiro que mantenha guardado, I.

– Pensei que...

– Eu sei... E agradeço. Só quero que o Vini descubra as coisas por si e em seu tempo. Aí sim vamos ouvir as músicas da... tia Vivi.

Voltando a caminhar pela grama para a casa, os dois, Iara e Murilo, se surpreendem ainda mais e é por causa desse repentino apelido. Até eu fico sem jeito, não sabendo bem de onde isso veio.

– Tia Vivi?!

– Eu sei, eu sei. Não conheci minha primeira sogra, gente, e Djane... Bom, vocês sabem que ela pode ser bem ciumenta. Que nem esse manézão aí.

– Hey!

Assim que Murilo resmunga sua reclamação, Iara passa um braço pelo dorso dele para abraçá-lo de lado e devolver o consolo.

– Liga não, Murilo, eu gosssssssto dos ciumentos.

E eu imagino por que...

Porque os ciumentos tinham o cuidado que ela sempre desejou que com ela tivessem.


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Notas finais do capítulo

Manda mais amor que tá pouco amor #sqn


P.P.P.P.S: O livro citado existe: http://www.skoob.com.br/livro/3369



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