Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 64
Capítulo 63


Notas iniciais do capítulo

OLAR

Tem mais música :) e mais... casamento ^.^

Enjoy!



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Eu não ouvia música punk fazia muito, mas muuuuuito tempo. E eu nem devia estar ouvindo, para falar a verdade. Pelo menos não esse. O fato é que depois daquele rolo de Vinícius sumir naquele dia da pizzaria, os nossos amigos ficaram realmente preocupados. Gui e Flávia eram o que mais estavam a par das coisas, já com Dani consegui falar bem depois e pelo chat de uma rede social, isso no dia seguinte ao que tínhamos marcado na casa de Flávia.

Bruno também estava na conversa e foi aí que, no meio do papo, ele citou essa música. Que dizia ele ouvir faz tempo, porém nunca prestava atenção senão no ritmo, que ele gostava. Isso até que no outro dia ele foi atrás da tradução por acaso e achou conflituosa tal qual era a história de Vinícius com o pai. Eu havia esclarecido que era sobre Filipe que conversávamos naquele dia da pizzaria e que, mesmo que não fosse apropriado, dali eu colhi uns bons frutos até, pois Vinícius começava a se abrir mais e mais em relação a essa história.

Trilha citada/indicada: Much The Same – Father & Son

(1:17)

A música, a começar pelo título “Father & Son” (Pai e Filho), resumia bem uma relação complicada entre um pai e um filho, de modo que alternava estrofes e versos os discursos dos dois, que levavam a uma discussão. Era interessante essa questão porque a banda soube arquitetar bem isso, como um relato, e agora essa música não saía da minha playlist. Destoava até, por ser bem diferente do que eu andava ouvindo no momento. Era bem mais a cara do Bruno.

Mas ela se aproximava de um jeito com a história de Filipe que me dava vontade até de indicar a ele. Só não indicava de fato por 1) não era DEFINITIVAMENTE o estilo dele; 2) Filipe diria que é mais zoada que música, como todos os pais costumam falar das bandas punk; 3) novamente, eu não devia estar ouvindo – acho que eu gostava de me torturar – mas cá estava eu, fazendo almoço e cantando o trecho que dizia “Someday you'll wake up and you'll realize and you'll thank me for how hard I tried” (algum dia você acordará e irá perceber, e você me agradecerá por todo o trabalho duro que fiz). O drama da música era quase poético.

De qualquer maneira, a playlist estava no modo aleatório. Tenho culpa se tocava? A zoada da batida ligeira e forte do punk amenizava o drama, então estava me servindo, afinal, pra espantar a preguiça e fazer algo útil. Flávia falou tanto de mim no outro dia que dá vontade de convidá-la pra almoçar só mostrar a ela meu trabalho todo.

É segunda-feira e dona Bia não pôde vir trabalhar. Ligou ontem avisando e disse que viria compensar na terça. Quando a campainha toca, sei que é Vinícius, pois já havia me ligado avisando que viria almoçar comigo. Ele trocou o horário do expediente de novo. Após aquela situação toda pela promoção que desistiu, preferiu buscar outro trabalho, dentro da empresa mesmo e um que fosse mais ligado diretamente a desenvolvimento de projetos de imóveis. Com sua experiência no outro setor, foi mais fácil se manter lá dentro.

Ele faria tudo que fosse possível para que a faculdade considerasse esse novo trabalho e creditá-lo como se fosse um estágio, já que seria uma das exigências do semestre. Vini pareceu até mais relaxado, diz que há muito quer não ter que acordar tão cedo, e isso sincronizaria mais nossos horários. Só sentiria falta da minha mãe ligando de manhã. Ainda é algo que não consigo acreditar, mamãe tão ligada a ele. Sei lá, sou assim com Djane, mas... é Djane, poxa. Ela é minha professora.

Como estou ocupada, só dá pra baixar um pouco o volume pela caixinha de som que deixei na bancada da cozinha a um melhor alcance, e grito pro Murilo atender. Meu irmão coisa surge na sala todo arrumado e acena que está indo, mal me olha. Ele passou a manhã mal me encarando depois de eu ter rido horrores da história que o pobre me contou quando me acordou desesperado. Acho que eu ainda ria internamente por isso.

– Blink 182, amor?

Trilha citada/indicada: Blink 182 – The Rock Show

– Como tu sabe que é o Blink? Essa música é tão antiga que acho que nem passava aqui no Brasil no programa de clipes.

– A Wanessa, irmã do Wellington. Ela teve uma fase de soft punk com o Blink que eu acabei aprendendo muito.

Sei, Wanessa, né?

Nisso Murilo aparece quando dou um beijo rápido no Vinícius, pois acho que já era hora de desligar o fogo. Dessa vez meu mano nem reclama pelo fato de eu cozinhar e principalmente de ser para o outro, tampouco reclama da louça que vai ficar para ele quando chegar, pois está demasiado intrigado com o sonho que teve essa manhã para qualquer picuinha que possa levantar. Murilo toma sua água e avisa que está de saída, iria almoçar na casa da irmã da Aline. Elas estenderam o convite a mim e ao Vini, mas a gente queria aproveitar um tempo sozinhos. Nosso namoro demandava tempo para nós – o que certamente nunca era só nós mesmo.

Na hora de sair, comentando algo com Vinícius, Murilo lança um último olhar suspeito pra cima de mim. Mas é só depois da coisa bater a porta, que Vini questiona a respeito. Não antes de criticar minha playlist:

– Simple Plan, amor? Vai desenterrar o que mais? “Basket Case” do Green Day?

Trilha citada/indicada: Simple Plan – I’d Do Anything

– Hey, só acordei querendo ouvir um pouco de punk, nem que fosse pop punk. Tu ainda ouve as mais antigas de CPM e eu não falo nada.

Eu ainda amava muito CPM 22, o que bem ele sabe, mas uso no argumento só pra provocar mesmo.

– Vai dizer que a Wanessa também ouvia essa do Simple?

– Ouvia.

– E essa “Basket Case” do Green Day era bem legal, tá. Acho que ainda tenho aqui.

Quando viro pra procurar na mídia do meu notebook aberto na bancada é que Vinícius se volta para a questão do clima suspeito:

– Hey, Lena, o que foi isso com o Murilo?

De costas, finjo que não sei a que se refere.

– Isso o quê?

– Essa troca de olhar de vocês antes de ele sair. Eu vi, hein.

– Ah, isso? Nada demais.

Trilha citada/indicada: Green Day - Holiday

Ele chega logo atrás de mim, que adicionava a música do Green Day na playlist. Aproveitei e não só adicionei “Holiday” como coloquei pra tocar também. Era ótima para a boa vibe do dia. Vinícius só passa os braços por meu dorso e me aperta contra si. Seu perfume me atinge fácil, quase como se pudesse me amolecer. Eu resistia bravamente.

Desconfiado, o namorado acha melhor deixar claro que ele não tava dando muita confiança para essa minha resposta curta.

– Sei. Suspeito.

– É só que... é bobagem, juro. E aí... hã... Rendeu um momento um pouco constrangedor, sabe?

Os pelinhos de meu pescoço se eriçam por o sabidinho começar a espalhar selinhos por meu pescoço e ombro, que estavam ali a bel prazer dele, por estar de blusa de alças. Ah, mas ele não ia me dobrar neeeeeem...

– Nem pensar, conta logo a novidade.

Novidade foi o que ele soltou quando ligou me avisando que estaria vindo, que tinha uma ótema novidade, na verdade. E que ele mal podia esperar pra revelar. Cadê a animação agora?

– Negativo, eu perguntei primeiro. E começa do começo, Lena.

Ele queria era provocar, o safado, logo noto. Mas não iria dar a ele esse gostinho de fazer disso uma pequena discussão. Reviro os olhos e tento é não rir do Murilo de novo. Pra isso, faço que me solte e aponto para que se sentasse à mesa.

– Tá, eu só... ok. Senta.

– É sério assim?

– Não. Quer dizer, de começo não...

Inspiro e busco tranquilidade. Não ria, Milena, não ria. Concentra. Sonhos são malucos assim, quem seria você pra julgar, né? Encosto-me na bancada perto do notebook e começo:

– Então... errr... o Murilo teve um sonho essa madrugada. Do que ele contou, primeiro ele tava na sala de reuniões, lá no centro meteorológico. Mexia em algum dos equipamentos lá quando o chamaram.

– Hum.

– Ele foi sair e aí se viu na casa de mamãe. Ela gritou com ele porque tava rolando uma festa e ele tinha se escondido só pra fugir do discurso.

Eu podia sentir meus olhos se enchendo de novo, se preparando para o round 2 das gargalhadas. Dava pra imaginar bem o que era aquela bagaça de sonho.

– Discurso? Que discurso?

Ah, Vini... quando você souber...

– Ele também não entendeu, só botou o paletó que ela oferecia e foi empurrado lá pra casa dos fundos. Rolava uma festa mesmo. Todos pediam por discurso. Quando finalmente ele se situou... ele percebeu que...

Ok, eu fazia suspense só de mal.

– Que...?

– Eu estava de branco.

Vinícius não saca de primeira. Ele vira a cabeça de lado, acho que tentando projetar isso na sua mente e chega até a entrecerrar os olhos, em dúvida do que ele mesmo pensava sobre isso. O que será que se passava por sua cabeça?

De qualquer modo, eu esclareço logo.

– Era meu casamento. Meu brinde de casamento na verdade.

– Ele sonhou com a gente casando?

Vinícius, que estava sentado de qualquer jeito na cadeira, se endireita e tudo pra prestar mais atenção no que eu contava. As sobrancelhas dele estavam de pé e agora eu lutava contra a vontade de rir de sua reação surpresa. Porque aquilo piorava.

Muito.

– Não exatamente...?

A ficha de Vinícius demora a cair.

– Como não? Você disse que... espera, eu não era o noivo?

Ah, a inocência. Era ela tão linda. E divertida.

– Era! Quer dizer, não era. Todos davam a entender que era você, mas o Murilo dizia que tinha o rosto de outra pessoa. Que ele não conseguia identificar quem era. Pelo menos não até acordar... Mas lá no sonho mamãe atazanava ele porque ficava atrasando tudo... O que seria tão a cara dela de reclamar e...

– E Murilo não pirou?

Aí sim eu comecei a rir e abertamente, assentia e ria mais. Tive que reunir forças para continuar a “história” absurda desse sonho. Em minha memória a face surtada de Murilo me sacodindo na cama era fresca e impagável demais.

– Na verdade... sim. Diz que... que quando me viu de vestido branco e grinalda, ele ficou perdidinho. E aí eu... Eu exigi o discurso e vovô começou a descreditar dele e... Basicamente, ele tentou improvisar um discurso.

Ok, essa parte foi fofa. Murilo disse que eu tava linda demais, que ele chorou de emoção só de olhar pra mim, que ele esperava algum dia, num futuro bem bem bem bem bem bem bem distante – palavras dele, não minhas – que ele e papai me conduziriam ao altar e me entregassem ao noivo. Sim, os dois. Eles brincavam com isso, mas eu tinha cá comigo que eles bem que iriam querer fazer um teatro desses no meu casamento.

A fofura não demorou tanto assim, porque Murilo logo quis saber de meus planos sobre casar, assim, sem mais nem menos, de pé no meu quarto, às 6h da manhã, ele tava com uma cara assustada e eu não sabia se ria mais, se chorava de rir ou se batia na criatura por ter me acordado só pra isso.

Na realidade, ele saiu voado e esbaforido de sua cama e foi parar no meu quarto pra procurar evidências. Ele tava investigando minhas mãos pra ver se tinha anel ou não. Juro! O bichinho só suspirou aliviado quando alcançou minha mão esquerda, comigo resistindo. Claro, acordei com ele mexendo em mim (que praticamente me revirava), ele queria o quê?

Aí que meu mano aproveitou pra demandar suas questões sobre casamento. Quando vi que falava sério mesmo, preocupado, é que esclareci, que eu não pensava nisso e era bem provável que não pensaria tão cedo. Não era um propósito meu para agora e coisas do tipo. Ele me fez jurar que não. Três vezes. Aí sim ele caiu na minha cama e contou os detalhes do sonho.

– Ele conseguiu? Fazer o discurso?

– Nops.

– Ele lembrou quem era o cara? O... noivo?

– Sim. Ele veio se tocar de quem era já pelo meio da manhã. Era um dos caras do departamento dele. Aí ele me fez prometer que não iria mais aparecer lá, o que é meio impossível, porque às vezes o Gui me deixa lá pra eu pegar uma nova carona.

Me viro para lavar a mão e só ouço um...

– Putz.

– Eu sei, exagero, né?

– Não, é que... você conhece esse cara?

– Sei nem quem é, ele não me disse o nome e é provável que não vá.

Do jeito que Murilo ficou maluco essa manhã, vai dizer o nome desse cidadão é nunca!

– Rum.

Me viro, a mão cheia de sabão. Encaro-o antes de revirar os olhos por tamanha besteira que vinha a considerar.

– Rum o quê? Vai dizer que... tá com ciúme de um cara que eu nem conheço? Melhor, um que nem sei se conheço?

– Ah, Mi, vocês tavam casando. Isso pode deixar um namorado bolado.

– Vini. De novo, eu nem sei quem é. E o sonho nem era meu. Veio logo da cabeça de ora quem, da genialidade a que chamo de irmão.

– Uma simples questão de me preservar apenas. Tu que não vê um bando de gavião que fica que te rondando, Mi.

Ele diz que é sério, e fica com essa cara de sacana. Fica difícil saber em que acreditar, então só entro na onda. Volto-me para a pia.

– Não vejo mesmo não. Me diz um.

– O seu colega de turma, o Sávio?

Por que eu fui perguntar mesmo?

– Tá, casos a parte.

– O André?

– Nem fala o nome desse fdp na minha casa.

Essa.. coisa... não conta nem como ser humano. Ugh.

– Mas, poxa, Mi, precisava sair logo casando assim?

Sério que ele tá me dizendo isso? Sério nada, ele tá é me zoando, noto.

– De novo, foi um sonho. Do Murilo. E ao que constava, na cerimônia era você.

Vinícius se levanta, detém um sorriso lindo e genuíno. Me parece muito confortável com a ideia de casar. Não que eu vá perguntar sobre isso, acho que nem pra questionar algo do tipo com ele estamos na época. Se é que tem época. Uma vez conversamos indiretamente, quando me afirmou que também acha que a relação do Murilo com a Aline é de dali pra frente. Todo mundo diz que é fácil imaginar os dois casando. E olha, eu faria muito gosto. Mas também é algo que não é para agora.

– Dessa parte eu gosto.

– Tô vendo. Agora me conta a parte que eu vou gostar?

Eu queria era saber da novidade, oras. Termino de ajeitar o almoço e começo a pegar os utensílios para por à mesa. Já meu namorado, ele faz graça.

– Do... nosso casamento?

– Vinícius Garra! Ou conta ou fica sem sobremesa. E sem um monte de coisas.

– Que tipo de coisas?

Ah, agora ele tá interessado...

– Coisas. Coisas interesssssssantes.

– Então... era um vez... um funcionário chamado Vinícius que...

~;~

Estávamos descendo a rampa da faculdade, eu e Flá, quando uma colega de turma, Marcinha, aproveita que estamos seguindo para o pátio, já que era intervalo, e se junta a nós. Ela já chega comentando sobre umas fotos que Flávia havia postado essa tarde numa rede social.

– Eita festão, hein!

Pra zoar, comento:

– Não achei que estaria viva para ver a Flá sair carregada.

– Epa! Saí carregada sim, mas não por beber demais. Conta essa história direito. Meu sapato triturou meus dedinhos, que agora que estão voltando a respirar. Eu mal posso andar ainda.

Ela até conseguiu convencer o Bruno com esse drama e fez com que ele a carregasse para ir para a sala na hora da entrada. Hilária foi a cara do Gui quando voltou da sala da xérox perguntando que história era essa, de sair com a namorada dele nas costas daquele jeito. Flávia só disse que alguém tinha que comparecer. As costas de alguém, digo, porque ela não queria esperar o Gui voltar.

De fato, minha amiga tava mal andando mesmo, tanto que condenou aquele sapato que antes se mostrara tão confortável. Já tinha usado ele em outras ocasiões e nada, ocorria tudo beleza. Mas na hora de descer até o chão (Flá diz que não, eu espalho que sim), ela não sentia nada, o álcool deu conta disso. No dia seguinte, ela quase não levantava, mais por cansaço do que por ressaca mesmo. Só chegou pra sobremesa no almoço que marcamos fora com a galera, pra aproveitar que o Luke ainda não tinha viajado de volta. No fim das contas, até que Flá não bebeu muito. Depois da aparição da mãe do Gui após a confusão para a noiva jogar o buquê, só a vi virar um coquetel e nada mais.

Agora ela dava umas pisadas calculadas e se pudesse, disse, estaria de pantufas. Mas como era a faculdade, usava uma rasteirinha

– É o que ela diz.

E só comento isso mesmo, apesar de ter milhões de histórias sobre essa festa para contar. Na empresa, a Iara tava doida pra saber. Hoje, no break do café, conversamos sobre uns desses babados do fim de semana. Era tanta tanta tanta tanta tanta tanta tanta tanta tanta tanta tanta tanta tanta tanta tanta tanta tanta tanta tanta tanta tanta coisa, que eu comecei logo com os mais polêmicos. Se não tivesse aula, Iara disse que ia me levar para seu apê e arrancar tudo de uma vez. Isso porque ainda tem as histórias pós-festa. Como a chamei para o almoço conosco ontem, ela ainda pegou algumas dessas histórias. E olha que eu bem que estava em dúvida sobre liberar a história sobre Murilo desesperado essa manhã atrás do meu dedo anelar esquerdo. Ou direito.

– Milena! Como você me conta uma coisa dessas e nem tem as evidências?

– E tu não acha que já não tô atrás? Tinha câmeras-man lá, essa filmagem existe. Tô te falando.

Na mesinha do café, Gui chegou de mansinho perto de nós. Ao que parece, ouviu o último pedaço da conversa, pois já apareceu resmungando:

– Ai, não. Tu ainda tá nessa de procurar aquela apresentação? Mi, essas coisas são únicas na vida. A gente vê uma e basta.

Não desisti. Com um dar de ombros, apontei:

– A Iara não viu.

– É! Eu não vi.

Muito sabichão, ele alcançou um copinho plástico para pegar café e argumentou:

– Eu não sei até hoje dos segredos revelados naquele Uno na casa da Milena e nem por isso tô reclamando.

– Eu bem que tô disposta a te revelar de primeira mão se puder ter esse vídeo.

Sim ou com muita certeza que vão me acusar de ser má influência para a Iara depois desse comentário dela?

– Mas tu só ensina as coisas ruins, hein, Mi.

Tô dizendo. Ou pensando.

– Tá, eu tenho que voltar pro meu posto. Pensa bem no caso, Gui. A Mi confirma que vale to-tal-men-te a pena.

Vale totalmente a pena ver os meninos rebolando a virada da música do Bruno Mars, isso sim, porém não chego a pronunciar isso, senão esconder meu sorriso. Acho que não poderia mais ouvir aquela música sem revisitar essas cenas em minha memória. Quando Iara se distancia, Gui faz mais umas tentativas de descobrir o toque de meu celular. Desde que confirmei mesmo que mudara, ele se danava a perguntar qual era. Até tentou me ligar pra ouvir, só não podia contar com o fato de eu ter deixado no silencioso. Era uma brincadeira besta, mas lá estava ele, adivinhando. Ou tentando.

Call Me Maybe?

– Nops. Essa música já tocou tanto o ano todo que não aguento mais.

– Eu não aguento mais é me pegar cantando One Republic.

Bati no seu braço não muito delicada, que o café dele treme no copo ameaçando cair no chão.

– Seu chato. Ainda vou tirar aquele trim de polícia do teu.

Quem sabe até coloque Call Me Maybe?

– Mas aquela montagem com o Obama ficou absurdamente calculista. E legal.

Ficou mesmo, não posso negar.

Falando na figura, logo que chegamos ao pátio da faculdade, ele passa por nós correndo, grita algo sobre pen-drive e o professor Sanches, e gritamos de volta, por aquele desespero doido. Sabíamos que o professor era dono de pedir coisas emprestadas e às vezes não devolver, mas não precisava sair quase nos arrastando! Gui chega a derrubar o material de Marcinha e só pede desculpas quando já está longe da gente. Eu e Flá então nos encarregamos de juntar tudo, pois mais alunos desciam e faltavam pisar nas coisas.

Foi aí que Sávio apareceu para ajudar a pátria. Juntou o que faltava, nos cumprimentou e saiu, em direção da mesa daquele ex-grupinho de André, alguns deles já estavam por lá. Um deles, Acácio. Ontem à noite mesmo consegui resolver a pendência com ele sobre nossas atividades e já me encaminhava para a biblioteca para buscar um outro dado para a pesquisa quando Marcinha se volta para mim, enquanto Flávia se direcionava para a fila da lanchonete, que crescia.

– Mi, posso fazer uma pergunta pessoal?

Eu estava meio aérea, não nego, por isso mesmo repeti:

– Pessoal?

– É, acho que seja... É só que... ouvi umas histórias sobre... Parece que o Gui está brigado com o Sávio?

Oh.

Vou na embromagem que é o mais certo.

– Errrr... é, eles tiveram uma discussão outro dia aí, mas nada para se preocupar. Bobagem de homem. Eles são mais frescos que a gente, você sabe, né?

– Ô se sei. O Cardoso com o William ficaram de mal só por causa de uma garota lá do seminário, na viagem, lembra? Foi tão besta! Como se algum deles tivesse chances com a menina. Que era comprometida, aliás.

Aproveito que ela mesma estica história pra outro lado e invisto no assunto, antes de me despedir para ir à biblioteca:

– Aham! Ainda a deixaram constrangida. Meninos às vezes parecem que não veem que existem mundos paralelos aos deles. E que nem tudo são como querem.

Se eu soubesse do rolo que estava prestes a acontecer, eu teria gravado esse meu argumento, pois o que eu mais precisava era convencer o Gui daquilo e parar de frescura. O dia estava ótimo demais para ser verdade, isso sim.


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Notas finais do capítulo

O que será que ela quis dizer nesse último parágrafo, heeeeeein?

P.S.: sobre o Obama cantando Call Me Maybe https://www.youtube.com/watch?v=hX1YVzdnpEc



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