Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 166
Capítulo 165


Notas iniciais do capítulo

VINGANÇA DO UNIVERSO? Não sei dizer.
Mas que tá um capítulo gostosinho tá, com FOFURAS, MIMOS e uma invenção de Dona Helena que eu não ia conseguir dormir sem postar hoje :D



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Depois da queda e todos os transtornos que me vi envolvida – de locomoção a não poder tomar um banho sozinha – nem havia considerado ainda passar pela situação menstruada. Porque se já é ruim descer estando normalzinha, imagina dependendo de pessoas.

Se tivesse pensado sobre isso até um dia antes, posso apostar que iria resmungar bastante sobre a falta de sorte de me pegar numa temporada bem chata e me acrescentar mais esse incômodo. Agora não. Agora eu só sei agradecer a Deus e ao universo por essa resposta e não tô ligando nenhum pouco sobre ter que trocar absorvente de tempos em tempos estando limitada. É uma liberdade estranha, sei lá.

Já limpa e bem aliviada, me sento ao sofá com calma, ainda meio anestésica do que foi o rolo pós-almoço. Ligo a televisão para ao menos fazer algum barulho à casa silenciosa, vez que depois de mim, mamãe foi tomar seu banho. Acabamos não falando coisa alguma uma a outra. Ela só me ajudou no banho e seguiu para o seu. Eu sei que dona Helena quieta é um ponto a se considerar, mas neste momento só quero respirar. Sair do espaço claustrofóbico que se tornou o banheiro – vez que quanto mais eu queria sair, mais tempo tive que passar lá – foi um verdadeiro alento ao alívio que a menstruação me proporcionava.

Encontro uma novela mexicana e pelo que consigo compreender da cena, uma senhora confronta uma moça sobre barriga falsa. Não querendo ouvir falar de qualquer coisa relacionada, passo de canal. Em um programa de fofocas, a apresentadora fala da bomba da semana, uma atriz que revelou que o marido não era o pai do seu bebê. Não querendo questionar o universo, passo para um programa de variedades, que, sem mentira nenhuma, ensina sobre papinha de bebê e transição para comidas sólidas. Com essa, vou para o canal do boi. Mas bastam cinco segundos para me voltar pro teto tentando não resmungar nada ao universo, porque até ali falavam da reprodução da vaca e o cuidado com seus filhotes.

Sigo pro Youtube porque a TV aberta tava sem condições mesmo!

 

Imagine Dragons – It’s Time

 

Coloco o clipe de “It’s Time” do Imagine Dragons que estava ali dentre os vídeos recomendados. Isso me faz lembrar do meu Vinícius e sua tentativa de usar um toque de celular diferente, inspirado no meu histórico. Me faz pensar também no seu bom sorriso quando me contou desse experimento e me fez ligar para seu número para comprovar.

Me perco num fio de amor apreciando pequenos gestos dele, dos fofos aos engraçados, que nem percebo mamãe ao meu lado até que afunde no espaço do sofá. Como eu, parece estar em um transe. Só que não parece num bom transe.

— Mãe?

— O-oi?

— No que está pensando?

Ela expira o ar de si de modo que seu tronco e peito abaixam de vez.

— Nem sei direito.

Abaixo o som da televisão e me ajusto no meu lugar para ficar frente a frente com ela e mais aberta.

— Tenta elaborar um pouquinho.

— Eu só... Não sei bem o que eu esperava.

A carinha dela, agora pesarosa, me faz ter coragem para uma pergunta difícil.

— A senhora ficou triste... porque deu negativo?

— Não. Quer dizer, não é que eu não quero que você tenha filhos, eu só... Foi um susto – muitos sustos em sequência, na verdade – e eu pensei tanta coisa ao mesmo tempo que entrei em fuso.

Agora sou eu em fuso se devo ou não lhe perguntar mais sobre isso. Ou melhor, sobre sua visão sobre o que eu tenho pensado quanto ao assunto de ter filhos. Mas então lembro que preciso deixar as minhas expectativas bem claras a quem importa. Com calma, começo:

— Mãe... Seria outro susto eu dizer... Eu dizer que não quero ter filhos?

— Não sei. Mas por que haveria de não querer?

Apenas seu semblante muda, na maior inocência e calmaria, de tal modo que franze a testa e inclina a cabeça de leve. Mesmo sentindo que estou em território desconhecido, também me vem uma necessidade de colocar meus sentimentos para fora. O empurrão o universo já havia me dado.

Sigo com um leve dar de ombros.

— Eu só... não sinto essa vontade. Não é um objetivo meu. Não é algo que eu... anseie.

— Na sua idade e com tantas mais possibilidades, é bem comum não se pensar em filhos pra breve. A preocupação maior é sobre estudos e trabalho.

— É, talvez seja uma questão geracional, mas... Nem me dou bem com bebês ou crianças.

— Isso a gente aprende conforme a música toca. Não fui nada segura quando o Murilo tava aqui na minha barriga. Ou mesmo fora dela. Fui ter mais jeito com você a caminho.

Mamãe faz um carinho em meus cabelos, alisando da raiz às pontas. Por mais que isso me dê uma boa sensação, tenho que prosseguir no tema difícil. Não é para eu deixar pra lá, não mais.

— Mas mãe... E se a senhora não tivesse tido?

— Acho que não consigo me imaginar não tendo.

— Consegue me imaginar não tendo?

Semelhante a um peixinho, sua boca abre e fecha, e seu olhar vaga ao redor, e parece que posso ver as engrenagens na sua cabeça emperrando. Emendo:

— Eu só... Nunca tive esse desejo. Não penso muito no futuro e...

Mamãe inspira e se volta para mim, pegando-me minhas mãos às suas e dando leve batidinhas nelas, como que para me acalmar ou me ceder alguma grande sabedoria.

— Quando se trata da nossa vida e de possibilidades, o certo é nunca dizer nunca.

— A senhora acabou de dizer.

Parece implicância, mas só foi algo automático mesmo.

— Você me entendeu.

— Entendi. Mas a senhora me entendeu?

Ver que ela assente devagar é como colocar algum conteúdo ao buraco do meu estômago. Que agora dá mais sinal de vida depois de tanto aperto.

— Acho que sim. Não é para eu ter expectativas, não é?

— Isso.

— Mas você já conversou com o Vinícius sobre isso?

— Não. E é uma conversa que tá pendente faz um tempinho. Na verdade, desde o nascimento da Lia.

Um pequeno sorriso cresce ao rosto dela com algo que brota em sua mente.

— E em pensar que até fiquei um pouco nervosa ontem de ver o Vinícius com a Lia. Quer dizer, o Murilo com a Lia é uma coisa. O Vinícius com uma criança pequena nos braços é outra.

Agora sou eu que inclino a cabeça, curiosa.

— Qual a diferença?

— Acho que por conta da idade de você para seu irmão. Ele se tornou um adulto faz muito tempo e você... Demorei a perceber que minha menininha já é uma mulher. Com namorado. Relacionamento firme. Feliz. O que é muito bom, não tenha dúvidas. Mas sabe a sensação de que o tempo correu tão rápido?

Sinto minha sobrancelha se levantar junto ao sorriso que brota em mim com essa insinuação dela.

— Significa que a senhora aprova o Vinícius como pai?

— Ele é um bom partido, isso é. Mas é você quem decide, meu amor. Sobre ter ou não filho também. Só é meio estranho pensar sobre isso. Estou me acostumando com você sendo tão adulta.

Aperto enfim as mãos dela enquanto suspiro de alívio mais uma vez neste dia.

— Obrigada por isso, mãe. Significa muito.

— Significa muito pra mim também. Não gosto de ter que arrancar informações, mas muitas vezes me vejo obrigada a isso e... Tá, ainda é algo que eu preciso melhorar. Quero poder conversar assim mais vezes. Quero que sinta que pode conversar comigo. Tá bom?

Fecho os olhos muito feliz por essa sua resposta. Primeiro por eu ter conseguido falar e segundo por ter sido tão bem recebida em meus anseios. Começamos isso de um jeito bem insano – novamente por não ter havido conversa ou informe algum – e agora me sinto leve e acolhida. Achei que ela tentaria me convencer do contrário ou que... Enfim, fui bem aceita. E isso é tão tão tão bom.

Bem como o Murilo pontuou sobre suprir a falta de comunicação. Faz uma enorme diferença.

— Tá bom, mãe. Também quero poder conversar mais com a senhora. Tem muita coisa que quero dividir sendo essa adulta tão cheia de dúvidas. E vou dividir, aos pouquinhos.

Mamãe me abraça e me enche de beijos ao rosto que nem reclamo, só aproveito. Acabo me ajustando ao sofá para que fiquemos juntinhas no maior chamego. E falando em aproveitar desse chamego, volto ao ponto de ela ficar de olho no Vini.

— A senhora ficou mesmo observando o Vinícius com a Lia?

— Tinha como não observar? Estavam muito fofos os dois no espelho.

Depois do alvoroço com o Fred no jardim, entramos na casa. Para dar um espaço à Aline, Lisbela e seu marido, para tomarem um banho e se trocarem, Djane e mamãe se ofereceram para dar papinha à pequena. Murilo ainda ficou por ali na sala com a gente, esperando sua vez de tomar banho, e mexendo com a Lia de brincadeira, enfezando a guria como ele bem sabe aprontar, mesmo com mamãe lhe dando pequenos tapas. Isso fazia a pequenina rir. Aliás, ela tá na fase do riso solto que contagia. Dizem ser a fase mais gostosa por isso. De fato, eu ria a danar.

Assim que abriu uma vaga no banheiro, que Murilo saiu, Iara chamou Djane para alguma coisa e mamãe ficou com a Lia. Mas depois mamãe teve que se levantar também não lembro por quê. O Murilo por um acaso apareceu na sala de novo e aproveitou para segurá-la, mas foi chamado para entrar no banho e colocou a Lia nos braços do Vinícius, que fazia graça pra ela com o controle da televisão. Nisso, o Murilo comentou que também era engraçado quando ela se olhava no espelho.

Com meu mano fora de campo, o Vinícius se levantou com a Lia para ir até a penteadeira da sala, que tinha um grande espelho e daí foi impossível não rir das expressões deles. Foi a hora que mamãe voltou para a sala. E de tanto rir de barriga cheia, a Lia “batizou” a camisa do Vinícius, que também foi obrigado a se trocar. Era a segunda vez em menos de 24h que o namorado teve que recorrer a uma camisa emprestada do pai e fugir das vistas da família.

Quero crer que o susto de hoje não foi vingança do universo por eu judiar do Vini escondendo meus souvenirs.

— Tavam muito fofos mesmo.

— Queria ter tirado uma foto.

Engenhosa, comento:

— Eu posso conseguir uma foto. Com outro bebê.

— Que história é essa?

— Só um parto que a gente quaaaaaaaaase fez uma vez, ano passado. Acho que essa história ainda não lhe contei.

— Vale fazer pipoca?

— Vale sempre fazer pipoca!

 

~;~

 

— CHEGUEI, FAMÍLIA!

Eu nem digo mais pra criatura que dá pra saber quando chega – por conta do barulho do carro e do portão da garagem, até porque ele se anunciar assim é de um prazer que sei que é imenso pra ele e também grandão pra mim. Ainda mais quando chega todo feliz.

Dessa vez, no entanto, Murilo adentra a sala com Aline e me pergunto por um segundo se ele a trouxe para dormir aqui em casa sendo que já guardou o carro. Quando estávamos só os dois, até o Vinícius às vezes dormia aqui, mas com mamãe na casa, eu não podia imaginar essa ousadia dele. Quero só ver o que ele vai fazer.

Aline chega por trás do sofá para nos cumprimentar, toda sorridente.

— Oi, Milena, oi, dona Helena! Vim só pra contar uma coisinha pra vocês e ir na casa da Marcela, que ela vai viajar amanhã.

Faço um pequeno muxoxo por não ter a cena desconcertante (de o Murilo falar que Aline passaria a noite) e explico rapidamente pra mamãe que Marcela é a vizinha de frente, amiga de Aline. Tenho impressão de já ter mencionado isso, mas reforço mesmo assim. Depois de uma tarde gostosa de conversas abertas com ela, sei que já lhe contei um monte de coisas e ainda não é nem metade. Mas como eu disse mais cedo, seria tudo pouco a pouco.

— O que é meu filho já tá sorrindo besta assim?

Nem a Aline resiste a rir mais com essa, sobrando só o Murilo com um bico. No braço do sofá ao lado de nossa mãe, ele resmunga, se levantando teatralmente, com as mãos na cintura e tudo:

— Não se pode nem mais ser feliz nessa casa. Agora não tem mais novidade, viu. Bora, Aline.

Antes que a peste alcance a namorada, eu que me levanto para puxar a cunhadinha pro sofá. Dou até a bacia de pipoca, embora já quase não tivesse muito o que catar ali, mas dou, também por efeito dramático.

— Não ouve ele, só conta.

Muito da sacana, Aline de fato não ouve meu irmão e se ajeita no lugar, com a cara mais empolgada de soltar o babado.

— Então... Estava eu na recepção do novo centro meteorológico quando certa pessoinha apareceu. E não falo do Murilo, apesar de que ele já estava lá comigo. Foi quando estávamos entrando para o turno da tarde.

— QUEM, QUEM, QUEM?

Falamos eu e mamãe, uníssonas.

— A priminha do Armando, que estava lá à espera do pai que ia lhe buscar. E aí o Murilo foi cumprimentar a menininha e vocês-não-vão-acreditar!

FOI VOMITADO? GRITADO? CHUTADO?

São tantas as opções, mas só sigo a curiosidade-mor junto de mamãe.

— O QUÊ, O QUÊ, O QUÊ?

— Ela chamou o Murilo de... “Muguilo”. A coisa mais fofa do mundo!

— AAAAAAAAWN!

Me derreto como se pudesse ver e ouvir essa cena, tal qual mamãe. Com essa, Murilo desfaz o bico chato para seu sorriso bobo e eu não me importo nenhum pouco de mais uma vez, neste estranho dia, me ver neste tópico de crianças, bebês e pais e filhos. Acho que como disse nossa mãe, o Murilo tá numa idade muito mais propensa, fora que faz muito mais parte dos planos dele do que dos meus. E embora isso implique uma gravidez para a Aline, ela também parece bem mais envolvida no assunto agora que a Lia faz deles gato e sapato. Quer dizer, conquistou total seu casal de padrinhos.

— Agora preciso ir, que a Marcela já deve estar pronta para sair. Até depois, gente.

Murilo a acompanha até a porta com seu sorriso besta na cara de novo. Com ele fora de campo, cutuco mamãe sobre nossa conversa de mais cedo.

— Parece que ele tá passável mesmo, mãe. De ter filhos em algum tempo.

— Ele vai ficar muito feliz quando for a hora, tenho certeza. E você vai ser muito feliz com a sua decisão, qualquer que seja. Uma família acontece de inúmeras maneiras, não só gerando filhos.

Eu só queria provocar ela em relação ao Murilo e ganho essa declaração linda. Pensei que mamãe ainda demoraria um pouco a digerir mais a notícia.

— Aiiin, mãe, desse jeito fico até sem palavras.

— Claro, sou um fofo.

A criatura reaparece à sala sem a gente perceber e ainda bem que pegou só minha declaração final. Para não entregar o papo com mamãe, pego seu gancho.

— Pensei que não gostasse de ser chamado de fofo. Aliás, tu disse uma vez que nenhum cara gosta de ser chamado de fofo.

— Só os caras que já a-ma-du-re-ce-ram gostam de ser fofos.

A pausa das sílabas lhe dá todo um ar de sabedoria, junto à frase de efeito com que se sai, que até eu bato palmas com jeitinho. Logo ele se senta ao lado de mamãe para ganhar chamego também.

— Muito bem. E essa criatura fofa trouxe o jantar? Porque não tô vendo nenhuma sacola.

— Tá no carro, chata. Vim ser fofo primeiro. E, mãe, a Aline disse que quer ir no passeio amanhã. Nós podemos sair depois do almoço.

— Ótimo! Vou confirmar com Djane logo mais. E vou colocar logo o jantar, que pela cara de preguiça de vocês, não vai ser tão cedo.

Mamãe se levanta e o Murilo pende o corpo pro sofá, quase deitado. Sem posição boa, ele se aproxima de mim e faz das minhas pernas sua almofada de cabeça, o safado.

— Isso se chama sono e cansaço de quem levantou cedo demais e ainda não dormiu.

Da cozinha, dona Helena não deixa barato.

— Sem desculpas. Vai logo pro teu banho.

Mas Murilo tá tão sem coragem que faz é se aconchegar mais a mim, tanto que adiciona uma almofada de fato às minhas pernas. Dou um desconto à sua sabedoria do dia, assim logo me vejo fazendo um cafuné na criatura.

— Mereço cuidados após um dia tão cheio.

Diz ele deitado de barriga pra cima e olhos fechados.

— Chegou atrasado?

— Não, só algumas atividades inesperadas.

Ele abre um olho só para contar uma delas:

— Eu coordenei a equipe de recesso pela primeira vez. E foi bem legal.

Me animo tanto que dou um tapa na sua testa. Porque é o que me sobra estando com ele em cima de mim. Ele só franze a testa, risonho.

— Parabéns, Murilins. Por isso teve que sair mais cedo?

— Sim. Abriu essa oportunidade e meu chefe me chamou. Me orientou também.

— Tava nervoso?

Diria que bagunçava a cabeleira do dito cujo, que agora se mostra mais aliviado e sossegado, porém faz tempo que ele mantém um corte de cabelo bem baixo. Mas era legal ter seus fios espetando.

— Só tava. Quase derrubei o filtro do bebedouro numa topada. Mas senti que meu chefe tava comigo ali e no começo meio que fizemos juntos e tomei conta do resto. E sabe uma coisa mais legal ainda?

Murilo eleva mais a cabeça para sincronizar com a minha, todo orgulhoso, apesar de desviar um pouco de seu olhar.

— O quê, o quê, o quê?

— A psicóloga que me atendia no outro prédio estava por lá e acompanhou todo o processo. Depois super me elogiou.

— Ai, meu Deus. Murilins todo profissional, gente. Todo desenvolvido, cheio dos elogios e requisitado.

Tô babando ele com uma voz infantil, mas termino por lhe dar outro tapa na testa.

— Mas na hora de me avisar as coisas, é todo antiparceiro, né?

A peste? Ri de fechar os olhos, o descarado, mesmo arrependido. Ousa ele tentar esconder a face de mim com uma mão ao rosto.

— Foi mal mesmo. Tava com muita coisa na cabeça nos últimos dias.

— Por conta do trabalho?

— Também. Só juntou muita coisa de repente. E fim de ano, né?

— Eu ia até te perguntar sobre as chuvas de fim de ano, que até agora não deram as caras. Ao menos tá sossegado.

Seu semblante muda de instantâneo, as sobrancelhas levantadas em seriedade e sua cabeça elevada mais pra trás pra me alcançar porque falei besteira.

— Você sabe que isso não é nada bom, né, Lena. Tem gente que depende dessas chuvas. Fora que significa que o aquecimento global tá avançando bastante e alterando nosso clima.

Dessa vez lhe dou um peteleco por duvidar da minha inteligência.

— Eu sei, seu besta. Sei que é egoísta da minha parte e sei que não devo comemorar algo do tipo. Mas... tu sabe. Só um pouco de paz do lado de cá.

Falo como se o universo não aprontasse comigo com ou sem chuvas. Hoje mesmo colocou minha sanidade em jogo. Porém, não é algo que quero trazer de novo. Prefiro me distrair com qualquer coisa e o Murilo é a coisa perfeita nesse caso.

— Só por isso deixo passar. Mas não te acostuma não.

— Aceito se não tiver que me acostumar com teu chulé.

Sim, ele já tava tão à vontade que havia tirado o sapato e eu começava a sentir um odor esquisito.

— Tá até razoável.

Dou um tapa final naquela sua testa apelativa e o empurro para que saia de cima e do sofá.

— Ai, seu coisa, vai pro teu banho vai. Vai, vai, vai.

Ele ia resmungar alguma coisa, porém a carrasca volta para a sala de mãos na cintura e aí sim ele vai catando seus sapatos e sai de fininho pelo corredor.

— MURILO LINS ALBUQUERQUE CAMARGO. Não tinha te mandado pro banho?

Mas a criatura volta e escora só sua cabeça na parede, na divisa entre o corredor e a sala, para retrucar:

— Pra quem ganhou um promoção, eu devia estar sendo bem melhor recebido viu.

E se ele achou que isso ia amolecer mamãe, achou errado. Queria eu ter pipoca na bacia ainda.

— Só depois do teu banho, quando tu virar gente de novo.

E aí o Murilo faz um bico e parece pensar em algo. Apronta algo, na verdade. Ele caminha de meias até onde mamãe está, dá um abraço desses de envolver a pessoa toda sem a pessoa poder se mexer – e, detalhe, ainda com um sapato em cada mão, dá um beijo no rosto dela e sai andando a passos rápidos de volta para seu quarto. É claro que mamãe grita de novo. Isso depois de passar seu momento atônita pela atitude da criatura.

— MURILO LINS!

Dá só pra ouvir ele rindo distante.

Já sem a peste por perto, “conserto” mamãe:

— É “Murilins”, mãe.

— O quê?

— A junção de “Murilo” mais “Lins”. “Murilins”. Mas se chamar de “Murilin”, aí sim ele sai cuspindo fogo. Então chama mais esse mesmo.

Olha lá eu colocando mais lenha na fogueira. Ou seria fogo na lenha?

Agora ela mostra as mãos na cintura pra mim.

— Não já aprontou o bastante para um dia não, mocinha?

— Nem me fala, mãe, nem me fala.

— Pois levanta e vai logo lavar as mãos pra jantar. Já brincaram demais com meu coração hoje. Assim fica difícil mimar vocês.

Eu? Provoco, enquanto me posiciono pra me levantar.

— Eita, mãe, eu que menstruo e a senhora que muda o humor.

— Não me testa, Milena, não me testa.

Queria eu aprontar o mesmo que o Murilo, porém tenho amor à vida e a ciência de que não daria pra correr. Então faço meu último apelo:

— Mãe, sabe que te amo, né?

Isso sim a faz soltar os braços e fazer uma carinha... cansada.

— Eu sei, meu bebê. Só estou com saudades do seu pai e quero ter um jantar decente com vocês. Eu quem devia estar sendo mimada aqui.

Isso é verdade. Assim me levanto e a abraço com todo um jeitinho meigo, que, diferente do meu irmão, ela aceita.

— Vou remarcar com meus amigos e vou sair com você amanhã, tá?

— Não, não precisa, querida. Quero que tenha companhia aqui em casa.

— Posso vê-los a qualquer momento, mãe.

— E eu ainda vou te ver bastante. Mas quero um tempo com... ugine.

Me desvencilho dela, confusa.

— Com o quê?

— Nada não, querida. Coisas da minha cabeça.

— Ah, não, agora conta.

Sigo-a de volta para a cozinha. A mesa já estava posta, assim vou para a pia para lavar as mãos.

— É só que pensei sobre o que você me disse... Que tenho uma relação constante com o Vinícius e nenhuma com a Aline. Dessa vez pego o número dela.

Com a mão ensaboada, me viro brevemente para responder:

— Ué, já salvei o número dela no seu celular.

— É, mas não poderia ligar ou mandar mensagem do nada, né, filha. Uma ponte precisa ser construída. E acho que amanhã é a oportunidade perfeita. Seria ótimo se você fosse também, mas não quero que force a perna ou sinta que está nos prendendo. Então aproveite mesmo seus amigos.

Fecho a torneira e me volto para a mesa, enxugando as mãos rapidamente num pano de prato ao alto de uma das cadeiras.

— Se a senhora insiste.

— Insisto.

— Fico feliz com a senhora mais solta. Eu que ando prendendo a senhora dentro de casa. Mesmo que a gente tenha saído esses últimos dias.

— Viu, só? Ainda conheço essa cabecinha.

Sento à mesa, frente a ela, que já começava a se servir. Pelo jeito, não ia esperar o Murilo para começar a comer.

— Mas mãe, ainda não entendi foi a palavra que a senhora falou ainda pouco. Ugine?

Muline.

Levanto o olhar do meu prato para ela e sei que pisco porque tô tentando processar a palavra e o que possa significar.

— Murilo e Aline, filha.

Se num segundo tô perdidaça, no outro estou GARGALHANTE. Nível levar a cabeça para trás e rir super alto mesmo. Não me admiraria se a criatura aparecesse só pra saber do que se tratava e voltar pro seu banho.

Tô tão incrédula que mantenho uma mão ao peito como que para segurar o meu corpo nessa crise de riso.

— O quê? Aprendi com meus alunos a criar nome de casal.

— E graças a Deus, mãe. Não achei que tinha como te amar mais e aí a senhora solta essa pérola que, tipo, AMEI. Amei e vou adotar!

— Não tá debochando de mim não, né?

— Acredite, não estou. Tô é transcendendo no meu amor por você. Agora preciso saber de uma coisa importante.

— O quê?

— Eu também tenho nome de casal?


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Notas finais do capítulo

TUDO PRA MIM A LIA RINDO ALOPRADAMENTE COM ESSE POVO - ainda mais no espelho - e envolvendo geral com imagens do futuro hahahaha aliás, aprovadíssimo, hein? De um Muguilo, podemos avançar para uma Lelena e... O futuro que nos aguarde!

Enquanto isso, vamos de Muline e muitos ships ♥

Trechinho do próximo?

"Luk.e
VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR NISSO
ABRE O VÍDEO!

9h28
MLins
Agora tô com medo
É sobre o quê?"

e

"- MÃE! MANHÊ! MÃAAAAE!
Ouço sua voz abafada pelo corredor:
— O quê, que foi?
Volto o vídeo para poder ver com mais clareza o (SÓ NO PRÓXIMO CAPÍTULO).
— CORRE, RÁPIDO. VEM. VEM LOGO!
— O que foi, hein? Caiu?
Sei que mamãe pergunta brincando, mas tô tão LOUCA que respondo que sim.
— CAÍ. CAÍ PRA TRÁS.
— O QU...?"

UMA BOMBA BEM GOSTOSA VAI RESSURGIR, SÓ DIGO ISSO.



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