Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Ia postar esse cap. na segunda, massssssssss... seguindo a lógica da história, segunda-feira, dia 10, é aniversário do Murilo *-* e não quero postar um capítulo desses sob esse clima tenso bem no níver da criatura. Ele até me mata por uma coisa dessas. - engraçado que as "grandes datas" sempre caem em momentos tensos da fic. Assim foi pelo Natal e Ano Novo.
Vai melhorar, juro rs ~eventualmente~

Quem viu a nova novela? Leninha tem um gênio aloca que nem a Milena, mas nossa Lena msm tem mais consciência que ela. Ah! Vai ter um Murilo tbm, esperemos que limpe a imagem do passado, que era péeeesssimo. Se bem que como é novela, personagens e tramas são suspeitos.

E não bastando isso, Maneco me solta a pérola essa semana antes de um baile de formatura. Leninha disse para o namorado e melhor amigo que eles eram os "dois homens da vida dela". E eu: whaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaat?
Se adotar gelatina, UNO ou "nem que a vaca tussa uma música inteira", eu processo XD

Mas deixemos isso de lado, que eu sei que vcs estão doidos para ler.

Enjoy!



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Permaneci muito tempo ausente.

– Acho que tem papel-toalha na bancada de baixo.

Murmurou Flávia após me direcionar para a despensa, em sua casa. Se não tivesse rolado nada demais durante as apresentações do workshop de arte, eu teria praticamente implorado por ficar em sua casa, pois não me via chegando na minha, não ainda, com aquele caderninho em mãos, escondido, não depois de tudo o que se passou esses dias e principalmente na hora de abrir o jogo com Anderson e Eric.

Foi a primeira coisa que me veio à cabeça.

Com muito custo, dei um fim àquela discussão toda sobre Denise, Hello Kitty e a verdade que eu ainda insisto em manter mascarada. Eles, Anderson e Eric, após eu relatar sobre o encontro com a maldita na minha viagem, e como aquilo ainda tava sob a pele, insistiram, pelo contrário, de eu me desfazer de todo esse sofrimento. De me permitir desabafar, para então enfrentá-lo.

Eric estava apenas reforçando seu pedido, eu sei, aquele da última vez que nos encontramos. Junto de Anderson, que tava me dando agonia por entrar nessa pilha, fiquei acuada, me pediam que reconsiderasse a situação, ainda mais depois de um encontro com Denise, de como me humilhou e de como saiu por cima de novo sem que nada a impedisse. Porque ela sabia que Murilo faria algo se soubesse daquilo... e se nada aconteceu, é porque ele não tinha noção.

Não podíamos fazer nada contra ela se está longe – e que permaneça longe por muitos, muitos, muitos anos – mas podíamos nos restabelecer, nos libertar desse tormento.

Só que eu não queria. Não quero.

Quer dizer, eu não estaria me libertando. Estaria era trazendo dor ao outro.

Não me importa se esse mal comum havia feito os dois, Eric e Anderson, se juntarem, se ambos estavam dispostos e preparados para se livrar do fardo – embora isso representasse mais como uma explicação para Kevin – eu, muito pelo contrário, não estava. Não me sinto pronta, menos ainda capaz. Não iria soltar a corda ou o peso só porque me pediam.

– Por que não? Por que ainda esconder?

Eric não desistia, me interceptava conforme eu tentava fugir dele no camarim, que, de repente, se tornou minúsculo e abafado. Como qualquer animal que se vê preso, eu tava indo de um lado para o outro pra me abstrair do que me diziam. Dar um jeito de cair fora dali e rápido. Só que Eric me conhecia pelo menos um pouco pra saber o que eu tava fazendo.

– Porque sim. A gente tentou, lembra? Além do mais, eu não tô machucando ninguém.

– Está sim. Milena, você não vê? Você própria tá machucada. E tá machucando quem você ama por não confiar neles em lidar com isso. Não apenas você é forte, nós todos somos. Eu também quero contar. Eu tenho para quem contar. E não posso, porque te jurei que só iria deixar isso sair quando ambos concordássemos, e...

– Mas Eric...

Não era birra, era só a coisa mais marcante de minha vida. Não dava pra ceder. As implicações... elas eram grandes. As consequências, terríveis. Não iria piorar o que já tava ruim. Aquilo não traria nenhum bem.

Eric me impediu de sair de lá mais uma vez. Se aproximou de mim, tomou-me pelo rosto, este abraçado por suas mãos macias e de efeito quase calmantes. Ele sempre teve isso. Um poder de apenas nos fazer centrar nele e tudo parecer longe. Era disso que sentia falta quando Denise começou a interferir no nosso relacionamento. Essa ligação toda por um toque.

E lá estava ele, tentando, me puxando a atenção.

– Lena, ela tá fazendo de novo. Só que agora nós sabemos. Enquanto não falarmos ou fazermos nada, essa garota fica inatingível. Nós precisamos disso. Por favor, reconsidera.

– Não.

Ele chegou a encostar sua testa na minha. Involuntariamente o abracei, passei meus braços por seu pescoço, tivemos um momento, calados, ele de olhos fechados, frustrado, porém não desistente, e eu, observadora, mas muito certa de minhas convicções. Respiramos juntos. Sofremos juntos. Éramos nós de novo.

Isso até ele balançar a cabeça e voltar a argumentar.

– Ela danificou a confiança de todos nós, eu sei. Acha que fui bem sucedido em me deixar abrir para as pessoas novamente? Não. Isso também me consumiu. E enquanto eu o mantiver aqui comigo, esse segredo...

– Não, Eric. Não fala mais, por favor.

Estava me doendo. Ver sua dor era quase tão pior que sentir a minha.

Mas ele só negou novamente, e então abriu os olhos para se mostrar firme. Apesar de toda a carga emocional, estava resoluto daquilo. Acarinhava-me o rosto por cuidado, esse que sempre teve por mim. Assim como sua preocupação.

– Não, sabe por quê? Você precisa ouvir isso. Não temos todo o tempo do mundo. Eu não quero ser feliz guardando sempre uma preocupação. Eu quero ser feliz e apenas feliz, ok? E eu sei que você quer também, sei. Posso ver aí, nesses olhos que não desfocam dos meus. Só não aceita. E não aceita pelos motivos errados.

Mais calma, ainda que resistente, luto contra seu argumento.

– Você sabe meus motivos. Sabe que não são errados.

– Até um tempo atrás, não eram errados. Mas você estava certa, nós mudamos. A nossa essência está cá, conosco, algumas coisas que mudam. E por mais madura que você esteja, ainda se segura naquela Milena perdida e fechada que Denise deixou para trás. Deve tá tendo a guerra do ano entre vocês, eu sei, mas Mi, para ganharmos, a nova Milena tem que sobrepor. A nova Milena tem que aceitar. Eu aceitei.

– Eric...

– Por favor. Você sabe que não falo apenas por mim.

Abracei ele, que me tomou forte para seus braços. Tão seguro de si, enquanto que eu ainda tremia por apenas ouvir aquela ideia. Deitada no seu ombro, onde deixei escapulir um soluço, murmurei:

– Eu tenho medo.

– Eu sei, Leninha, eu sei.

Ouvir meu apelido me quebrou tanto, mas tanto, que o choro que vim guardando destravou e o apertei mais contra mim. Eu precisava de seu carinho e, extremamente, de sua segurança. Fiquei balançada sim, ele percebeu.

Quer dizer, os dois notaram, Anderson ainda estava lá. Por uns minutos havia me esquecido dele. Aquela bolha parecia ter nos engolido ou ter nos levado de volta àquele paralelo, eu e Eric, pois Anderson continuava o forasteiro.

– Então?

Nos soltamos, a bolha se chocava com a realidade.

– Ainda não estou convencida. É demais para mim. Preciso me... me recuperar.

– Lena...

Dessa vez eu quem segurei seu rosto.

– Por favor. Já entendi. E-eu só... só tenho que ver minhas opções. Por favor, me entenda.

– Tudo bem. Foi exagero de nossa parte, desculpe. É só que...

– Eu sei.

Me assegurou.

– E eu estarei ao seu lado para o que precisar.

– Eu sei. Obrigada.

– Vamos te dar um tempo. Você verá como isso é necessário, Leninha. Assim poderemos seguir livres.

Não demorou muito para a vida real bater na porta, e literalmente. Mais uma vez chamado pela organização do evento, Eric teria de ir. Dispensou o assistente que foi o comunicar, quis se despedir de mim. Só aí me toquei de que havia dado um perdido nos meus amigos por muito tempo e teria que arrumar qualquer desculpa por isso.

Pensava no que seria enquanto Eric me ajudava a me remaquiar para enfrentá-los, afinal, eu devia estar horrível. Como bom ator, o fato de ele ter noção sobre os materiais não afetava em nada, nem sua sexualidade, como alguns podiam imaginar. Disse o próprio a Anderson, o que deu uma nova aura àquele ambiente. A tensão se dispersava.

Aproveitei o momento para elogiar o trabalho de meu amigo no palco. Poderia não estar atuando lá, mas o fato de ter produzido, e ter produzido bem, dizia mais sobre ele e seus talentos que pude pensar. Estava orgulhosa, além de muito feliz por ele ter tido essa oportunidade quando a opção de atuar foi puxada dele por erro de outro. Erro de Murilo. Erro meu, consequentemente.

Eric tinha sua parcela de razão. Apesar de todas aquelas desculpas minhas, elas eram passado. Eu não tô certa em manter isso, sou decente de afirmar isso pra mim mesma ao menos, só não sou essa corajosa toda de liberar isso para o mundo. Não ainda.

Só que ali, minha preocupação era de me esconder novamente. E tinha de esquivar das possíveis suspeitas que viriam por eu ter sumido sem mais nem menos, um aviso sequer. Iria apenas dizer que estava com Eric, que havia o encontrado (o que era bem verdade) no saguão e fui cumprimentá-lo pela peça. Uma coisa levou à outra, ficamos tempos conversando. Seria essa minha versão.

Na porta, Eric se despediu:

– Não esqueça. Sempre haverá coisas acontecendo.

E aconteciam.

Aconteciam ao saguão quando lá cheguei de volta.

Não precisei quase afinal explicar meu sumiço. Lá estavam Sávio e Dani, de prontidão para o que viesse daquele encontro de Gui e Flávia. Eles não tinham aguentado a separação. Outra vez Gui pedia uma chance, outra vez Flávia estava à mercê.

E precisando de sua melhor amiga.

~;~

Flávia não é como eu, de guardar as coisas para si. Não quando implica algo ruim. Todos têm seus segredos, claro, mas no caso dela, bom, não sei. Ela não me parece ser dessas pessoas que carregam fardos ou que precisa esconder algo dos outros. Ela só é um pouco reservada, acho, quanto às suas coisas.

Pra mim ela sempre foi muito aberta. Desde a vez que sentei ao lado dela numa aula do primeiro período na faculdade, que a borracha dela caiu por eu ter batido sem querer com meu caderno na carteira dela. Ela apenas sorriu ante minhas desculpas, e logo estávamos conversando sobre codificar o que era aquilo que o professor de Metodologia Científica tava fazendo, pois sua disciplina era sobre métodos e estruturas de pesquisas acadêmicas e ele falava de Filosofia para a turma. Era no mínimo estranho. Mas éramos novatas, entrar na faculdade era um mundo novo, tudo era bem-vindo.

Papear com Flávia era quase como respirar, era natural. Ela vê as coisas como algo a se discutir, captar a opinião das pessoas, perceber outras coisas a partir de como se dava o diálogo. Diria nosso professor de Metodologia, citando o filósofo alemão Hegel, que minha amiga era chegada numa dialética. Aquele processo de tese, antítese e síntese ficava bem mais compreensível quando debatíamos algum assunto, desde atores mais bonitos numa novela à qual seria a pior guerra do mundo – seria a luta pela água, concluímos ao fim. Do jeito que gosto de argumentar, éramos conversadeiras mesmo.

A gente brigava, claro. E quando brigava era terrível, porque sentia muita falta de falar com ela, nem que fosse qualquer besteira. Gui que às vezes insistia para fazermos as pazes, dar uma trégua ou mesmo só discordar em discordar. Fomos assim aprendendo a lidar uma com a outra quando não concordávamos com uma ideia ou argumento, senão atitude, que não dava pra julgar só por optar por algo diferente do pensamento da outra. Isso diminuiu as brigas. Na verdade, nem lembro bem a última vez que brigamos sério. Pra mim isso é bom.

Não via, porém, que iríamos brigar dessa vez.

Porque fui percebida. E não apenas por Flávia ou Dani.

Daniela não teria uma coragem de me perguntar diretamente, já Flávia, a cada vez que ficávamos sozinhas, parecia decepcionada comigo por não ter estado com ela e impedido a recaída, coisa que tanto me pediu.

Ainda tinham os outros.

Assim que Flávia conseguiu se liberar de Gui, de mais uma vez dar-lhe uma negativa, ela correu e enfim me encontrou. Ao momento não disse nada, só cuidei dela, eu pedia em silêncio que Gui não avançasse mais ou que tentasse algo ainda naquela noite. Ficamos um tempo lá no saguão, ela se acalmando mais.

Não comentou sobre nada, nem sobre o estranhar que certamente notou em meu comportamento. Acho que esperava que eu falaria algo, só que não falei. Nem estava certa de que falaria.

Como saí primeiro que Anderson, não fomos vistos juntos. Mas Vinícius me viu com Sávio, quando, um tempo depois, surgiu nos procurando para saber o que era que demorávamos tanto. Estávamos dando uma força para Flávia, só que Vinícius só viu o que queria, que a proximidade de Sávio era grande e ele não gostava disso, não confiava. Então sim, o fato de eu ter sumido e ainda estar com o cara que ele morre de ciúme podia bagunçar um pouco com suas ideias. Muito mais se o bendito me solta essa, quando tenta se explicar por ter notado o estado de Vinícius:

– Melhor deixarmos elas sozinhas agora que a Milena chegou.

Aí ficou subtendido que eu não tava por lá quando tinha acontecido de Gui insistir numa conversa. Vinícius chegou apenas a levantar as sobrancelhas por sua confusão momentânea, porém não comentou nada mais. Ao ver que Flávia precisava de um tempo, ele ficou conosco, um pouco afastado, com Bruno e Dani, para qualquer coisa que precisássemos. Ninguém mais tava no clima de entretenimento, afinal.

Flávia quis logo ir para casa. Na minha cabeça maquinei rápido que era bem melhor eu ir com ela, camuflaria minha vontade de não entrar na minha, o caderninho pesando na minha bolsa, isso não soaria absurdo ou estranho para quem quer que perguntasse. Ainda assim, Vinícius perguntou. Distanciados dos outros, que se despediam de Flá, conversamos um pouco:

– Eu vou passar a noite lá, é melhor.

– Tem certeza?

– Sim.

– Impressão minha ou você está mais branca?

Fiz que não havia entendido o que queria dizer – porque eu havia dito pro Eric que ele tinha passado muito pó na tentativa de mascarar mais minha expressão – e dei um desculpa besta de que, por ter estado muito tempo na penumbra do auditório, ele poderia estar enganado sobre minha aparência na face, que era culpa da luz. Ele me deu umas observadas, mas não falou mais nada, até porque logo estávamos no carro. Poderia estar convencido disso, contudo, não daquele comentário de Sávio. Ele provavelmente não esqueceria essa, minha mente se certificava.

A irmã de Flávia havia saído com o marido para um evento na escola de línguas em que ele dava aulas de francês, os pais dela haviam saído para um jantar de amigos, a casa estava vazia, que era bem o que Flávia ansiava. Preparei uns sanduíches rápido na cozinha quando chegamos, ela não tava muito a fim, mas aceitou.

Minha amiga perdurou calada por quase todo o resto da noite. Quando perguntei se estaria ok eu ficar com ela essa noite, ela não respondeu diretamente; quando comuniquei que Gui estava longe e poderíamos ir, ela só assentiu; quando comemos na cozinha, que lavamos o que estava sujo, ela não falava mais que o necessário.

Estaria tão chateada assim comigo?

Era assim que Murilo se sentia, inquieto, quando eu dava minhas caladas?

Porque eu tava agoniada!

Eu queria que dissesse apenas o que tinha acontecido entre ela e Gui, já que ninguém me deixou a par disso, achando que ela mesma, possivelmente, me relataria. Já estava ficando assustada.

Até que me veio um clic. Quer dizer, uma ideia do que poderia ser.

Estaria me esperando para abordar? Porque no minuto que eu perguntasse, estaria declarando que não tinha noção do que havia acontecido, que não estava lá, e que tinha, de certa forma, furado com ela. Estaria apontando meu erro.

Ao sentar na cama de seu quarto, reconheci isso. Iria desculpar-me primeiro, no entanto, opto por revelar a ela que realmente tava por fora daquilo.

– O que aconteceu lá?

Desfazendo-se de sua sandália, ela sentou-se na cama, para facilitar na retirada dele, só que não ao meu lado. Com certo toque frio, Flá retruca, confirmando minha teoria.

– Então você realmente não assistiu, não é?

– Não. Desculpe. De verdade.

Pedi com sincero pesar.

Indiferente, ela levantou e pegou uns algodões e desmaquilante para retirar a maquiagem. Oferece-me uns para que também tivesse meu cuidado com a pele. É então direta em sua próxima pergunta.

– Onde estava?

– Importa?

– Claro que importa. Você não tava lá no auditório. Onde mais poderia estar?

Encolhi-me um pouco, cabisbaixa. Não podia reclamar, havia escolhido esse caminho. Enquanto optava por permanecer com o segredo, desapontei minha melhor amiga. Era injusto dado ao que havia passado nas últimas horas, estava até impressionada comigo mesma de permanecer firme depois de tudo aquilo, que era um abalo por si só. Talvez pelo fato de me desfocar de mim mesma e me preocupar com ela tenha ajudado nisso. Só que isso não poderia ser minha justificativa para ela.

Logo, tento passar por cima com aquela desculpa que tinha preparado.

– Vai soar egoísta, mas estive com o Eric. Encontrei com ele após a apresentação, lá no saguão, ficamos conversando e depois...

Engulo o golpe que é relembrar a discussão horrível naquele camarim. Flávia percebe certa tensão e me instiga a continuar. Presumo que ela tenha notado algo mais por eu ter ficado apenas desfiando o algodão nas minhas mãos, de cabeça abaixada, como se tivesse envergonhada. Só que eu tava era chateada mesmo, sem poder transparecer muito.

– Depois...?

– Depois ele foi me mostrar umas coisas lá da produção. Mas eu não deveria ter deixado vocês lá, ok, anotado. Desculpe. Foi... erro meu. Um deslize. Tá muito chateada?

– Não sei...

Minha amiga mantinha a frieza e desinteresse-interessado. Não tinha minhas certezas do que ela queria com aquilo, assim, tentei outra abordagem para descontrair o clima. Só que ela me corta na primeira tentativa, estava séria o suficiente enquanto limpava o seu rosto de frente para o espelho da porta de seu guarda-roupa.

– Flá... Se quiser que eu me desculpe trinta vezes, eu peço desculpas trinta vezes.

– Não brinca, Lena, não brinca.

– O que você quer que eu diga?

– Não sei. Não tô te dizendo que você tem culpa ou que poderia ter impedido, afinal, quando ele me chamou, eu fui. Eu corri o risco de ser intenso... E como sinto falta dele, Lena.

– Então o que é?

Quando começo a achar que ela entraria no assunto em si, que eu ia dar fim aquele rodeio, ela me surpreende. Quer dizer, Flávia me dá o flagra. Assim como Anderson já tinha feito nessa noite, Flávia parou seus movimentos ante o espelho e me fitou através dele com um cruzar de braços, muito mais séria.

Foi sinceramente um choque isso vir dela.

– Acontece que eu tô TE vendo. Quem tá calada é você. Algo aconteceu que eu sei, tá totalmente estampado no seu rosto, não tem maquiagem essa que me esconda. E falando em maquiagem, essa não é sua de quando foi, ela tá mais elaborada. Então eu quem deveria perguntar o que aconteceu lá. Você não tava assim.

À espera de minha resposta ela ficou. Quase vi que bateria o pé, impaciente, pois eu não tinha uma resposta de prontidão para aquilo. Meu Deus, o que eu diria? Esse comportamento não é comum dela, mas se for levar em conta o meu também... Argh, preciso de qualquer coisa. Só que não dava para elaborar algo a tempo, ela perceberia. Quem já percebeu demais.

Opto então por tentar desviá-la apenas. Desvio eu mesma de seu encarar.

– Flávia...

E mais uma vez ela me desmascara. Se vira para mim com uma pose de chateada, uma expressão de indignada pelo que eu fingia:

– Vai dizer mesmo na minha cara que não teve nada? Porque teve e foi sério pra te deixar assim. E eu não posso fazer nada pela minha melhor amiga enquanto ela não me disser do que se trata... Foi com esse Eric?

– Não. Não teve nada, Flá.

Insisto. Procuro não entrar em detalhes, pois neles que se encontram as mentiras e neles minha melhor amiga poderia ir a fundo caçando as incoerências até me deixar sem “onde nem pronde”, com todas as cortinas ao chão, acabar com aquele show.

– Olha, Lena, eu não havia dito antes, mas de uns tempos pra cá, você tem andado estranha. Nem sei te explicar como, apenas sei. Vejo. Antes quando não podia falar de algo, você falava do mesmo jeito, nem que fosse codificado. Agora o quê? Eu não tô te pedindo pra me abrir o caderno e jogar tudo em cima de mim, ok? Só tô dizendo que... que eu tô preocupada, poxa!

Argumento de volta, para tranquilizá-la. Contudo, o seu seguinte bate o meu.

– Mas não há nada pelo quê se preocupar!

– Deus! Para de teimosia. Quer mesmo discutir isso comigo? Só admite! Posso não poder fazer nada para te ajudar, mas... entende? Não suporto te ver assim e não ter como agir.

Balança a cabeça em negativa, lança os algodões sujos à lixeira do quarto com força em demasia. Ela estava mesmo aborrecida e eu não... Céus, não dava para sair de um, topar com outro e sempre me ver em situações acuadas!

O que tanto queriam de mim eu não podia dar!

Era pedir muito por uma noite, uma noite apenas, um pouco de tranquilidade? Era muito me permitir respirar, esquecer, antes que tudo voltasse em bombardeio? Só... um momento?

Flávia não iria desistir, formulei minha certeza. Quando ela se utiliza dessa preocupação extrema, é muito difícil dissuadi-la. Não sei nem porque ainda tentei isso.

Se um admitir era o que ela queria, seria o que teria. Mas apenas isso.

– Isso... isso vai passar, ok?

– Será, Mi, será?

Tomo um ar, ergo-me, dito para dispersar de vez esse tópico.

– Vou ficar bem, prometo. Agora só me diz o que rolou lá com vocês que ninguém me disse nada até agora. Me desculpa, ok? Não é nada do que tá pensando.

Não estava certa sobre meu clic, afinal. E, acima de tudo, menos ainda se havia convencido Flávia de alguma coisa. O que havia se quebrado essa noite, os pedaços, estavam ali na sua frente, envergonhados, covardes. Com meu admitir, ela parece maneirar mais sua atitude para comigo, apesar de permanecer dura e de olho em mim.

Eu só queria lhe pedir que não se portasse assim, que logo eu não iria aguentar. Mas pedir isso era justamente admitir mais ainda do que eu estava me permitindo essa noite. Essa infindável noite.


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Notas finais do capítulo

Isso tá ficando cada vez mais complicado e não sei se nossa Lena aguenta a pressão.
Ainda vem o Eric pedir com jeitinho, aí... ai, coração.
Certeira mesmo foi a Flávia, ela me deu uma surpreendida nessa fase, que, olha, botei foi fé nela XD

Prontos pro próximo? *-*



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