Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 123
Capítulo 122


Notas iniciais do capítulo

Oi. Trago mistérios.



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— E esse amanhã que nunca chega...

Flávia suspira, inquieta. Está muito nervosa para a entrevista do dia seguinte. Tão ansiosa que está tendo dificuldade para se desligar. É aí que entro, como melhor amiga, para desanuviar essa cabecinha.

Para garantir seu preparo, já checamos roupa, materiais, currículo. Perguntas e postura a irmã dela vai ajudar no período da tarde, já que vou estar na empresa. Conseguimos um bom material preparatório com a Aline (fiquei até com invejinha ó!) e viemos até o local para averiguar questões logísticas. Aproveitamos uma carona da mãe dela que ia para o supermercado.

Por um milagre na terra, o novo prédio do centro meteorológico é próximo da faculdade, necessitando apenas um ônibus. Era provável até que ela pegasse o mesmo que o meu e de seu namorado, e nos encontrássemos algumas vezes durante o caminho. Quando eu disse que ela era sortuda (só um ônibus!), ela disse que podia trocar isso pela companhia diária do Gui. Eu, por outro lado, reclamei que trocaria fácil fácil, pois ter aquele ali no pé todo dia também pode ser chato. Flá devolveu um pequeno riso e considerei uma vitória. Mas ainda tinha um longo dia pela frente para fazê-la respirar.

Sentadas na sombra de um banco de praça, que corre um vento fresquinho – o dia amanheceu meio nublado, muitas nuvens, sem sol, embora não estivesse frio ou noticiando chuva – faço uma nova tentativa sobre fazê-la apreciar o momento e não o futuro.

— Aqui é um local bem bacana. Já tem um lugar pra pensar.

Ultimamente tenho pegado a Flávia muito pensativa. Às vezes fala umas coisas... que fico sem saber se pergunto, se espero que ela conte. Bem, tenho esperado, sem pressão. E então houve esse lance com o Sávio. Ela disse que apenas resolveu se reaproximar, mas não entrou em detalhes sobre essa mudança. Tenho cá pra mim que tem a ver com o que lhe contei sobre Sávio no dia que o Bruno acabou relevando aos alunos a burrada que fez na viagem. Flávia mesmo ligou umas coisas nas outras. Só acho estranho que ela não tenha falado nada comigo.

— Parece uma boa praça mesmo. Bem arejada. Talvez um point.

Considero uma boa coisa ela mencionar point, porque falamos bastante eu e o Gui do point da lanchonete lá na empresa.

— Sabe se o Murilo vai ficar no outro prédio mesmo?

— Um tempo atrás conversamos sobre transferências, mas era de uma galera que estava sendo relocada ou indo pra fora do país pra fazer algum mestrado ou doutorado. Fiquei com receio de ele ter que se mudar. Por fim, ele disse que não tem interesse em sair daqui. Que se sentia no lugar certo, no momento certo.

— Que bonito.

— É, ele sabe ser uma grande pessoa quando quer. Lembro que ele recebeu umas propostas novas também, acabou recusando. Não sei se tinha a ver com essa mudança de prédio. Só sei que ainda bem que ele tinha umas férias acumuladas e pôde tirar pra agora. Murilo ama demais esse trabalho pra perder.

— Ele ainda não disse nada sobre... ela?

— Não. Estou preservando ele de perguntas e me preservando de respostas. Apenas confiar é uma tarefa difícil e estou tentando o meu máximo. Mesmo com o coração pequenininho. Enquanto isso, te perturbo, porque isso preenche meu coração.

Flávia empurra seu ombro no meu, com graça e mais relaxada. Check!

— Esse lugar vai fazer parte do teu dia a dia, que você nem vai notar nada, aposto.

Pode fazer parte.

Ela dá ênfase ao “pode” porque não é nada garantido, é só uma entrevista. E é verdade. Também não a quero com tanta esperança assim para bagunçar mais ainda seu senso lógico.

Pode fazer parte. Bem ali que você compraria uns chocolates, e recarregaria o crédito do celular, e ali, seria seu banco de esperar o busão, enquanto repassa alguma matéria à luz daquele poste. Vai ser só algo mais no seu dia. E o dia de amanhã será apenas uma lembrança longínqua, em que você vai pensar no quanto estava nervosa sem necessidade. Ou melhor, fazendo o velório antes. Eu sei como você fica quando está assim – bebe água demais a ponto de ficar mega apertada para fazer xixi e isso depois te atrapalha – então vamos pegar isso ponto a ponto, prestar atenção nesses sinais e ver melhores maneiras de lidar. Com direito a chocolate e Gossip Girl no fim de noite. Que tal?

Ela tinha feito isso por mim quando eu já me classificava uma derrotada, reprovada nas matérias. Flá me fez respirar e me preparar para as provas. E esteve comigo na viagem para o lançamento do livro de minha avó. Eu não fazia nada disso porque a devia— ou deveria dever— não; fazia porque a amava e queria o melhor para ela.

— Já disse que te amo, Lena?

— Já. Mas, diria o Murilo, é bom ouvir de vez em quando... Vem, vamo voltar.

Me ponho de pé para voltar para casa, porém, Flávia parece não querer sair. Está de cabeça baixa, tensa e preocupada.

— Espera, Lena. É que...

— É que...?

— Eu fiz uma coisa... e não sei como te dizer.

Tomo um segundo pra processar isso, conforme seu tom, conforme sua apreensão.

— É algo... hum... ruim?

Ela assente, de repente muito atenta às unhas coloridas, sem me olhar.

— E foi bem intencionado?

Ela inspira antes de responder.

— Não sei dizer.

— Você se arrepende?

Ela me olha de relance, constrangida, e assente novamente.

— Muito.

Eu quero dizer que tem dias que percebo algo diferente nela, que sinto que há algo estranho no ar e que estava esperando ela começar a conversa, mas agora, vendo como está, agoniada por ansiedade e agoniada por aflição sobre essa tal coisa que fez, acho melhor não levar o assunto adiante. Não é hora pra isso.

Estendo a mão pra ela.

— Vem cá.

Sem entender, Flávia me olha um pouco perdida, mais perdida acho por não ter feito outra pergunta sobre o caso. Firmo a mão mais uma vez em sua direção até que pegue e eu a puxe para perto.

— Eu sei como é se sentir assim, então não vou dizer mais nada se você não se sente pronta para contar. E por você se arrepender, pra mim já é algo bom. Não tenho ideia do que possa ser, mas, olha só... Não me importo de esperar. Nem tudo que a gente faz nessa vida é certo, né?

— Não te mereço como melhor amiga.

Flá torna a abaixar a cabeça, triste. Não lembro de tê-la visto desse jeito alguma vez, o que só me faz pensar que é algo muito, muito, muito difícil pra ela mesmo. Por isso dou um toque em seu ombro, pra que não fique tão mal.

— Eu também já pensei isso, lembra? E você esteve por mim. E-está por mim.

Pisco rapidamente, pra disfarçar a emoção, que me pega assim, desprevenida. Flávia percebe isso e também fica um tanto emotiva, sem me olhar diretamente, bem desconfortável.

Para quebrar a vibe, falo o que ela costuma me dizer nos dias ruins:

— Então... bora falar de coisa boa?

Só assim ela parece aliviar mais, fechando os olhos, embora ainda um pouco tensa. Por fim, assente. Ao abrir os olhos, aponto o caminho, para que seguíssemos para o ponto de ônibus. Ao emparelhar comigo, começo.

— Estava pensando no ECAD... Acho que dessa vez não vou pagar mico.

— Não vai ter mala pra tropeçar.

— É esse o espírito!

~;~

Não é com frequência que eu lembro que Max não está sozinho na faculdade. Quer dizer, na operação. Desde que eu descobri esse rolê todo, sempre foi deixado claro que existiam outras pessoas disfarçadas. Nunca fui longe demais para descobrir porque eu já sabia o suficiente para não querer me meter. Mas de vez em quando acontecem umas coisas que paro um momentinho e me pergunto se isso tem a ver com a operação ou se é uma simples coincidência.

Como o sumiço do seu Chico, do setor da limpeza dos prédios. Tem um tempo que eu não o vejo. E como não tenho nem conversado com Dani ultimamente (ele é muito amigo da tia dela), nem daria pra perguntar. Eu não ousaria falar isso com Max – até porque sei que ele seria aquele evasivo. Já conheço a peça.

Mas não é tão simples lidar quando essas coisas simplesmente dão as caras. O universo, como sempre, tem lá suas formas de trabalhar e me mostrar. E, de novo, reforço mentalmente que tem coisas que não cabe a mim e assim devo permanecer, não interferir. Existem golpes na vida que a gente não pode fazer nada, senão recuar. É o que faço quando me deparo com certa situação ao chegar na área da portaria da faculdade.

— Princesa, qualé!

Acontece isso logo que eu presenciava um milagre. Quando cheguei com Gui às catracas da entrada, vimos Flávia andando pelo pátio com Sávio na nossa direção. Ela parecia bem melhor, mais relaxada e leve, e Sávio também. Isso chamou a atenção de Gui, que logo que passou pelo registro de alunos e... Bem, fiquei a assistir um pouquinho do momento deles. Era algo que eu esperava há tantos séculos que nem sei dizer. Agradecia a Deus internamente, espiando e tentando não interferir. E foi pro isso que me meti pro lado da secretaria, para dar mais privacidade àquela conversa.

Mas o universo... Ah, o universo não fica satisfeito.

— Não quero nem saber, Ney, não quero.

Enquanto me esgueiro pra ver um pouco mais do pátio e daquelas três figuras se redimindo, eis que me deparo com Keila e seu peguete discutindo nas catracas. Ao tempo que vi, ela já tinha passado, e o tal do Ney, que a gente nunca soube realmente se eles têm alguma coisa, tava preso em uma das catracas, tentando passar com sua carteirinha. A questão não é nem quem são ou o que estavam fazendo. Quer dizer... foi a conversa que ouvi.

Princesa.

Isso que me faz estacar.

Pelo jeito vou ter que falar com Max de novo, só pra garantir. Vou poder sair dessa encrenca toda assim que ela for resolvida. Talvez o impacto que tenho para o mundo, neste momento, é poder cooperar com ele.

E assim ele tem minha guarda – quase literalmente.

~;~

Saindo do banheiro, volto para o pátio, procurando as cabeças de meus amigos pela multidão de alunos agitados pelo intervalo e ouço longe alguém me chamar. Ao me virar para trás, na busca de quem havia falado meu nome, me deparo com Bruno enxugando o rosto, saindo do bebedouro e vindo na minha direção, animado.

— Tenho mais boas novas!

Depois de ter contato tudo sobre o acerto de nossas criaturinhas – detalhe, através de mensagens durante a aula do professor Paulo, e ele com Amália – posso dizer que também trago traços de animação na minha cara. Era uma das melhores notícias em tempos! Me sinto mais leve até. Mesmo com o que rolou mais cedo, na entrada da faculdade.

Enquanto aproveitava que o professor tava ainda esclarecendo coisas sobre as notas e sua última prova e contava sobre a novidade do dia para meu amigo, também refleti sobre o que ouvi ali. Não era nada demais para me preocupar, acho. Nem consegui encontrar Max, aliás. Então preferi me concentrar na parte boa. Tinha mais era que comemorar o milagre do dia, isso sim!

— Viu que saiu os horários de nossas apresentações no ECAD?

— Acredita que esqueci completamente de entrar no site? Como ficou?

Bruno me direciona pra um caminho, dos corredores daquele pavimento, e vou seguindo-o por seguir. Vamos andando devagar pra poder conversar melhor.

— Ficamos pro segundo dia, terça-feira, à tarde. O teu horário é de 17h30, o meu, de 15h30. E aquele do pôster, dá pra ficar com o teu até 17h.

— Garoto sabido. Gosto de ver.

Ele ri, meio sem jeito. Parece estar mais autocentrado, o que é também boas novas. Bruno é outro que tem enfrentado grandes batalhas e é tão bom vê-lo mais disposto.

— Imprimi os horários pra ficar mais a par do trabalho da galera. E de outras coisas na programação que quero ver. Tem umas palestras interessantes. Mas não sei se vou conseguir folga o suficiente.

— Acho que dessa vez eu vou ficar o mínimo possível. Pra descansar a cabeça mesmo. Meu chefe é generoso, mas não quero abusar. E na outra semana vamos ter palestras e treinamentos lá na empresa também, então não quero acumular serviço. E... Ah! Adivinha quem vai dar palestra lá?

— Tenho até medo de perguntar. Quem?

— O Caio-em-cima-do-dinheiro! Se quiser, consigo vaga pra ti! Dessa vez não vai ter shampoo na mala, nem corrida desesperada pro shopping. Bom, espero eu. Talvez eu deva preparar a Iara?

Bruno abre um meio sorriso sincero, pasmo consigo mesmo, por estar saudoso da monitoria e suas obrigações e Fabiano estressado e tantas e tantas demandas.

— Não acredito que tenho saudades daqueles dias.

Tomo seu braço e me recosto nele, também saudosa. Saudosa de dias mais simples. Mas não seria eu mesma se não provocasse:

— Não acredito que tenho saudades de você reclamão.

— Eu sei que tu me ama, baby.

— Pior é que eu amo mesmo.

— Chata!

Bruno move o braço pra me afastar, mas é aí que grudo mais nele.

E eu repito suas palavras, maldosa toda.

— Eu sei que tu me ama, baby.

Só então vejo pra onde Bruno me levava e não deixo de apertá-lo mais comigo, deitando a cabeça em seu ombro ao ver a cena. Como desci mais cedo pra procurar Max e não o encontrei, não sabia mesmo por onde andavam meus amigos. Ali, a área dos banquinhos e jardim, com muitos alunos com suas rodinhas, dentre eles estava Acácio e Sávio, integrados à rodinha da nossa turma, coisa que a gente não via há séculos. Parecia até sonho.

— Me diz que isso é real, Bruno.

— É real, Lena, é real.

Eram as palavras mais bonitas que eu poderia ouvir naquele momento. Bruno me abraça de lado e sorri besta comigo. Dias melhores estavam vindo, dias melhores estavam vindo, dias melhores estavam vindo!

Ainda abraçado comigo, meu amigo me guia mais uma vez para aquela rodinha.

— Vem, vamos curtir as boas novas.

~;~

Eu não devia me surpreender pelo fato de Max só aparecer quando não é chamado. Se eu não soubesse suas razões, voltaria a dizer que ele é um raio de um bisbilhoteiro! Ô homem que tem um chama!

A maioria dos alunos já tinha subido para as turmas, assim como os professores, o que trazia uma calmaria para todo aquele pavimento. Eu só fiquei para trás porque esqueci de consultar um material que Djane tinha me falado no outro dia, sobre algumas linhas de pesquisa que eu tinha interesse, e ao fim do intervalo, com muita gente falando ainda do novo evento de Administração, trabalhos para apresentar, horários, arranjos, etc, Marcinha comentou que já tava mirando em orientadores, e fui na biblioteca saber se poderia reservar o tal material.

Diante das minhas circunstâncias atuais, eu não devia estar pensando em monografia, mas, de novo, diante de minhas circunstâncias, isso era uma maneira de eu me sentir em dia com as atividades acadêmicas, sem deixar tudo pra última hora mais uma vez. Aliás, era só uma consulta. Estou me prometendo mergulhar mais no assunto só mesmo depois da virada de ano. Janeiro que me espere!

Atrasada pra aula, saio da biblioteca e me deparo com Max sentado num banquinho em frente, concentrado em algo no celular. Ele parece cansado. Considerando todo o tempo que está aqui na faculdade, todos esses meses, todas as suas turmas e toda sua investigação, é claro que ele está cansado. Eu estou cansada e olha que meu trabalho é só esperar acabar. Acabar todas as mentiras.

Na dele, ainda mexendo em seu celular, Max fala:

— Soube que me procurou mais cedo, na sala dos professores.

— Ah. Foi. Não era nada demais, na verdade.

Me sinto um pouco constrangida agora, porque era realmente nada demais e chamar um policial pra falar daquilo me parecia desperdício de tempo e atenção. Eu só fiquei um pouco alarmada, só isso.

Para Max, no entanto, era outra coisa. Quer dizer, ele tinha em mente outra coisa.

— Acho que seus amigos não diriam isso depois da cena de minutos atrás.

Ele tá mais por dentro das fofocas que a própria rodinha de fofocas, eu poderia apostar. Se a máquina da xérox pifa, ele sabe, se falta coxinha na lanchonete, ele sabe, se a Keyla arranja novo peguete, eu poderia apostar que ele sabe. Mas ele só sabe o que as pessoas dizem por aí, acho. E, aparentemente, as pessoas já estavam comentando sobre rever Gui e Sávio de boa. Foram meses a fio com essa distância declarada, então era impossível não ver que algo tinha mudado. Pra melhor, enfim.

— Bem, teve isso, claro.

Sorrio um pouco, por isso ser a alegria do dia, mas me contenho. Ali eu era uma informante e não era uma mera conversação com um professor. Max, por outro lado, também se mostra risonho enquanto mexe ao celular. Talvez feliz também pela novidade do dia? Ou por algum outro fato de que não tenho conhecimento? Não dá pra saber pra quem ele torce, afinal. Não sei se era um de seus truques ou se ele tava mesmo ocupado assim, pra nem me olhar diretamente. Ao menos, eu não estava desconfortável. Só um pouco atrasada mesmo. Nada que não pudesse justificar para a professora Amália.

— E tem algo que eu deva saber?

Assim que me aproximo mais de Max, para conversar melhor, ele finaliza o que está fazendo e logo levanta, escondendo o celular no bolso. Me pego desconfiada de seus truques novamente.

— Ainda estou investigando, por assim dizer. Tanto a Flá quanto o Gui andavam um pouco estranhos nos últimos dias e então voltaram a se reaproximar, baixando a guarda. Quer dizer, depois de umas conversas sobre o Sávio, sobre o fato de eu ainda dar um voto de confiança a ele depois de...

Max, atento, só levanta uma sobrancelha e cruza os braços.

— De...?

— Coisas um pouco pessoais, Max.

— Sobre ele ter avançado sinal com você, você diz?

Abro a boca pra responder e nada sai porque meu cérebro dá uma travada. O constrangimento volta um segundinho por ele saber demais sobre coisas pessoais. Me pergunto se Sávio teria dito isso em seu depoimento, se foi necessário se explicar nesse ponto. Não que eu fosse perguntar a ele.

— Enfim, eu só disse a Flávia que o Sávio tinha feito muito por nós quando o André estava aqui. Eu sei, não devia ter dito nada, mas saiu no calor da conversa e... Não sei, a fez reconsiderar umas coisas. Desculpe por esse furo, Max.

Com a cabeça um pouco longe dali, ele não reclama. Novamente, parece bem cansado até mesmo para ralhar comigo ou algo assim.

— Entendo.

— E mais cedo quando te procurava, era mais por ter... Então, foi que ouvi sobre certa princesa e...

Isso chama a atenção de Max, que fica sério. Tento então consertar.

— Foi nada demais, sério. Era o Ney discutindo com a Keyla, e a gente nunca sabe se aqueles dois estão juntos, né, e em dado momento ele a chamou de princesa. O que pra mim já soltou um alarme, mas agora mais calma, acho que exagerei. A Keyla não é flor que se cheire, não é confiável, mas... acho que não se trata disso.

A expressão de Max suaviza um pouco.

— Entendo o que quer dizer. No outro dia ela até falava por aí que você estava grávida.

Max diz isso de um jeito tão displicente, como se não fosse nada demais. Eu? Salto os olhos, salto o cérebro, salto tudo. Já tinha ouvido de um tudo sobre mim nessa faculdade, mas, caramba! Eu vou quebrar a Keyla no meio!

Ao perceber que a informação é demais pra mim, Max tenta explicar, embora isso não ajudasse muito o sentimento de ultraje que me dominava por completo.

— Aquele incidente do enjoo, imagino.

Procuro respirar fundo pra dispersar a raiva e não declarar a um policial que eu iria cometer assassinato. Tento ao menos me manter centrada. Nessa, acabo por declarar:

— Ainda bem que as aulas estão quase acabando. Só mais um mês.

Acho que pra quebrar o gelo – e a raiva interna – ele provoca, jogando seu charme e sorrisinho sacana. Era Max sendo Max.

— Quer tanto assim se livrar de mim, é? Pensei que eu fosse o favorito de muitas.

— E o senhor é, acredite. Mas sou mais team Carvalho, embora ele tenha ido pra outro departamento. Agora, enquanto não-professor, sou team Max. Por incrível que pareça.

Max não deixa passar meu deboche-barra-orgulho-barra-confissão final e abre um bom sorriso pra mim, o que lhe ilumina o rosto e o deixa até sem graça. MAX SEM GRAÇA! É novidade pra mim. Me lembra um pouco do Murilo quando fica sem jeito e orgulhoso ao mesmo tempo. Dá vontade até de abraçar a criaturinha. Sim, Max. Acho que nossa confiança estava ganhando mais força. Mesmo que eu fosse uma mera informante. Tal qual ele, acabo por cruzar os braços, também fazendo graça. Era nosso jeitinho, acho, de demonstrar que estávamos baixando a guarda um para o outro.

— Sabe, senhorita Milena, acho que posso dizer uma coisa.

— O quê?

— Seus amigos são os melhores quando se trata de você. Tenho que reconhecer isso.

Meio perdida pela declaração, e pela piscadinha final que deu, não deixo de perguntar, curiosa:

— Eles são. Mas o que quer dizer?

— Eles sabem ser os melhores quando querem. E mesmo quando não estão se bicando. Admiro isso.

— Bem, o Gui e a Flá... Eles...

— Na verdade, falo da senhorita Daniela, do quarto período, e o banho de suco que ela deu na Keyla. Naturalmente pelo boato da gravidez, imagino.

Eu tinha ouvido falar sobre isso por alto! Que a Keyla se sujou de suco um dia desses aí. Não poderia imaginar que isso teria a ver com... comigo. Apenas chocada com a informação. E por quem estou obtendo a informação. E por Max estar sendo sincero assim.

— Não se preocupe, Milena. Estamos fazendo o nosso melhor aqui. Tenho certeza de que você também. Agora preciso ir. Você pode dizer à professora Amália que estava aqui comigo, para não arrumar mais encrenca. Te vejo mais tarde na aula.

Max se encaminha para o corredor da sala dos professores e eu, ainda digerindo toda essa conversa, chamo-o de volta. Ao ter sua atenção novamente, falo com todas as letras:

— Obrigada. De verdade.

Ele assente, também agradecido, e só assim tomo rumo da minha sala.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acham do Max?
E o que será que a Flávia fez????



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