Mantendo O Equilíbrio - Finale escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 100
Capítulo 99


Notas iniciais do capítulo

NINGUÉM SAI



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A cama, ela tem esse poder de me engolir e me abraçar e me fazer relaxar e me fazer sonhar e... Nossa, é como se fosse uma nuvem. Me sinto tão lá no alto que acho que posso ver as pessoas como formiguinhas lá embaixo. Ih! Olha, lá estão elas. Elas estão... me olhando feio. Sim, formigas podem olhar feio, acabo de descobrir e... Aquilo é um pônei? Meu Deus, que lindo, um pônei rosa! Opa, opa, cavalinho! Vá devagar, não tenho onde me segurar e... Gasp, estou quase comendo cabelo de pônei, a crina esvoaçando no meu rosto. Não importa o quanto eu afaste meu rosto, mais e mais crina adentra no meu nariz e... Isso, acordo de supetão e há uma mão engenhosamente enfiando uma mecha de meu cabelo nas minhas vias nasais. Que inventividade teve meu cérebro de interpretar isso de outra maneira.

Humf. Bufo não querendo me levantar, só desejo virar e continuar meu sonho mágico com pôneis e formigas perseguidoras, eu estava ganhando, então resmungo pro ser que me perturba:

— Agora não, Vini.

O ser na mesma hora para e exclama alto, alto demais: 

Agora não, Vinícius?? Que porra é essa?

Merda, é o Murilo!

Abro um pouco os olhos e encontro a criatura na minha cama me olhando suspeitosamente. Parabéns, Milena, entregou o jogo todo. Com o pouco processador que tenho a essa hora, tão cedo da manhã, embromo:

— Errrr... Hum? 

Levando em conta que eu tava em cima de um cavalinho segundos atrás, também duvido da minha consciência. Desperto mais quando Murilo solta meu cabelo, fingindo-se de enfezado. Entre dentes, ele é o primeiro a desviar do assunto. Acho bom, pois ter uma conversa constrangedora nessas condições com meu mano era pra lá de fora dos nossos limites. Murilo acaba rolando para o lado e deita de costas, aproveitando que há todo um espaço se estou encolhida no meu canto. Tava um friozinho gostoso de não querer sair de debaixo das cobertas.

— Eu não vou nem perguntar.

Não, nem pergunte. Mas já que ele me acordou... Tento soar menos lesada enquanto bocejo e coço os olhos:

— Mu, o q... o que você tá fazendo aqui?

— Vim te reavivar, oras. Já vai dar meio-dia.

Meio-dia?

Aperto os olhos para ele, desconfiada de sua resposta. Embora captei sim um pouco de sol entrando pelas frestas da minha janela, acho que ele quer me enganar. Mas porque haveria de mentir tão na cara de pau assim?

Bocejo de novo e me aconchego a minha nuvem. Será que o pônei ainda voltará?

Murilo me segura não tão gentilmente e me chacoalha. Inspiro fundo.

— Hey, não volta a dormir não. Eu tenho que sair.

— Então sai, Murilo.

— Você me fez prometer que te acordaria não importasse o quanto me chutasse. Pra você estudar. Então levanta. A festa foi boa, eu sei, mas levanta.

Nem me mexo e ouço um seu “ah, num vai levantar?”. Depois disso, abro generosamente um olho para a criatura que inventa de puxar meu lençol e meu travesseiro. Apenas que: não faça isso com uma dama. Ela pode querer te esquartejar sem dó nem piedade, não se importando de descer do salto. Melhor, começava a pancadaria com o salto do sapato! E depois fugiria no pônei!

Por que tô pensando em pôneis?

Anyway, o que Murilo falou mesmo?

Como permaneço calada, espumando pelo lençol e travesseiro que ele puxou e “escondeu” por debaixo de sua cabeça, Murilo vem com todo esse ar de quem tá “cumprindo a promessa” e me cutuca na testa, o que me faz fechar os olhos a cada peteleco seu em mim. Deixa eu reunir minhas forças para revidar, deixa!

— Vai dizer que não lembra agora? Cuida, Lena.

Não, meu silêncio é de “estou planejando como me vingar dessa intervenção plena manhã de sábado”. Já mais consciente de sua presença e de minha realidade, só inspiro e me faço de blasé, como nos velhos jogos de antes. Se mostrar que tenho raiva, ele ganha. Assim me viro e me aconchego em mim mesma.

— Esquece o que eu disse, Mu. Deixa eu dormir.

— Negativo, você tem que levantar.

Por que ele insistia?

Ainda grogue, resmungo:

— Eu vou estudar. Alguma hora.

Ele novamente perturba meu sono. Digo, os resquícios dele.

— Mi, sério, já chega de dormir. Trouxe até teu suco. Bora que já vou sair e não quero que você reclame depois que tô mole e não te acordei direito. Te conheço, viu!

Desnorteada por um momento, levanto minimamente a cabeça e me volto para seu lado. Tenho a vaga lembrança de ter feito esse pedido e me arrependo imensamente neste momento.

— Bora, já fiz o almoço até.

Levanto as sobrancelhas. Murilo fazendo a comida por livre e espontânea vontade? Num sábado?

— Tu fez?

— Fiz, oras.

— Sozinho?

— Eu e fada do tempero. Por quê?

E ele quem estreita os olhos e pra mim. Pode uma coisa dessas?

— Nada... Só acho meio... milagre.

— Vou ter que jogar um balde de água pra te fazer levantar ou o quê?

Me sento quase de supetão, desorientada. Mais desorientada ainda por ele estar tão insistente em me fazer acordar de vez. Se eu não soubesse, diria que só podia estar querendo alguma coisa, isso sim. Era possível, no entanto.

— Hey, hey, já levantei, já levantei.

Sobre estar acordada acordada acordada, já não prometo não.

— Hum. Acho bom.

Ah, sim, muito, muito bonito. Ele pode se esparramar na minha cama, mas eu que sou quase expulsa dela. Não tinha nenhum desenho animado para ele assistir essa hora não? Seria mais educativo.

— Então, tu também prometeu me contar o lance do Gui. Quê que já teve agora?

— Hum?

Sem prévia alguma, de repente meu travesseiro que ele roubara volta pra mim e volta com certa velocidade e intensidade para me atacar ao rosto. O Murilo seriamente tirou o dia para me sacanear ou o quê? O que tanto ele queria saber?

— Vocês brigaram de novo?

— O quê? Não!

Focalizo a colcha rosada de minha cama e logo flashs da conversa de ontem me tomam. Tivemos eu e o Aguinaldo uns papos sobre professores e família e denúncias e divórcio. No aniversário tinha hora que ele simplesmente ficava disperso e ou eu ou alguém da galera ia lá resgatá-lo. Agora tudo parece embaralhado.

Mas sei que a gente se divertiu à beça. Diria que fora perfeito se não fosse esse e outros detalhezinhos. Como o fato da Dani estar com aquela aura treteira dela quando o Sávio ficava próximo. Ela o evitou a festa toda e dada hora jogou uma bebida nele que a Flávia disse que viu (por isso que o Murilo ficou insistindo pra eu aparecer logo na festa, pra evitar mais desentendimentos). Aos outros, a Dani disse que esbarrou sem querer. Sávio não quis esquentar cabeça, ele faz que aceita essas coisas. Eu só posso pensar em quando ela vai cair em si. Espero que logo.

Procuro minhas chinelas e verifico as horas no celular na cômoda ao lado. Murilo falava a verdade e por isso mesmo tento despertar mais. Após amarrar minha cabeleira zoada, procuro coragem pra levantar de fato. Parece que me atropelaram!

Atrás de mim, Murilo resmunga. Estava pronto pra me repreender sobre o Gui. Ele tá acompanhando nossa jornada de restabelecer a confiança. Pra falar a verdade, meu irmão anda bem mudado ultimamente. Tipo, muito mesmo, fazendo coisas que eu não esperava dele. Tem sido bom.

— Hum. Agora me conta.

— Contar o quê?

Ele se esparrama na minha cama, de bruços, ainda de pijama e com as suas famosas meias vermelha (as que colorem suas roupas brancas de vez em quando). Continua não sendo justo o sono que me bate.

— Ué, sobre a festa.

— Ué, VOCÊ tava lá. Chegou mais cedo que eu inclusive. Eu que tenho que te interrogar, coisa.

— Foi maneira, não foi? Melhor que a do ano passado.

Assisto ele abrir um sorrisão orgulhoso. Vou para a outra cômoda e pego o suco que ele preparou pra mim. Tomo umas goladas.

— A do ano passado você não foi.

— Por isso mesmo.

— Vem cá, tu não tá cansado não? Bem que te vi de cerveja na mão.

Bem que vi as meninas também batizarem meu copo. Não sei o quanto, só sei que o Vini interceptou algumas vezes. As lembranças ainda estão vagas. Não tenho exatamente dor de cabeça, mas com certeza me bate certo enjoo enquanto estou tomando o suco de laranja. Será que tô com ressaca? É normal se sentir estranha assim? Que negócio esquisito. Por que as pesso...?

— Foi só um copo... Tá, foram três. Mas eu iria dirigir na volta e a Aline também é encasquetada com essas coisas.

— E com razão, né!

Me lembro das vezes que encontrei essa criatura trôpega de volta em casa e ficar aliviada por não ter tido nada. Digo, acidentes. Nada entre aspas, né, porque até dormir no banheiro com a escova de dente na boca e todo envergado na pia, eu já o achei. Não acontece regularmente ele sair pra beber, o que pra mim é bom, só que quando acontecia, não sobrava muito o que fazer a respeito. Às vezes ao menos vinha pra casa de táxi ou carona. Pensando bem, não lembro da última vez que ele tenha feito isso.

Mas realmente não estou em um bom estado pra avaliar tal.

— Tá, eu cheguei, capotei e acordei. O Armando me acordou na verdade. Ele vai viajar e tem umas papeladas que eu esqueci de assinar. Aí como ele não pode vir, vou na casa dele.

Saio do quarto, atravesso o corredor e entro no banheiro. Enquanto coloco pasta na minha escova, respondo:

— Falando em viagem, semana que vem somos nós. Quero nem pensar em preparar mala!

Não quero pensar em estudar (embora muito necessite), imagine em mala!

— A gente não vai passar uma semana lá, então vê se reduz o peso das tuas.

Reviro os olhos. Ele sempre comenta algo do tipo. E eu sempre levo só uma mala e uma bolsa de mão.

— Chato! Ainda não acredito que finalmente vai sair o livro da vovó.

— Também. E caiu numa semana boa. O negócio lá no trabalho tá mais estável agora. Posso ficar fora uns dias.

Ao me olhar no espelho enquanto escovo os dentes, lembro mesmo que pedi à criatura para não me deixar ser molenga e estudar, pra compensar a viagem e os dias que perdi aula. Ah, droga! Sinto que meu cérebro não está captando é nada, quero só ficar deitada, ver séries ou filmes, sei lá. É outra injustiça em um dia pós festa muito boa. Termino de escovar e jogo água ao rosto.

— E aquele lance lá das propostas de trabalho?

A voz do meu mano chega meio morna, cansada e resignada.

— Declinei. Não era pra mim no momento.

— E os exercícios?

Agora a voz dele é risonha.

— Por que você acha que eu fiz almoço?!

— Eu sabia que você queria algo!

— Não quero algo. Bom, não de imediato.

Ele está vendo alguma mensagem no celular quando retorno ao quarto para beber daquele suco de novo. Sem me olhar, ele diz que tem bolinho de tapioca na cozinha. Nos encaminhamos pra lá.

— O que você quer a longo prazo então, coisa?

— Apenas isso.

Ele coça a eminente barba, descontraído, enquanto aponta para nós dois. Ué, ele quer a gente assim, andando meio empurrado? Do jeito que meu processador está no momento, Murilo vai ter que ser mais claro.

Isso o quê?

— A gente de bem. Um dos exercícios que a gente aprendeu no grupo é pensar primeiro em dar, não em pedir. Vez que a gente faz algo bom, as outras pessoas veem isso como um incentivo... ficam encorajadas de fazer algo bom de troca, sabe? E quanto mais a gente faz de boa vontade, melhor. São mais chances de colher algo bom.

Rio, feliz por estar ouvindo isso da minha criatura preferida. E mesmo tão de boa como ultimamente estamos, não consigo não fazer uma piadinha a respeito. Ele logo entende, porque era o título daquele seu vídeo que ficou famoso nas Coreias.

— Um doce incentivo, você quer dizer.

Esse sim é um doce incentivo, Mi, esse sim.

Quando ofereço um bolinho de tapioca dos três que tem na mesa, ele recusa, disse que já comeu os seus. Mais desperta, penso que ainda não presenteei o povo do RH do centro meteorológico por seus esforços. Tem gente que acha mesmo que simples atitudes não funcionam, ou pior, que não têm valor ou que não são capazes de mudar toda uma atmosfera. Acho que é preciso estar no caos pra ver que às vezes é preciso uma ajuda de fora pra entender e restabelecer a ordem do mundo. É apenas tão mais produtivo. Acho que o mundo se acostumou foi em ser cabeça-dura.

Antes que meu mano saísse de cena, me virei pra ele, buscando mais lucidez de minha pequena ressaca.

— Valeu, Mu. Por me acordar, pelo suco, o almoço... E olha, a gente tá de bem. Mesmo. Não só por esses exercícios do departamento que você anda fazendo, acho que finalmente... finalmente estamos encontrando nosso equilíbrio. Tamo conseguindo tudo o que a gente queria e dessa vez do jeito certo. Às vezes isso só me dá um pouco de medo.

— Medo? De quê?

— Medo de... sei lá. Lei da vida? De que quando as coisas estão muito bem, surge uma bomba aqui, bomba acolá... Sempre surge.

— Não se preocupe com isso. Se surgir, vamos dar um jeito.

Murilo esboça um sorriso contido daqueles que adoro nele e aproveita também pra “sacanear”, porque ninguém é de ferro.

— Mas você vai lavar a louça, né?

— Depois de todo esse drama, sim, Murilinho, eu vou lavar a louça.

Risonho e falso emburrado, ele bagunça meu cabelo e sai de boa para seu quarto. Iria só tomar seu banho, almoçar e sair. Eu, por outro lado, teria toda a casa e silêncio para estudar, mas até então não sei de onde vou arrumar coragem. Ligo uma playlist de músicas no celular e me armo de esponja e sabão. Primeiro tinha uma pia lotada pra compensar.

Realmente, criaturinha, penso comigo, esse é um bom incentivo. Não acho que nossos velhos esquemas vão acabar. Na verdade, estão, junto com a gente, indo para um próximo nível, seja lá qual for.

~;~

Eu juro juradinho, eu tentei. Muito.

Tentei estudar. Em 45 minutos de estudos, eu não tinha nem passado da primeira página. Na verdade, os 10 primeiros minutos foram tentando me achar ante as páginas. Parecia tudo um borrão e de alguma forma ainda me sentia cansada. É meio dose trabalhar pela tarde, ir pra facul à noite e, de quebra, madrugar numa festa. Apesar de ter saído cedo de lá, por volta das 1h da manhã, fui dormir umas 2h30 por conta de tirar maquiagem, trocar de roupa e conseguir me aquietar. Após o almoço, descansei ainda meia horinha.

Não só eu estava assim. Tentei entrar em contato com o povo e teve gente acordando bem mais tarde que eu. Bruno então, foi acordar quando eu tava acordando pela segunda vez. Dei também uma fuçadinha nas redes sociais enquanto almoçava e já tinha uns vários comentários, vídeos e fotos rolando adoidado sobre A festa. Era tanta notificação no meu perfil que nem tive coragem de abrir uma a uma. Até agora.

Como qualquer pessoa sensata, tão logo percebi que não tinha um pingo sequer de concentração, tampouco conseguia entender o que estava lendo, deixei de mão e mergulhei na festa de novo. Seria um esforço enorme e demorado estudar tudo aquilo e sem ter companhia. Já lancei essa pra Flávia, vamos fazer um intensivão um dia desses aí, provavelmente depois da viagem, é o jeito. Agora só quero saber dos babados e é só isso que meu cérebro está processando.

Trilha citada/indicada: The Calling – Our Lives

(02:33)

Com o notebook ao meu colo, salvando todas as fotos possíveis e cantando às alturas The Calling, que a banda da Dani resgatou na noite passada e foi o auge, ainda assim ouço quando um carro estaciona na minha porta e sei que é o Vini, pois ele avisou que viria. Disse ele que se é pra estar o bagaço, que ficássemos os dois juntos. Disse também que vai convencer o Murilo de que tentei estudar, só realmente não tive condições. Levanto, já um tanto serelepe e atendo ele na porta. Quando voltamos à minha sala, está tocando Foo Fighters e Vini já chega fazendo graça:

Trilha indicada/citada: Foo Fighters – Learn To Fly

— Tá fazendo repeteco, amor?

Isso porque estou com uma playlist do youtube aberta com todas as músicas que tocaram na festa. A banda MP-3co (êmepê-éco) agora tem um canal por lá pra divulgar seu som (estão chiques, eu sei!) e disponibiliza também as listas de músicas que tocam. Claro que não fica ordenado de acordo com que tocam e algumas eles listam antes da festa. No aniversário das meninas teve um pouco de tudo da cultura pop, pra não ficar nessa de preferências.

Durante o planejamento do níver, listei algumas dicas pra Dani, assim como Gui e Sávio. Teve, no entanto, umas poucas em específico, bem especiais, como Girlfriend do N’Sync só pra atentar o Gui, assim como Blonde da Bridget Mendler pra beliscar o juízo loiro da Flá e Girlfriend da Avril Lavigne pra brincar com a Iara, porque quem era da nossa faculdade estava fazendo o maior burburinho desde que o Sávio assumiu estar namorando.

Já para as especialíiiiissimas, tivemos alguns pedidos dos respectivos namorados e umas bônus pra outros casais, como eu e o Vini, Murilo e Aline e até Djane e Renato! Gui pediu You Got Me da Colbie Caillat (porque a Dani disse que não iria aprender francês nem que uma vaca tossisse uma música inteira em alemão – de verdade, ela disse isso) e Sávio pediu uma super romântica também, Love Will Keep You Up All Night dos Backstreet Boys (que eu não bem conheço, mas já caí de amores). Vini optou por Dançando, do grupo Agridoce, que foi a nossa música na festa do ano passado. Já Murilo, por um milagre, não pediu Nickelback, mas sim All About Lovin’ You do Bon Jovi. Mas todo mundo caiu pra trás foi com Renato, que pediu Feel Again do ONE REPUBLIC e estou até agora repetindo que eu não tive NADA a ver com isso. Inclusive, fui uma das pessoas que caí da cadeira junto – não literalmente, ainda bem.

— Mais ou menos, parece que ainda tô no pique. Você PRECISA ver um vídeo que a Aline me passou. Não sei como ela conseguiu gravar o Gui conversando com o Murilo, só sei que tá a coisa mais fofa do mundo.

Faço ele se sentar ao meu lado no sofá e resgato o notebook e almofada para meu colo. Depois dessa da minha cunhada, repenso essa manhã e fazia sentido as perguntas do Murilo. Definitivamente Aline é das minhas e definitivamente ela é uma benção na vida do meu mano.

— Fofos, é? Deixa eles ouvirem isso.

— Ah, se chamo eles de “coisa”, eles reclamam, se eu falo que são “fofos”, resmungam. Vai entender!

— Nessa discussão eu não entro, eu só sou o charmoso da história.

Charmoso que é, Vini ri maroto e seduzente. Ele me segura no queixo delicado e me dá um selinho. E depois outro e outro e outro e rimos e logo estamos nos beijando de verdade. Quando meu notebook apita com mensagem, que parecemos despertar. Ele finaliza com mais um selinho e então desliza, desleixado, no sofá e se recosta no meu ombro, preguiçoso todo.

— E aí, cadê o tal vídeo?

— Deixa eu abrir aqui e... Aff, a bateria vai cair. Quais as chances do namorado buscar o carregador láaaaa no meu quarto?

— Noutra ocasião eu diria 80%, mas hoje tá menos de 10%. Posso ver esse vídeo depois e a gente pode ficar por aqui, que acha?

— Acho que eu mesma vou pegar esse carregador, porque dependendo dessa tua coragem, tô vendo que não vou salvar todas essas fotos. E já que não tô estudando, quero ao menos fazer essa coisa útil. A gente procrastina, mas procrastina direito, amor.

Coloco o notebook na mesinha da sala e faço que vou levantar. Já Vini continua na sua preguiça, só que fazendo outras propostas. Ele pisca o olho gracioso.

— Eu tenho outras ideias de procrastinação, sabe?

— Ô se sei. E vou dar carta para essas ideias, assim que voltar do quarto.

— Tá bom.

Pauso a música, para que o notebook não tenha queda de energia enquanto vou ao quarto. Logo me ponho de pé e me espreguiço. A depender da cara da criatura no meu sofá, assim será o resto do meu dia. Não vejo nada demais nisso, mas nem quero pensar em todo estudo acumulado, vou deixar esse desespero pra depois. Mereço mimos e mimar meu namorado um pouquinho.

Me arrependo desse pensamento (mimá-lo) tão logo me afasto e ouço seu pedido:

— Mas quais são as chances de você buscar o carregador do celular também? Quando vim pra cá minha bateria tava em 15%. Quero nem ver em que número tá agora. Vocês têm algum carregador extra? Acho que o meu tá mau contato.

— Temos um sim, mas vai ter que levantar, viu. Tá ali na estante, pertinho. Se não me engano, tá na portinha da esquerda, na parte debaixo. Levanta, Vini.

— Tô levantando.

Olho pra trás e ele continua esparramado.

— Não tá não.

— Em espírito eu tô.

Reviro os olhos e sigo para o quarto. Vou direto para onde está a tomada principal, só que encontro uns cadernos e canetas no chão. Foi na hora que peguei o notebook pra ir para a sala e não voltei mais pra colocar tudo no lugar. Sabendo que não voltaria tão cedo, ainda mais com certa figura na minha sala, arrumo rapidamente e logo puxo com cuidado o fio da bateria. Tenho que puxar assim porque aqueles malditos três pinos sempre colam na tomada como esparadrapo em pele sensível e não quero fazer estrago.

Eu já ia gritar, pra perguntar se ele tinha encontrado o carregador ou ao menos se levantado, quando veio. Vini quem falara primeiro. Ouvi meio baixo, já que ainda estava em meu quarto.

— Milena? Pode vir aqui, por favor?

Só que... O tom. Tudo difere pelo tom. A harmonia, a inflexão... a intenção. Vini pareceu sério, direto e estranho. Como ele não disse mais nada, terminei de puxar os pinos e enrolei o fio para levar comigo. À primeira instância, queria entender qual era daquele tom, mas não tinha o que pegar no ar, nada parecia justificável, então a passos lentos, porém determinados, retornei à sala para verificar.

Ao chegar lá, Vinícius estava... parado, perto da porta. De novo, algo no ar estava diferente. Logo percebi que ele estava todo tenso e... nervoso? Com uma mão apoiada em sua cintura e outra ao queixo, Vini permanecia firme de pé, petrificado, olhando para algo além de mim. Mas o que teria acontecido nesse minuto que fiquei fora?

Antes que eu pudesse questionar o que era aquilo, meus olhos foram mais rápidos. Num ato um pouco de caça ao motivo ao me virar um pouco de lado, para o anexo da sala onde ficam minha mesa de estudos e a tal estante que mencionara ainda pouco a ele, entendi. Entendi que ia matar o Murilo por ter deixado aquela bendita pasta de documentos da investigação sobre Viviane em um lugar tão óbvio.

Ela agora estava toda aberta bem em cima da estante, com alguns de seus papeis espalhados ao lado de onde pousava um dos novos vasos decorativos que comprei após aquele desastre que Murilo fez na casa. Mal consigo me mexer. Pisco, procurando me orientar. Aquilo estava acontecendo. Estava finalmente acontecendo!

— E-eu posso explicar.


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Notas finais do capítulo

O FORNINHO CAIU!

E VEM MAIS FORNINHOS. SEGURA ESSE CORAÇÃO, GENTE!



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