P.O.V. Hermione

Já fazia algumas horas que estávamos deitados cada um em sua cama sem falar nada. Aquilo era um saco! Eu pensei que pudesse ser até legal, mas ai eu lembrei que a cobra estaria lá, então...

– Mione?

Levantei e dei um espaço para o Harry sentar. Fazia um tempo que eu não falava serio com ele.

– Oi Harry. Como você está?

– Não muito bem, na verdade. Eu descobri algumas coisas e parece que é pior do que eu pensava.

– Harry, vai ficar tudo bem. Eu sei que isso não é totalmente verdade, mas você é o garoto que sobrevivou, lembra? Você vai ficar bem e nós estaremos com você o tempo todo. Um dia, quando tudo isso acabar, nós seremos o que sempre queríamos ser: irmãos que não tem com que se preocupar. E essa não é uma promessa como a que Sirius te fez. Não é uma promessa que é difícil de ser cumprida. É uma promessa real.

– Obrigado Hermione, de verdade, mas eu não consigo mais acreditar em promessas futuras, porque nem sei se haverá um futuro.

– Harry, mesmo que essa guerra seja perdida, não importa. O mal vive para sempre e nós sabemos disso, mas o mal não reina para sempre. Um dia vai ter que acabar, e você sabe disso. Isso não é uma promessa futura, é um tipo de profecia. Tudo passa, Harry.

– Não sei como você consegue ser uma irmã tão boa pra mim.

– Tá tudo bem. Quer dizer, antes eu fazia isso com ele, mas agora eu faço com você. Antes era ele que me trazia essas angustias, e agora é você. E eu gosto disso na verdade.

– Você superou?

– Nós nunca superamos nossas perdas, Harry, mas nós a arquivamos e pensamos em outras coisas para não ficarmos louco. A dor sempre vai estar lá, mas com o tempo você aprende a parar de cutucar.

Ele estava falando do meu irmão mais velho. Ele morreu em um acidente de carro quando eu era pequena. Eu lembro até hoje de como eu fiquei arrasada. Eu sempre guardava comigo uma foto dele e ficava olhando para lembrar. A tirei da mala e mostrei para Harry:

(http://emmawatson.com.br/gallery/albums/userpics/10014/normal_emma_and_alex2.jpg )

– As vezes eu gosto de cutucar, sabe... Eu sempre acho que já superei e que vai doer menos, mas nunca acontece.

Ele me abraçou e eu já ia começar a chorar quando levantei os olhos e dei de cara com um loiro nos encarando. Ele olhava para nós e para a foto com um sorriso triste que demonstrava solidariedade e até um pouco de dó. Sibilei que estava tudo bem e ele fez sinal para que eu o seguisse.

– Harry, eu já volto.

Nós fomos até um quarto que usamos para nos vestir sem ninguém perceber e fechamos a porta. Ele me olhou e eu retribui o olhar. Eu realmente não queria falar sobre aquilo, mas não ia ter jeito...

– Você nunca me contou...

– Contar o que? Não era nada relevante.

– Nada relevante? Seu irmão morreu! Isso é algo relevante!

– Não pra você.

– Claro, porque nada é relevante pra mim, não é mesmo? Eu sou apenas o Malfoy, aquele que se abre, mas nunca deve saber de nada porque não é confiável!

– Eu não disse isso! O que você quer? Você quer que eu pare e conte tudo o que você não sabe? OK. Meu irmão morreu em um acidente de carro quando há 2 anos. Ele não era bruxo, eu sou a única da família. Sempre fui muito próxima da minha prima, mas depois que descobri que era bruxa ela se afastou. Eu sempre fui muito próxima dos meus pais, minha mãe é uma amiga pra mim e meu pai é superprotetor. Eu só namorei uma vez na minha vida e foi nas férias com um vizinho meu. Eu nunca mudei de casa. É tudo o que eu lembro.

Ele ficou me olhando e sorriu. Não foi um sorriso sarcástico ou arrogante, foi um sorriso real. Eu acho que nunca tinha visto aquilo.

– Porque ta sorrindo?

Ele sorriu ainda mais e olhou pra baixo formulando uma resposta.

– Porque eu consegui. Eu descobri coisas que ligação nenhuma me diria. Eu descobri aquelas coisas. Não são segredos, mas não são contadas toda a hora porque ninguém é tão próximo para saber. Agora eu sou.

Eu acabei sorrindo também com o modo que ele via aquilo. Ele se aproximou e eu lembrei da ligação. Eu precisava fazer aquilo. Ele me beijou e foi um dos beijos mais doces que ele já tinha me dado. Era calmo e me trazia conforto. Nos separamos e nossas testas ficaram coladas enquanto nos encarávamos. Quem diria que um dia aqueles olhos me trariam paz. Antes me deixavam irritada e eu não gostava de olhar, mas agora era impossível desviar e me fazia bem mesmo não sendo uma coisa boa. Eram como drogas.

Nos separamos e fomos embora um de cada vez sem ninguém perceber. Deitei e fiquei olhando para o teto pensando em coisas alheias quando uma dor de cabeça terrível me invadiu e eu sabia que estava começando. Eu esqueci quem eu era e onde estava, mas depois voltei e a dor tinha parado. Tentei pensar nele e...

Eu sabia sobre aquelas coisas. Eu nunca tinha ouvido aquelas coisas de ninguém. Eu nunca fui próximo de alguém a esse ponto. E agora eu sabia aquelas coisas dela. Pode parecer bobagem, mas ai é que está a magia da coisa. Eu ia contar aquelas coisas sobre mim, mas eu não acho que ela se importe então... Além de que eu precisava saber o que estava acontecendo. Uma hora ela fala comigo, outro hora ela é grossa, outra hora ela simplesmente não é...

Isso! Deu certo! Consegui! Agora é só descobrir – confirmar – que eu fui só mais uma e passava gostar um pouco dele pra ligação ser quebrada.

– Espera ai, alguém conhece esse feitiço? Hermione?

– Nunca ouvi falar.

– Hermione? Desde quando você chama ela de Hermione Draquinho?

– Pansy, da pra, pelo menos uma vez na vida, se concentrar em coisas importantes? E se ele estava blefando?

Comecei a pensar e vi que fazia sentido, então abaixei a cabeça e tentei dormir. Comecei a me desligar, sonhar, sonhar, e quando me dei conta já estava dormindo. Aquele professor me paga!