Ele passou as mãos pelo rosto frustrado. Agiu por impulso ao atacar aquela mulher, ele nunca tinha a visto, aquele fora o primeiro contato. Mas ele precisava dar um aviso para Caro. Cortar os cabelos tinha sido uma coisa estúpida da parte dela. Quando ele viu o que ela tinha feito resolveu agir.

Aquela mulher não estava nos planos, cortar os cabelos dela tinha sido outra burrice, estava mais do que claro que os cabelos dela eram pintados, ou seja, inúteis. Agora ele tinha mais uma acusação nas costas, caso fosse preso. Ele se sentia frustrado, ansioso, e com raiva, muita raiva.

Caro fez a mesma coisa que a mãe dele tinha feito, quis acabar com o vício dele, mas acabou despertando um lado mais raivoso dele. A mãe dele era parecido com Caro, a única diferença entre elas era a altura, a mãe dele era pequena e Caro um tanto alta.

Ele sabia que era arriscado continuar com o plano, mas era divertida a adrenalina e aquela raiva precisava ser escoada. E seria muito em breve.

–----X-----

Alexy chegou na república cansado. A vida que antes não lhe fazia muito sentido, perdeu qualquer resquício de sentido naquela manhã. Lógico que ele já tinha perdido uma pessoa importante para a morte antes, mas a dor da perda anterior não se comparava em nada com a perda que Will tinha lhe causado.

Seu Will não tinha suportado os machucados e acabara morrendo de madrugada. Infelizmente, Alexy não pode acompanhar os últimos momentos dele, porque aquela mulher odiosa tinha expulsado ele do hospital. Seu único conforto foi ver e se despedir de Will, o namorado estava tão pálido e sem vida, que o coração de Alexy se apertou mais ainda.

Ele subiu as escadas, no intuito de dar a notícia para Caro e Armin, mas se surpreendeu ao chegar no quarto da garota e achar os dois dormindo juntos, um sentimento estranho brotou em seu coração, mas ele logo o ignorou. Observou o casal mais um pouco, e então saiu silenciosamente da porta do quarto. Alexy preferiu deixá-los dormir um pouco mais, antes de jogar a bomba em cima deles.

Entrou no quarto que dividia com Will, com o coração apertado, ele ainda não tinha chorado, mas ver a organização do lado do quarto de Will e a falta que o companheiro iria lhe fazer, Alexy desabou, ele soluçava como uma criança, sua dor era enorme e no lugar de seu coração um buraco vazio tinha se formado. Ele sabia que a dor iria passar, mas aquele momento era reservado apenas para sua própria dor. Afinal, humanos são tão egoístas com seus sentimentos.

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Acordar ao lado da pessoa que se gosta é uma coisa especial. E Caro sentiu essa coisa especial naquela manhã. Ela acordou antes de Armin e se pôs a observá-lo, tentando marcar na mente todos os detalhes do rosto dele, o nariz afilado, as pequenas sardas que cobriam-lhe o rosto, os cílios longos e escuros, as sobrancelhas grossas e expressivas mesmo durante o sono. E a boca rosada.

Ela sentia uma vontade enorme de beijá-lo, mas na noite anterior ela tomara uma decisão, seria apenas amiga dele. Não queria estragar momentos como o que tiveram ontem, momentos de amizade pura e simples.

Jogando as pernas para fora da cama, Caro iria se levantar, não fosse a mão de Armin fechada com força em seu pulso. Ela olhou da mão até o rosto dele sem entender nada. Puxou e torceu o pulso tentando se libertar, sem sucesso.

–Você vai mesmo embora sem me dar um beijo de bom dia? –perguntou Armin com a voz grossa e rouca do sono. Ele abriu os olhos e neles Caro pode ver um brilho desafiador, o rosto da garota ficou imediatamente corado.

–Er... –ela olhava para os lados, em busca da rota de fuga mais próxima. Sua cabeça repetia o mesmo mantra, Armin está delirando, Armin está delirando...

Mas ele não estava, um dos cantos de sua boca subiu num meio sorriso. Ele se apoiou nos cotovelos e deu um selinho demorado em Caro, antes de se levantar e voltar para o próprio quarto, satisfeito com o pequeno progresso que tinha feito. No quarto, Caro continuava corada e sem entender nada.

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A notícia da morte de Will já era esperada, mas tanto Caro quanto Armin ficaram abalados. Eles queriam ficar em casa e dar apoio para Alexy, mas ele conseguiu convencê-los a não ficarem e seguirem com a rotina diária. A única pessoa que conseguiu ver alguma vantagem na morte do rapaz foi Castiel.

–Pelo menos nós eliminamos um como suspeito. - disse ele assim que Armin deu a notícia. –O que foi? É verdade. –disse ele levantando as mãos diante dos olhares amargos que Nathaniel e Armin lhe dirigiam.

–Não pode ser ninguém da república. Todos estão abalados com a morte de Will. –comentou Nathaniel

–Letterman me pareceu um tanto abalado ao atacar a garota, tenho pra mim que aquilo não foi premeditado. -argumentou Castiel.

–O bilhete que estava na caneta, não deu em nada. O agressor só ofendia Caro. Nada de mais. –disse Armin, passando a mão pelos cabelos pretos. –Por que vocês ainda não investigaram o supervisor de Caro?

–Loterman? –perguntou Nathaniel surpreso, sem entender onde o irmão mais novo de Castiel queria chegar.

–Sim, já notaram como o nome dele faz um anagrama? Se você substituir o “o” de Loterman e colocar um “e” no lugar e acrescentar um “t”, é o nome do nosso assassino. –explicou ele, orgulhoso de sua tese.

–Desculpa te decepcionar irmãozinho, mas o Senhor Pierce Loterman é respeitado dentro da corporação e está praticamente aposentado, além disso o homem está tão velho que é incapaz de se locomover sem ajuda de uma bengala. É impossível ele ser o culpado. –informou Castiel.

–Se eu fosse você não desgrudava o olho desse homem. –insistiu Armin, fazendo uma expressão emburrada.

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Funerais são sempre tristes, alguém estimado se vai, deixando apenas sua casca para trás. Eram esses momentos que Armin se perguntava se os humanos não eram meros parasitas. Ele estava vestido todo de preto e próximo ao caixão de Will. Quando recebeu a notícia que o enterro do amigo seria no mesmo dia, ele se surpreendeu, mas foi mesmo assim.

Armin odiava cemitérios e igrejas, para ele eram lugares mórbidos onde não existia um pingo de tecnologia nem alegria. Ele evitava igrejas até mesmo em casamentos. Mas naquele dia ele precisou ir e sentia-se um tanto apático sentado no banco, vendo as pessoas darem os pêsames a mãe de Will.

–Caro, vamos sair daqui? –pediu ele para a garota que estava sentada ao lado.

–Vamos. –respondeu ela, e Armin sentiu um estranho alívio.

Os dois se levantaram e passaram pelos familiares enlutados, ao que parecia Will era muito querido. Eles encontraram Alexy sentado num banco escrevendo alguma coisa em um papel, o rapaz tinha o rosto marcado por lágrimas, mas ele não emitia barulhos ao chorar.

–Alexy? –chamou Caro.

Ele ergueu o rosto e olhou para os amigos, com um breve sorriso.

–Pensei em escrever alguma coisa pra deixar com ele. –disse ele com a voz trêmula. –Vê se tá bom. –pediu ele estendendo o papel para ela.

Caro pegou o papel sentindo o coração se apertar diante do sofrimento do amigo. Chegou mais perto de Armin, para ele também poder ler.

“Will,

Eu poderia dizer tantas coisas, e de tantas maneiras, mas escolhi esta. Uma carta não é o suficiente para eu expressar meus sentimentos por você.

Eu poderia dizer apenas que te amo e que sinto sua falta, mas isso seria muito vazio. Também poderia te xingar por ter me deixado, mas isso seria inútil. Afinal, você não lerá isso.

Will saiba que isso não é uma despedida, nem mesmo um adeus, você estará para sempre comigo e no meu coração.

Espero que nos encontremos nas próximas vidas e gerações. Ou num novo ciclo como você costumava dizer.

Minhas palavras não foram muitas, mas saiba que estará sempre comigo. Meu companheiro, amigo e eterno amor.

Eu não sei que horas são,

ou quem deve se culpar por isso.

Eu acredito no que eu não posso ver?

E como você sabe que direção o vento sopra?

Porque eu posso senti-lo ao meu redor,

Eu estou perdido entre o som.

E apenas quando eu penso que sei, lá vai ele.

Adeus por enquanto, adeus por enquanto (até logo)

Adeus por enquanto,

Eu não sou do tipo de dizer, eu disse a você

Adeus por enquanto (até logo)

Eu acho que a parte mais difícil de se prender é deixar ir embora

Quando nós cantaremos uma nova canção? Uma nova canção

Até logo, meu Willie.

Alexy.”

Caro tinha os olhos marejados quando terminou de ler, sentia uma enorme tristeza por seu amigo, por isso foi até ele e o abraçou. Armin permaneceu parado observando os dois, ele notou uma coisa na carta, uma coisa que poderia ser prejudicial a todos, por isso guardou muito bem seus pensamentos.