Era uma vez uma garotinha perdida no meio do nada, em seus pensamentos. Tão jovem, tão meiga e ingênua. Imaginava que a vida era bela, repleta de diversão e que não havia absolutamente nada com o que se preocupar. Achava que ser adulto era fácil e divertido… Essa garota era dona de algo, que para ela, era muito grande. Essa garota tinha seu próprio mundo. E em seu mundo tudo era perfeito para ela. Lá não existia nada que fosse ruim. Maldade, dor, sofrimento, tristeza, mágoa, ódio, raiva e problemas. Nada disso existia em seu mundo. Pobre menina, não passava de uma criança iludida. Mas qual criança não leva consigo suas ilusões? Qual criança não imagina a vida como algo belo, pois no mundo das crianças a vida é linda e fácil. Para os pequenos, em seus cabecinhas, nada disso, jamais vai mudar, a vida vai continuar a ser fácil e simples.

Porém, chega um dia em que todos nós temos que crescer, e isso independe da idade física. Quando ela menos esperava esse “temido” dia chegou – na verdade, descobrimos que deveríamos temer esse dia apenas depois que ele passar -. Este dia não chegou sem avisos ou sem motivos, muito menos aconteceu da noite pro dia. Apenas se sabe que esse dia chegou, ou aconteceu. Sua infância talvez tenha passado pela transição necessária, aparentemente essa boa fase não durou muito, ou não durou tanto quanto deveria. Na verdade, pode ter sido só um sonho bom, uma grande ilusão de sua mente ou uma tarde de brincadeiras, daquelas que parecem durar uma eternidade inteirinha. Nem a garotinha sabe isso ao certo, mas, ainda se lembra disso – seja lá o que for – com grande nostalgia

Lembra-se dessa fase, só que as lembranças nem sempre são boas e felizes. Pois, assim como toda transição de uma vida, restam algumas infelicidades, pois nada é perfeito – o mundo dela pode ser perfeito, mas as pessoas ninguém pode controlar, muito menos suas memórias -.

Quando, pensativa, revive um passado quase inteiramente feliz, recorda-se de seus grandes amigos, seus segredos, brincadeiras. Porém, logo entristece-se por saber que para muitos aqueles que ela considerava que seriam para o resto da vida ela não passa de um fantasma do passado. Jamais será lembrada por eles da forma que gostaria. Sentia-se como apenas mais um rosto e teve uma passagem e participação fugaz naquelas vidas.

Perfeição demais pode cansar, apesar de quem a não possui a desejar incessantemente. Como tudo, às vezes as imperfeições são um charme e um toque especial. Algo perfeito pode ser chato demais. Além do que, em seu mundo perfeito, vivia sozinha. Pois era o SEU MUNDO. A solidão e o silêncio, às vezes parecem propícios, mas depois de um tempo sufocam. Chegou um momento em que estava tão sufocada que a garotinha queria se libertar de seu mundo. Surgiu um ímpeto de explorar o mundo real, que causava-lhe tanta curiosidade. A curiosidade e a vontade de descobrir eram tão grande que não se importava com as coisas que poderia encontrar. Só pelo nome – mundo real – já via explicito que seria extremamente diferente de seu mundinho. Estava ciente que esse mundo não chegava sequer aos pés do dela. Que tinha poucas coisas e pessoas realmente boas.

Já que seu mundo era perfeito, ela se perguntava se existia o mínimo de perfeição nesse mundo real. E fazia esse questionamento com um pouco de medo e receio. Pois sabia que a resposta não seria boa de se ouvir. De tanto pesquisar, descobriu aquilo que temia saber. Esse mundo não conhecia essa palavra – perfeição -. Lá, não passava de mais uma palavra, um belo conceito impresso no papel. Na boca e na mente, não existia significado e nem exemplo dessa tal perfeição.