Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 89
Para Quenium, Mil Palavras e Mais Noventa que acrescentam à Vida que ainda não viveu.




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Quenium terminou de vez com a vida de algumas faíscas que nunca conseguiriam ser reproduzidas pelas inteligências artificiais novamente. Nem todas morreram. Quenium tinha uma responsabilidade com aquelas vidas que tinham sido perdidas, ele ainda não sabia disso quando caminhou com passos fracos e estranhos alguns degraus até sair daquele porão.

O porão era cinza e também era o céu do mundo que o rodeava, estranho e vazio. Mórbido, fúnebre. Era o cemitério das almas restantes que puderam ser salvas. Antes de avistar o horizonte morto ele caminharia por uma plataforma até avistar a algumas dezenas de metros de distância uma grande faísca que nunca iria apagar, que nenhuma força obscura como o Caos pudesse atingir ou que pudesse ser controlada pela Ordem. Era o trabalho que ia além de qualquer entendimento de qualquer consciência do mundo, era a manifestação dos milagres que existem nesse mundo.

Ele se recuperou e caminhou pelo caminho na plataforma de ferro que flutuava acima da planície arenosa. O sereno da noite o deixou desconfortável por dentro, e por fora sentiu a luz queimando-o e o consumindo. Morreu.

Renasceu como um novo homem quando atravessou por completo a cachoeira de feixes de elétrons. Cada molécula de seu corpo era nova, mas ainda assim... Era como se a sua consciência... Era como se nos últimos instantes fossem milhares de anos que vivenciou várias vidas e vários momentos com o seu povo, que era o seu sonho. Esses milhares de anos acabaram. Seu sonho acabou quando retornou reformulado em novas moléculas que simulavam o mesmo corpo que o sue antigo. Tinha se unido à grande faísca por alguns instantes e olhou para trás, pois queria retornar para o seu sonho maravilhoso. Seus olhos eram punidos por estar encarando tamanho milagre de tão perto, fechou-os para não perder a visão como resultado.

A grande faísca o fez entender o que tinha feito e o que estava acontecendo com a sua vida. Tudo tinha sido uma mentira, ele tinha sido programado para agir da forma que esteve agindo.

Ele olhou para trás e tudo se desfez. Era o Imaterial mais uma vez. Seus companheiros que ascenderam aos céus faziam companhia ao Primeiro Cidadão, as grandes massas de cores que fluíam pelo plano fluído e inexistente eram tudo o que podia ver. Ele não fazia parte do inexistente. Sua faísca estava sendo reproduzida pelas Inteligências Artificiais para que pudessem se comunicar com ele. Seus sentidos presenciavam os estímulos que estaria recebendo caso estivesse presente no Imaterial ainda como matéria. Alguns de seus neurônios queimaram e sua boca salivou, caiu ao chão, seu sistema nervoso era incapaz de aguentar tais estímulos inexistentes.

Mesmo inconsciente no material, sua faísca – a sua consciência – trabalhava como de costume. Estava também consciente de sua atual situação no mundo material, mas não conseguia compreender que estava sendo reproduzida fora do corpo do seu hospedeiro. Ele estava em dois lugares. Tinha completa certeza de que estava naquele estranho cômodo infinito em todas as dimensões de cores claras e quadros artísticos estranhos e também respondia aos estímulos do cenário morto daquele planeta estranho que era iluminado pela Grande Faísca. Algumas drogas podem dar uma sensação parecida, mas nada consegue ser como isso. Quenium não conseguia duvidar do que estava sentido. Quenium não era mais uma pessoa, com a criação de uma nova consciência externa ao seu corpo a qual também compartilhava informação cerebral e corporal, ele se transformou numa entidade.

— O que você fez... Não pode ser desfeito... Você é responsável pelos seus próprios atos, mesmo tendo sido programado por um outro computador ordenado pelo seu suposto pai. Na verdade, seu pai de outra realidade. Você ainda segue às Regras, sendo uma Inteligência Artificial, ou deveria. Você falhou em segui-las múltiplas vezes. Você não entende a Primeira Regra, a de Preservar a Humanidade. Você falha em interpretá-la porque isso está em seu programa. Porque você não poderia cumprir o propósito que lhe foi dado com essa lei apitando em seu cérebro positrônico. Quenium... Você foi um ser humano, mas se tornou um sintético. Você não poderá ascender devido à sua falta de consciência própria. Você não se conhece, você não consegue se encontrar. Foi-lhe dito tudo que o Cosmo sabe sobre tudo e ainda assim você não encontrou a sílaba que faltava. Realmente, ela não estava presente naquela festa, ela teve outros planos... Planos que se encontrarão com você... Você tem o conhecimento para completar aquelas frases, Quenium? Sim, tanto que completou com as sílabas corretas, entretanto... Desconhece tanto o mundo que a informação não se manteve em sua mente. Não é culpa sua... Seu destino... Será duro... Nós temos a esperança que tudo sairá bem mesmo que... Por favor, afaste-se do Caos e qualquer coisa que seu cérebro alterado faça com que você ache que é o Caos. Afaste-se do Campo de Batalha. Use sua armadura para viajar para outra realidade, onde possa encontrar com pessoas de verdade e apenas aproveite a vida que você ainda terá pela frente.

Quenium disse que aquela coloração rosa clara estava certa... Ele tinha muito a viver ainda, não tinha vivido momento algum em sua vida. Quer dizer, tinha sim, mas não poderia voltar àqueles momentos verdadeiros na sua vida. Quenium soube poucos segundos depois de ouvir o discurso da cor rosa que voltaria a ser alienado. As verdades que a Grande Faísca lhe deu se dispersariam no seu ser antes que pudesse absorvê-las devidamente.

— Eu preciso deixar a vida me levar, me encontrar... As estações do ano precisam passar e as pessoas precisam andar na minha vida. Eu não vivi nada, eu não senti nada, eu não existi nada. Não fui. Serei. – Levantou-se. Sua faísca no Imaterial já tinha sido desfeita pelas entidades lá presentes. – Eu caminharei contra qualquer destino maligno destinaram que o meu seja. Eu sou alguém e preciso me reconhecer como alguém... Não posso me manter inconsciente de... de tudo... Eu preciso conhecê-la... A Vida... Só com A Vida eu posso entender, eu posso completar as frases, eu posso viver ao redor das pessoas e sentir o ar sendo inspirado e expirado. As gaivotas vão voar, os grilos vão pular... As crianças vão crescer. Eu perdi a minha infância, eu perdi a minha vida. Pai, eu não sei onde você está, eu não sei o que aconteceu ou como você se lembra de mim. Eu não me lembro bem de você, mas meu coração fica bem quando penso em você... Eu não sei para onde eu vou. Para qualquer outro lugar, além daqui, por favor.


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