Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 19
É muito bom rever os amigos.




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Há cinco minutos, uma jovem erguia-se do chão sujo, a qual caíra pelo fato de terem a golpeado, um ataque surpresa, e jogado-a até alguns metros. O golpe foi forte, e principalmente surpresa. Não demorou a levantar, o que realmente aconteceu - o motivo por não ter retornado e dar um supapo no vagabundo que a golpeou - foi o fator cansaço. As feridas do dia anterior abriram, e sentia a dor rompendo sua pele em algumas delas.

Um minuto depois, encontrou alguém que já esperava encontrar e ao mesmo tempo não esperava encontrar. Um homem caolho, aparentemente feio e mais velho do que parecia. Outro fato interessante: careca. Era cômico e respeitável, sua aura dava um enorme tom de ameaça. Porém, como estava entre amigos, o homem preferiu ocultá-la até para não dar um mal estar para a jovem, sua discípula.

Molly, um dos grandes reis da resistência, um grande homem e um grande herói de Guerra. Um grande mestre que guardava dentro de seu corpo um grande poder vindo de uma grande estrela grande e amarela. A energia amarela era de fato, aquilo que lhe fazia ser alguém fora do comum. Imperador Solar, o touro azarento.

Um sorriso carismático que o careca guardara durante algum tempo finalmente cruzou todos seus lábios, os abrindo e mostrando em conjunto um olhar sagaz.

– Mestre – cumprimentou, com um grande carinho.

– Olá, minha cara discípula, esqueci de agradecer por ontem – disse o caolho.

– Obrigado, mestre, mas... Onde estava?

– Tive um grande problema estomacal, o médico disse que é normal para a idade – refletiu -, mas eu não sou tão velho assim.

– Não é não – concordou a jovem, até porque não parecia ter mais de setenta anos fisicamente.

– E você, por que está em frangalhos? Outra coisa, por que largou o seu posto de vigilância? – Molly parecia revoltado.

Pensar que sua discípula, aquela a qual ensinou as condutas de um lutador e de um rapaz responsável – considerando, claro, o fato de que é uma moça – estivesse cabulando o trabalho para vagabundear o intrigava. Não era esse, de fato, o caso.

– Numa luta, mestre – revelou.

– Perdeu numa luta? – Parecia inconformado. – E só por causa disso deprimiu-se, cabulou o emprego e veio beber? Se esse for o caso, devo lhe aconselhar que a vida não só composta é por vitórias, derrotas são comuns e é melhor se acostumar.

– Não – riu –, não é isso mestre. Esse é o motivo por eu estar em frangalhos. Foi uma luta contra quatro, se não me engano, adversários. E não foi nem um pouco fácil, tive que desertar depois de outros três adversários surgirem. É claro que meus oponentes também sofreram conseqüências...
O verbo desertar não dava ao caolho boas lembranças.

– Bem, quatro é maior que um. Não dava para enfrentar desde o inicio. Mas eles eram fortes?

– Dois deles eram fortes... O restante... Bem... Hum... Aliás, creio que eles sejam do grupo de terrorista de Xupa Cabrinha. Reencontrei-me com um desses quatro caras hoje e travamos uma luta, ele estava junto com o figurão e por isso pude deduzir isso.

– Xupa Cabrinha? Não acredito muito nessa coisa de um velho amigo meu ter assassinado o presidente sem mais nem menos, mas... Ordens são ordens e por mais que eu queira recusar essas ordens, sou incapacitado disso. Poderia falar das técnicas desses marmanjos da batalha de ontem? Troca de informações é importante.

– Velho amigo? Como assim? Não sabia que vocês se conheciam, mestre.

– Guerra do Fim do Mundo, minha queridinha. Somos Imperadores Solares e tivemos a mesma experiência de sermos tratados como cobaia, se foi uma experiência frustrante e bizarra? Foi... Muito mais bizarra do que eu esperava, além do mais, algo ridiculamente surreal. Mas é graças a isso que agora tenho esse grande poder e posso usufruir dele o quanto quiser. Posso reclamar por ter de passar por aquilo, mas a verdade é que pude salvar muitas vidas com esse poder.

– Não sabia disso – repetiu a jovem, obviamente agora sabia.

– Bem... Vou começar a falar dos possíveis subordinados do tal assassino... Digo... Possíveis subordinados do possível assassino. Enfim, mestre, não há muito a destacar. Um deles, o que reencontrei hoje mais cedo, tem um espírito de luta muito forte e pode ser ameaçador. Muito resistente, mas tem como ponto fraco a defesa, porém a resistência física é considerável. O que mais se destacou, entre os quatros, foi um homem muito misterioso de óculos escuros que inclusive ajudou-os a nocautear e capturar um de meus companheiros. O companheiro foi inútil, mas isso não entra em questão. A velocidade e a destreza de seus golpes são comparadas à destreza de suas técnicas, que visam menos o contato físico, mesmo considerando que o único golpe que eu pude ver dele foi um chute cheio de classe e que me custou alguns pontos.

– Você deduziu tudo isso desse... Cara de óculos... Apenas vendo um golpe dele?

A jovem concordou.

Sensacional, pensou Molly. Sua discípula parecia ter melhorado muito, e, melhor, parecia ter amadurecido. Adquirira um bocado de experiência. O pior era que Molly havia perdido todo esse desenvolvimento, o que achava lamentável e se culpava por estar ausente durante esse período. Não que fosse escolha sua. Não era sua culpa o fato de ter sido quase desintegrado em uma luta mortal quase dois anos atrás.

– Ótimo, digo, espetacular – bateu palmas.

– Pare de deboche, mestre – envergonhou-se a jovem.

– Não estou debochando, você obteve um desenvolvimento espetacular, minha querida. Creio que com certeza já não estou mais em nível de te treinar. O aluno sempre ultrapassa o professor, o que eu já esperava de uma jovem promissora como você. Não digo isso por causa de seu sobrenome, essa é a verdade.

– Não seja bobo.

– Aliás, ainda faltou falar dos outros dois que você lutou. Não esqueça, mesmo sendo fracos oponentes, ainda são oponentes e devem ser tratados como tais. Nunca deve menosprezá-los pelo simples fato de assim merecerem graças a sua mísera força.

– Não são lá grandes coisa. Um deles, o que me deu um trabalho, mas acabou sem um braço, era totalmente amador. Daria um melhor adversário caso treinado. Não pude notar sua total imprudência, com certeza era um novato no quesito de artes marciais.

– Faltou o outro.

– Esse é insignificante. E eu estou com preguiça, mestre. Já falei demais...

O olhar do mestre tornou-se algo horripilante.

– Não precisava desse olhar... – aquele olhar não dava boas lembranças para a jovem. – Bem, como posso descrevê-lo? Pareceu meio covarde e havia alguns ataques de coragem de vez em nunca e não vi nenhuma habilidade em batalhas que deva ser realçada.

– Não só de habilidades físicas que um oponente deve ser descrito, socos e chutes não são tudo. Inteligência é algo importante, tanto quanto o físico – apontou para a cabeça realçando a idéia de que o cérebro deve ser priorizado como arma principal de um guerreiro, um de seus primeiros ensinamentos.

– Essas eu não pude presenciar – disse a jovem.

– Entendo, então é melhor não subjugá-lo como um nada, o que você estava fazendo.

– Desculpe – abaixou a cabeça.

– Acalme-se, não estou aqui para dar-te broncas. Afinal estava te procurando até agora a pouco, sorte que pude encontrar essa jovem belíssima. Adoro quando você me olha desse jeito vergonhoso, sabia? Isso é um prazer mental. Abastece o meu cérebro e me dá motivações para não suicidar-me.

– Você só sabe falar besteiras.

– Seu pai também é um homem de um grande bom-humor. Pena que há anos não ouvimos falar dele.

Ino nunca teve um bom relacionamento com seu pai, e por isso preferia mudar de assunto.

– E você, mestre? O que você sabe sobre os subalternos do possível assassino?

–Ah, é uma pena, infelizmente isso é confidencial. Informação muito confidencial, bem, boa parte dessa informação, que eu li em uma pasta ontem de madrugada, eu já sabia. Havia apenas algumas curiosidades bastante curiosas que eu não sabia. Bem, não posso contar isso.

– Sem problemas – a jovem já esperava uma resposta dessas.

Não se surpreendera pelo fato de que seu mestre poder ter acesso a algo que ela não podia. Afinal, o cargo dele era totalmente superior. Um cargo de influência não só política como também militar. Popular também. Porém sua reputação caíra alguns anos atrás, quando desertara.

– E o que você quer comigo, mestre?

– Quero que você me ajude, com essa missão maluca de matar Xupa Cabrinha. Sabe, seria uma coisa muito difícil para mim já que há alguns homens querendo protegê-lo. E eu não sou uma máquina de matar, por mais que eu seja feio. Dois ou três ajudantes seriam necessários. Bem, você contou-me de quatros dos subordinados do possível assassino. Posso dizer, mesmo não concordando com essa coisa maluca dele ter realmente matado o presidente, de que, como ele é um ícone de grande influência popular, ele tenha pelo menos... Uns vintes subordinados, né?

– Vinte é demais – opinou Ino.

– Bem, digamos que sejam vintes. E metade deles seja composta de possíveis “inúteis” assim como o amador e o cara com ataques de coragem. O restante pode ser interessante, mas creio que quatro ajudantes seriam o suficiente para cuidar desses outros dez, não é? – Perguntou Molly.

– Acho que sim. Por mais que sejam interessantes, não devem estar no nível do líder. Comigo você pode contar – prometeu a loira.

– Percebe que estou esforçando-me para acreditar nessa história muito mal contada de assassinato, não é? Não esqueça disso, é prova pro fato de que eu não sou um vagabundo e sim, estou tentando ajudar o governo. Por mais que isso me irrite, já que são um bando de porcos corruptos. Desculpe o linguajar, mas essa é a mais pura verdade, não é?

– É – concordou a jovem.

– Acho que estou ficando maluco com essa coisa. Aliás, hoje é um bom dia para ficar maluco, o clima está bem maluco.

– Oi – interrompeu alguém, aparentemente maluco.

Enquanto isso não muito longe dali... Na verdade, a cerca de menos de dois quilômetros, estavam sentados dois homens. Digo um em pé e outro sentado, porém isso não entra muito em questão. O que realmente é relevante para o enredo era o fato de que um deles, aquele que estava de pé, estava meio frustrado.

Suas frustrações baseavam-se na sua fraqueza. Bem, de certo não era fraco, porém forte não era o adjetivo correto ao descrevê-lo. Olhava para o seu punho concentrado no fato de que não fora capaz de derrotar o seu oponente, um grande covarde para ser a verdade. Covarde porque se acovardou diante da presença de uma Okami Kenon e decidiu fugir, porém, houve conseqüências. Conseqüências causadas pela própria luva, e não pelo seu punho.

– Desculpa Frota, meu soco não foi forte o bastante para paralisá-lo por mais tempo... Se eu tivesse conseguido... – encarou seu próprio punho, decepcionado.

– Mas que nada, sou muito grato pelo seu soco – agradeceu o estuprador. – Graças a você, consegui mais tempo para carregar meu ataque.

– Conseguiu acertá-lo? E aonde? – Indagou o piloto, surpreso.

Uma velocidade espetacular. Não, uma velocidade sensacional, apenas o provido de tal conseguiria golpear um adversário daqueles, com aquelas pernas. Frota, graças à luva, podia fazer isso, e, com grande folga, fazer do sonho de ultrapassar a velocidade do som em realidade. Velocidade que era facilmente acessada por intermédio da luva, uma das armas supremas, aquela que gerou os Imperadores Solares.

– Nas pernas, mas acho que nem o golpeando com toda minha força fui capaz de fazê-lo incapaz de correr. E com aquelas pernas... Seria difícil de alcançá-lo, se eu não tivesse lutado contra aquela fedorenta antes eu ainda teria forças... Ainda teria energia para perseguir esse tira desgraçado. Trouxe-o pro médico e nem agradeceu... – dizia – Bem, é claro que eu quebrei o pescoço dele... Mas isso é meio nada a ver.

– Não achei ele tão bom assim. – Arregalou os olhos.

– Cara, ele não precisa de um objeto como esse – retirou a luva e a pôs no bolso novamente – para atingir uma grande velocidade. Acho que ele não estava usando a força total de suas pernas – deduziu Frota.

– Acha que eu sou páreo para ele? – Indagou Falcão, esperando uma bronca por ousar comparar-se a um ser superior como Rick.

– Com essa metralhadora aí... – olhou-a de relance – Eu duvido muito.

– Qual problema dela? – Perguntou Falcão, com um olhar de irritado graças ao comentário anterior do estuprador.

– Com pessoas desse naipe, a pólvora é praticamente inútil. O essencial é ter punhos fortes. A policial de ontem também era assim, mas ela sofreu danos... Mesmo sendo poucos – disse Frota.

– Então essa metralhadora é inútil?

– Melhor falar com o doutor para livrar-se dela, talvez isso machuque o orgulho dele. Até porque ele fez isso para o seu bem, sabendo que somos uma facção e nos envolveríamos com gente que adora meter o tiro, porém, creio que ele não pensou que lutaríamos com gente do nível desse tira suspeito. Mas mesmo assim, se ele mudar de idéia e quiser trocar isso por um punho mecânico... Demoraria algum tempo, bastante, pra você se acostumar com ele.

– Verdade, e acho que... – pensou em dizer que a cirurgia de troca poderia ser perigosa, porém, caso dissesse, seria algo típico de um covarde e teria de aturar olhares de lado de Frota. – Acho que... Não só demoraria tempo para me acostumar com ele, mas também precisaria de mais um pouco para desenvolvê-lo ao nível desse cara.

Frota concordou plenamente com a cabeça. Vendo que a concordância ofendia o orgulho de Falcão, preferiu dizer algumas coisas para acalmar a frustração do jovem.

– Você não é fraco, só precisa desenvolver melhor seu poder. Você é um amador, não é? Para um amador, aquele soco foi sensacional – disse Frota.

– É, mas aquele Rick não era um amador. Preciso de mais experiência.

– Ora bolas, sua mãe não é uma grande lutadora? Por que não pede ajuda pra ela? – Aconselhou Frota.

– Nunca pensei na minha mãe como uma pessoa dessa forma. Sempre a imaginei como uma boa dona de casa. Não consigo acreditar que antigamente ela era capaz de nocautear Brock Smith com um só soco. Mas por fim ela sempre foi uma boa mãe, nunca se mostrou violenta.

– Pois é, e ela ainda trafica drogas. E armas. Deve ser uma ótima mãe – disse Frota, ironizando.

Falcão sabia de tal ironia, porém não conseguia encontrá-la nas palavras anteriores. Por isso decidiu apenas ignorar o senso de humor do estuprador.

– Preciso ficar mais forte.

– Bem, se quiser posso te emprestar a luva.

Falcão pensou não ter escutado direito.

– O que? – Até onde sabia não tinha nenhum problema de audição.

– A luva, se quiser, eu posso emprestá-la.

– Essa foi uma piada muito engraçada.

– Não foi uma piada.

Silêncio.

– Eu poderia batalhar sem problemas com ela, claro que utilizando-a conseguiria enormes vantagens... Porém, não dependo tanto dela assim. Consigo me virar com apenas socos e chutes, aliás, sou muito bom nisso. Não que eu queira me gabar, mas essa é a verdade – disse Frota.

– Está me oferecendo a Okami Kenon?

– Não, estou te oferecendo meu cu. E com um desconto respeitável porque você é um grande sócio.

Por mais que os olhos do piloto brilhassem a cada vez que aquela frase repetia-se em sua consciência, não poderia aceitar aquela oferta. Por mais que fosse um sonho antigo, ser o sonho de todo o garoto, não poderia aceitar. Aquilo feriria seu orgulho. E por mais que quisesse tornar-se forte, não se sentiria satisfeito com uma arma daquela, sabendo que toda a força se ausentaria quando a luva fosse despida.

– Você realmente se garante? – Falcão estava em dúvida.

– Claro – respondeu como se fosse o óbvio.

– Vou recusar cara.

– Então faça o que digo, vai pra mamãe – disse Frota.

– O que? – Indagou o confuso.

– Vai treinar com a sua mãe, porra. Não vou defender você caso alguém te atacar, cada anjo que toque sua harpa meu querido.


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