A árvore forca escrita por Wenn Ribeiro


Capítulo 1
A árvore forca


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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A multidão estava em alvoroço, os gritos ecoavam pela colina enquanto obrigavam o rapaz a caminhar com uma corda ateada a seu pescoço. Em sua face, nenhuma expressão era visível, seus olhos estavam inerte à tudo ao seu redor.
As mulheres seguravam suas saias enquanto subiam a encosta íngrime da colina, os homens brandiam em gritos suas estacas e tochas com fervura, algumas pessoas gritavam de alegria, outras de dor, na realidade, poucas eram de dor. Familiares, talvez alguns poucos amigos.
Ao chegarem ao topo da colina, os olhos do homem com a corda ao pescoço, fitavam seus pés, ele não se importava com nada, mas assim que subiu no palanque de madeira e sua corda foi amarrada no galho nodoso da árvore, seus olhos encontraram os dela.
Ela estava lá, seus olhos inchados mediante à tanto chorar, e com a voz rouca, ele gritou para que ela fugisse, mas ela apenas o fitou, mordendo o frágil lábio inferior, aflita. Ele gritou novamente, pedindo para ela fugir, mas ela não entendeu novamente. E quando gritaria pela terceira vez, o alçapão foi aberto, seu corpo caiu pela abertura, o colar de cordas apertando seu pescoço e tirando sua vida.
Os gritos de alegria se intensificaram, assim como os urros de dor, mas para ela, o pior foi os gritos que ele lhe dava, pedindo para ela fugir. Mas fugir para onde? E a ausência desta resposta a corroia por dentro, como o pior veneno que existia na face da terra.
As pessoas se dispersavam aos poucos, o palanque estava sendo desmontado, mas ninguém se preocupava em retirar o cadáver do local, por que, se aquela seria uma lembrança nítida do que ocorria com quem violasse as leis infligidas àquele povo, mas ela continuava atônita, no mesmo local. Seus braços cruzados firmemente em frente do corpo, como quem se protegesse, sua cabeça pendendo à frente do corpo enquanto as lágrimas corriam por suas bochechas.
Ela ficou ali, por horas e mais horas, a noite chegava rapidamente, que horas seriam, dez horas? Talvez onze. Seus olhos subiram ao ceu e ela notou a lua alpina, e quando se deu conta, seus joelhos estavam tocando a relva à frente do corpo inerte do homem à quem amava mais que à si mesmo.
Ela deveria estar alucinando, por mais que o corpo apenas mexesse conforme a brisa noturna, ela parecia ouvir a voz do amado, à sua frente, no começo, eram apenas lamúrias que conseguia ouvir, mas aos poucos, foi-se tornando entendível, enquanto conseguia discernir as palavras, o espírito do morto se formava adiante de si.
"Você vem, você vem para a árvore? Onde eu disse à você para fugir para nós sermos livres."
Ela sentia angústia em seu coração, era possível sentir a dor do cadáver, e com isso, novas lágrimas voltavam a escorrer por suas bochechas gélidas.
"Coisas estranhas aconteceram aqui, não mais estranho seria se nos encontrássemos no meio da noite na árvore forca?"
Ela podia sentir o toque do espírito do cadáver em sua face, tentando limpar suas lágrimas, e tomada pelo medo, se afastou, descendo a colina da árvore forca correndo, deixando para trás o cadávedr e seu espírito, que continuava a cantar.
Ao chegar em casa, deitou-se rapidamente e logo adormeceu, mas a canção do cadáver chegava à seu sonho, novamente ela se encontrava ajoelhada diante do cadáver, mas este cantava, como quem estava vivo, suas mãos segurando as dela.
"Você vem, você vem para a árvore? Usar um colar de corda, e ficar lado a lado comigo?"
Foi então que deu-se conta em qual sentido ele gritara para que ela fugisse. Não era para algum lugar naquele plano, e sim, para fugir com ele, fugir para morte, para que o amor deles perdurasse por toda a eternidade, e naquela mesma noite, ainda faltando tempo para os primeiros sinais do amanhecer despontarem, ela saiu de casa, levando consigo uma corda e voltou para a colina em silêncio.
Ao chegar ao pé da árvore forca, fez-se em si o colar de corda e subiu no galho do cadáver, amarrando parte da corda firmemente ao lado do homem e quando se preparava para seguir o amado, pôde ouvir ele cantar novamente.
"Coisas estranhas aconteceram aqui, não mais estranho seria se nos encontrássemos no meio da noite na árvore forca?"
E em seguida deixou o corpo se inclinar em direção à terra, o colar apertando seu pescoço e arrancando-lhe a vida, assim como fizera com o outro mais cedo.


Dias e noites se passaram, os cadáveres, mesmo depois de serem retirados, ainda poderiam ser vistos por quem tivesse coragem de subir à colina da árvore forca após a meia-noite, quem ousasse, encontraria a lembrança dos dois mortos balançarem conforme a brisa, enquanto o homem canta para a amante.
"Você vem, você vem para a árvore? Onde eles enforcaram um homem que dizem que matou três. Coisas estranhas aconteceram aqui, não mais estranho seria se nos encontrássemos no meio da noite na árvore forca?
Você vem, você vem para a árvore? Onde o homem morto clamou para seu amor para fugir. Coisas estranhas aconteceram aqui, não mais estranho seria se nos encontrássemos no meio da noite na árvore forca? Você vem, você vem para a árvore? Onde eu disse à você para fugir para nós sermos livres. Coisas estranhas aconteceram aqui, não mais estranho seria se nos encontrássemos no meio da noite na árvore forca? Você vem, você vem para a árvore? Usar um colar de corda, e ficar lado a lado comigo?Coisas estranhas aconteceram aqui, não mais estranho seria se nos encontrássemos no meio da noite na árvore forca?"


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Reviews?