A Dama Solitária escrita por Alice Zahyr


Capítulo 7
Capítulo 7 - Nunca desafie uma dama de branco.


Notas iniciais do capítulo

LEIAM AS NOTAS FINAIS.



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E de repente a sala tornou-se negra.

Gabriela começou a sentir algo ao redor, mas não conseguia enxergar nada por causa da escuridão perturbadora que cegava sua visão. Como um sexto sentido, sentiu que Mirty não estava mais lá - talvez tivesse voltado para a arena e sentado em seu trono. Mas isso não faria sentido, o teste de uma mentalista tão poderosa como Mirty não seria apenas uma breve cegueira...

A garota deu dois passos á frente, cautelosa. Era irônico, como se tivesse de dar pulos no escuro.

— Droga... O que vai acontecer? - ela se perguntou depois de um longo tempo andando no meio da escuridão. O tempo passava em sua mente, e nada acontecia. Ela pensou em se sentar no "chão", mas quando o fez na mesma hora se arrependeu.

Gabriela caíra num buraco. Ela gritou assustada de início, mas abriu os olhos, e então viu que estava de volta á rua onde estava andando no Natal. Tudo parecia ter voltado ao normal, seu vestido estava ali, perfeitamente limpo e arrumado, a noite estrelada e as casas ao redor.

— Mas o que está acontecendo, eu voltei mesmo? - ela se perguntou. Então deu mais uma olhada no lugar, e percebeu que, infelizmente, tudo estava exatamente como era. O silêncio pairava na rua, cortado apenas pelas conversas que vinham das casas de quem estava comemorando o feriado.

— Gabi? O que está fazendo aqui? - uma mulher apareceu ao seu lado. Era sua tia, Luce. Ela estava com a mesma roupa do Natal, e parecia... Contente?

— Ah, erh, oi... Tia. - Gabriela disse desconfiada. Luce sorria, o que era meio incomum. - Qual o motivo do bom humor? - ela perguntou, e de fato estava curiosa. Luce era sua tia mais mal-humorada, então estar contente era algo que requeria explicação.

— Ora, Gabriela... - Luce riu sem graça. - Bem, eu... Eu...

— Você não é minha tia, não é? - Gabriela falou sentindo algo em suas mãos queimar. Luce pareceu desconcertada, como se tentasse insistir naquela ilusão.

— O que é isso, não fale assim com a sua tia, sua mal educada... - Luce brigou, mas Gabriela a atacou desprevenida. A garota segurou a mão daquela mulher e subitamente uma chama brotou de sua mão, indo em direção á Luce, que depois de sentir a dor do fogo na pele desistiu.

— Boa jogada, garotinha, mas sou eu quem tenho as rédeas. - Mirty disse e desapareceu no ar, ao mesmo tempo em que o cenário mudou drasticamente. Gabriela ficou confusa por um certo tempo, mas logo percebeu que havia vencido o teste do ilusionismo. "Mas esse foi jogo sujo, hein..." Ela pensou.

Gabriela estava numa casa no meio de uma floresta. Nevava lá fora, e havia cortinas na janela. Uma pequena lareira ardia do outro lado da sala, e tudo parecia muito aconchegante. Não que ela tivesse detestado o lugar, mas sabendo que se tratava de outra prova, Gabriela se levantou do sofá onde estava e tirou da parede uma adaga que encontrou. Ela fez uma pequena ronda pelo cafofo, mas não achou nada que pudesse representar uma ameaça, exceto pelo esquilo que quase havia entrado na janela. O bicho se atirou contra o vidro e caiu zonzo do lado de fora. Fora tão tragicamente engraçado que a garota duvidou que aquilo tivesse vindo de Mirty...

"PÁ!" Um barulho de porta ecoou pela sala, mas não tinha nenhuma outra porta na casa. Gabriela deu uma volta até a porta da entrada, e girou a maçaneta com cuidado. Nada aconteceu, porém quando ela abriu, havia um buraco negro á frente que quase a sugou da casa. Ela fechou a porta num segundo, já ciente de qual era seu desafio.

— Por que não vai brincar na neve, criança? - a voz de Mirty ecoou no casebre, seguida de uma risada metálica e ruída que fez Gabriela se arrepiar.

— Droga. - ela resmungou. - Angelo, Serena... - Gabriela os chamou. - Agora era a hora de aparecem!

— Seus amigos não poderão ajudá-la. Digamos que eu... Cuidei deles. - Mirty falou com desdém.

— Ótimo, então estou sozinha, num casebre cercado por um buraco negro... Não tem como sair, a única saída é... - Gabriela pausou seu raciocínio por um longo tempo, e então teve uma ideia. "Se eu entrei aqui, é uma ilusão. Talvez o buraco negro seja a saída." Ela pensou, e foi em direção á porta, abrindo-a em seguida. Mas quando girou a maçaneta, o buraco negro já não estava mais lá. - Mas o que?!

A garota repetiu o gesto várias vezes, mas tudo o que via era neve. Sem muitas escolhas, decidiu sair da casa. Ela andou pela neve até que adentrou a floresta acidentalmente, se perdendo entre pinheiros gigantes que quase tampavam a luz vinda do céu.

Gabriela foi em frente, tentando encontrar alguma saída, mas sem querer pisou em falso e caiu na neve. Por mais que tentasse levantar, não conseguia. Aparentemente a neve estava prendendo-a no chão, o que sinceramente era irritante.

— Sério? Não sabe fazer nada melhor do que ser irritante? - Gabriela exclamou se debatendo na neve. Depois de longos minutos presa, seu corpo ficou exausto e ela quase fechou os olhos, se rendendo, mas algo em sua mente a alertava para uma só palavra: "Calor."

"É isso... Calor!" Gabriela deduziu, sentindo seu corpo aquecer naturalmente. Em poucos segundos sua temperatura foi aumentando, chegando á um ponto em que pequenas faíscas purpuraram na neve. Era essa a saída: usar o fogo. Outra vez.

Gabriela abriu as mãos e as fincou na neve gélida, que rapidamente foi derretendo, mas ao mesmo tempo que derretia mais gelo caía no lugar. Logo sua alta temperatura não adiantava mais, e ela teve de buscar outro método. Ela fechou os olhos, lembrando de Alanis, certa de que poderia usar o fogo para terminar a prova, e deixou seu corpo ir se aquecendo, até que abriu os olhos e viu que um pequeno incêndio se alastrava na neve indo até os pinheiros. Gabriela se levantou rapidamente, enquanto as chamas baixas derretiam a neve, e tratou de controlar o fogo que se formava ao seu redor conforme andava. Se ela começasse a canalizar o elemento, poderia acontecer a mesma coisa que aconteceu na prova do fogo, e ela passaria a canalizar Alanis. O que Gabriela menos queria no momento era se descontrolar outra vez, pois era isso o que Mirty queria.

O fogo foi abaixando, e com um último suspiro, as chamas apagaram, como se estivessem ligadas ao desejo de uso da iniciante. Ao longe Gabriela pôde ouvir um resmungo que provavelmente vinha de Mirty. A garota correu até a casa, mas quando tocou na maçaneta um buraco negro se abriu aos pés e ela pulou, pois aquela era sua única saída.

— Você está me dando um certo trabalho, criança... - Mirty comentou. - Mas eu gosto das corajosas, como você. Assim posso usar todo o meu poder!

Gabriela foi jogada com força no chão de mármore do castelo. Ela olhou em volta antes de se levantar, procurando por uma cilada, e foi então que avistou Angelo e Serena amarrados no parapeito - o mesmo parapeito onde Freia havia a marcado.

— Gabriela, não... - Serena pediu. Sua voz soou fraca e ela balançava a cabeça, como se estivesse fazendo forças para não cair. Gotas de sangue escorriam de sua testa. - É apenas uma i... - Serena fez força para dizer a palavra, mas não saía. - Uma i...

— Serena! - Gabriela correu até ela, desobedecendo suas ordens.

— Não venha... - Serena continuava falando, mas quando Gabriela tocou em seu rosto ela se desmaterializou no ar, restando apenas Angelo.

— Droga, Mirty! - Gabriela xingou. Angelo estava com os ombros caídos e suor escorria de seu resto. Seus cabelos loiros estavam bagunçados, seus olhos transpareciam sem parar do dourado para o azul, como se mostrasse sua vitalidade. Ele parecia querer dizer algo quando levantava a cabeça, mas sua voz fora tirada dele.

Gabriela olhou para cima desolada, sem saber o que fazer, sem saber se aquilo era uma ilusão como fora com Serena, ou se era real. Angelo estava ali, respirando, mas sofrendo, e ela podia senti-lo, podia tocá-lo. Gabriela tentou entrar em sua mente, mas não conseguiu. Porém quando fez isso, sentiu um leve choque percorrer seu corpo e Angelo dizer algumas palavras, ainda que em baixa voz.

Mirty havia sido enfraquecida no momento em que Gabriela tentou entrar na mente de Angelo.

Eles estavam ligados.

— Não pode ser. - Gabriela disse. - Ei, vocês não podem fazer isso! Diana, qual é! - ela gritou com raiva.

— Não podem te ouvir... - Angelo falou. A cada palavra, porém, ele ficava mais fraco, e isso era visível.

— Shhh. Eu vou te tirar daqui, calma. Mas isso é real? - Gabriela perguntou confusa. Angelo apenas assentiu. - Como posso saber disso? - ela perguntou outra vez, e Angelo lhe deu a ponta dos dedos. Gabriela tocou sua mão de leve, e quando tocou conseguiu sentir toda a vitalidade que esvaía do corpo dele, conseguiu sentir seus batimentos, sentir sua mente. Angelo realmente estava ali. Mas isso era possível?

De repente, Angelo estremeceu e abriu os olhos. Gabriela se afastou, com medo, observando o que acontecia.

O garoto agora possuía olhos negros e frios, toda a sua aura de luz esvaiu. Ele parecia estar... Possuído.

— Angelo? - ela o chamou.

— Tenho que te matar. - Angelo disse, parafraseando as palavras com uma voz metálica e ruída - a mesma voz de Mirty. Ele desceu do parapeito e foi em direção á Gabriela, e uma espada de prata surgiu do nada em suas mãos.

— Angelo, para! Sou eu, Gabriela! - ela exclamou andando para trás, até que ele a encurralou entre duas paredes.

Não tinha jeito. Ou era ele, ou era ela.

— Angelo... - Gabriela tentou com todas as forças entrar na mente dele, e quando sentiu um fio de sangue escorrer de sua cabeça por causa de seu esforço, ela sentiu uma força estranha que tomava a mente dele: era Mirty. Gabriela tinha entrado na mente da dama... Isso custaria um alto preço. - Ahhhhh! - ela tentou respirar, mas estava sendo sufocada.

— Para com ISSO! - Angelo gritou, sua voz mudando entre a própria voz e a de Mirty. - SAI DA MINHA MENTE! - Mirty gritou furiosa, e então a voz de Angelo voltou: - Tenho que te matar.

— Mas não vai, não. - Gabriela falou, saindo da ilusão de sufocamento e fugindo de Angelo ao passar por debaixo de seu braço. Ele se virou, agindo como um robô, e seus olhos procuraram a garota por todo o pavilhão. Gabriela havia se escondido nas sombras.

— Gabriela, onde você está? - Angelo perguntou, agora com sua voz normal. Ela se sentiu tentada á aparecer quando pensou que ele poderia ter voltado, mas sua mente estava mais forte do que nunca.

— Aqui... - ela disse prolongando o "i" e atraindo o garoto. Passos vieram em sua direção, mas de repente Angelo surgiu atrás dela.

— Acha que pode se esconder de mim? Eu sou a mentalista, criança, nada passa pelos meus olhos. - Angelo falou com a voz da dama.

— Chega dessa palhaçada. - Gabriela falou e tirou a adaga da bota que calçava, dando um golpe rápido e ágil no braço de Angelo. Com a adaga presa em seu braço, ela o virou contra a parede e segurou em seu pescoço. - Deixe o corpo dele em paz, ou eu te mato sem dó.

— E como é que você vai matar, se nós estamos ligados? - Mirty disse com um sorriso cínico no rosto. Gabriela arregalou os olhos furiosa. - Ou é você, ou é ele. Bem que eu tinha razão... É melhor nunca se apaixonar. Escolha.

— Ainda bem que eu não sigo regras. - Gabriela falou e arrancou a adaga dali. Ela saiu de perto de Angelo o largando na parede e sentou no chão. Angelo a olhou com a testa franzida sem entender.

— Está desistindo? Não pode desistir, ou eu vou te matar. - Mirty falou.

— Então me mate, ó dama da mente. - Gabriela disse com deboche. - Não esqueça de chamar Diana para o meu enterro.

— Ora, sua... Garota estúpida! - Mirty disse, e de repente algo transparente saiu do corpo de Angelo e o garoto caiu no chão. Mirty apareceu no salão, a mesma figura que a saudara para o teste da mentalista. - Acha que pode me desafiar? - Gabriela deu de ombros. - Pois eu vou te ensinar uma coisa: Nunca desafie uma dama de branco.

Mirty ergueu as mãos e um vento forte começou a criar um redemoinho no pavilhão. A dama se ergueu no ar, seus cabelos esvoaçavam e seus olhos tornaram-se totalmente negros e cruéis. Gabriela se levantou, assustada.

— Venha e mostre o que sabe! - Mirty a chamou. - Não se vence uma mentalista com apenas um dom, querida. - ela advertiu com desdém. Então seus olhos foram em direção á Gabriela, e uma dor voraz tomou conta de seu corpo. 

— Ah... - Gabriela tentou respirar, mas toda a dor estava tirando seu fôlego. Seus pulmões pareciam se colar a cada segundo que Mirty levava o teste adiante.

— Mostre o que é capaz! - Mirty pedia cada vez mais alto. - Lute comigo! - ela ria, mas sua voz ainda demonstrava o quão furiosa estava.

Gabriela foi jogada contra o parapeito e por um triz não caiu no gramado. Ela ainda sentia a dor voraz invadir cada célula de seu corpo, mas então algo em sua mente a fez acordar: a sensação de estar ali com Angelo voltou, e parecia tão real que a dor foi embora num piscar de olhos.

— O que... - Mirty pareceu confusa.

Mas Gabriela não. A garota conseguiu se desprender da ilusão da dor e se voltou para a mentalista, que a olhava com os mesmos olhos frios de antes, mas agora visivelmente confusos.

— Você tem medo. - Gabriela falou.

— Como é? - Mirty ergueu as sobrancelhas.

— É, - Gabriela respondeu, afirmando para si mesma. - Você tem medo de que eu seja melhor do que você. Na verdade, todas vocês tem esse medo. Se isso fosse um teste normal, já teria terminado. Se eu não fosse tão forte assim, você não precisaria ter usado Luce, Serena e nem Angelo. Olha, isso foi jogo sujo, mas eu não ligo, porque toda essa palhaçada me fez ver que as damas não são tão justas quanto dizem ser. Se você desse valor ao seu poder, terminaria agora com essa prova.

Mirty ouvira tudo com uma expressão firme, mas Gabriela sabia que ela não ia se render tão fácil.

— E o que acontece se eu não der valor ao meu poder? - Mirty perguntou e sorriu para Gabriela com as sobrancelhas levantadas, sumindo do pavilhão. Angelo, que estava no chão, começou a acordar, e Gabriela sentiu que ele ainda era ele mesmo.

— Angelo, você está bem?

— Perdi o meu poder. - ele disse perplexo.

— O que?

— Mirty tirou o meu poder. Eu o recebi dela, mas ela tirou de mim. Se você não me der o dom que conquistou dela, eu não terei mais nada.

— Mas o que acontece se você perdê-lo? - um silêncio pairou no lugar. - Você morre... O seu poder está ligado á sua vitalidade. - Gabriela disse, mais para si do que para ele. - Como eu posso te dar o meu dom?

— Você... Tem que morrer. - Angelo disse, enquanto lágrimas desciam de seus olhos silenciosamente. Ele olhava para ela perdido, sem uma expressão ao certo.

Gabriela olhou para ele por alguns segundos, e então puxou a adaga que estava caída no chão. Angelo balançava a cabeça, pois não queria vê-la morrer, mas também não queria morrer.

— Não! - ele gritou, mas já era tarde.

Gabriela havia enfiado a adaga no próprio peito.


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Notas finais do capítulo

Heeeeeey, eu sei que esse capítulo está gigante, mas já vou avisando que será assim daqui pra frente. Eu estou amando escrever A Dama Solitária, galera, mas preciso dar um limite mínimo pros reviews. Eu sou escreverei o próximo capítulo se tiver 5 comentários, e nem estou pedindo muito, já que tem 19 pessoas acompanhando. Por isso, leitores fantasmas, APAREÇAM!!!!!!!!