O Tratador de Leões escrita por Last Rose of Summer


Capítulo 1
I.




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Caspian nunca gostara de todas aquelas cores, ou dos sons do circo. Nunca gostara daquela vida agitada, das risadas, ou do trabalho duro mas, desde que seu tio Miraz morrera e lhe deixara o circo, fora obrigado a suportá-los dia após dia, enquanto viajava com a caravana.

Miraz fora esperto, como sempre, ao colocar o circo como condição em seu testamento para que ele tivesse acesso ao dinheiro. Enquanto Nárnia estivesse em pleno funcionamento, Caspian X seria um herdeiro bastante rico.

Não que fosse difícil manter tudo direitinho. Os irmãos Pevensie faziam todo o trabalho sujo, e tudo o que ele precisava fazer era pagar os salários no final do mês, e bancar todas as despesas.

Peter, o mais velho, era trapezista junto com sua irmã, Susan. Eram uma dupla imbatível, e tinham muito clima no palco. Lucy era a mágica, e divertia a todos tirando coelhinhos brancos da cartola, ou fazendo longos tecidos aparecerem da manga de seu casaco.

E então havia Edmund. Os cabelos castanhos, os olhos negros, a postura misteriosa. Havia boatos de que ele fizera algo realmente ruim em seu passado, mas ninguém sabia – ou queria – lhe dizer o que fora. Ele cuidava de Aslan, e era o único com coragem para entrar na gaiola do leão. Caspian gostava de observá-lo, de longe, e sentia uma estranha fascinação ao vê-lo interagir com a fera.

Todos os dias, logo depois do almoço, ele levava uma enorme quantidade de carne sangrenta para a jaula e se trancava lá dentro por uma hora. Todos os dias, Caspian o seguia silenciosamente.

Era uma tarde chuvosa, mas isso não impediu Edmund de abandonar seu trailer quente e confortável, e seguir por todo o caminho até onde ficavam os animais. Seu leão era seu único refúgio, seu único amigo. O jovem se sentia bem quando corria com ele, fazia-o se exercitar, jogava-lhe comida e treinava-o para as apresentações.

Ele estava consciente do olhar das pessoas seguindo-o, mas aprendera a ignorá-los. Sabia que era tolerado ali apenas por causa de seus irmãos, que ficaram do seu lado mesmo quando ele os traíra. Sabia que todos falavam sobre isso mas, novamente, ignorava.

De que lhes importava o seu passado? Perguntava-se sempre que se permitia pensar no assunto. Ele mudara, não mudara? Consertara-se. Lucy fora a primeira a perdoá-lo, seguida por Susan. Peter ainda não o tratava da mesma maneira. Não que pudesse reclamar. Afinal, ele fora o que mais sofrera.

Aslan rugiu quando a jaula foi aberta, quase que em um cumprimento. Edmund sorriu, aproximando-se com cautela. Não importava que fossem amigos, ou que Aslan estivesse acostumado com sua presença. Ainda assim era maior, mais forte e selvagem. Ainda assim poderia matá-lo em um piscar de olhos.

Não era essa a graça da profissão?

Não havia muita coisa que Edmund apreciasse mais que a adrenalina de correr perigo. Ele ficava entediado com facilidade, e talvez tivesse sido esse o motivo pelo qual ele aceitara trabalhar para Jadis. Balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Fora a chuva, disse a si mesmo, que o deixara lembrando o passado.

Com a cabeça nas nuvens, mal percebeu quando deu um passo em falso e Aslan, alarmado, conseguiu arranhá-lo.

– Ah, droga, Aslan! – Segurou o braço ferido, e lançou um olhar mal-humorado para o leão. Ele também parecia mal-humorado, então Ed achou que seria mais seguro sair dali. Ao se virar, no entanto, percebeu que estava sendo observado, e seu humor piorou. Mais ainda porque era Caspian ali, e ele passara muito de seu tempo pensando sobre ele ultimamente.

Isso o irritava, não ser capaz de controlar o rumo de seus pensamentos.

– Você está bem? – Caspian perguntou, preocupado.

– Perfeitamente. – Edmund resmungou, evitando olhá-lo. Não queria ver a pena em seus olhos, ou talvez a acusação.

– Por que será que ele fez isso? – Perguntou depois de um tempo, ignorando o fato de que Ed não parecia querer conversar.

– Não se trata de um leão domesticado. – Olhou-o, dessa vez, apenas para perceber que ele não parecia acusá-lo de nada. Havia um brilho não identificado em seu olhar, e Ed se sentiu desconfortável diante dele.

– E você ainda tem coragem de entrar ali?

– Alguém tem que fazê-lo, não é? – Ofereceu um sorriso amarelo, tentando se desvencilhar da companhia. Caspian, porém, parecia ter outra ideia. Seguiu-o por algum tempo, fazendo perguntas sobre o leão, sobre o circo, sobre Ed.

– O que é isso, um questionário?

– Não – Caspian sorriu – Você é sempre tão irritável assim? São só perguntas.

– Nunca são só perguntas. – Resmungou, e o silêncio se abateu até que Edmund chegasse em seu trailer. Ele queria tomar um longo banho, e depois procuraria por Lucy. Ela era ótima em tratar ferimentos. Quando estava prestes a entrar, porém, Caspian agarrou-o pelo braço bom.

– Você tem razão – disse – Nunca são só perguntas. – E, puxando-o para si, beijou-o.


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