Dark Wood Circus escrita por Apolla Lilium


Capítulo 11
Castelo Azul de Gelo




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Miku abriu os olhos.

Estava escuro e havia muitas pessoas e muita poeira também. Ela tossiu forte e viu terra levantando diante de sua boca. A esverdeada se sentou e observou ao redor.

O lugar em que estava era plano e não havia nem árvores ou qualquer construção ao redor, somente pedras e terra batida. Pessoas caminhavam sem rumo ou permaneciam sentadas olhando para o chão ou para o céu, alguns pareciam desesperados e outros pareciam não ter mais emoção. Miku ficou com medo, mas não sabia o motivo.

O que havia acontecido? Ela havia se enforcado no barranco... Não havia? Então onde era aquele lugar? Como havia parado lá? Será que a corda havia arrebentado e ela havia caído do barranco? Isso queria dizer que os homens do circo ainda estavam atrás dela e isso queria dizer que ela deveria correr e rápido.

Por puro instinto Miku se levantou... Espera... Levantar? Ela não levantava, nem tinha movimento nas pernas... Será que...

Miku olhou para baixo... Pernas humanas... A pele era branca e meio rosada, não havia hematomas e ela formigava um pouco; Miku tocou suas pernas, eram lisas e macias... Como era possível? A garota abriu um sorriso tão grande, talvez o único em toda a sua vida.

Porém antes que pudesse se alegrar ainda mais o chão tremeu sob seus pés e rachaduras apareceram sobre as pedras e a terra batida. Ela abriu a boca para gritar mas o chão despedaçou sob seus pés e ela se viu caindo sem ter nada onde se segurar.

O chão era gelado, aliás, o lugar todos era gelado... Feito de gelo. Ela não estava morta, nem sentia dor, apesar de haver sangue escorrendo de seu peito... De seu coração. Ela parecia estar em um grande salão de baile completamente vazio, olhando para cima viu que o teto estava intacto como se ela não tivesse acabado de atravessa-lo.

Qual era o melhor lugar para se estar? Sozinha no castelo de gelo, junto a pessoas estranhas na terra árida ou sofrendo torturas com seus amigos no Circo do Bosque Negro?

–Como... Por quê?

“Você morreu”

Disse uma voz que parecia vir de todo lugar ao mesmo tempo. Era de um homem, porém mais grave que a de Len e mais bondosa que a do Dono do Circo.

–Morri... Eu acho que já sabia disso...

“Sabe como morreu?”

–Sim.

“Por que fez aquilo? Acabar com a sua vida...”.

–Quem é você?

“Responda-me.”

–Eu não queria viver assim!–Miku teve que parar de falar, pois lágrimas começaram a embaçar seus olhos e ficou mais difícil de respirar– A minha vida inteira... A minha vida inteira eu fiquei presa... Sofrendo... E depois... Casar-me com ele...

“Isso não é desculpa. Eu sou Deus... Você deveria ter esperado a salvação”.

–Deus? Quem é Deus? Salvação?

“Você foi tola. Além de nunca ter cultuado a minha palavra também pecou e se matou”.

–Cultuado? Do que está falando? Nunca ouvi falar de você na minha vida!

“Isso também não é desculpa. Você jamais me amou... Eu poderia ter te salvado”.

–Você iria me salvar?

“Sim.”

–Quando?

O local ficou completamente em silencio por um tempo, até Miku havia parado de fungar. Por fim a voz respondeu:

“Em algum dia... Nem que seja depois de sua morte.”

­–Então o que está me dizendo é que eu viveria sofrendo durante um tempo indeterminado apenas esperando que uma pessoa de quem eu nunca ouvi falar me salvasse? Que eu deveria aceitar e conviver com tudo que eu sofreria naquele lugar?

“Sim.”

–Por quê?

“Porque você não deve se importar com essas coisas... O que realmente interessa é a vida após a morte...”.

–Não há vida após a morte... Só se vive uma vez... Eu tentei escapar... Tentei viver de um jeito diferente... Mas não consegui... Essa foi minha única saída.

“Eu já disse que eu iria salvá-la.”

–Quando? Você não me dá garantias... Eu não te conheço, como posso confiar em você?

“Você tem que confiar em mim.”

–Não viveria mais daquilo... Não aguentaria... Essa explicação que você me deu...

“Eu não lhe devo explicações humana. Sou onipresente, onipotente e oniciente. Eu faço tudo o que quero e a vida de vocês sou eu quem decide... Eu decido quando vão morrer ou quando vão viver... Você não pode tirar essa decisão de mim.”

–E você decide também quando vão sofrer? Você decidiu prender eu, Rin, Len, Haku, Neru, Kaito, Meiko e muitos outros naquele lugar? Você ficou parado e assistiu o que fizeram com a mente do Kaito e da Meiko... O que fizeram com as minhas pernas, com as de Haku e de Neru... O que fizeram com os corpos de Rin e Len? Você decidiu tudo isso?

“As pessoas ganham o que merecem... é a lei da vida... Vocês seriam recompensados.”

–Quando?

“Algum dia.”

–é só isso que tem a dizer... E quanto ao Dono do Circo... Você permitiu que ele fizesse tudo aquilo?

“Aquele homem receberá o que merece.”

–Quando?

“Algum dia.”

–Você só conhece essas palavras?! Pois eu digo que isso é um absurdo! Você nunca sofreu e nunca sofrerá como nós, por que se acha no direito de definir como serão as nossas vidas e quando elas terminarão?! Isso é um direito nosso! Você não é nosso dono! A vida inteira pessoas me fizeram de um objeto, algo que pode ser trocado ou vendido! A vida inteira eu tive pessoas que achavam podiam mandar em cada detalhe da minha vida por mim! E eu não vou deixar que isso continuasse para sempre!

“Olhe como fala comigo! Quem não tem esse direito é você sua mortal ingrata! Fui eu quem lhe dei a vida e se não fosse por mim você não existiria!”

–Pois bem, eu preferia não existir a viver uma vida como a que eu vivia! Você por acaso perguntou qual era a minha opinião disso tudo?

“É claro que não! A minha palavra é lei e sou eu quem decide tudo!”

–Pois eu não gosto de como você decide as coisas!

“Então não se arrepende do que fez?”

­–Mas o que eu fiz de errado?

“Você foi contra a minha palavra e acabou com a própria vida!”

–Mas eu não sabia qual era a sua palavra! Eu nem te conheço!

“Isso não é desculpa! Arrependa-se!”

–Não! Eu não me arrependo! Seu eu não tivesse me matado viveria para sempre daquele jeito sem qualquer garantia de que aquela tortura terminaria!

“Não se arrepende? Então eu a levarei para o lugar onde eu levo todos os pecadores!”

Então o chão se abriu embaixo de Miku mais uma vez e ela caiu. Ela caiu dentro de um buraco escuro, absurdamente quente e com cheiro ácido e podre; as chamas engoliram Miku e ela sentiu uma dor absurda muito pior do que qualquer dor que ela jamais sentiu...

Então seria isso... Esse é o fim dela.

A eternidade sofrendo.

Aquilo, realmente, jamais iria acabar.

Miku sentia como se o Dono do Circo e a Rainha Vermelha tivessem indiretamente ganhado.


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