Next Year escrita por Maga Clari


Capítulo 1
Estaremos em casa, querida




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Eu não sei onde irei descansar minha cabeça hoje à noite. Então, eu não irei prometer que vou conversar com você hoje. Mas se eu encontrar. Um outro lugar. Uma hora melhor. Naquele momento eu nunca fui o que sou.

— Ei, aonde você vai, querido?

Lílian vira-se do sofá com os olhos esbugalhados. Não lembro-me de tê-la visto assim antes. Justo ela, que sempre pareceu tão forte... Tão segura de si...

— Você sabe.

Os olhos. Aqueles olhos de novo. Lily volta-se para sua leitura insone, evitando contato visual.

— Lily... Minha cabeça não para de doer, outra... Outra hora conversamos, certo? Preciso tomar ar... Eu juro que eu...

— Vá logo embora — ela exclama, de repente. Rende-se à incubada tristeza. Seu rosto está manchado de lágrimas — Não volte mais, não aguento isso, Prongs... Por favor...

Talvez eu devesse saber que esta seria minha vida de auror. Viver dia após dia. Sem ter noção de como será o futuro, sem fazer planos.

Leve-me para onde você está. O que você se tornou? E o que você vai fazer quando eu for embora? Eu não esquecerei, eu não esquecerei.

Saio com as mãos nas têmporas, apenas com a capa de viagem. Mal me importo com a neve gelando sob meus pés.

Era um último adeus?

E se mesmo fosse?

Com um breve aceno, encaro o rosto de Lílian ocultado pelas cortinas do quarto. Que será que ela fará quando eu for embora? Esse é o meu trabalho, ela precisa entender.

— Desculpa... — murmuro, permitindo-me chorar uma última vez.

Talvez algum dia, você esteja em algum lugar. Conversando comigo. Como se você me conhecesse. Dizendo: eu estarei em casa ano que vem, querida. Eu estarei em casa ano que vem.

Prossigo minha jornada, como um homem faria em meu lugar. Aurores não podem perder nada, ou perdem tudo. Não existe hora inconveniente, preciso encarar minhas responsabilidades; não sou mais o garoto inconsequente de dezessete anos.

Amanhã é véspera de Ano-Novo. Será que estarei aqui? Eu tenho que estar, prometi que estaria com ela próximo ano. Iremos abrir uma garrafa de FireWhisky e brindaremos o nosso casamento. Estaremos juntos no ano novo.

Nas entrelinhas. É o único lugar que você vai encontrar o que você está sentindo falta. Mas você não sabia que eu estava lá. Então quando eu disser adeus, você precisa dar o seu melhor para tentar. Me perdoar por essa fraqueza. Essa fraqueza.

Abro a porta do meu escritório no Ministério e pergunto o que tenho que fazer agora. Tinha que ser rápido, amanhã preciso estar em casa, no Ano-Novo.

— Você-sabe-quem atacou mais uma vez, Potter, ele atacou mais uma vez.

— Que quer que eu faça? — berro, pondo as mãos na nuca — Mate-o?

— Diga por si mesmo, Potter, esta é sua profissão.

— O senhor não entende, eu preciso voltar para casa amanhã à noite, para o Ano-Novo.

Porque não sei o que dizer. Outro dia. Outra desculpa para lhe enviar. Outro dia. Outro ano.

Pego minhas coisas e aparato para onde devia estar: ao lado do pior bruxos das trevas. Eu iria vencê-lo. Eu preciso estar amanhã em casa, no Ano-Novo.

Ouço alguém clamando por minha ajuda. Eu sou um auror, é o meu dever. Eu escolhi esta profissão, precisava ajudar a quem quer que fosse.

— Vulnera Sanentur!

Respiro aliviado ao ver a criança recompor-se dos ferimentos. Estendo minha mão para ajudá-la. Ela sorri para mim.

Se você pensar em mim. Eu pensarei em você.

Instantaneamente, percebo alguém entrando na minha mente. Tento sem sucesso afastá-la. Caio de joelhos e, contra à vontade, vejo-me dentro dos olhos da minha querida esposa.

Eu preciso voltar para casa, para o Ano-Novo. Eu prometi. Eu vou. Eu a vejo correr com meu Harry no colo, eu preciso ir a seu encontro, eu vou voltar para casa.

Talvez algum dia, você esteja em algum lugar, conversando comigo [...] eu estarei em casa ano que vem, querida, eu estarei em casa ano que vem.

Aparato com a criança e já estamos no Ministério outra vez. Dou-lhe um copo com água e deixo-o com um responsável.

Corro o mais rápido que posso, sem nem olhar para trás. Átrio, Átrio. Vamos logo, elevador. Ele parece querer deixar-me ainda mais nervoso.

— JAMES!

— LÍLIAN!

E talvez algum dia, depois de muito tempo, você se lembrará o que eu tinha lhe dito. Eu disse, eu estarei em casa ano que vem, querida, eu estarei em casa.

Abraço as duas pessoas mais importantes da minha vida, com toda força que reúno. Lílian está chorando mais uma vez.

Eu disse que ia ficar tudo bem, eu estaria com ela no Ano-Novo.

— Você vai voltar para casa?

— Sempre.

— Promete?

— Eu sempre estarei com você ano após ano, Lily. Estaremos juntos próximo ano.

Ela sorri e limpa as lágrimas. Permito-me sorrir junto com ela. Infelizmente, somos interrompidos por um barulho; alguém dispara feitiços em algum lugar do prédio.

O som é inconfundível. Os gritos. Os urros de dor. A luz verde na direção norte. Ele me alcançara.

— É ele, Prongs! Deu no Profeta de hoje!

— Por isso saiu de casa?

Ela assente meio sem jeito, o terror em seus olhos. Nunca a vi tão frágil como nesta noite, justo ela, tão forte...

— Prongs, por favor... — implora, com os olhos aterrorizados — Nós temos o Harry... Por favor, vamos embora...

Talvez algum dia, você esteja em algum lugar. Conversando comigo. Como se você me conhecesse. Dizendo: eu estarei em casa ano que vem, querida. Eu estarei em casa ano que vem.

Olho para trás. A morte pode estar a poucos metros de mim. Encaro minha Lily e meu Harry. Eu preciso estar em casa amanhã à noite, para o Ano-Novo.

Puxo minha capa do bolso, jogo-a sobre nós e aparatamos para o lugar mais seguro da Inglaterra. Estaremos em Hogwarts no Ano-Novo.

Eu disse, passaremos o novo ano na minha verdadeira casa, querida, estaremos em casa.


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