Avatar: A Lenda de Zara - Livro 1: Água escrita por Evangeline


Capítulo 15
Cap 14: Isca Mordida




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/452955/chapter/15

Duas horas antes do amanhecer Zara explicou o plano para seus amigos. Era arriscado, pois não sabia se havia dobradores de terra, ou de qualquer outra coisa, lá dentro. De acordo com Gumo, os refugiados trouxeram máquinas, havia um inventor que morrera há algum tempo e que era como o líder deles. Em seu lugar ficou o filho do homem, um rapazinho que não andava, usava uma estranha cadeira com rodinhas para poder se locomover.

Airon dissera que o monge ancião Kiriku deveria estar numa região mais pobre, largada pelos refugiados, já que estes não deixavam que os nômades entrassem no templo de verdade.

Zara nunca havia entrado num templo de verdade, com estátuas, escrituras, monumentos. Estava ansiosa, e ao mesmo tempo com muito medo. Sair da sua zona de conforto parecia cada vez mais difícil.

Pouco tempo depois do amanhecer, Gumo saiu da caverna com um olhar desconfiado. Zara e Airon ficaram na caverna preparando alguns materiais que o dobrador de fogo usaria. Enrolaram tudo no casaco do mesmo e dando um nó, bastava colocar sob o ombro e levar para onde quisesse.

Gumo subiu pela trilha para o pátio do Templo, onde, como lembrava, ficavam as crianças brincando sempre que tinham chance. Fazia uma semana que saíra dali, não poderia ter mudado tanto. Em pouco menos de uma hora, o menino chegou ao pátio ofegante pela caminhada, olhando para trás e checando se seus amigos o haviam seguido, mas não havia sinais deles. Pedia mentalmente para que estivessem se escondendo bem demais, mas que estivessem ali.

Chegou ao meio do pátio do Templo, mas parecia que fora abandonado. Os sinais de vida que tinham eram algumas pegadas e as chaminés que expeliam fumaça. Antes de sentir medo, concentrou-se no que deveria fazer. Zara suspeitava de que o templo estivesse aparentemente deserto, mas o menino ficou realmente surpreso ao confirmar as suspeitas da amiga.

– Olá? – Perguntou com a voz mais infantil que pode. Ninguém respondeu.

O menino olhou ao seu redor para as portas das casas, para as janelas fechadas, não via vivalma lá. Mais uma vez checou o caminho que havia passado, e conteve um suspiro aliviado quando viu Airon escondido, apenas o olho aparecendo para ver o que acontecia.

Voltou a atenção de volta no pátio, quando começou a ouvir uns passos baixos, rápidos e quase inaudíveis. Seguindo o som com os olhos, encontrou uma garotinha com roupas de nômades do ar, mas que não pertencia àquele povo, afinal, não tinha as tatuagens. A menina olhava assustada para Gumo.

– Vá embora! – Sussurrou de longe. Estava querendo proteger Gumo de algo. O menino cerrou os olhos para vê-la melhor, mas a menina já tinha se escondido de novo.

Teve a impressão de estar sendo observado.

Anda logo Zara... Pensava cada vez mais nervoso.

Enquanto isso a jovem Avatar dava a volta em toda a cidade-templo, chegando nos fundos onde uma pequena plataforma, como um pequeno pátio, estava repleta de crianças com roupas mistas entre nômades do ar e do reino da terra, mas não havia ninguém com a tatuagem dos nômades, logo todos eram refugiados. A menina esperava chegar ao local mais vazio do templo, mas parecia ter escolhido a creche.

Pulando o pequeno corrimão que a separava das crianças, todas olharam amedrontadas para ela. Zara se agachou, em posição de expectativa, levando o dedo na frente da boca, pedindo silencio. Mas não precisava pedir. Uma das garotinhas se aproximou de Zara. A menina tinha os cabelos tão curtos quanto os de um garoto, e parecia ter uns seis anos. Usava roupa dos nômades.

A menina a segurou pela mão, levando-a por um monte de corredores desertos até que se agachou, sendo acompanhada pela maior, olhando para o pátio principal. Zara pôde ver Gumo lá no centro.

O menino quase tremia de medo.

– Eles vão pegá-lo. – Sussurrou a menina. Zara olhou para ela um tanto confusa. A pequena fez um gesto apontando para o chão. – Dobradores. – Sussurrou novamente. Zara arrepiou-se por completo.

– Quantos? – Perguntou sussurrando de volta. A menina mostrou-lhe dois dedos. Zara assentiu e saiu silenciosamente dali.

O que um dobrador de água solitário faria contra dois dobradores de terra?

Deu a volta mais uma vez até encontrar-se com Airon. O moreno a fitou desconcertado, até que ela explicou-lhe a situação. Airon sabia que era algo perigoso, mas um sorriso assustador de canto surgiu em seu rosto, e ele tirou a trouxa das costas preparando-se para qualquer coisa.

– Ora ora... – Gumo ouviu uma voz masculina e grave falar de algum lugar dentro do templo. – O que um rato da água faz aqui? – Perguntou saindo das sombras. Pela voz, diria ser alguém muito ameaçador. Mas vendo o garoto na luz, sentiu vontade de rir. Era um menino baixo, com os cabelos castanhos bagunçados, as roupas mal vestidas e sujas, do Reino da Terra.

– Deve estar procurando uma toca pra se esconder. – Sugeriu mais uma voz, desta vez feminina. A garota apareceu vinda da mesma sombra onde estava o outro, mas esta sim era ameaçadora. Claramente mais velha, era maior e mais forte que Gumo. Tinha os cabelos presos num coque alto, com apenas um fio cruzando-lhe o rosto. A roupa suja, mas arrumada, e os olhos verdes.

Zara estremeceu ao vê-los, mas Gumo já tinha passado do nível de estremecer.

Airon parecia cada vez mais ansioso, começou a morder o lábio olhando fixamente para os dois dobradores de terra.

– E-eu to procurando Kiriku. – Disse Gumo falando baixo.

– Ah, aquele velho que tentou expulsar a gente daqui? – Disse o garoto. – Ele trouxe dois refugiados com ele, deu trabalho acabar com eles. – Concluiu, antes de levar uma apa na cabeça.

– Cala a boca, retardado. – Falou a garota. – Então bonitinho, o que quer com o velho? – Disse se aproximando de Gumo. Zara esperava a hora certa de agir, mas fez sinal para que Airon acendesse as tochas que tinha preparado antes de vir.

– É pessoal. – Disse Gumo criando um certo incomodo pelos dois, uma pitada de raiva. A menina soltou uma gargalhada fina e falsa.

– Ah, que pena. Eu já ia chama-lo. – Disse sarcástica.

O dobrador de agua posicionou-se de lado para a dupla que o encarava, e levou uma mão às costas. Fez tal movimento tão sutilmente que apenas Zara entendera do que se tratava. Ele estava pronto para usar todas aquelas nuvens, toda aquela água, a seu favor.

Fechando a cara numa careta mau humorada, a garota desconhecida estalou os dedos. Seu companheiro posicionou-se com as pernas abertas e joelhos flexionados em noventa graus, prendendo os punhos fechados ao lado do quadril com os cotovelos para trás.

Zara se afastou para não ser vista, e posicionou-se igual a Gumo. Não sabia se podia dominar bem de tão longe, mas ao menos tentaria. Com breves movimentos com a mão livre, já estava controlando as nuvens sob a cabeça de Gumo.

Airon já estava pronto para acender as tochas.

– Pode chamar. – Disse Gumo demonstrando tamanha frieza que até assustou o outro garoto.

– Chega de papo. – Disse a garota estalando os dedos novamente, impaciente.

– Acho melhor conversarmos um pouco mais. – Pode-se ouvir a voz de Airon entrando no pátio. A garota arregalou os olhos ao ver a roupa da nação do fogo, assim como o outro menino. Airon estava com as mãos nas costas, com apenas uma pequena tocha acesa. Era uma chama muito pequena, mas estava ciente do que fazer.

Em pouco tempo Zara apareceu silenciosa atrás de Airon, apenas olhando pelo canto do olho para os dois dobradores, que temiam o “membro da nação do fogo” mais que tudo.

Estão com medo da pessoa errada. Pensava Airon.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!