Avatar: A Lenda de Zara - Livro 1: Água escrita por Evangeline


Capítulo 13
Cap 12: Segredos




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As nuvens eram densas, mas os dobradores facilmente se livraram delas.

Diante de seus olhos, Zara mal podia acreditar. O Templo do Ar do Norte era a coisa mais linda e estranha que já tinha visto.

Lembrava-lhe vagamente um castelo com muitas torres num tom velho de amarelo, com os telhados pontudos quadrados e com as telhas num tom escuro de verde.

Aos olhos da menina, era um lugar muito pequeno e confuso. Não via ruas, nem pontes. Ficava na base rochosa da montanha. Não condizia com os Nômades do Ar.

Ficou parada diante daquela vista. Não dava um passo sequer.

– Zara? – Chamou Gumo, vendo a menina empacada na base da cidade, com o pescoço dolorido de tanto olhar para cima para ver até que altura ia a cidade. – Zara! – Chamou de novo. Ele e Airon já estavam bem mais na frente, mais pra cima.

– Não vou entrar. – Disse a menina.

– E por quê? – Perguntou Gumo cruzando os braços. A verdade é que a menina sentia que algo de muito bom estava lá dentro, mas ao mesmo tempo algo muito ruim aconteceria lá dentro.

Airon se aproximou dela olhando para seu rosto.

– Não estou pronta. – Sussurrou quando Airon ia chama-la.

– Zara... porque não estaria pronta para entrar num templo? – Perguntou o dobrador de fogo, que ficou um longo tempo sem resposta. – Lá ainda tem monges, não quer conhecer um? – Perguntou tentando incentivá-la.

– Eu não estou pronta. – Sussurrou novamente, falando mais consigo mesma do que com qualquer um. Estava insegura tão longe de Tuí e de La, tudo o que queria era sentar ali mesmo e encontra-los no mundo espiritual.

Gumo se aproximou olhando interrogativamente para Airon, que apenas deu de ombros.

– Zara, tem algo lá que Yue quer que veja. – Disse Gumo. Nem mesmo o menino sabia porquê estava ali, foi mandado apenas para guia-la na viagem.

"Não estou pronta." Pensava a menina. "Tudo mudou muito rápido. Ontem eu era apenas uma menina comum, hoje tenho toda essa responsabilidade em minhas mãos. Ser o Avatar. Eu sequer sabia onde estava o problema, como poderia resolvê-lo? Onde treinar, com quem treinar, em quem confiar, para onde ir, tudo está complexo demais.”

Airon segurou o braço da menina com calma, chamando a sua atenção pelo toque. Ela olhou para ele, com os olhos arregalados e a expressão de sofrimento no rosto, saindo daquele transe.

– Tem algo que quer falar para ele, não tem? – Perguntou Airon imparcial. Zara tinha pensado muito em contar ou não que ela era o Avatar. Mas sempre pensou em contar para os dois, afinal, queria eu Airon a ensinasse a dobra de fogo.

A menina mordeu o lábio inferior. A expressão de sofrimento estava torturando aos colegas. Havia algo que Zara sempre estava escondendo, eles sabiam que havia. Gumo, desde que a vira pela primeira vez ao lado da Princesa Yue sabia que havia algo diferente nela. Não podia ser uma garota normal, afinal, garotas normais não dobram para lutar. Não podia ser normal.

Airon percebera que escondia algo desde que ela foi visita-lo na prisão. Viera perguntar seu nome. A menina que o congelou com a maior facilidade, e que foi tão fria no “interrogatório”... Não podia ser normal.

Estava escondendo algo.

Por fim suspirou.

– Não posso entrar lá. Não hoje. – Disse. Havia tido uma ideia.

– Tudo bem, podemos acampar em algum canto... – Disse Airon.

– AH claro, vamos procurar uma base horizontal nessa montanha gigante. – Disse Gumo. – Ou então dormimos assim mesmo e rolamos montanha abaixo. – Complementou irritado, mas Airon e Zara já estavam longe, procurando algum tipo de caverna ou planície.

Não demorou para encontrarem uma caverna pequena e úmida. Os três mal cabiam ali. Se tivesse mais uma pessoa, não caberia.

Airon vitorioso conseguiu arranjar alguns galhos pra fazer fogo, e quando fez a tão desejada fogueira seus olhos brilharam dando medo em Gumo. Zara já tinha ido pro canto mais escuro da caverna, onde sentou-se ereta para meditar.

– Por que ela fica fazendo isso? – Perguntou Airon para o colega de viagem do outro lado da fogueira. Gumo olhou para a menina e deu de ombros.

– Desde que conheci ela, é estranha assim. – Disse o menino. – Nas aulas de dobra d’água ela sentava na frente do lago e ficava olhando, e olhando... – Completou rolando os olhos.

– Igual como ela fez no barco. – Finalizou Airon enquanto tirava o casaco. Não estava mais no polo norte, não havia necessidade de usar aquele casaco enorme. Por baixo usava uma camisa típica do Nação do Fogo.

Gumo olhou para a camisa do outro garoto intrigado.

– Errei feio. – Resmungou fazendo Airon rir um pouco.

Os garotos estavam tensos. No fundo tinham medo de Zara. Ela parecia ter um segredo obscuro terrível.

Enquanto isso, Zara explorava a montanha no mundo espiritual. Queria encontrar algum espírito guia, alguém que pudesse lhe ajudar.

A versão espiritual da montanha era repleta de ruínas. Parecia ter sido muito bonito um dia, mas tudo o que restava eram plantas mortas e declives. Quando caminhou para dentro do Templo, encontrou mais e mais ruínas. Não tinha ninguém.

Foi quando viu uma flor perfeitamente bela, bem cuidada. Estava perto de uma pilastra, no pátio do Templo. Zara se aproximou da flor branca com muito cuidado.

Não conseguia entender o Chi daquela flor, não entendia se a aura era positiva ou negativa. Nada ali parecia ter aura positiva ou negativa.

Foi quando ouviu uma voz. Seu coração parecia ter parado.

– Zara. – Chamava uma voz doce, feminina. A voz ecoou por todo o templo. Não sabia de onde vinha, mas ficava o tempo todo lhe chamando. Já estava com medo. La um dia lhe disse que se algo acontecer com o espírito do Avatar, coisas terríveis podem acontecer, e Tuí lhe contou que no mundo espiritual havia tantos maus quanto no mundo físico.

– Zara. – Ouviu novamente. O eco atingia seus ouvidos com dezenas de “Zaras”.

– Quem está aí? – Perguntou a menina, não muito alto. Entrou dentro do Templo, encontrando mais e mais ruína. Era como se o povo daquele Templo tivesse sido arrancado dali a força.

– Zara. – Repetiu a voz. Estava mais alta a voz. Não podia procurar por todo o templo, senão passaria tempo demais “meditando” na caverna, e caso se afastasse demais do seu corpo, poderia não encontra-lo novamente depois.

Voltou para a caverna correndo e concentrou-se com certa dificuldade. Ali era mais difícil se concentrar, por algum motivo, a atmosfera dali era mais pesada.

Mas conseguiu voltar a tempo, Gumo e Airon ainda estavam acordados conversando algo diante da fogueira. A menina controlava-se para não lhes contar nada.

Algo na sua mente lhe dizia para conta-los, dizia que quem quer que estava dentro do Templo iria trazer novidades muito grandes, iria mudar muita coisa. Precisava conta-los.

– Gumo... – Sussurrou ainda de olhos fechados, com a postura relaxada e encostada ainda no canto mais escuro da caverna.

O menino virou-se para ela um tanto surpreso.

– Ah, oi. – Falou sem jeito. – Vem pra cá, pra perto do fogo. – Disse o menino soltando um risinho juntamente com Airon, devia ser alguma piada interna.

A menina negou com a cabeça e continuou onde estava, desta vez olhando para Airo. Ele logo entendeu que o recado era pra ele também.

– Preciso contar uma coisa. – Disse abaixando o olhar para seu próprio colo.

Os dois pausaram qualquer gesto que pudessem estar fazendo e encararam a menina.


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