Entre o céu e o inferno escrita por Karollin


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

♥ Não consegui segurar essa história AUSHASUAUASHUHA ♥

♥ Boa leitura, espero que gostem ^-^



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Lucy Heartphilia – Subúrbio de Las Vegas – 22:42

Três meses atrás

Meus passos ecoavam pelas ruas sujas e pouco movimentadas daquele bairro distante do centro comercial e turístico de Las Vegas. Ao citar o nome da cidade, a maioria pensa somente nos luxuosíssimos cassinos e em estrangeiros ficando ricos, ou perdendo tudo. Nunca ninguém pensa no subúrbio. Para ser sincera, aquele era um local perigoso para se estar – ainda mais desacompanhada, como era meu caso – após às nove horas da noite. Entretanto, depois que minha mãe ficou doente eu já havia me acostumado à penumbra e quietude do lugar, pois agora eu tinha conseguido mais um expediente para tentar pagar os caros remédios que Layla precisava para sobreviver àquela enfermidade.

Tudo havia começado dois meses atrás. Mamãe nunca foi alguém que faltava ao seu simples trabalho como decoradora, mas em um dia ela não conseguia comer nada, depois disso não conseguiu levantar-se da cama. Bastou pouco mais de duas semanas para os sintomas piorarem. O que eu imaginei ser uma pequena gripe de verão era na realidade um câncer no esôfago.

Graças a isso, ela não conseguia mais nos sustentar e meu emprego de garçonete em um pequeno restaurante de Las Vegas não garantia mais nossa sobrevivência – ainda mais agora que eu tinha que comprar todos aqueles caros medicamentos. Além disso, em pouco tempo mamãe teria que fazer quimioterapia e esse tratamento não era nem um pouco barato.

Acho que nunca odiei tanto meu pai como o odeio agora. Se ele não tivesse se viciado em jogos de azar ainda teríamos toda nossa fortuna e ele não estaria desaparecido. Mas agora não podia mais viver considerando todos esses ‘‘e se’’. Eu teria que ralar para manter minha mãe viva, nem que eu precisasse arrumar mais algum emprego de madrugada.

Eu estudava na parte da manhã em um colégio público, mas com um bom ensino, trabalhava na parte da tarde e agora à noite como garçonete. Resumindo: acordava todos os dias às 5:30, pois tinha que ir a pé para a escola, já que não podia desperdiçar dinheiro com passagens de ônibus, e voltava somente ás 22 horas e pouco ou 23 horas todos os dias úteis da semana. Tinha que me esforçar ao máximo para pegar horas extras e receber um pequeno acréscimo em meu salário.

A brisa de verão balançou meu cabelo e sorri ao visualizar um pouco das estrelas na imensidão do céu. Essa era uma das vantagens de se morar em um bairro afastado de toda a poluição visual do centro. Claro que o fato de aquele lugar ser praticamente abandonado pelo governo e consequentemente mal havia postes de luz funcionando ajudava bastante para conseguirmos ver as estrelas que possuíam a escuridão como melhor amiga.

Minha pequena casa tornou-se visível e eu acelerei um pouco o passo. Eu podia estar acostumada com aquele bairro, mas não iria dar sorte ao azar. Mamãe precisava de mim e eu não seria útil morta em alguma viela só por ter sido descuidada. As paredes de tinta descascada branca pichada com palavras ilegíveis por mim aproximou-se cada vez mais. Retirei da minha pequena bolsa uma chave velha e abri a porta de madeira, que estava um pouco emperrada, sendo agraciada pelo irritante barulho das dobradiças rangendo.

– Mãe, cheguei. Nem vai acreditar em quanto de gorjeta eu ganhei hoje. Quase cinquenta e cinco dólares, acredita nisso? Acho que Bob irá me dar uma pequena promoção, conversei com ele a cerca de nossa situação e ele se mostrou muito disposto a nos ajudar. – tagarelei sobre meu dia assim que pus os pés para dentro de casa.

Coloquei minha bolsa na mesa de plástico da cozinha minúscula e abri a geladeira notando com pesar que só havia um hambúrguer um pouco ‘‘dormido’’ nela e água. Por mais que meu estômago roncasse, eu não iria comer. Aquele era o sanduíche de mamãe, ela precisava mais do que eu. Amanhã eu pedia alguma sobra na cozinha do restaurante, não havia problema.

Abri a porta do armário apodrecido e encontrei uma caixa vazia de biscoitos recheados. Virei-o em minha boca sentindo os poucos farelos caírem em minha língua. Esse era o meu jantar, tinha que me contentar com isso. Achei também um pouco de pó de café e esquentei uma certa quantidade de água para fazer a bebida. Aproveitando o calor do fogo pus o hambúrguer perto dele para esquentá-lo.

– Mamãe, a senhora deve estar com fome, não é? Já vou levar algo para você comer. Espere só um momento. – falei distraída.

Como não obtive resposta, supus que ela estivesse dormindo. Devido aos remédios e à necessidade de seu corpo descansar, o médico disse que ela dormiria bastante. Falando nos medicamentos, era hora de ela tomar um deles.

A casa – se é que podíamos chamar aquele lugar assim – consistia em apenas três diminutos cômodos: a cozinha, o banheiro e o quarto. Por mais que eu quisesse mudar para um lugar, mais digno, não podia, pois não tinha dinheiro suficiente. O salário de minha mãe fazia falta para nós, apesar dos meus esforços em trabalhar cada vez mais.

Coei o café colocando-o em um copo segurando-o cuidadosamente com uma mão, peguei o sanduíche e o remédio na outra e abri o quarto que eu dividia com minha mãe, Layla Heartphilia.

Assim que a porta se escancarou, minhas mãos soltaram tudo, fazendo com que o copo caísse no chão quebrando-se em vários pedaços espalhando café em minha simples sapatilha bege e queimando um pouco minha pele. O sorriso se desfez de meu rosto enquanto eu contemplava com horror a terrível cena a minha frente. Soltei um grito agudo quando finalmente meu cérebro processou o que estava acontecendo.

Perto de nosso colchão, minha mãe jazia morta com um profundo corte em seu pescoço e uma grande poça do líquido carmesim banhando seu corpo. Em sua barriga, havia um desenho feito com seu próprio sangue, mas que para mim não havia significado algum. Seus olhos sem vida fitavam a porta e ela mantinha a mão direita fechada segurando alguns fios de cabelo, que eu não conseguia distinguir a cor.

Assim que pareci acordar do choque, liguei para a polícia e para a ambulância, mesmo sabendo que era tarde de mais. Escorreguei até o chão da cozinha e fiquei chorando até ouvir batidas na porta, indicando que os oficiais haviam chegado. Não consegui levantar-me e eles arrombaram a casa. Depois disso, as horas seguintes eram borrões em minha memória.

Minha mãe, minha única família, estava morta. Agora eu, com apenas dezesseis anos, estava sozinha no mundo.

Lucy Heartphilia – Apartamento em New York – 20:12

Atualmente:

Cada pessoa tem um jeito diferente de encarar a morte de um ente querido. Alguns afundam-se em bebidas e drogas, outros ficam revoltados e agressivos e há aqueles que se isolam de tudo e de todos. Eu, bem, eu me mudei para o espaçoso e luxuoso apartamento da minha prima, Michelle Lobster. Ela possuía o cabelo dourado e cacheado nas pontas, seus olhos eram gentis e possuíam uma cristalina coloração azul.

Ela era sete anos mais velha do que eu e quase sempre estava fora da cidade já que sua agencia de viagem exigia que ela visitasse regularmente todas as cedes, era obrigada a viajar ao redor do mundo. Ela era minha única família, já que minha mãe foi assassinada há três meses e meu pai estava desaparecido. Se não fosse por ela, eu estaria em um orfanato agora.

Apesar de estar em uma situação financeira melhor, eu continuava a trabalhar meio período como garçonete do Magia, um restaurante que havia se tornado muito popular em pouco tempo. Fazia isso por não querer depender de minha prima. Pelo menos uma coisa boa meu pai me ensinou: seja independente financeiramente, nunca dependa de ninguém.

Cheguei ao apartamento e como praxe, ele estava vazio. Michelle havia viajado novamente. Coloquei minha mochila que continha meu uniforme de garçonete no sofá preto de couro e fui em direção à cozinha para fazer meu jantar. Encontrei na geladeira um bilhete.

‘‘Lucy,

Tive que ir ao Japão, estou pensando em construir filiais pelo país. Volto na segunda à tarde, tem dinheiro em cima da bancada. Sua ficha de matrícula está na escrivaninha de meu quarto, lá você vai ver qual será seu novo colégio. Ligarei amanha para te desejar boa sorte.’’

Peguei uma maçã na fruteira, lavei-a e dei uma mordida sentindo o maravilhoso sabor da fruta espalhar-se por meu paladar. Olhei a bancada de mármore preto e vi várias notas de vinte dólares em cima dela. Michelle sabe que eu nunca uso o dinheiro que ela deixa, mas mesmo assim continua o disponibilizando para mim toda vez que viaja.

Peguei as notas e as contei. Havia duzentos dólares ali. Ela havia deixado toda essa quantia somente para eu sobreviver por dois dias? Realmente minha prima era muito exagerada. Sorri com pesar ao lembrar que aquela era a quantia de um dos remédios que mamãe precisava tomar.

Se pudéssemos ter contatado Michelle há pouco mais de três meses atrás, talvez Layla não estivesse sozinha naquele barracão. Balancei a cabeça e dei um suspiro. Não adiantava mais eu viver de suposições, havia tido três exatos meses para criar todos os cenários possíveis para evitar a morte de minha mãe. Agora era hora de aceitar tudo e seguir em frente, como minha terapeuta disse.

Fui em direção ao meu quarto e coloquei todo o dinheiro em uma gaveta de minha cômoda. Sempre deixava as notas nela, pois ela possuía uma tranca que impedia alguém que não tinha chave de abri-la.

O apartamento era bem espaçoso e moderno. Localizava-se no penúltimo andar do prédio e possuía três quartos, uma grande cozinha, sala, dois banheiros e uma pequena biblioteca particular. Em meu aposento tinha uma cama de solteiro - que podia muito bem passar-se por uma de casal -,uma escrivaninha contendo um notbook e alguns ursos de pelúcia. Por insistência de minha prima, as paredes eram lilases, a janela com sacada era branca e o piso possuía carpete cor creme.

Tirei minha calça jeans e minha regata rosa para tomar um calmo e relaxante banho. A água quente relaxava meus músculos cansados de tanto ficar em pé trabalhando e levava todas as impurezas acumuladas em minha pele pelo ralo. Desliguei o chuveiro e enrolei-me em minha toalha branca felpuda.

Sequei bastante meus pés e fui para meu quarto vestir um pijama de calor. Optei por um short curto cinza e uma camisetinha de algodão lilás. Ainda descalça fui à cozinha esquentar um pouco da comida que havia sobrado do almoço. Quando meu arroz com curry ficou pronto, fui para a sala comer enquanto assistia a um filme romântico que havia começado há pouco tempo.

Lavei a louça e enquanto eu secava minhas mãos, ouvi o barulho da madeira rangendo e de passos andando pelo apartamento. Imediatamente, congelei onde estava sentindo uma corrente gelada passar por minha coluna. Minha vontade era de gritar perguntando se havia alguém ali, mas é claro que tinha alguém aqui comigo! Não ouvi passos de um fantasma, oras!

Virei meu rosto lentamente e foi então que eu vi o desconhecido. Como a única iluminação provinha da televisão e da luz da lua, não conseguia distinguir bem as feições do invasor, mas pude notar que ele era alto e forte. Seus cabelos possuíam uma incomum coloração rósea e em seus lábios havia um grande e amedrontador sorriso. Dei um grito agudo olhando-o cada vez mais assustada enquanto ele se aproximava de mim.

Acordei quando o filme estava terminando. Olhei ao redor procurando algum indício que o intruso tinha estado ali, porém eu estava sozinha no apartamento. Confusa, peguei o telefone e liguei para a recepção.

– James, algum homem subiu há pouco tempo para o quinto andar? – questionei.

– Não Lucy. Está esperando alguém? – indagou.

– Não senhor James. Muito obrigada. – agradeci e desliguei a chamada.

Que estranho, eu tinha quase certeza que havia alguém aqui, mas pelo visto foi só um sonho muito, muito real. Ainda meio cismada, desliguei a televisão e fui dormir. Como garantia adormeci com a luz acesa e a porta de meu quarto trancada.

~ ♥ ~

Acordei com os raios solares em meu rosto. Espreguicei-me demoradamente e bocejei um pouco sonolenta. Não havia conseguido dormir direito a noite, sempre a imagem do suposto invasor vinha em meus pensamentos novamente eu acordava assustada. Aquele sonho havia me abalado muito.

Olhei o relógio e percebi que ele marcava 14:57. Surpreendi-me com a quantidade de horas que eu havia dormido. Normalmente conseguia acordar sozinha antes das dez da manhã. Ouvi minha barriga roncar e sorri.

Dirigi-me ao banheiro e fiz minha higiene matinal. Apaguei a luz de meu quarto e abri a porta conferindo se não havia ninguém do lado de fora. Como não ouvi anda de anormal, abri as janelas para deixar o ar circular e a brisa entrar no apartamento.

Fui em direção à cozinha e lembrei-me que teria que eu mesma preparar o almoço, pois eu havia devorado o que restara do almoço de ontem quando cheguei do trabalho. Entretanto, estava desanimada em fazer tal tarefa, portanto apenas liguei para uma pizzaria e encomendei uma pequena de presunto.

Retirei da mochila vinte dólares da minha gorjeta de sábado a fim de pagar o entregador que chegou quinze minutos depois de meu telefonema. Peguei a caixa e sentei-me no sofá assistindo um especial de House enquanto comia aquele maravilhoso alimento com refrigerante.

Quando o relógio marcou 19:34, levantei-me a fim de finalmente entrar no quarto de Michelle e ver em qual escola estudaria. Por sorte, aquele colégio havia estado paralisado por alguns meses e retomava seu ano escolar agora, um pouco atrasado dos demais. Graças aos céus, encontrei com facilidade meu comprovante de matrícula. A partir de amanhã eu iria estudar na Fairy Tail.

Peguei minha mochila azul céu e retirei meu uniforme de garçonete de dentro dela, colocando em seu lugar meu novo material escolar. Eu estava ansiosa para voltar a estudar, a escola iria me ajudar a distrair minha mente e deixar de ficar tão paranoica às vezes. Apesar de aquele ser um colégio particular, – desde quando meu pai fugiu com o resto de nosso dinheiro, há uns dois anos, eu só havia frequentado escolas públicas – não precisávamos usar uniforme. Uma preocupação a menos.

Fechei as janelas e tomei meu banho. Como no dia seguinte eu teria que acordar cedo, preferi colocar um pijama de oncinha e fui para a cama. Antes das dez horas da noite, eu dormi. Dessa vez, a noite passou sem pesadelos.

~ ♥ ~

O relógio despertou às 6:25 da manha. Levantei-me sonolenta e arrumei minha cama, colocando minhas cobertas no lugar. Tomei um refrescante banho que despertou-me completamente. Optei por uma calça jeans, tênis branco com rosa claro e uma camisa da mesma cor do calçado. Fiz minha higiene matinal e dirigi-me à cozinha.

Peguei mais uma maçã, lavei-a e a mordi. Aquela fruta conseguia estar ainda mais doce e suculenta do que a que eu havia comido sexta. Enrolei outra em um plástico filme para comer na hora do lanche. Escovei os dentes e passei um pouco de brilho labial. Coloquei a mochila nos ombros e saí do apartamento trancando-o logo em seguida.

Por sorte, Michelle havia conseguido uma vaga no colégio que ficava a menos de quatro quarteirões do prédio e, por isso, eu poderia ir a pé. Mesmo sendo cedo, diversas lojas estavam abertas, funcionando a todo vapor. A brisa da manhã fez cócegas em meu rosto e balançou meus fios loiros. Olhando as pessoas correndo a minha volta, era inevitável concluir que a cidade nunca dormia ou ficava sonolenta.

Poucos minutos depois, eu estava diante de um portão imponente de grades brancas e com um enorme letreiro escrito Fairy Tail em cima. Um pouco apreensiva, entrei. O pátio era extenso e possuía algumas árvores. Imaginei ter chegado cedo, pois não havia quase nenhum aluno por perto. Adentrei o prédio do colégio, indo diretamente para a secretaria a fim de pegar minha grade de horários.

Notei que minha primeira aula era química e fui rapidamente para a sala 402. O local era bem espaçoso, possuía dezesseis mesas de duplas divididas em duas fileiras. Em cima das carteiras havia béqueres e alguns potinhos contendo substâncias rotuladas por sua forma química. Apenas duas cadeiras estavam ocupadas.

Na fileira da frente uma menina de baixa estatura estava sentada lendo o livro da matéria de forma concentrada. Seus cabelos azuis estavam soltos, mas um delicado arquinho laranja segurava sua franja para que ela não caísse em seus olhos. Ela usava uma camiseta da mesma cor que seu acessório, calça jeans e tênis.

Quando prestei atenção no garoto que sentava na última fileira no canto, espantei-me. Ele estava com os fones ligados, olhos fechados e os pés em cima da mesa. Ele usava uma camisa preta, calça jeans e tênis cinza. Seu peito subia e descia calmamente, de modo tão ritmado que eu poderia imaginar que estivesse dormindo. Parecendo notar que eu o encarava, o estranho abriu os olhos ônix e deu um pequeno sorriso cínico. Arregalei os olhos dando involuntariamente um passo para trás.

Aquele era o homem que supostamente invadiu meu apartamento.


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Notas finais do capítulo

♥ Eu realmente preciso ouvir/ler a opinião de vocês, leitores!

♥ Minha imaginação é motivada pelos comentários, então deixem uma autora feliz ^-^