Misunderstood escrita por Mirian Schuaste


Capítulo 1
Capítulo Unico




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/452838/chapter/1

Nova Iorque, dezembro de 2013, Bridge Gapstow, aqui começa e termina um grande amor.

As memórias me assaltam, vivo e revivo todos os momentos que passamos, tentando em vão desculpar meus erros. Meus, meus, todos meus, eu sei...

Eu vacilei, fui prepotente, imaturo, deixei o sonho me subir a cabeça, perdi totalmente o foco e também perdi a única mulher que amei, amo. A única que incentivou meus sonhos, acolheu minha alma, iluminou meus caminhos e me ensinou a amar.

Meu nome é Finn Hudson e essa é nossa história.

Vim de uma cidade esquecida por Deus, onde não existem expectativas, onde o máximo de estar no topo, consiste em ser a estrela de um medíocre time de futebol americano ou rei do baile na escola. Grande status, mas eu fui isso tudo.

Fui o popular, sai com a chefe de torcida e muitas outras, sem me importar com o sentimento de nenhuma, de ninguém, com amigos “valentões” e zero vontade de ser mais ou melhor do que isso. Bastavam as festas, a facilidade de ter quem quisesse, como quisesse, aproveitar ao máximo o que estava disponível. Amor? Fidelidade? Isso não existia, para um garoto, que viu o sofrimento de sua mãe, abusada e subjugada por um pai bêbado e tirano, que graças as orações, dela, sumiu no mundo, livrando-nos do calvário. Isso era coisa de menininha boba, daqueles contos de fadas, que meu amigo, nunca li.

Mas na solidão do meu quarto diminuto, tive sonhos mais altos. Sonhos que envolviam composições, instrumentos, multidões que se emocionassem com algo feito por mim, a música na mais pura forma de vida ou a vida em forma de música. E foda-se a modéstia, eu era, não, eu sou bom, mas nunca tive coragem e incentivo para jogar esses sonhos pra fora dessas quatro paredes. Até que a conheci.

O engraçado nisso tudo, se é que existe algo de engraçado na nossa história é que ela era tudo o que nunca imaginei para mim. Ela não era ambiciosa, não era a loira, gostosa e popular e nem se preocupava em ser, ou aparentar ter algum mistério. Seu único sonho era ser feliz, fazer os outros felizes, ter uma família e se doar a ela, coisas que nem em um milhão de anos, passariam pela minha cabeça. Assim era Rachel, puro amor, puro coração e doação.

A conheci por acaso e em um dos momentos mais constrangedores da minha vida. Estávamos aproveitando um belo dia de sol, calor, bebidas e a galera reunida no lago da cidade, um dos poucos lazeres que temos, diga-se de passagem. Nessa festa, quase uma homenagem a Deus Baco, onde depois de muita cerveja, perde-se totalmente a noção e a vergonha, perdi também, com a ajuda de meus “amigos”, minha bermuda, ficando literalmente como vim ao mundo. Me sacanearam total e me deixaram ali, sem lenço, com os documentos a mercê dos peixes, se é que me entendem. Tentando ordenar minhas ideias e achar uma forma digna para sair dessa sinuca de bico, a vi pela primeira vez.

Achando que fosse um dos infelizes que me colocaram nessa, comecei a sair da água, pronto pro esporro, quando vi a menina. Da distância que me encontrava, pensei tratar-se de uma criança, tão pequena, tão linda... e minha única reação, foi afundar e me poupar de um vexame fenomenal. Ela por sua vez, me vendo afundar nas águas escuras, com as mãos pra cima, pensou tratar-se de um afogamento e pulou, com a missão de salvar uma vida. Sempre altruísta, sempre perfeita.

Senti suas pequenas mãos, no momento nada carinhosas, me puxarem pelos cabelos, não tive outra saída, a não ser me fazer de vitima e vir a tona. A primeira coisa que notei, foram seus olhos, de um castanho chocolate, irradiavam um brilho, que fez meu coração pular uma batida, pulsando em um compasso diferente, tocando uma música nova. Ela olhava assustada, preocupada e vendo aquele olhar doce e sincero, tive que tranquiliza-la. Expliquei então o que meus amigos tinham feito e ela, ao contrário do que eu imaginei, abriu o sorriso mais bonito que eu já tive o prazer de ver, um sorriso que capturou minha alma pra sempre. Ela pediu que eu esperasse, como se eu tivesse outra alternativa e saiu do lago, indo em direção a clareira onde costumamos deixar os carros. Saiu sem se importar, com suas roupas molhadas e o que elas revelavam. E rapaz, me perdi nos contornos que o tecido grudado me deram de presente. Fiquei ali, nu, sorrindo feito um bobo, sem ao menos saber porque.

Ela retornou alguns minutos depois, carregando uma toalha, toda colorida, cheia de flores e bichinhos, me jogou a mesma e virou de costas. Me enrolei e agradeci mentalmente o tamanho da mesma, que escondeu toda a minha anatomia. Me senti ridículo, com meus 1,90, enrolado em uma toalha de bichinhos, muito gay, mas foi o que me salvou.

Mesmo constrangidos, engatamos uma conversa amena, eu queria saber tudo sobre ela, como eu nunca a tinha visto por ai? Então, a medida que o sol se punha, ela me contou um pouco da sua vida.

Rachel era órfã, nunca soube quem eram seus pais ou o porque de ter sido abandonada ainda bebê em frente ao único orfanato de Lima- Ohio. Cresceu só, mesmo estando rodeada de outras crianças, sempre se sentiu intimidada, pelo fato se ser muito pequena, muito frágil, então sempre procurou ficar a sombra, mesmo pagando o preço da solidão.

Ela foi a primeira pessoa pra quem falei dos meus sonhos, ela transmitia uma calma, que me fez sentir confiança e quando comecei não consegui parar enquanto não desnudei minha alma. Contei sobre meu pai abusivo, sobre o esforço que a minha mãe fazia para me criar, sobre a minha vontade de ser alguém, sair dessa cidade, construir um futuro digno e dar a minha mãe um descanso merecido.

Falei sobre a minha música e ela ouviu tudo sempre com um sorriso encorajador, com os olhos brilhando, como se já estivesse vislumbrando o meu futuro, as minhas vitórias e quando ela disse:

- Tenho certeza que você será brilhante e fará sua mãe muito orgulhosa.

Tive plena convicção de que ela seria parte desse futuro, não poderia imaginar de outra maneira.

As horas passaram voando e nem sentimos, só quando a lua despontou no céu e um manto de estrelas nos cobriu, foi que nos demos conta do tempo. Eu não queria ir embora, tive um medo irracional de sair dali e nunca mais vê-la, mas ela tinha coisas a fazer e eu também.

Ela me ofereceu uma carona, que aceitei muito feliz, poderia descobrir mais sobre ela, seus sonhos, sua vida, tudo nela me interessava de uma forma inimaginável.

Já no carro, ela me contou mais, nunca tendo sido adotada, só saiu do orfanato aos 18 anos, frequentou a escola no outro lado da cidade, por isso nunca a encontrei por ai, disse que não saia muito, morava sozinha e trabalhava em uma confeitaria do centro. Aos fins de semana, ajudava no orfanato, porque sentia como se fosse sua família, pois foi o mais próximo que teve disso. E seu sonho era somente ser feliz e formar a sua família. Foram as horas mais agradáveis que me lembro de ter passado nos meus 21 anos de vida, foi uma conversa de almas, sem segundas intenções, sem malicia.

Ela me levou até minha casa e quando parou o carro, ficamos em silêncio por alguns minutos, sem saber o que dizer, não querendo uma despedida sem a possibilidade de um reencontro. Eu fiquei surpreso com a minha falta de jeito, logo eu, o cara acostumado a xavecar, não sabia o que dizer, como pedir para vê-la outra vez, ela me desarmava completamente. Seu ar tranquilo e doce, sua voz macia e olhar sincero, me deixavam inseguro. De repente ela disse que precisava ir, já estava ficando tarde e ela tinha medo de dirigir à noite, principalmente por não conhecer muito bem o meu lado da cidade. E eu não deixei escapar essa oportunidade, dei-lhe o numero do meu celular e pedi que ela me ligasse assim que estivesse em casa, em segurança. Ela sorriu e disse que o faria. Meio sem jeito beijei seu rosto e a vi enrubescer, aquilo me fez ter vontade de puxa-la em meus braços e nunca mais soltar. Entrei em casa rindo sozinho, mais feliz do que nunca me lembro de ter sido.

Minha mãe já estava dormindo, fui comer algo e me joguei na cama, relembrando tudo o que passei, os momentos com a galera nenhuma vez estiveram na minha mente, só os que estive com ela. Uma hora depois, meu celular tocou, quando vi um numero desconhecido, meu estômago apertou, Deus, nunca havia sentido algo assim. Era ela, me dizendo que já estava em casa, ouvir sua voz mesmo que através de um aparelho me levou ao céu. Nos despedimos mais uma vez e naquela noite, como em muitas depois, sonhei com ela.

Nova Iorque, dezembro de 2013, Bridge Gapstow

- Vamos Rach, atenda o celular. Atenda!!!!! – Finn dizia alto, pouco se importando se as pessoas o achassem louco, ele realmente sentia-se enlouquecer sem noticias.

“Você ligou pra Rachel Hudson, deixe seu recado que retornarei mais tarde, se meu amor não estiver me ocupando.”

Ouvir esse recado, essa voz suave que amava tanto e a risada no final da mensagem, o deixou mais doente do que já estava.

- Atenda amor, preciso saber como você está. Por favor Rach, por favor.... me perdoa. – sua voz sumindo aos poucos, sentindo o peso da culpa atordoar seus sentidos.

- Deus, faça com que ela esteja bem, mesmo que ela não me perdoe, que ela esteja segura. – isso se tornou seu mantra e as recordações voltaram, toda sua vida diante dos seu olhos.

Dois dias depois do encontro no lago, eu já estava doido pra ligar, aparecer no serviço dela, qualquer coisa desse tipo. Nunca uma mulher me deixou tão cativo. Com a desculpa perfeita de devolver a toalha, no terceiro dia, no meu intervalo do almoço, fui a confeitaria que ela trabalhava.

Assim que entrei pela porta, a vi, toda de branco, com um chapéu engraçado e um avental verde, ela estava linda, mais ainda do que me lembrava. Ela não me viu a principio, até que parei no balcão onde ela estava e sussurrei seu nome. Assim que me viu, abriu aquele sorriso do qual já estava sentindo falta. Me cumprimentou com um entusiasmo contagiante e me pediu pra esperar, pois faltava apenas alguns minutos pro intervalo dela, apontando uma mesa em um canto afastado da confeitaria.

Esperei com todo prazer do mundo, esperaria horas se preciso fosse, mas logo ela apareceu, sempre sorrindo, parou a meu lado na mesa e me deu um beijo no rosto, sério, se eu não estivesse sentado, minhas pernas não teria me sustentado, tamanho impacto de seu gesto. Minha boca estava seca e minhas mãos tremiam, fiquei alguns segundos, que pareceram eternos só olhando no fundo daqueles olhos, que pareciam enxergar minha alma. Hoje eu sei, que isso era verdade, ela sempre viu minha alma.

Conversamos sobre tudo e nada, rimos e nunca me senti tão leve, tão verdadeiro. Devolvi a toalha e falamos mais um pouco de nossas vidas, falei sobre meu trabalho em uma loja de discos e instrumentos musicais, que apesar de não ser grande coisa, me deixava a vontade, por fazer parte daquilo que eu mais amava. Ela me falou mais um pouco da sua vida, “suas crianças” do orfanato, como ela gostava de dizer e cada vez me sentia mais cativo por sua força, história de vida, ela era, é, a pessoa mais forte que eu conheço e só tinha 20 anos. Iluminada...

Como tudo que é bom dura pouco, tivemos que encerrar a conversa, ela teria que voltar ao trabalho e eu também. Nos despedimos e fui em direção a porta, mas dessa vez tomei a atitude que deveria ter tomado logo que a conheci, voltei, parei na sua frente e a convidei pra sair. Ela sorriu e disse que me ligaria assim que o expediente dela acabasse. Sai de lá, mil vezes mais feliz do que quando entrei, pois sabia que a veria novamente e se dependesse de mim, seria todos os dias, pro resto da minha vida.

Ela cumpriu sua promessa e as 18:45 hrs meu celular tocou. Combinamos de nos encontrar no dia seguinte que seria sábado, eu queria busca-la em casa, mas ela disse que não seria preciso, pois ela passaria no orfanato e de lá poderíamos nos encontrar no shopping. Eu insisti, então ela disse que seria um prazer se eu quisesse busca-la e já conhecer suas crianças.

O sábado custou a passar, eu já estava impaciente, até que perdido em pensamentos, quando dei por mim, já era hora. Sai de casa animado, por conhecer uma parte da vida da pessoa que estava se tornando a mais importante no meu mundo.

Assim que cheguei, fui recebido com muita algazarra e muito carinho pelas crianças e pela dona dos meus pensamentos. Eu gostava de crianças, apesar de não ter muito contato com elas, não tem crianças na minha família, pelo menos que eu saiba. Mas, na loja em que trabalho, elas aparecem as vezes, comprando CDs de jogos e é muito interessante atende-las.

Ver Rachel no seu mundo, me fez entender um pouco mais dela, ela tinha amor de sobra e era lindo vê-la se doando daquela maneira. Ficamos um pouco e nos despedimos das crianças, prontos pra começar a nossa noite. Levei-a ao cinema e depois a um restaurante, onde lanchamos, já que ela não estava acostumada a comer muito à noite. Falamos mais um pouco sobre nossas vidas, querendo adiar o final do encontro. Domingo era tanto folga dela, quanto minha e combinamos de ir ao lago. Saímos do restaurante e fui leva-la em casa. Rachel morava em um apartamento, acima da lavanderia do bairro, que conforme ela me informou, pertencia ao marido de uma assistente social do orfanato e, portanto a conhecia desde muito pequena. Ela não me convidou para subir e eu não esperava isso realmente, era tudo muito novo, apesar da intensidade. Sai do carro e a levei até a porta do prédio, ficamos nos olhando algum tempo e não resistindo mais, a beijei. Seus lábios, cheios e macios, tinham gosto de mel e cereja, quando o beijo se intensificou minha cabeça zuniu, e senti também o gosto de pecado. Ela era uma mistura de anjo e perdição, nesse momento a pude sentir sob minha pele. Eu estava chicoteado e se eu pudesse, nunca mais terminaria aquele beijo, eu precisava dele como do ar que respirava. Nos afastamos lentamente, respiração alterada, mãos trêmulas, seus olhos queimavam os meus, minha alma, corpo e coração eram dela, pra fazer o que quisesse.

Desse dia em diante, não nos separamos mais, claro que tivemos nossa brigas, qual casal não as tem, mas sempre resolvemos com conversas francas e honestas. Honestidade era a palavra chave para Rachel, confiança era tudo o que ela desejava e assim fomos nos entregando a esse sentimento grandioso.

Nova Iorque, dezembro de 2013, Bridge Gapstow

- Como pude esquecer tudo isso, só o que ela me pediu foi franqueza, honestidade e confiança, como esqueci isso meu Deus. –

Nosso relacionamento era tudo de bom, era idílico, minha mãe a tem como filha e Rach a chama de mãe. A nossa primeira vez foi perfeita, nenhuma palavra em nenhum idioma se encaixa mais do que essa. Engraçado, que eu estava mais nervoso que ela, apesar da minha vasta experiência, ela fez um jantar no seu apartamento, bebemos, conversamos, nos beijamos muito e ela simplesmente me desarmou com 5 palavras : “Te amo, quero ser sua”

Sinceramente, eu queria muito, muito mesmo, mas ouvi-la dizer isso, tão sincera, tão direta, quase me deu um ataque cardíaco, me engasguei com o vinho e quase acabei com a nossa noite. Respirei fundo, enquanto ela ria, fiz cara de magoado e ela fez um beicinho lindo. A puxei em meus braços e a beijei com todo meu coração. Nossas mãos e corpos se perderam em sensações, tão desconhecidas pra ela e tão novas pra mim, era como se fosse a primeira vez. Era amor.

Ela me incentivou a lutar pelo meu sonho, foi minha inspiração, muitas das músicas que escrevi, foi pensando nela, na sua força, no nosso amor. Alguns meses depois, decidimos morar juntos, nosso amor era forte, intenso e sofríamos muito quando ficávamos separados. Ela decidiu se mudar para minha casa, pois ela não quis “me tirar” da minha mãe, é claro que mamãe adorou ter a “filha” tão perto.

Nessa mesma época, uma rádio local, lançou um concurso de músicas originais e Rach me incentivou a participar, me deu todo o suporte. Eu tinha a música e a voz, mas precisava de mais. Contatei meus antigos colegas, aqueles que eu sabia que tinham talento , vontade e montamos uma banda. Noah tocava guitarra, Sam no baixo , eu cantava, mas preferi me dedicar a bateria, então precisávamos de um vocal, chamamos então Blaine, um colega de escola, não muito próximo, mas sabíamos que ele tinha “a voz”.

Escolhemos uma dentre várias músicas que compus e começamos os ensaios, as coisas não foram fáceis, todos nós trabalhávamos e tínhamos que nos desdobrar pra conseguir ensaiar. Viramos várias noites pra conseguir o que eu queria, o tom certo, o arranjo que faria a diferença, que nos levaria a algum lugar, que nos daria a chance de finalmente alcançar o “meu sonho”. Rachel esteve sempre ao meu lado, nunca desistiu e nem me deixou esmorecer, foi firme, forte, ela era a minha rocha.

No dia do tal concurso, eu estava uma pilha, todos estávamos, mas eu me sentia doente, queria desistir, ela me pegou em um canto, olhou dentro dos meus olhos e me disse que independente do resultado ela sempre acreditaria em mim, sempre estaria do meu lado. Seus olhos me transmitiram a confiança que eu precisava, beijei seu lábios e senti tudo voltando, esqueci a insegurança, o medo e subi no palco, por ela.

Foi glorioso, não estávamos nos preocupando com aplausos ou aceitação, fomos lá e mostramos a nossa música, nos divertimos, toquei pra ela, ela era a única pessoa em todo aquele auditório a quem eu queria orgulhar. Saímos do palco com a sensação de dever cumprido, independente do resultado, me senti feliz, realizado. Ela me recebeu com o seu sorriso, o “meu” sorriso, aquele que eu sabia ser só para mim, me abraçou e nos seus braços eu me senti voltando pra casa.

Aguardamos o resultado nos bastidores, infelizmente não ganhamos, mas para nossa sorte, a convite da rádio, um produtor de musicais participava do júri e fui abordado por ele. Disse que tinha votado na nossa banda, que éramos visivelmente inexperientes, mas a musica era muito bonita, tanto a letra , como a melodia. Sorrindo agradeci, disse que tinha escrito a canção pro amor da minha vida. Ele então me deu um cartão e perguntou se eu não estaria interessado em escrever para musicais. Meu coração acelerou, aquilo era a oportunidade de uma vida, eu podia sentir nos ossos, conversamos mais um pouco e lhe falei de outras várias composições de minha autoria. Marcamos um café para o dia seguinte, onde eu levaria minhas músicas para ele ver.

Ele foi honesto, assim que cheguei ao café e disse que não estava interessado na banda, somente nas musicas. Deixei claro que a banda tinha sido formada somente para o concurso, que meu interesse era compor e não ser um rock star. Analisou minuciosamente todas as musicas que apresentei e ao final apertou minha mão e disse que queria muito trabalhar comigo. Disse também que algumas das canções se encaixariam na peça que estava produzindo, que meu potencial era visível. Me passou uma cópia do script da peça, solicitando que eu tentasse compor duas canções que fosse a “cara” da história relatada, ele iria embora no dia seguinte, mas deixou seu cartão e disse que eu ligasse assim que tivesse algo pronto. Topei o desafio, não perderia nada mesmo, sai de lá correndo pra casa onde Rach e minha mão esperavam aflitas.

Quis saber tudo e seu rosto se iluminou quando ouviu as noticias, abrimos um vinho para comemorar, foi incrível ver a felicidade e orgulho estampados no rosto das duas mulheres da minha vida. Bebemos, rimos e fizemos planos, minha mãe nos deixou sozinhos e a nossa comemoração foi divina. Estar em seus braços era pura magia, era o céu, fizemos amor de maneira calma como se estivéssemos nos descobrindo novamente. Fomos dormir saciados, enroscados nos braços um do outro, sabendo que viria muito trabalho pela frente.

Foi árduo, estressante, minha mente girava a mil, eu não poderia perder essa chance, Rach sempre ali, por mim, para mim. Pedi alguns dias na loja para me dedicar as canções. A peça era meio clichê, sobre as dificuldades de uma vida a dois, amor e essas coisas que costumamos ver em espetáculos musicais.

Quando consegui escrever algo que me agradou, peguei o cartão e nele estava estampada as minhas esperanças. O contato de Jeff Caldwel, diretor da Off Broadway Playwrights Horizons, saltava aos meus olhos e alimentava meus sonhos. Sem nem pensar, entrei em contato, ele ficou muito feliz em ouvir noticias, conversamos e enviei as músicas para sua apreciação. Só nos restava aguardar.

Não vou mentir que durante cinco noites, que me pareceram intermináveis, não dormi. Mal comia, deixei minha Rachel realmente preocupada. Ela mais uma vez, foi minha rocha, tomou meu rosto entre as mãos suaves e me disse para acreditar. Mais uma vez, o amor da minha vida teve razão, no final do sexto dia, recebi o telefonema de um Jeff incrivelmente excitado, dizendo que tinha levado minhas musicas aos autores da peça e eles tinham aprovado não duas, mas cinco musicas minhas. Meu coração disparou, eu fiquei surdo, completamente sem fala. Rachel viu minha reação e pegou o telefone, dizendo a Jeff o meu estado, ele riu e disse que eu me acalmasse e retornasse a ligação o mais breve possível.

Ela me envolveu então em seus braços e nossas lágrimas se misturaram, falou baixinho o quanto eu merecia aquilo e o quanto ela acreditava em mim. Esse era o tamanho do seu amor. Depois de colocar os pensamentos em ordem, respirei fundo e retornei a ligação.

Jeff, me parabenizou, e pediu que eu fosse a NI o mais breve possível, pois teríamos que conversar e se tudo corresse como ele planejava, assinaríamos um contrato. Desliguei, nas nuvens, já pensando no que eu teria que fazer. Meu maior problema seria meu emprego, que mesmo sendo de um simples vendedor, faria a diferença no nosso orçamento. Rachel então me deu o empurrão que eu precisava, mais uma vez, disse que eu deveria pedir demissão, se não houvesse outra saída, ela e minha mãe, dariam um jeito, fariam horas extras o que fosse necessário. Tínhamos algumas economias, que eu usaria para me hospedar em NI por alguns dias, já que eu não sabia se eles bancariam essas despesas. Conversei com meu patrão, ficou combinado que ele me daria uma semana, pois não queria perder um funcionário como eu. Embarquei em busca do meu sonho, deixando as duas mulheres mais incríveis do mundo torcendo por mim.

Desembarquei na cidadeque nunca dorme cheio de esperança e confiante, liguei para Rachel , sua voz, me tranquilizava e era isso que eu precisava nesse momento, serenidade para fazer o melhor por mim, por nós. Me instalei em um hotel, próximo ao aeroporto e entrei em contato com Jeff, passei-lhe o endereço de onde eu estava hospedado e ficamos de nos encontrar no dia seguinte. Aquela noite foi longa, sentia falta dos braços e do calor da minha mulher, da sua força e da paz que ela irradiava. Mesmo tendo um sono agitado, acordei disposto e preparado. Jeff chegou logo cedo, tomamos café no restaurante do hotel, pois ele não queria perder tempo, de lá fomos para as instalações da companhia, onde os autores e o diretor da peça nos aguardavam. Emma Ballantines era uma mulher belíssima e carismática, seu parceiro, Jonathan Goldwin, era mais fechado, mais introspectivo, o diretor era Mr. Stephan Ball, muito enérgico e falante. Fui muito bem recebido, minhas músicas elogiadas por todos. Me explicaram como as usariam e os detalhes técnicos da proposta, fiquei maravilhado com esse mundo, então totalmente desconhecido. Combinamos que em dois dias eles teriam um contrato por escrito, para que eu lesse e assinasse, se fosse do meu agrado, sempre salientando o profundo interesse na nossa parceria. Passei esses dois dias conhecendo a cidade e as pessoas envolvidas com a peça, atores, assistentes, todos me receberam muito bem e entusiasmados por conhecer o autor, aquilo me deixou envaidecido e orgulhoso. Assim que recebi o contrato, corri para o hotel e liguei para Rach, mesmo a distância ela me iluminou, discutimos todas as cláusulas, que mesmo para leigos como nós eram extremamente claras. O único senão era a minha permanência em NI, pois eu estaria envolvido diretamente no espetáculo, alterando arranjos ou o que fosse preciso. Ela então deixou nas minhas mãos a decisão, pois jamais faria algo pra impedir meus sonhos, palavras dela, agora entendo que ela me conhecia mais do que eu mesmo.

Contrato assinado, retornei a Lima. Fui recebido com o mesmo amor, da partida, sorriso aberto, olhos brilhantes e um coração maior que o mundo, felicidade borbulhante. Naquela noite, matamos a saudade do corpo e da alma e só, dormimos o sono dos anjos, me senti em paz, em casa. Ela é a minha casa.

No dia seguinte, nos sentamos para decidir o que e como proceder, eu tinha que estar em NI em menos de duas semanas, quando começariam os ensaios. Pela primeira vez senti Rachel insegura, como se aquilo não fosse pra ela. Foi a minha vez de lhe dar a confiança, afirmando que EU precisava dela ao meu lado, ela era minha maior inspiração. Minha mãe me apoiou totalmente, incentivado Rachel a embarcar comigo nesse espetáculo de magia. Eu entendia que ela tinha uma vida toda ali, suas crianças, seu emprego, mas eu sabia que as mudanças seriam para melhor, nada nos impediria de voltar a Lima, poderíamos comprar uma casa, com cercas brancas e ter a tão sonhada família. Essas foram as minhas promessas. Ela então aquiesceu, abriu mão da sua vida e seguiu meu sonho...

Nova Iorque, dezembro de 2013, Bridge Gapstow

- Idiota, eu sou um idiota, como pude esquecer tudo isso? Todo sacrifício que ela fez por mim???? As promessas que deixei de cumprir – seus olhos se encheram de lágrimas, de culpa.

Os primeiros dias na Big Apple, foram de descobertas, para ambos, nos instalamos em um pequeno apartamento, cedido pela Cia e saímos para explorar. Rachel se apaixonou pelo Central Park, se sentiu a vontade em meio aquele verde e fez de lá seu refúgio. As semanas seguintes foram de trabalho árduo, eu ficava quase 12 hrs do meu dia envolvido com o show, nunca imaginei que fosse me envolver tanto com a produção, mas aquilo me animava, me senti vivo, criando, como nunca antes. Sei que Rach sentia minha falta, mas ela nunca, em momento algum reclamou ou deixou de me apoiar, muito pelo contrário, nas diversas vezes em que eu cheguei cansado, tenso, ela estava lá, me mimando, me amando. Minha vida estava corrida e descontrolada, não conseguia tempo nem para composições novas, tudo girava em função da peça. Quando eu estava no meu limite, Rachel me incentivou a falar com os produtores, e assim o fiz. Emma, foi a primeira a concordar que eu deveria desacelerar, não estava acostumado a essa correria louca dos espetáculos, Jonathan sugeriu que eu contratasse um assistente, para que ele gerisse minha agenda, com organização tudo se resolveria, me dando inclusive mais tempo para minha mulher, minha vida privada. Concordei aliviado, pois eu também sentia falta dos momentos de paz que Rachel me transmitia. Fiquei feliz, comemoramos mais essa pequena conquista, passamos um fim de semana só nosso, sem música, letras, instrumentos, nada que lembrasse o show, só nós e o nosso amor. Foi divino, Rach não cabia em si de felicidade, me falou sobre seus planos, pois estava se sentindo muito só, queria fazer algo por ela, por alguém. Me falou então, sobre um abrigo para mulheres, Women in Need(WIN), que prestava assistência a mulheres e crianças sem teto, dando o suporte necessário para o recomeço, seus olhos brilhavam, eu me dei conta então, que tinha perdido aquele brilho. Dei meu apoio total, o que eu mais queria, era que ela se realizasse no meu novo mundo.

Na segunda feira, cheguei ao teatro energizado, disposto, meu sorriso de orelha a orelha, foi quando fui apresentado a Quinn Fabray, fiquei impressionado com a energia daquela mulher, ela era assessora de alguns membros do cast, muito profissional, muito organizada, me entregou seu cartão e disse que ficaria honrada em administrar minha agenda. Ela era uma linda mulher, eu jamais negaria esse fato, até porque seria hipocrisia da minha parte, mas sua frieza era visível, concordei em fazer uma experiência, já que não conhecia muitas pessoas naquele meio. Ela foi, realmente um achado, conseguiu colocar minha vida profissional nos trilhos, me dando mais tempo, mais horas para compor, para o lazer.

Nossa vida seguia no rumo certo, pelo menos parecia, ao meu ver. Rachel se dedicava as suas “mulheres e crianças”, eu dava suporte ao show, compunha e tínhamos nosso precioso tempo ao final de cada dia. Meus colegas adoravam Rach, como não poderiam, ela era uma brisa fresca naquela loucura do showbiz, sempre com uma palavra de apoio, incentivo, ela amava a todos, sem distinção, nas poucas vezes que me acompanhou, tratou a todos com a mesma consideração e carinho, dos assistentes aos autores e diretores. Por isso estranhei a frieza com a qual tratou Quinn quando as apresentei, aquilo não era normal para Rachel, uma pessoa que sempre via o lado bom das pessoas, mesmo quando ninguém mais o via. Estranhei o fato e a questionei, ela só me disse que não tinha se sentido bem , como se as personalidades não “batessem”, mas que não queria se interpor nas minhas relações de trabalho, que ela poderia separar as coisas e que eu não me preocupasse tanto, poderia ter sido somente uma primeira impressão. Talvez eu devesse ter dado mais atenção a isso, mas deixei passar, fui egoísta, não queria perder uma pessoa que estava se tornando valiosa na minha carreira. Quinn também não tentou se mostrar simpática, mas como ela mesma me disse, não trabalhava para Rachel e sim para mim.

Nova Iorque, dezembro de 2013, Bridge Gapstow

- Ahhhh, meu amor, eu deveria ter dado mais atenção aos seus instintos, como pude deixar isso acontecer???? Como fui tão cego???? – essas perguntas fazia minha cabeça doer – Burro, arrogante, isso é o que me tornei. – suas palavras levadas pelo vento.

As coisas pareciam nos eixos, o show estava ficando perfeito, a estreia se aproximava, nervos a flor da pele, em casa as coisas estavam normais, a única mudança, foi que Rachel parou com suas visitas ao teatro, falamos diversas vezes sobre isso, eu lhe disse que as pessoas sentiam sua falta, que perguntavam por ela, ela nunca foi clara sobre seus motivos, mas eu no fundo, sabia do que se tratava e não insisti, a deixando a vontade, mas sempre afirmando sentir falta da sua presença. Ela sorria e me dizia que tudo ficaria bem.

Algumas semanas antes do show estrear, estávamos passando o dia no Central Park, um dos nossos programas favoritos, quando Rachel me perguntou se eu queria ter filhos, aquilo me assustou um pouco, a pergunta me pegou de surpresa. Eu fui sincero, disse que nunca tinha pensado, mas que a ideia realmente me agradava, principalmente tendo ela como futura mãe. Seu rosto se iluminou, mas antes que ela pudesse falar algo, eu continuei, dizendo que tínhamos muito tempo para pensar sobre isso, que ainda era cedo, que precisávamos de uma estrutura melhor. Seu brilho se apagou, instantaneamente, fazendo meu estomago dar voltas, tentei remendar, mas acho que o peso das minhas palavras, esmagou um pouco os desejos dela. Ela disse que entendia minhas preocupações, mas que já tínhamos tudo o que precisávamos, amor, sua voz sumindo aos poucos. Deu um sorriso forçado, perguntando então sobre os preparativos do grande dia, fiquei visivelmente aliviado com a mudança de assunto e contei tudo, os mínimos detalhes. Ela iria comigo na estreia, óbvio e depois teríamos um coquetel com produtores, jornalistas. Ela sorriu e disse que nada a faria mais feliz que estar ao meu lado. Sorriu, mas seu sorriso pela primeira vez, não chegou aos olhos. Naquela noite, não fizemos amor.

Finalmente o grande dia chegou, foi uma correria, começou com o tapete vermelho, Rachel estava linda, na verdade nunca a tinha visto mais deslumbrante, sempre sorrindo, me transmitindo a confiança necessária para atravessar aquele momento, eu não estava acostumado a tanta atenção e nem achava que fosse ter um destaque tão grande, mas Quinn tinha realmente feito um grande trabalho como “faz-tudo”. Assim que passamos pelo calvário da imprensa, nos direcionamos aos nossos lugares, senti Rachel se retesar ao meu lado e sabia o por que. Quinn também estava linda, era toda sorrisos, cumprimentou Rachel com um aceno e me abraçou, eu estranhei, pois geralmente ela não agia assim, mas a euforia do momento, me fez dar pouca importância ao fato. As luzes se apagaram e o show teve inicio. Ouvir minhas musicas, naquele teatro lotado, me fez arrepiar, Rachel segurou minha mão o tempo todo e várias vezes vi o brilho de lágrimas no seu rosto. Foi tudo rápido, ou talvez eu não tivesse me dado conta do tempo, quando as cortinas desceram, findando o espetáculo, ouvi a ovação e chorei. Eu estava feliz, realizado.

Saimos de lá, direto para um restaurante, previamente locado, eu estava nas nuvens, minha euforia era tanta, que nem lembro, quantas pessoas vieram falar comigo ou mesmo quem eram. Lembro dos elogios, abraços, do reconhecimento e do champagne. Lembro que em algum momento, senti falta da minha mulher ao meu lado, mas pensei que ela deveria estar comemorando o meu sucesso, ela tinha amigos ali no nosso meio também e relaxei. O restante da noite, vem em flashes na minha memória, risos, danças, o olhar triste da mulher da minha vida. Apaguei. Acordei perdido, minha cabeça parecia que iria explodir, foi quando me dei conta de que não estava em meu quarto, o lugar me era totalmente estranho, chamei Rachel, a dor era insuportável. Consegui levantar, achei o banheiro e sai sem rumo. Estava em um apartamento que eu nunca tinha visto, uma bela vista pro Central Park, que me fez sorrir, imaginando o quanto Rach gostaria dessa imagem. Um barulho me chamou a atenção e o segui, encontrei então surpreso, Quinn preparando o café da manhã, levei um susto e logo perguntei o que tinha acontecido, onde estava Rachel. Quinn nem se abalou, abriu um sorriso, me mandou sentar, perguntou como estava minha cabeça, eu o fiz mecanicamente, a dor era tanta, que precisava de um café para clarear minhas ideias. Ficamos em silencio, quando ela começou a contar o final da festa. Disse que eu estava muito solto, o que era bom pra minha imagem, conversei, fiz contatos e lá pelo meio da festa Rachel tinha me pedido para ir embora, pois estava cansada. Eu não quis e para evitar um constrangimento, ela tinha solicitado que um dos motoristas da companhia a acompanhasse até nossa casa, explicando a ela que esse primeiro contato era essencial para minha carreira, disse que minha mulher entendeu seu ponto de vista e concordou em ir com o motorista, pois estava realmente muito cansada. Continuou, dizendo que eu tinha me saído muito bem, mas que na hora de ir embora, eu não queria ir para casa pois sabia que Rachel não aprovaria meu estado de embriaguês e que eu não estava a fim de sermão. Sem outra alternativa, ela me trouxe para o seu apartamento. Disse que me colocou no quarto de hóspedes e foi isso. Terminei meu café, extremamente constrangido, aquilo não deveria ter acontecido, pedi licença, retornei ao quarto e logo vi meu celular, na mesa de cabeceira, o peguei como se estivesse quente, esse era o peso da culpa tomando forma. Tinham 18 ligações perdidas e várias mensagens, todas elas da minha mulher, todas elas demonstravam preocupação e por fim aquiescência. Juntei minhas coisas e sai de lá, rumo a minha casa, como se o mundo estivesse acabando. Quando estava me despedindo de Quinn, ela me deu um sorriso malicioso e me agradeceu pela noite inesquecível, aquilo me surpreendeu e ao mesmo tempo me gelou a alma. Parei em trilhas e lhe lancei um olhar indagador, não estava entendendo, não lembrava de porra nenhuma. Ela sorriu mais ainda e disse que eu não me preocupasse, pois não tinha acontecido nada que não fosse natural. Fechando a porta na minha cara. Ouvi sua risada, através da porta e mais uma vez gelei.

Assim que cheguei em casa, chamei por Rachel, mas só recebi o silêncio, em cima da mesa, encontrei um bilhete dizendo que ela estava preocupada, mas que tinha marcado um compromisso com uma das assistentes da WIN e não poderia desmarcar, que estaria em casa assim que se liberasse e que esperava que minha noite tivesse sido tudo o que esperei. Tomei um banho, tentei relaxar, mas imagens aleatórias vinham a minha cabeça, da festa, do porre, do final da festa, mãos me tocando e de um olhar triste, esse eu não conseguia tirar da minha mente. Uma meia hora depois, meu celular tocou, era Stephan, pedindo que eu fosse urgente para o teatro, pois precisávamos alterar o arranjo de uma das musicas, para a apresentação no dia seguinte. Deixei um bilhete para Rach e corri para o teatro, queria resolver logo esse impasse, pois tinha um que me parecia mais importante esperando em casa. A maratona do arranjo deu mais trabalho do que prevíamos e só consegui chegar em casa passado as 23 hs. Rachel já estava dormindo. Velei seu sono, fiquei horas olhando meu anjo dormir, repassando tudo o que tinha acontecido. Fui de alegria a tristeza, de euforia a culpa, meus sentimentos se misturavam, um lado estava feliz por ter me realizado, outro se corroia em culpa, pois a pessoa que mais me apoiou, não estava na mesma página, comemorando minha vitória. Dormi sem perceber. Acordei com sol alto, levantei, fiz minhas necessidades e fui em busca de Rachel. Ela estava na sala, olhando pela janela, parecia alheia a tudo, olhos perdidos no horizonte. Pigarreei, ela me olhou e eu sorri. Ela veio em minha direção e pulou nos meus braços, disse que achou que tinha acontecido algo comigo, chorou no meu colo, eu fiquei ali, sem falar nada, beijando seus cabelos e pedindo, implorando desculpas. Depois que ela se acalmou, contei o que tinha acontecido, pelo menos o que eu lembrava, não falei da minha conversa estranha com a Quinn e muito menos que tinha passado a noite no apartamento dela, meu erro. Pedi perdão mais uma vez, disse que tinha sentido a falta dela ao meu lado e ela pareceu acreditar, mas a tristeza nunca deixou seu olhar. Ficamos em casa, naquele dia, enroscados, mas o que era estranho, era o silencio, antes podíamos passar horas, sem falar nada, só sentindo a presença do outro, isso era reconfortante, como se fosse um mundo só nosso, impenetrável, a nossa bolha. Esse silencio, era diferente, como se a cabeça não parasse de funcionar e indagar os corações pesados, me senti mal, me senti culpado. E assim se passaram os dias. Mais shows, mais encontros pós-show, Quinn afirmava a necessidade desses contatos, eram bons pra alavancar minha carreira, ela dizia. O que estava, realmente me deixando nervoso, era a forma diferente que ela me olhava, como se estivesse esperando o momento certo de agir. Eu me perguntava o porque. Rachel não foi a mais nenhuma apresentação e a nenhum desses encontros. Eu chegava em casa, ela já estava dormindo, quando eu acordava, ela já tinha saído, sempre deixando o café pronto e um bilhete de despedida. Eu sentia sua falta, mas as festas e encontros foram me envolvendo, bebidas, conversa boa, interesses em comum, o glamour, o sucesso foi me engolindo aos poucos e me distanciando do meu porto seguro. Os fins de semana me pareciam longos, assim como o silencio incomodo, ainda fazíamos amor, mas parecia algo para suprir a necessidade do corpo, até que comecei a dispor inclusive dos únicos dias que tinha pra nós dois, com jogos de golfe, passeios pelo rio Hudson, amizades fúteis. O ponto de virada, veio em uma sexta feira, após mais um happy hour, quando me excedi e cheguei em casa embriagado, Quinn quis me levar ao seu apartamento, mas eu nem cogitei a ideia, ela então me levou para minha casa. Rachel estava dormindo e deve ter acordado com o barulho, pois Quinn estava meio alta também e ria das besteiras que eu falava. Quando me dei conta, no meio as risadas, Rach estava parada na porta do quarto, olhos parados na cena. Eu mais que depressa fui em sua direção e tentei abraça-la, ela esticou os braços e me parou, perguntou o que tinha acontecido. Eu disse que tínhamos exagerado na bebida, como se isso não tivesse a mínima importância, Rachel estava furiosa, eu nunca tinha visto ela daquele jeito e aquilo me incomodou. Com certeza o excesso de bebida e a presença da Quinn, me impulsionaram a agir errado e perguntei presunçosamente qual era o seu problema, se ela não gostava de me ver feliz, se ela me queria insatisfeito a seu lado. Quinn sorria, aprovando minha atitude e Rachel estava lívida.

“- É isso o que você pensa de mim? Que não me importo com seus sonhos? Eu me importo, mas você esta deixando pra trás suas origens, você pode continuar sendo o homem de sucesso sem se vender a bebidas e festas sem sentido. – falou com tristeza”

Aquilo me atingiu como tijolos e sentei, atônito. Ela continuou, dizendo que esperava mais de mim, que tinha ligado para o teatro, deixado vários recados, que estava preparando um jantar pra nós dois, que tinha algo pra me contar, mas que já nem sabia se valia a pena, só então notei a mesa posta com requinte e as velas derretidas. Que pelo visto nada que viesse dela seria importante pra mim. Nesse momento, meu mundo desabou, quando Quinn se meteu na discussão e disse que era melhor termos ido para o apartamento dela como da outra vez e terminarmos a festa lá, já que pelo visto Rachel não estava preparada pra essa vida. Por um momento achei que Rachel iria cair com o impacto dessas palavras, mas foi apenas por um segundo, ela elevou o corpo e disse que talvez eu devesse ter ido mesmo, pois pelo visto ela não era digna e nem estava a altura para desempenhar o papel de mulher de um homem de sucesso, que parecia que eu já havia encontrado quem desempenhasse esse papel com perfeição, sem tirar seus olhos dos meus, esperou minha reação. Eu me senti insultado pelas suas acusações, pois não tinha feito nada que eu considerasse errado, estava lutando por meus sonhos, minha carreira, e retruquei que talvez fosse melhor mesmo. Ela virou de costas e me disse para trancar a porta quando saísse, se essa fosse minha decisão. Fiquei sentado, olhando a porta do quarto se fechar. Em um momento de fraqueza, deixei Quinn decidir por mim, ela se ajoelhou na minha frente e disse que era melhor irmos, que no dia seguinte de cabeça fria, poderíamos conversar melhor, que ela me deixaria em um hotel se eu me sentisse mais confortável e eu concordei. O que eu não pensei claramente, foi que mesmo que não tivesse acontecido nada entre nós e eu fosse para um hotel, minha mentira ou omissão anterior, pesaria contra mim, eu deveria ter ficado e enfrentado nossos problemas, eu queria mais que tudo me acertar com Rachel, ela era uma parte de mim, a melhor parte. Isso me veio a mente, no dia seguinte, quando acordei com uma ressaca tremenda, as 17 hrs da tarde. Me senti culpado, arrasado, um fracasso por não ter dado a atenção que minha Rachel merecia, ela que sempre esteve ao meu lado. Tomei um banho demorado, tentando lavar minha culpa, e voltei para casa, disposto a salvar nosso amor. Encontrei o apartamento vazio, janelas abertas, por onde entrava um vento frio, mas que não era nada se comparado com o frio que eu senti na alma, entrei receoso, com muito medo do que poderia ver pela frente, ou não ver. Estava tudo arrumado, como sempre, o cheiro do seu perfume estava ainda no ar, nossa cama arrumada, fui em direção ao guarda roupas, temeroso em encontrá-lo vazio, mas suas roupas estavam lá e relaxei. Horas se passaram, me perdi em pensamentos, tentando formular algum texto que expressasse meus sentimentos e resgatasse o que tínhamos cultivado com tanto ardor. Quando me dei conta, já era noite e nem sinal de Rachel, várias coisas passaram pela minha cabeça, algum acidente, meu coração apertado dizia que algo não estava certo. Levantei em busca do meu celular quando vi o envelope com meu nome. Ali meus medos tomaram forma, peguei-o com mãos tremulas, sem coragem de abrir, mas eu precisava, se eu quisesse consertar meus erros e salvar ou tentar com todas as forças, salvas a nós dois.

Nova Iorque, dezembro de 2013, Bridge Gapstow

- Rachel, amor, estou no nosso lugar, por favor, precisamos conversar, eu amo você Rach, mais que tudo, me de uma chance, ainda não tive coragem de ler o que você me deixou. Por favor, responda. – maldita caixa postal.

O envelope queimava no meu bolso, eu sabia que todo o meu futuro estava ali, tudo o que construímos, com lágrimas, suor, poderia desaparecer como um passe de mágicas, eu sabia que se eu a perdesse, nada seria como antes, nenhum sucesso, fama ou reconhecimento, apagaria a dor de ter deixado meu amor ferido. Tomei fôlego e abri minha sentença.

“Finn

Todos esses meses que passamos juntos, me ensinaram tantas coisas, você me ensinou tanto. Com você aprendi que ser amada é tão importante quanto amar, que tudo vale a pena, quando estamos em busca dos nossos sonhos, que NUNCA devemos nos esquecer deles, são partes de nós. Ter conhecido o seu amor, me levou ao céu e agradeço todos os dias da minha vida, por aquele dia no lago, quando seus amigos decidiram lhe pregar uma peça e me deram você de presente. Meu presente mais precioso.

Mas me ensinou também, que vale TUDO pra alcançar esses sonhos e talvez eu realmente não esteja preparada para esse TUDO, talvez Quinn tenha dito algo certo e eu nunca esteja.

Engraçado pensar como nossos sonhos colidiram ao longo do tempo, você almejava o sucesso e eu só almejava você, uma casinha com cerca branca em Lima, crianças, frutos do nosso amor. Tão simplório em comparação a grandeza dos seus. O que me faz pensar no que vale realmente a pena, o sonho grandioso, ou o mais simples, acredito que os dois, melhor ainda se sonhados juntos.

Não vou mentir pra você, nunca faria isso, talvez se eu tivesse dito desde o começo meus temores, as coisas não tivessem chegado a esse ponto. Ver você se afastando de mim dia a dia, foi muito doloroso e talvez eu devesse ter a coragem de sentar e conversar sobre isso, mas tive medo, me senti perdida, sozinha em um mar de rostos que não me diziam nada, só aumentavam a minha solidão. Não posso te culpar por algo que eu também deixei acontecer. Então meu Finny, não se sinta culpado, nunca, acho que estava escrito que teríamos esse tempo juntos, mas que ele não seria o “pra sempre” que esperávamos no começo.

Agradeço de coração a todos os momentos maravilhosos que tivemos, as risadas, os carinhos, o companheirismo. Obrigada por me fazer sentir a mulher mais bonita, mais sexi, por me ensinar que o sexo não é somente um ato, mas um encontro de almas.

Diante de tudo isso, continuo te amando e vou te amar pra todo o sempre, mas dessa vez, apesar do meu amor tenho que seguir o MEU sonho, mesmo que pra isso precise deixar uma parte do meu coração pra trás.

Desejo com todas as minhas forças, que sejas MUITO feliz, que se lembre de mim com carinho, como uma pessoa que passou por sua vida e torceu muito por você, sem pedir nada em troca. Jamais desista do seu sucesso Finn, você fez tudo por ele, não deixe ninguém te manipular, ou dizer que não vale a pena. Voce vale a pena, afinal você, mesmo sem querer me deu o MEU sonho de felicidade.

Seja feliz.

Sua maior fã hoje e sempre.

Rachel Berry

OS.: Quem sabe nos encontremos algum dia e eu te mostre meu sonho realizado.”

Dor, uma dor lancinante me queimava por dentro. Dor por ter deixado ir uma parte do meu sonho. E nesse momento eu entendi, que de nada valeria o sonho se não pudesse dividir com a mulher que eu amo, que eu trocaria tudo que já alcancei, por uma vida com ela, em Lima, em uma casinha com cercas brancas e uma menininha que fosse sua cópia, tivesse seus olhos de chocolate e o sorriso mais sincero do mundo. Deixei as lágrimas rolarem, na esperança que elas levassem a dor embora, missão impossível. Decidi voltar para um apartamento que agora eu tinha certeza estaria vazio.

Nova Iorque, dezembro de 2013.

Acordei perdido, só meu corpo vazio enrolado aos lençóis, a carta de Rachel ainda descansava no travesseiro ao meu lado, me lembrando que aquilo não era um pesadelo. Não tinha a mínima vontade de sair da cama, ainda envolta no seu perfume, suas coisas ainda na penteadeira, o porta retratos com a nossa foto preferida, seu sorriso e o jeito de me olhar, que mostrava o maior amor do mundo, o amor que eu deixe escapar entre os dedos. Fiquei ali perdido em pensamentos, quando ouvi um barulho vindo do outro lado da porta. Saltei da cama, meu coração a milhão, sabia que era ela, eu podia senti-la, nem pensei e me vestir, não pense em nada, só precisava de uma chance, talvez fosse minha ultima, não poderia desperdiçar.

Lá estava ela, olhando pela janela, o sol batia em seus cabelos, criando uma imagem etérea, sua fisionomia demonstrava tranquilidade, uma paz que me encantava. Linda, tão minha, mas tão distante. Ela falou primeiro, pois eu não sabia nem por onde começar, já que minha vontade era me jogar a seus pés e implorar seu perdão.

- Recebi suas mensagens, sinto muito por te deixar preocupado, mas eu precisava pensar, ficar sozinha em um lugar que não me lembrasse você, nós. Enfim, precisava decidir minha vida. – ela começou – Minha intenção era voltar aqui quando você não estivesse e pegar minhas coisas, eu já falei o que sinto na carta que te deixei, mas conversei com sua mãe, e ela me fez perceber que nós merecemos um encerramento digno do nosso começo.

Quando ouvi a palavra encerramento, o torpor me abandonou e eu dei um passo em sua direção, ela se afastou e eu perguntei se poderíamos sentar e conversar, eu só queria que ela me ouvisse.

Ela concordou e sentou na poltrona em frente a minha, aquele distanciamento me machucava, mas eu sabia e entendia a necessidade dela em se manter distante, ela estava se protegendo e eu nunca mais queria machuca-la. Olhei firme em seus olhos e falei, tudo o que estava represado no meu coração. Contei sobre as festas, sobre a minha empolgação, sobre os contatos e finalmente contei sobre Quinn. Sobre a noite que dormi no seu apartamento, contei em detalhes, os que eu lembrava, falei sobre os flashes, da incerteza do que aconteceu, apesar de no meu coração, eu saber que não aconteceu nada de mais. Ela segurou meu olhar com firmeza e continuei. Falei sobre meus medos, minha insegurança quando ela falou em filhos, sobre a falta que eu senti dela ao meu lado, sobre a minha burrice em não ter conversado abertamente e ter deixado o distanciamento afetar o nosso amor. Contei sobre a noite anterior, a ida para o hotel, jurei que eu não tinha ido novamente ao apartamento da Quinn e que em sã consciência eu nunca teria posto meus pés lá. Ela deu um sorriso tímido. Finalmente falei do meu amor, da única coisa que me mantinha são nesse meio louco, que é ela, minha rocha, minha vida, o meu verdadeiro sonho. Disse que largaria tudo se ela quisesse, sem arrependimentos, sem cobrança, ela é tudo o que vale a pena, por ela eu voltaria para Lima, para onde ela quisesse, acamparia no Central Park se ela fosse feliz lá, porque a minha felicidade era a dela. Vi seus olhos se encherem de lágrimas e as mesmas correrem por suas bochechas vermelhas do frio, aquilo me impulsionou e me ajoelhei aos seus pés, sequei as lágrimas com meus dedos trêmulos, ela soluçou e tocou minha mão, a puxei em meus braços e a embalei como criança, afundando meu rosto nos seus cabelos, sentindo seu cheiro, sua suavidade, choramos juntos, sem dizer mais nada. Eu estava exatamente onde queria, com ela nos meus braços. Ficamos assim, por horas, senti que ela se acalmava e durante todo o tempo rezei pra que ela nunca mais saísse de perto de mim.

Senti seu suspiro suave e ela fez menção de sair daquele casulo que criei para nós dois. A deixei ir, já sentindo o vazio, tentando controlar meu medo, esperando a decisão que definiria meu futuro.

- Voce, leu a carta? – ela me perguntou

- Sim. – respondi nervoso – Foi duro ler aquilo, ver o sofrimento que eu causei em você, eu nunca quis isso, você precisa acreditar nisso, Rach.

- Eu acredito – ela sentenciou- poderíamos ter evitado tanto sofrimento. – as lagrimas voltaram – Voce me falou de seus medos, sobre filhos, sobre voltar a Lima.

Eu assenti.

- Eu nunca quis limitar um lugar Finn, eu ficaria com você em qualquer lugar do mundo, o espaço geográfico nunca foi um problema para mim, eu só queria te fazer feliz e em algum momento eu percebi que eu não estava conseguindo isso, eu falhei nisso. – sua voz sumindo aos poucos.

- Não, Rachel, não. Eu falhei com você, deixei a fama e o sucesso subir a cabeça. Voce estava certa ontem quando disse que eu esqueci minhas origens, eu esqueci a pessoa mais importante da minha vida. Mas eu não quero essa vida pra mim Rach, não quero um futuro sem você, em qualquer lugar do mundo. Eu deixei meu sonho me dominar e eu percebi antes mesmo de ler sua carta, que meu sonho só é completo se eu puder dividir com você. Me de outra chance, me de a chance de provar que você é tudo o que eu quero, você é mais que qualquer sonho estúpido de fama e sucesso que eu possa ter tido um dia. Eu preciso de você, da casinha com cerca branca, das crianças correndo pela casa, um casal, ou dois, três, quantos você estiver disposta a me dar. Por favor Rachel, me de outra chance. – minha garganta se fechava em angustia.

- Eu estou insegura Finn, não sei se você me quer por amor ou por obrigação, por um senso de responsabilidade idiota, eu sei me cuidar, não quero piedade e conformismo.

- Como? – me senti perdido – Piedade? Conformismo?, Porque eu faria isso Rachel? Só tenho meu amor pra lhe oferecer, não to entendendo. De onde vem isso?

- Vo...ce, não viu a caixa? – Rachel gaguejou

- Caixa? Que caixa? – perguntei curioso

- A caixa que deixei junto a carta? Em cima da mesa. – explicou

- Não tinha caixa nenhuma, quando cheguei ontem a noite, encontrei a carta presa na cera da vela, as janelas abertas... só se...- falei indo em direção a mesa e la estava, uma pequena caixa embaixo da cadeira. – Essa caixa? O que tem nela?

Rachel respirou fundo, uma, duas vezes.

- Então você não sabe? – falou aliviada me dando um sorriso lindo. Ahhhh, como senti falta desse sorriso.

- Sabe o que? O que tem na caixa?- fiz menção de abrir, mas ela foi mais rápida e tirou das minhas mãos.

- Rachel, por favor, fale comigo.

- Finn, eu estava me sentindo tão sozinha, tão abandonada, mas eu sabia que precisava ser forte, precisava continuar, porque alguém dependeria de mim. Eu realmente, liguei várias vezes pro teatro ontem, falei com varias pessoas, deixei inúmeros recados...

- Voce deveria ter ligado direto pra Quinn, Rach, sei que não gosta dela e entendo, eu mesmo só a aturo por ela ser uma profissional competente... – argumentei

- Todos os recados que deixei foram pra ela Finn, eu falei com a Quinn diversas vezes, em todas ela me disse que você estava muito ocupado e que assim que fosse possível retornaria. – eu olhava atônito

- Não recebi recado algum. – balbuciei confuso

- Na ultima vez que tentei, ela ficou nervosa e perguntou o que eu queria com tanta urgência, ela lhe daria o recado na integra, palavras dela. Então eu não tive outra escolha a não ser dizer.

- E qual era o recado? – perguntei carinhosamente

- Era uma comemoração na verdade, eu preparei seu prato preferido, e esperei, esperei, mas você não apareceu, ai chegou daquele jeito que você sabe e eu... eu me senti um nada. – fungou baixando a cabeça.

- Rach, você tem que acreditar em mim. Não recebi recado algum, eu jamais te trocaria por qualquer bebida e conversa de bar. Eu posso ter sido um idiota esse tempo todo, mas eu jamais faria isso com você.

- Eu sei, agora eu sei...talvez ela tenha esquecido de te dar o recado. – ela lamentou.

Foi minha vez de dar uma risada, dessa vez irônica.

- Não foi esquecimento e você sabe disso, mas esse é um assunto que eu pretendo discutir com Quinn Fabray e vai me custar o tempo de procurar um novo assessor. – falei entre dentes.

Rachel deu um sorriso tímido, mas concordou comigo.

- Então, o que deveríamos comemorar? Alguma noticia boa no WIN? Suas crianças estão bem? – eu sorri

Ela me entregou a caixa e disse:

-Abra, ai esta o meu futuro, o meu sonho se tornando real. – seus olhos brilharam como antes.

Peguei nervoso, sem saber o que iria encontrar. Abri vagarosamente e dentro na caixa tinha um outro papel, dobrado, nunca fiquei tão nervoso. Olhei para ela que fez um sinal para que eu lesse, era um exame e eu só uma palavra se destacou e meio as outras: POSITIVO.

- Parabéns papai, bem vindo ao meu sonho. – a ouvi sussurrar.

Comecei a rir e chorar ao mesmo tempo, a emoção que eu senti, superou tudo, superou a sensação de ter minhas musicas tocadas para centenas de pessoas, superou os aplausos e qualquer reconhecimento que possa ter vindo disso tudo. Eu seria PAI, eu teria um filho ou filha, com a única mulher que amei e sabia que amaria pra sempre, minha alma gêmea. De repente sua mão pegou a minha e levou-a de encontro ao seu ventre e ali eu me perdi, me joguei a seus pés e beijei, acariciei, fiquei por um tempo indeterminado ajoelhado saboreando a sensação de felicidade plena. Ali, naquela posição incômoda, jurei que nunca as deixaria, que minha vida seria a delas e por elas eu viveria novos sonhos. Sonhos de amor, de príncipes e princesas, cavalo branco e arco iris, amor incondicional e eterno.

Levantei, olhei mais uma vez nos olhos que eram as janelas da minha alma e falei alto e claro:

- Eu amo vocês.

Ela sorriu e me beijou, foi um beijo cheio de sentimentos, doçura e eu percebi a falta que sentia dos seus lábios nos meus, a peguei no colo e a levei para o nosso quarto, onde o seu sonho foi concebido e onde o meu se futuro se definiu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Enquanto houver um louco, um poeta e um amante haverá sonho, amor e fantasia. E enquanto houver sonho, amor e fantasia, haverá esperança.
William Shakespeare