Procura-se um Sangue Azul escrita por Mia Peckerham


Capítulo 5
Entre perguntas e propostas


Notas iniciais do capítulo

--> Ophélia seria como a presença de Deus; uma divindade no qual o povo acreditava naquele reino.

—-> Essa história é original, portanto todos os personagens foram criados por mim. Você não tem permissão para usá-los em suas histórias.



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– Curve-se enquanto há tempo... - Um dos guardas aconselhou a moça. - Os nobres vêm aí, e são bem mal acostumados.

– Cheios de frescura... - O outro concordou.

A moça não se moveu. Encarava a porta com firmeza no olhar, e uma pitada de ódio por estar ali. Culpa daquele desgraçado metido à príncipe. Ela arrancaria dele as tripas e o faria engolir sua maldita coroa, se tivesse a chance. Atiraria uma flecha no meio de sua testa e cortaria seus pulsos pelo prazer de vê-lo sangrar.

A porta se abriu totalmente e a família real apareceu. Não se moveram até que chegou um infeliz e tocou uma corneta, anunciando sua entrada.

Aquela corneta provocou dor de cabeça imediata na prisioneira. Ela não suportaria viver num castelo onde se acorda, passa o dia e vai dormir ao som daquelas miseráveis cornetas.

A família real dirigiu-se aos tronos, e cada um sentou-se em seu lugar: o Rei e a Rainha no centro, estando a Rainha à esquerda do Rei; ao lado dela, seu filho mais novo, Martin Bellafonte. Ao lado do Rei, Zeke - o Idiota Real - Bellafonte, e ao seu lado, seu irmão mais velho, Arthur Bellafonte.

Nada disseram até que o Rei pigarreou, limpando a garganta.

– Tomarei a palavra, se todos estiverem de acordo - ele disse.

Ninguém interviu, reclamou ou se opôs à sua decisão. A Rainha parecia insatisfeita, mas concordou com o marido. Os filhos do Rei não pareciam se importar. A prisioneira queria subir naquele altar e esmurrar o belo rosto nobre de Zeke, mas apenas cerrou os punhos e ficou quieta.

– Diga-me, moça: qual o seu nome? - O Rei perguntou, dando início ao questionário.

A prisioneira abriu a boca, pronta para falar, mas mudou de ideia por algum motivo que ela mesma desconhecia. Isso se repetiu algumas vezes, e o Rei insistiu que ela falasse, sempre demonstrando paciência.

– Você fala? - O Rei questionou, cuidadosamente.

A moça balançou a cabeça, confirmando que sim.

– Então, por favor, deixe-nos saber qual é o seu nome.

Ela suspirou. Não tinha jeito, insistiriam até que ela falasse.

– Me chamo Erica, senhor - ela respondeu.

– De que sangue? - Outra pergunta, dessa vez referente à família.

– Erica Montrio, senhor.

– Qual é sua idade? - O Rei perguntou, sorrindo.

– Vinte e dois anos, senhor - a resposta veio. Erica não gostava de ter que chamá-lo de senhor, mas ele era o Rei, e assim era aconselhável.

– Uma idade muito boa... - O Rei disse, coçando a barba. Por um instante ficou tão pensativo que Erica teve medo que ele estivesse tendo alguma ideia maluca à seu respeito. Mas ele apenas continuou: - Conhece as leis, não conhece? Digo, as leis desse reino.

Ele se levantou e abriu os braços, como se quisesse abraçar a sala do trono. Erica permaneceu em silêncio absoluto.

– Está vendo aquela porta, ali no fundo? - Ele apontou para a porta de mogno vermelho. - Ali atrás está meu gabinete. Minha sala, só minha. É lá que escrevo as leis que mantém o meu reino em ordem.

Ele fez uma pausa e parou de frente para a moça. Observou-a da cabeça aos pés e depois dos pés à cabeça.

– Minhas leis devem ser obedecidas - ele disse, calmamente. - Portanto, novamente eu lhe pergunto: conhece as leis?

Erica respondeu que sim, sua voz saindo tão baixa que era quase inaudível.
O Rei, por sua vez, gritou:

– Ótimo! Agora, conhece também as leis da Arena?

Erica não respondeu, mas conhecia. Conhecia todas elas. Sabia que corria riscos maiores do que ser derrotada durante as lutas. Corria o risco de ser descoberta.

– Ezekiel! Meu filho querido! - O Rei gritava. - Sabe quais são as leis da Arena?

Zeke se endireitou em seu trono, mas não se levantou. Olhou para o pai, estreitando os olhos. É claro que sabia as leis; ele e seus irmãos passaram a infância toda lendo o livro de leis do Reino Bellafonte. Onde é que seu pai pretendia chegar?

– É necessário que sua idade seja de, no mínimo, dezoito anos - Ezekiel começou. - Não se pode levar crianças para assistir às lutas, nem, de preferência, mulheres, apesar de ser opcional. Os lutadores que matarem terão que pagar uma taxa de vinte por cento à mais em seus impostos ao Rei, durante três meses. O Rei dará desconto de trinta por cento nos impostos à família de alguém que tenha morrido na Arena, durante dois meses. As armas encontradas na Arena podem ser usadas, porém devem ser deixadas ali quando o lutador sair; são patrimônio Real. As armas de lutadores que morrerem ficam na Arena e se tornam patrimônio Real. Caso você use suas armas e não morra, deve levá-las de volta consigo; armas esquecidas na Arena se tornam patrimônio Real.

O Rei assentia, sorrindo:

– Exato! Vamos, continue!

Zeke passou a mão pelos cabelos castanho-claros:

– Idosos não podem lutar; crianças não podem lutar. Animais não podem ser usados como arma, tampouco podem entrar na Arena, e...

O Rei interrompeu, saltitante de tão alegre, um sorriso de orelha à orelha:

– E...? Vamos, vamos! Diga!

– E mulheres são proibidas de lutar - Zeke concluiu, suspirando.

– Exatamente! - O Rei gritou, apontando para Erica. - Percebe? As leis que eu escrevi, as horas que passei dentro daquele gabinete, tendo que escrever letra por letra com uma caneta tinteiro. Horas gastas para colocar meu reino em ordem. E você, Erica Montrio, não está contribuindo...

Erica engoliu seco. O Rei parecia furioso. Ela estava perdida. Jamais sairia daquele castelo com vida. Fugir era inútil, e seria condenada à pena de morte. Para qualquer lado que fosse, no final acabaria morrendo.

– Mas - O Rei continuou. Para surpresa de Erica, sua agitação havia ido embora, e agora ele estava sério, mas não dava medo -, gostaria de entender porque fez aquilo. Porque foi à Arena?

Erica não respondeu. O Rei suspirou; ele queria mesmo saber o motivo. Sabia, olhando nos olhos azuis como o céu daquela moça, que não tinha ido lutar apenas por diversão, e sabia o quanto ela queria sair logo dali.

– Seus pais sabem que você luta? - Ele perguntou.

– Meus pais encontraram Ophélia, senhor. - Ela respondeu. - Isso foi há muito.

O Rei balançou a cabeça:

– Então não tem família?

– Tenho um irmão - Erica respondeu. - Tem seis anos. Tomo-o como filho. É por isso que vou à Arena, senhor. Precisamos do dinheiro.

O Rei pareceu compreender; balançou a cabeça, satisfeito com a resposta que revelava tanto sobre a moça. Daragh entendia, agora, como a moça era corajosa. Mais do que ele pensava ser. Mais do que qualquer outra dama que já conhecera.

– Entendo... Grande coragem, a sua - O Rei disse, a voz suave e baixa, acariciando sua barba branca. Parecia pensativo, e um tanto mais sábio.

Deu algumas voltas, encarou a esposa e seus filhos, e depois ordenou, gritando:

– Guardas, retirem-se!

Obedeceram imediatamente, e ainda saíram pedindo licença.

– Martin, está dispensado. Tire o resto do dia para cavalgar. Precisa treinar suas montarias - o Rei disse à seu filho mais novo. Depois, dirigiu-se ao mais velho: - Arthur, você tem mulher e filhos; passe seu tempo com eles.

Ele fez uma pausa para ponderar as escolhas que estava fazendo. Pareceu não se arrepender, portanto continuou:

– Ezekiel, leve a moça em segurança até sua casa. O que tiver de ser decidido, não será neste momento. Eu e sua mãe precisamos discutir à sós.

Zeke desceu do altar antes de seus irmãos. Parou ao lado da moça e olhou dentro de seus olhos. Pôs a mão no punhal da espada, pronto para sacá-la se fosse preciso.

– Ande - ele disse. Erica obedeceu.

O príncipe abriu a porta de esperou que ela passasse. Ia escoltando-a pelo corredor de pedras, e depois pela escadaria de marfim.

Ao descerem o último degrau, Ezekiel agarrou a moça pelo braço e, com rapidez impressionante, puxou-a para trás e tapou sua boca, para que não gritasse.

Sussurrou para Erica:

– Eu não vou machucar você. Precisamos conversar.

Arrastou a moça para debaixo das escadas,, onde havia um espaço vazio e escondido entre a parede e os degraus.

Zeke virou-a cuidadosamente, sem descobrir sua boca. Vagarosamente tirou sua mão dos lábios de Erica, sempre sussurrando para que ela não gritasse.
Erica manteve-se em silêncio. Se gritasse e Zeke a acusasse de estar fingindo, provavelmente a razão estaria com ele, então preferiu obedecer ao príncipe.

– Quero lhe propor algo - Zeke sussurrou. Erica não deu resposta, então ele continuou: - Gostaria de competir para ser minha esposa?


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Notas finais do capítulo

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