Procura-se um Sangue Azul escrita por Mia Peckerham


Capítulo 26
Capítulo Bônus - O Ferreiro e os Órfãos


Notas iniciais do capítulo

Ta bom, acho que depois do capítulo do casório [que foi UMA BOMBA PRA MIM] a gente pode descontrair um pouquinho, não é?
Talvez, quem sabe, um conto bônus, uma história pacífica e sem mortes...

MAS COMO A ESCRITORA É MIA PECKERHAM, QUE ESTÁ LOUCA PARA FAZER PARTE DA LISTA DE ASSASSINOS RENOMADOS TAIS COMO GEORGE R. R. MARTIN, RICK RIORDAN, KIERA CASS, VERONICA ROTH E SUZANNE COLLINS, VAI TER MORTE SIM :D

Bom divirtam-se, porque eu tô me divertindo muito hehehehehehe
E se vocês estão pensando que nesse cap. não vai ter ~feels~, podem tirar Odil, Kahal e qualquer outro cavalo da chuva, porque vai ter ~feels~ sim ;-;

Resolvi escrever um pouco sobre a relação Baruc-Kirk-Erica e também sobre o pai dos dois, o filho do Baruc, a esposa dele... Enfim, uma chacina entre duas famílias... Eu preciso de tratamento ;-;

Espero que gostemmmm ;D
13 beijões de luz, meus caros!! :*



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Helena corria como uma condenada. Talvez estivesse condenada, mas Erica não entendia. Chamava sua mãe, mas ela pedia silêncio, e como a boa filha que era, a pequena obedecia.

Com Kirk no colo e grávida novamente, Erica desconfiava que sua mãe não podia estar correndo tanto assim. Preocupava-se com o que poderia acontecer. Não sabia do que estavam fugindo, mas devia ser importante. Seu pai, Fermo, a acordara no meio da noite, uma espada em suas mãos, todo ensopado pela chuva e água do mar do convés. O navio estava atracado num porto desconhecido e chovia pesadamente lá fora. Erica sentou-se na cama, sonolenta, e seu pai a abraçou forte e chorou em seus ombros.

— Quero que proteja sua mãe até não poder mais protegê-la, e cuide para que Kirk também esteja bem. Quando nascer o seu irmãozinho, coloque nele o meu nome.

O homem a beijou com força as bochechas e a empurrou pela janela para o lado oposto ao convés. Sua mãe a esperava ali, e correram de mãos dadas pelo porto. Era noite e Erica não via nada além das lanternas acesas no barco de seu pai, que ficava cada vez mais distante, perdido na névoa da chuva.

— Mamãe, não podemos deixá-lo! – ela dizia.

— Faça silêncio, querida – Helena respondia sussurrando. – Seu pai sabe o que faz.

Helena grunhia de dor enquanto corria, e Kirk em seu colo chorava. O pequenino estava enrolado numa grossa pele de animal, mas a chuva já havia encharcado tudo. Helena usava um simples vestido de malha fina que ela mesma costurara, cinzento, colado ao corpo, com bordados azul-escuros nas mangas e no decote comportado. Erica não gostava de vestidos, portanto usava calças, uma camisa de botões branca e suspensórios que seu pai gostava de vê-la usando. Achava graça.

E tinha graça mesmo. Erica era a cara de sua mãe, uma graça por si só. Os cabelos negros presos em tranças molhados pela chuva faziam com que seus traços de criança parecessem ainda mais definidos. Os olhos azuis como um céu límpido de nada adiantavam agora porque não poderiam ser vistos, tamanha era a escuridão.

Com um som abafado e fátuo, Helena de repente caiu. Erica parou em seu lugar sem saber o que fazer, enquanto sua mãe, deitada no meio do nada, grunhia e puxava o ar para dentro como se não houvesse mais ar para ser puxado. A garotinha se aproximou de sua mãe e afastou os cabelos que grudavam em sua testa e bochechas, ensopados.

Helena urrou como algum animal; um ano atrás ela fizera o mesmo, só que dentro do navio, e Erica estava lá também. Foi quando Kirk nasceu.

Kirk!, Erica pensou.

Ouvia o choro do irmão, que provavelmente estava atirado em algum canto, caído como sua mãe. Helena o derrubara em sua queda. Erica rondou a mulher até encontrá-lo, uma trouxinha trêmula de carne e ossos ensopada até a alma. Pegou-o no colo delicadamente e deu uma rápida estudada em seu corpo para saber se tinha se machucado.

Estava a no máximo um metro de sua mãe quando escutou o som de passos acelerados contra a madeira do píer. Helena soltou um grunhido diferente, quase como um choro, e Erica foi até ela. Achava que sua mãe não teria forças para fazer nada até que desse à luz seu irmãozinho, mas para sua surpresa a mulher agarrou-a com força e puxou para perto. Sua voz saiu fraca, morta, distorcida, mas mesmo assim ela esforçou-se em dar seu recado:

— Pegue Kirk e fuja. Corra o mais rápido que puder e vá o mais longe que conseguir, e não volte mais.

— Mas e você? – Erica sussurrou. – Não posso te deixar aqui, no chão. Está frio. Está chovendo.

Helena sorriu para a filha. Até mesmo seus sorrisos eram parecidos.

— Vou ficar bem. Agora vá.

O som dos passos estava muito próximo agora, e Erica ouviu uma voz masculina gritar “Ali, encontramos!”. Escutou o som de lâminas sendo tiradas de suas bainhas e, aterrorizada, agarrou Kirk e correu para um beco perto de onde sua mãe estava.

O beco era coberto e lá não havia chuva, e Kirk parara de chorar. Erica se escondeu atrás da cortina de névoa, ajoelhou-se no chão seco e espiou.

Os guardas navais rondaram sua mãe, no chão, mas não tentaram ajudá-la. Helena também já não tinha forças para implorar por ajuda, não no meio de um trabalho de parto. O pai de Erica falara muito sobre aqueles guardas que, como tinham autorização escrita de quase todos os reinos, acabavam por ser corruptos que invadiam navios à surdina, matando seus tripulantes e saqueando qualquer coisa que fosse de valor. A pequenina ligou os pontos. Sabia, então, o que tinham feito com seu pai, e também o que iam fazer com sua mãe e seu irmão ainda por nascer. Detestava a ideia de abandonar Helena assim, indefesa, mas se não corresse, Kirk e ela seriam os próximos.

Quero que proteja sua mãe até não poder mais protegê-la, e cuide para que Kirk também esteja bem. Ela inconscientemente fizera essa promessa para seu pai, mas não estava quebrando-a. Contou os guardas navais e eram quatro ou cinco; Erica não conseguiria proteger Helena mesmo que tentasse muito.

Foi para o fundo do beco com Kirk deitado em seus braços e apoiou-se na parede. Ouviu o último urro de sua mãe e o som metálico de uma espada que varava a carne e atingia o solo. Fechou os olhos para não pensar na cena que não havia visto, mas era em vão.

Os passos dos guardas se afastaram Erica ouviu o som de algo pesado caindo na água. Helena, provavelmente. E a chuva se encarregaria de lavar o sangue do píer. Kirk espirrou e a garotinha torceu para que isso não chamasse a atenção dos guardas, mas o barulho da chuva encobrira o som agudo.

Exausta e inconformada, Erica apoiou a cabeça na parede do píer. Acabara de perder seu pai, sua mãe e um de seus irmãos. Considerava-se muito nova para já ter passado por isso. Seu corpo se encolheu e ela pôs-se a chorar. Chorou até que tudo ficou escuro à sua volta, e ela adormeceu.

***

Erica sentiu algo duro entre suas costelas e ao abrir os olhos viu que alguém a acordara.

Era um homem enorme, devia ter quase dois metros de altura, senão isso. Sua pele, esticada e parda, era lisa e oleosa; ele tinha vincos pesados na testa e nos cantos da boca, dando a ele sempre uma expressão de curiosidade, a mesma expressão com que ele encarava Erica e Kirk agora. Suas sobrancelhas eram tão escuras e espessas que assustaram a garotinha. O homem a chutou outra vez entre as costelas com a ponta da bota e Erica levantou-se num sobressalto.

— Q-quem é você? – ela grunhiu. – O que você quer?

O homem a encarou, ainda curioso, e se aproximou. Erica deu um pulinho para trás:

— Afaste-se! Você não pode encostar em mim ou...

O homem gigante revirou os olhos e pegou Erica pelo braço, levantando-a do chão como se ela não tivesse peso. A garotinha sacudiu as pernas e debateu-se, mas ainda tinha que segurar Kirk com sua mão livre, então não havia muito que pudesse fazer.

— Certo – o homem largou-a no chão. – Venha comigo.

Erica o seguiu até um bairro isolado; não tinha mais para onde ir. Subitamente, sentiu frio. Não estava acostumada com aquela temperatura porque fazia calor na maioria dos reinos onde o navio de sua família atracava, mas ali nevava incessantemente. A chuva da noite passada havia congelado sobre telhados, ruelas e plantas, cobrindo tudo de branco.

Logo que chegou à casa do homem de sobrancelhas felpudas, correu para diante da lareira. Deitou Kirk no chão, diante do fogo. O garotinho acordou, abrindo os gigantes olhos azuis, e Erica lembrou-se de sua mãe e da promessa que fizera a seu pai de protegê-lo.

— Onde estão seus pais? – O homem perguntou sentando-se ao lado de Erica, num banquinho.

A garotinha baixou a cabeça:

— Foram mortos. Pelos guardas navais na noite passada.

O grandalhão arqueou as sobrancelhas. Tinha olhos negros e bondosos. Ele suspirou:

— Sou Baruc. Sou ferreiro. Qual é o seu nome?

— Erica Montrio – ela respondeu e apontou para seu irmão. – Este é meu irmão, Kirk.

O ferreiro assentiu. Viu que a garota tremia e apontou para uma pequena sala num canto.

— Ali, vai encontrar roupas secas e quentes que a sirvam.

Erica entrou no quarto e ali havia um berço de madeira pintado de azul, da cor do céu, e um baú aberto cheio de roupas fofas. Erica vestiu Kirk com um macacão de mangas longas e encontrou um para ela também. Todas as peças eram pequenas demais para serem usadas por Baruc.

— Por que você tem roupas infantis naquele quarto? – Ela perguntou inocente.

— Minha mulher as fez para meu filho usar quando nascesse.

— E onde está sua mulher? – Erica estava curiosa.

Baruc desviou o olhar:

— Morreu um mês atrás durante o parto, junto com Boris, meu filho. – Virou-se e encarrou a garotinha outra vez, e até conseguiu esboçar um sorriso. – Vocês se parecem com ela.

O ferreiro separou uma tigela de caldo para Erica e Kirk e deixou-a sobre a mesa. Empilhou um pouco de feno e o cobriu com pele de cordeiro.

— Podem dormir ali se quiserem, e há comida o bastante no caldeirão. Só não vá se queimar. Estarei lá em cima caso precise de mim.

Baruc subiu umas escadas e sumiu por trás da parede. Erica deu um pouco do caldo na boca de Kirk e o menino adormeceu. Passou a tarde toda conhecendo a casa e dobrando as roupas que revirara no baú do quarto de Boris e, quando percebeu, o sol já tinha ido embora, e Erica sentia-se moída.

Deitou-se ao lado de Kirk – que já havia acordado, chorado, comido, e agora dormia de novo – a tempo de ouvir os passos arrastados de Baruc pela escada. O homem a encarou, trouxe um pesado manto e a cobriu até o pescoço.

— Boa noite – ele sussurrou.

— Para você também – Erica respondeu, sorrindo.

Baruc deitou-se numa cama do outro lado da casa e logo estava roncando. Erica virou-se de lado e, antes de adormecer, soube de coração que tinha encontrado um amigo.


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Notas finais do capítulo

Baruc é ou não é a melhor pessoa??? EU AMOOOO ESSE HOMEMMMM ♥



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