Procura-se um Sangue Azul escrita por Mia Peckerham


Capítulo 2
A Arena


Notas iniciais do capítulo

Essa história é original, portanto todos os personagens foram criados por mim. Você não tem permissão para usá-los em suas histórias.



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Acordou bem cedo no dia seguinte, o que lhe deu tempo o suficiente para se aprontar.
Vestiu-se com as mesmas roupas de sempre, colocou um elmo de couro na cabeça (não para proteger-se dos golpes, mas para disfarçar sua identidade) e, em seguida, o capuz. Calçou seus coturnos e olhou de relance para seu irmão, ainda deitado na cama, roncando baixinho. Deu um beijo em sua bochecha - bem de leve; não queria acordá-lo - e saiu.

Caminhou tranquilamente pelas ruas.
De manhã pouca gente circulava por ali, e era quando Eric podia andar e conhecer o reino todo: já vira os campos, os pomares, as lojas, as casas. Até mesmo estivera em frente ao palácio real certo dia.

Mas depois que ouvia as cornetas soando ao longe, sabia que a cerimônia de abertura da Arena havia chegado ao fim, e que tinha que lutar.

Desta vez, fez tudo diferente. Detestava sair da rotina, mas tinha decidido que, pelo menos uma vez na vida, iria aturar a cerimônia de abertura e o discurso do Rei, e a apresentação de sua esposa e filhos.

Chegou à Arena e foi barrado na entrada.

– Senhor Eric! - O funcionário se lembrou dele. Também, era um cara estranho. Não era fácil de ser esquecido. - Apareceu mais cedo que os outros... Sente-se ali; vai ser o primeiro à lutar.

Eric acenou com a cabeça. Não dizia absolutamente nada, não falava com ninguém. Entrou e sentou-se na primeira fileira da arquibancada.

A Arena se parecia com o Coliseu, mas no centro havia apenas um chão arenoso coberto por cascalho e pedras manchadas de sangue seco dos lutadores passados. Havia armas espalhadas pelo chão, que podiam ser usadas à qualquer momento e por qualquer um durante as lutas, mas nunca levadas para casa. Deveriam permanecer na Arena para sempre, já que contribuíam para a diversão do Rei.
As armas haviam sido deixadas ali por lutadores que morreram em combate. Deveriam haver centenas delas jogadas na Arena. Centenas de almas aniquiladas para entreter a Coroa Real.
Matar ou morrer para o Rei engrandecer. Era um lema bem convincente.

Os outros lutadores iam chegando e espalhando-se pelos vários níveis da arquibancada. Em geral, eram maiores, mais altos e mais fortes do que Eric jamais seria, mas ele não tinha medo. Já fizera tanto daquele ritual em sua vida que podia até mesmo reconhecer alguns dos lutadores - aqueles que sempre voltavam e que o queriam morto porque ele, sem querer, arrancou-lhe um dos olhos, deixou uma cicatriz em seu peito, cravou uma adaga em sua coxa que dói só de relembrar... Coisa pouca, apenas detalhes. Eric não ligava nem se arrependia. Faria tudo outra vez, se fosse necessário.

Cornetas soaram. Todos os lutadores já estava ali. Hora do discurso do Rei.

– Bem-vindos à Arena! - Ele gritou. Aquele homem, gordo e grisalho, metido em roupas com detalhes dourados e uma capa púrpura, ria como se estivesse bêbado. - Aqui, vocês lutarão pela honra de seus nomes, para honrar sua valentia, para honrar a família Real!

Eric não ligava mesmo. Parou de prestar atenção no meio do falatório, e só voltou a se importar durante a apresentação dos filhos do Rei.

O mais novo foi o primeiro. Martin Bellafonte, dezenove anos, moreno, alto, físico esportivo. Era a cara da mãe, e agia como tal: nariz empinado e cenho franzido; parecia tomar todo o peso e as responsabilidades da família. Eric julgou-o arrogante assim que o viu.

Depois, o filho do meio. Zeke Bellafonte, vinte e cinco anos, apenas três anos de diferença em relação à Eric. Se parecia com o pai, só que sem toda aquela gordura e o sorriso de bêbado: era loiro, alto e forte (o mesmo físico esportivo de seu irmão mais novo). Ele, ao contrário de seu irmão, parecia não ligar a mínima para tudo aquilo. Sua expressão passiva não se alterou nem durante, nem depois dos aplausos, e Eric não soube qualificá-lo, então apenas o ignorou.

O filho mais velho, Arthur Bellafonte, estava com a mulher e os filhos. Tinha trinta e quatro anos e sua esposa, vinte e sete, e tinha dois filhos gêmeos de sete anos que eram idênticos ao pai, que, por sua vez, era idêntico ao seu irmão mais novo, que era idêntico à sua mãe. A diferença era que Arthur parecia amigável e tinha um sorriso bêbado igual ao do pai.

Todos os filhos do Rei usavam roupas com fios de ouro entrelaçados e capas púrpuras. Foram igualmente aplaudidos ao terem seus nomes citados na cerimônia.
A Rainha não desviou o foco do que estava fazendo nem mesmo quando o público começou a aplaudir seu nome; dava ordens à sua criada e assinava compromissos em um grande rolo de papel creme.

O Rei autorizou o começo das lutas e os nomes de todos os lutadores foram anunciados em sequência.

Eric, por ser o primeiro da lista, foi também o primeiro à entrar na Arena. Seu oponente seria Louis qualquer-coisa, um cara que usava uma sunga com um cinto enorme e botas gigantescas. Parecia um viking moderno e Eric, na realidade, achou ridiculamente engraçado.

Ele entrou rodando um machado nas mãos enormes que tinha. A mente de Eric funcionava à todo vapor.

É só a fachada, ele pensava. Ele é pesado, deve ser lerdo...

Eric entrou desarmado. O viking de sunga ergueu o machado atrás de sua cabeça e gritou. Eric estava certo: ele era lerdo. Conseguiu rolar à tempo de sair do caminho e ver o machado descendo e desenhando uma rachadura no chão.

Eric havia se esquecido completamente do quesito força.
Louis, o viking, era lerdo, pesado e muito forte.

Uma coisa era certa: um golpe daqueles e Eric estaria morto.


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Notas finais do capítulo

Aceito críticas, recomendações e elogios, se for o caso.



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