Procura-se um Sangue Azul escrita por Mia Peckerham
Notas iniciais do capítulo
Pessoal, pessoal, pessoal!!
Hoje eu não vou postar TOP 3 com as perguntinhas porque quero chamar atenção à uma pergunta ainda mais direta (e até um pouco ofensiva) que me fizeram.
Um dos leitores me perguntou qual seria a interpretação de um dos trechos que postei com o Capítulo 3. O trecho é o seguinte:
"Eric permaneceu imóvel, mas já era tarde. Nas arquibancadas as pessoas gritaram "Oh!" em uníssono. O príncipe imediatamente atirou longe sua espada. Poderia ser preso caso desferisse um golpe contra aquela criatura, já que isso era um crime hediondo no reino. Já havia, é claro, machucado-a bastante, mas não sabia que era aquele tipo de gente...".
Ao contrário do alvoroço que isso causou, peço compreensão. Vou explicar o tal trecho.
O trecho se refere à revelação de que Eric na verdade é Erica, ou seja, uma mulher. Apesar das palavras que eu usei ("aquela criatura";"aquele tipo de gente"), EM MOMENTO ALGUM TIVE A INTENÇÃO DE MENOSPREZAR AS MULHERES. Vamos aos fatos: o texto se passa numa época em que homens e mulheres não tinham nem parte dos mesmos direito, e as mulheres NEM SONHAVAM com isso! Historicamente falando, isso aconteceu; essa época existiu, e em alguns lugares existe até hoje. Erica é uma mulher à frente de seu tempo; os outros personagens, nem tanto...
O fato é que, se ofendi alguém, não era essa a ideia. Há dois motivos para o uso daquelas palavras no texto: 1) Concordância com os fatos históricos; se a história se passa em outra época, eu não poderia, por exemplo, dizer que um dos lutadores pagou a entrada VIP para o camarote da família real e tirou uma Selfie com Martin Bellafonte em seu Iphone 6, não é?; 2) Queria manter o suspense até o próximo trecho, no qual uma fala de Zeke revela que o lutador é uma mulher; não poderia pensar numa forma de fazer isso que não fosse a que eu usei. Talvez outro escritor conseguisse, mas eu não. Sinto muito.
Enfim, é só isso. Espero que todas as dúvidas estejam agora esclarecidas e novamente enterradas ;)
Passemos ao cap. novo, então!!! Boa leitura!! :D
Ezekiel montou em seu cavalo e trotou até Notteria. A árvore, majestosamente grande, podia ser vista de longe nas colinas.
Erica supostamente o encontraria lá para que ele explicasse seu novo plano. Um plano que dessa vez tinha que dar certo. Mas quando o príncipe chegou não encontrou a garota.
Ótimo, pensou. Eu devo tê-la assustado... Não devia tê-la beijado. Não devia ter sido tão tolo. Não devia ter posto tudo a perder. Não devia..
Então ouviu o barulho de folhas e galhos sendo pisoteados.
A luz da lua não ajudava muito, mas o pelo louro de Kahal era inconfundível. Erica vinha à trote rápido em direção à árvore. Chegou e parou o cavalo ao lado do de Zeke, e desmontou. Guiou a montaria pela rédea até um galho baixo da árvore e o amarrou ali. Ezekiel sentiu-se envergonhado por não ter pensado em fazer o mesmo e, prontamente, amarrou as rédeas de seu cavalo também.
– Então? - A plebeia disse, impaciente. - É bom que você tenha algo em mente, caso contrário eu vou matar você.
Ezekiel aproveitou que estava realmente escuro e deixou que o nervosismo transparecesse em seu rosto. Erica, de qualquer maneira, não poderia vê-lo. Pôs-se a explicar seu novo plano:
– Eu, pessoalmente, escolherei os guardas que a escoltarão no dia do baile. Vou pagar a eles uma quantia grande de dinheiro às escondidas para que eles a deixem fugir. Meia hora antes do baile, meia hora exatamente, Jade estará esperando com seu vestido. Já tivemos uma breve conversa; aparentemente minha mãe a deixou tão ocupada com os modelitos dela que ela teve de simplificar a costura do seu, mas Jade é uma verdadeira luz, e conseguiu terminar tudo à tempo. Ela também cuidará de seu cabelo e maquiagem. A ideia é que você fique tão bela que nem mesmo o rei a reconhecerá.
– Ah, claro - Erica objetou. - Porque naturalmente não costumo ser tão bela assim...
Ezekiel percebeu então o duplo sentido de sua frase.
– Não foi o que eu disse - corrigiu.
– Tudo bem, deixa pra lá. E o que é que eu terei que fazer diante de todas aquelas princesas e criados e guardas?
– Socializar - o príncipe respondeu. - Fingir. Tudo é uma questão de encenação.
Foi para isso que ele me treinou desde o princípio..., Erica pensou.
– Tudo bem - ela concordou. - E quem é que eu sou?
Ezekiel levantou as sobrancelhas. Não havia pensado nisso, então criou uma princesa aleatória em sua mente:
– Tiffany Mason, você é de um reino pequeno e desconhecido, ainda em formação, muito longe daqui. Sua mãe acaba de morrer durante o parto, juntamente com seu irmão, e seu pai está enfermo. E casar-se com um de nós é a única chance de salvar a linhagem de seu reino.
Erica grunhiu:
– Tiffany? Conheço duas mulheres com esse nome, e ambas são prostitutas.
Ezekiel bufou:
– Escolha o nome que quiser.
– Helena. Era o nome de minha mãe - ela disse.
– Helena Mason. Soa bem.
– É - Erica concordou. - Soa bem.
***
Voltaram ao castelo. Erica amarrou seu cavalo nos estábulos e Zeke fez o mesmo com o dele. Queria muito dizer algo, mesmo que fosse um desejo de boa noite, um xingamento, qualquer coisa. O silêncio de Erica o incomodava demais.
– E-eu.. Eu espero que o plano vá bem - ele disse. Quis bater sua própria cabeça num tronco por ter gaguejado.
– Eu também espero - Erica respondeu, mas foi só isso. Desapareceu pelos degraus que levavam à torre, a barra do uniforme de criada arrastando atrás de si.
***
Erica esperou que a torre a escondesse por completo. Viu o príncipe se afastar dos estábulos e, quando já estava segura de si, saiu e montou no Louro mais uma vez.
O único ponto forte de estar vestindo um uniforme das empregadas do castelo era que, fosse a hora que fosse, os guardas nunca questionavam sua saída ou entrada dos portões. Erica aproveitou-se disso e resolveu ir visitar seu irmão e Baruc.
Os dois estavam vivendo juntos na casa do ferreiro devido à ausência da garota, e ela achava isso ótimo porque confiava que Baruc o protegeria bem.
Parou diante da porta, atou o cavalo à um tronco fincado no solo e bateu. A pequena janela se abriu revelando os olhos frios e as grossas sobrancelhas de Baruc. Ela ouviu uma gargalhada e o barulho das trancas se abrindo.
– Pois não, senhorita? - Baruc caçoou ao abrir a porta e vê-la de vestido. Ela se atirou nos braços do grandalhão num abraço apertado que durou um longo tempo. As saudades eram maiores que tudo. - Senti sua falta, Erica... Kirk também.
Kirk dormia numa cama de peles ao lado da lareira, aninhado com Sören. O gato acordou e miou, espreguiçou-se e veio se esfregar na barra do vestido de sua dona. Ela sentira falta até mesmo do bichano. Deixou seu irmão dormir porque teve dó de acordá-lo, mas sentou-se diante de Baruc para uma conversa séria.
– Preciso de conselhos importantes... - Ela disse. Por um momento sentiu-se grata pelas cores que a lareira projetava em seu rosto, escondendo um pouco a vermelhidão em suas bochechas. - Você, que me conhece desde sempre, me diga: quais são as chances, de zero à dez, de eu estar... apaixonada pelo príncipe?
Baruc arqueou suas grossas sobrancelhas:
– Você? Você e... ele?! Eu diria que as chances são mínimas...
– Acho que não nos conhecemos tão bem assim... - Ela sussurrou.
Baruc riu:
– Eu sei tudo sobre você!
– Qual é a minha cor favorita?
– Cinza.
– Errou! Azul!
– Sempre foi cinza! - Ele gritou.
– Costumava ser cinza... - Erica corrigiu.
O ferreiro estreitou os olhos:
– Quais são as chances, de zero à dez, de você estar apaixonada por esse cara?
Erica fechou os olhos e fez uma careta:
– Sete e meio?
Baruc a fitou, incrédulo. Ela corrigiu:
– Deve ser falta de levar umas porradas na arena... Me dá um tapa na cara.
Ele nem hesitou: bateu com força na bochecha de Erica.
– E agora?
– Oito - ela resmungou.
***
Erica voltou ao castelo sentindo-se exausta, e se lembrou que no dia seguinte teria muito o que fazer. Orla provavelmente não daria sossego à ela nem por um minuto...
Arrancou do corpo o uniforme de criada e atirou-se na cama fofa de seu quarto. Não demorou nem um minuto para que adormecesse. Seu último pensamento foi Kirk deitado com o magrelo Sören, e sobre como ela agora estava tão próxima de conseguir o dinheiro que daria à seu irmão, ao gato e ao seu melhor amigo a vida que ela jamais pensou que poderia dar à eles.
Mas para isso, teria que abrir mão do príncipe...
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