Em Todos os Momentos escrita por Van Vet


Capítulo 8
Otimismo




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Suas mãos estavam geladas durante a decolagem, e, se ela ousasse encostar a orelha contra seu tórax ouviria um retumbar estrondoso vindo do coração. Porém, por fora, Hermione viu Rony manter-se firme e controlado durante todo voo até Coober Pedy. Ele estava sendo corajoso. Desbravando um mundo que não era seu, entregando sua vida à magia dos trouxas – a tecnologia -, correndo o risco de ser conduzido para lugares obsoletos e, ainda assim sorrindo. Sorrindo quando ela olhava-o de relance no assento.

Ele confiava nela. Confiava em sua inteligência, em seu conhecimento num mundo do qual era leigo e tateava as cegas. Rony tinha este desprendimento de arriscar-se e embrenhar-se sem ler uma enciclopédia sobre o assunto antes. Isto era fato.

Mas ali não.

Com aquele olhar que o ruivo mirou-a, segundos antes de a aeronave taxiar na pista e levantar voo, ele quis dizer que tinha medo, mas como ela disse “É seguro!”, poderia ficar bem mais tranquilo. E para passar-lhe mais daquela segurança, e porque adorava estar assim com o ruivo, Hermione passou grande parte da viagem com a cabeça escorada em seu ombro.

Quando chegaram ao aeroporto o clima era mais abafado. Estavam suando, com o corpo dolorido e a garganta seca. Foram até uma lanchonete na praça de alimentação e almoçaram embaixo de um poderoso ar-condicionado, o que lhes trouxe conforto térmico e glicose suficiente para prosseguirem a jornada do lado de fora, no Sol escaldante das cidades circundadas pelo OutBack.

O próximo passo na excursão, e a todo instante Hermione e Rony analisavam rostos de turistas pelo caminho para tentar encontrar os seus pais, era a rodoviária municipal. Chegaram a tempo do ônibus para Alice Springs e acomodaram-se nos assentos do veículo para mais algumas horas de viagem.

— Queria poder aparatar numa hora dessas? — comentou ela, tentando abrir a janela.

— Tem seu lado bom toda essa viagem. Nunca vi tanta coisa do mundo dos trouxas de uma vez só. — argumentou Rony, vendo-a forçar o vidro em vão. — Me deixa tentar.

— Graças a Merlin! — exclamou a morena, quando a janela abriu-se sem muito esforço da parte dele, e um ar abafado, porém veloz veio de encontro ao rosto dela. — Se a varinha não estivesse na mochila a usaria agora para abrir essa droga.

— Você que é fraquinha. — brincou ele.

Hermione mostrou-lhe a língua, e voltou-se para sua bolsinha de mão, de onde tirou um mapa gigante.

— Achei que não íamos usar magia? — murmurou o ruivo olhando para os lados, temeroso de que algum trouxa tivesse visto aquilo, embora o ônibus estivesse quase vazio.

— Para tudo existe uma exceção, além do mais eu sou cuidadosa.

— E eu não? — questionou-a.

Ela semicerrou os olhos ao encarar.

— Preciso responder? — ele fez uma careta, a morena desconversou — Vamos nos situar agora. — e abriu o mapa diante deles.

— Estamos indo para cá? ­ — quis saber, apontando para as delimitações territoriais chamadas de “Alice Springs”.

A morena assentiu.

— Sim. Vamos chegar a Alice lá pelas seis horas da tarde. No dia seguinte, às cinco e meia da manhã, do centro da cidade saí o primeiro ônibus para Yulara. Estaremos nele.

— Yulara... Qual a distância disso aí?

— Por volta de 400 km, Ron. O que nos dá mais ou menos umas cinco horas de viagem.

Ele gemeu. Só de pensar em viagens intermináveis suas costas doíam. Entrar em contato com uma cultura diferente era intrigante, mas estava começando a sentir muita pena dessa vida “lerda” dos trouxas.

— Caramba! O que seus pais foram fazer nesse lugar? Pior, o que leva alguém a vender um pacote turístico para esse fim de mundo?

— Yulara é a cidade mais próxima Uluru. — disse Hermione como se aquilo fosse óbvio.

Rony fez cara de paisagem. Ela revirou os olhos, antes de explicar melhor.

— Uluru é uma formação rochosa famosíssima no OutBack. Tem muitos metros de alturas, diversas grutas, cisternas e fendas dentro dela, isso sem falar em seu grande simbolismo místico para os aborígenes. Ela está localizada praticamente no centro do deserto e atraí milhões de turistas todos os anos.

Ele repousou a cabeça no encosto e vislumbrou-a, sorridente.

— O que?

—Existe alguma coisa no mundo que você não conheça? ­— perguntou.

— Quase nada. — riu, esticando as costas do assento para parecer imponente e alta.

—Porque escolheu a Austrália para seus pais?

Ela voltou a encolher-se no assento e ficou com o corpo virado em sua direção. Rony não tirava os olhos dos delas, e carinhosamente ajeitou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.

— A Oceania é um continente que parece não fazer parte do resto do mundo. E a Austrália é um país ensolarado, sem grandes conflitos sociais, além de ser muito bonito. Acima de tudo, esse lugar, remoto eu diria, pareceu-me improvável como local de busca dos Comensais. — sentindo uma amargura no peito, disse pausadamente — Eu queria que o esconderijo dos meus pais fosse o mais agradável possível.

—Não quero que você chore. — disse ele, vendo os olhos dela brilharem anormalmente.

Inevitavelmente uma lágrima escapou-lhe e rolou pela face. Hermione abaixou a cabeça.

— Por favor, não chore, Mione. — Rony continuou pedindo ao abraça-la prontamente. — Está acabando já. Nós vamos encontra-los agora.

Assentindo, ela realmente conseguiu segurar-se dessa vez, e pensar positivamente.

— Yulara é a cidade turística próxima ao monólito. Eles devem estar lá essa hora. — buscou confortar-se.

— Isso. Eles devem estar comprando aquelas lembrancinhas cafonas, de quando a gente visita um lugar diferente. Como quando nós fomos para Hogsmeade pela primeira vez e trouxemos tanto cacareco sem importância, que ficamos zerados de galeões até o Natal.

— É verdade! — ela viu-se rindo daquelas lembranças.

— E pior, quando a memória deles voltar é bem provável que queimem ou joguem no lixo todas essas bugigangas, de tão bravos que ficaram com o planinho ardiloso da filha deles.

—Não vejo a hora disso chegar.

— Você diz isso agora. Eu não conheço seus pais muito bem, ainda, mas se eles tiverem metade da sua braveza...

— Tudo bem, já conseguiu me apavorar. — concluiu, erguendo a mão.

Ambos riram, e ela, sem cerimônia aninhou-se em seu tórax. Aquela posição entre eles estava tornando-se costumeira.

—Mas eu vou estar lá quando essa hora chegar. Vou aguentar o tranco com você, dizer que a ideia foi minha. — continuou Rony, acariciando-lhe o ombro.

—Acho melhor não. Isso vai diminuir seus créditos com meus pais quando chegar o momento de conhecê-los... melhor. Principalmente meu pai.

— Eu não vou precisar de me apresentar não é? — perguntou em pânico. — Eles já me conhecem!

Hermione ergueu a cabeça para ele.

—Eles conhecem meu amigo, Rony Weasley. — alertou-o, lutando contra um acesso de riso ao ver seus olhos arregalados - Ou achou que seria tão fácil?

— Na verdade, achei sim! — afirmou.

— Então achou errado. — e pôs-se a esconder o riso, cabisbaixa.


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