Em Todos os Momentos escrita por Van Vet


Capítulo 5
A Enfermeira Charlene




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Rony acordou com o rosto colado nos cabelos de Hermione. Abriu os olhos e sentiu-se feliz por ainda estar com o corpo junto ao dela, num abraço, com os corpos em concha, como haviam adormecidos. Houvera uma pequena discussão entre eles na noite passada, seguido de um pedido de desculpas irresistível da morena, e pontuado com beijo longo e espetacular. Isso provava a tese de que a tensão acendia a relação amorosa entre eles. Curioso.

Lentamente, Hermione remexeu-se em seus braços e seu instinto foi trazer o corpo dela para mais perto do seu tórax e continuar ali, por toda a manhã, sentindo o cheiro que emanava dos cabelos da morena. Mas então, ela despertou, virando a cabeça para encara-lo.

O que dizer quando a mulher que você ama acorda em seus braços?Pensou.

— Bom dia. – disse sorridente.

— Que horas são, Ron? —perguntou ela, quebrando a docilidade daquela cena, de vê-la acordar e, quem sabe, receber um sorriso em retribuição.

— Ah... Bem... Não sei.

Hermione desgrudou-se do seu abraço e levantou-se esbaforida, deixando-o com uma expressão confusa. Então, sem dizer nada, pegou a mochila com seus pertences em cima da cadeira e trancou-se no banheiro. Para o ruivo estava mais do que claro que aquele seria mais um dia de obstinação. Desanimado, arrastou-se até sua mochila, pegou um jeans e um camisa. Escorando-se na parede do vestíbulo, trocou-se desanimadamente.

***

Preferindo deixar para tomar um café na rua, depois que voltasse do hospital, Hermione sentiu o peso de sua decisão quando caminhava de encontro ao seu objetivo para aquela manhã, com estômago roncando. Ao seu lado, Rony tentava não transparecer, mas ela sabia que fome dele deveria ser uma multiplicação por dez, da dela.

Continuava se sentido a megera obstinada? Sim. Quando acordou e percebeu que Rony a tomava nos braços, permaneceu mais de dez minutos ali, naquela posição, se questionando se aquilo era real ou não. Apreciou a extasiante sensação de parecer estar protegida no casulo repleto de quentura do corpo dele, mas sabia que o mundo do lado de fora a chamava para longe dali. E foi nesse ponto, quando o ruivo a trouxe para mais perto de si, que ela se deu conta do quão egoísta estava sendo, enquanto seus pais continuavam perdidos como duas pessoas sem identidade, nas paredes fora daquele edifício.

O hospital surgiu diante deles mais lotado do que no dia anterior. Tiveram de se espremer entre uma multidão de pacientes que aguardavam, sentados e de pé, sua vez de serem atendidos no saguão.

Depois de enfrentar uma fila daquelas, a mesma moça que os atendera antes, disse:

— Pois não? – já não parecia simpática, e sim meio afobada com aquela agitação da manhã. Nem sequer fez menção de recordar-se deles.

— Estamos procurando a enfermeira Charlene. — pediu Hermione.

— Sobrenome?

Hermione olhou confusa para Rony.

—Eu não sei o sobrenome dela. Mas ontem você mesma me disse que não era necessário porque ela é muito conhecida por aqui.

— Ah, claro. — resmungou a atendente num deboche, revirando os olhos. —Vou tentar localizá-la, aguardem no saguão, por favor.

E foi então que Rony ficou conhecendo aquele sábio ditado trouxa: tomar um chá de cadeira. A manhã passou diante dos olhos deles, e os mais diversos tipos de pessoas moribundas transitaram ao redor das cadeiras. Se tudo fazia parte de um castigo imenso, por Hermione ter largado seus pais desmemoriados pelo mundo, ele estava sendo eficiente.

Quando Rony voltou pela terceira vez da máquina de refrigerante, que achara uma invenção magnífica por sinal, e Hermione estava prestes a se levantar para perguntar se a mulher havia se esquecido de chamar a tal Charlene, uma jovem estonteante num conjunto de calça e bata branquíssimos, encostou-se na recepção.

A recepcionista fez um sinal com a mão, apontando para os dois, e ela começou a andar na direção deles. Já beirava a hora do almoço e o saguão finalmente havia esvaziado.

— Bom dia. — disse a moça aproximando-se.

De perto era ainda mais atraente. Cabelos negros num corte chanel, rosto maquiado e lábios carnudos, além de um corpo proporcionalmente belo. Era uma estupidez, Hermione sabia, mas no fundo desejou que Charlene tivesse alguns quilos a mais, ou uma fisionomia menos sensual.

— Eu sou Charlene Hill. Queriam falar comigo?

Rony olhou a moça com uma expressão natural, mas a morena controlou-se para não mandar-lhe embora dali enquanto conversava com Charlene.

— Bom dia. Eu sou Hermione Granger – não havia necessidade de apresentar Rony, pensou – e gostaria de lhe fazer algumas perguntas sobre uns pacientes que você atendeu há algumas semanas.

— Se eu lembrar... – deu de ombros.

— Eles se chamam William e Carolyne, sobrenome Granger. Tem idade para serem meus pais. O homem tem os olhos castanhos com pintinhas verdes como...

— Ah, sei! — interrompeu ela - Os turistas malucos?

Hermione ficou séria e não respondeu. Rony encarou-a com preocupação, pressentindo que aquele não foi um bom comentário para os ouvidos da morena.

— Você lembra-se do dia que atendeu os meus pais? — inquiriu Hermione, numa voz fria, dando ênfase nas palavras “meus pais”.

Charlene pareceu entender o recado, porque foi como se tivesse levado um tombo e ficado com a cara rachada.

— Claro. Eles pareciam meio excêntricos para falar a verdade. Seu pai estava tão agitado que fizemos um exame de sangue nele, a pedido da policial, pela hipótese dele estar sob algum efeito alucinógeno.

A morena sentiu-se nauseada.

— A policia se envolveu nisso então? — foi à vez de Rony perguntar.

— Sim, é por isso que eu me lembro deles. Passa tanta gente aqui, todo dia, que fica impossível guardar os rostos. Mas esse casal ficou na minha memória porque além deles ganharem uma pequena nota no nosso jornal local, como os turistas que se banharam no chafariz e destruíram o jardim da praça central, vieram até aqui escoltados por um policial.

— Eles foram presos depois? — quis Hermione saber.

— Não foi um caso de vandalismo para tal. E, além do mais, o resultado do exame do seu pai deu negativo para drogas proibidas, antidepressivos e tudo mais.

— Talvez devêssemos ir na delegacia, Ron. — disse Hermione, levantando-se.

Rony começou a segui-la. Mas então Charlene, chamou-os de volta.

— Esperem! Não acho que a policia vai te ajudar muito nisso, se você estiver procurando seus pais. Você está, não é?

— Sim. — disse a morena com sinceridade — Pois bem, eu, coincidentemente moro perto do parque central e sei de alguém que teve mais contato com seus pais. Um civil, por isso a chance dele dizer mais e perguntar menos é maior.

— Como assim? Quem?

— Tenho um amigo que tem uma agência de turismo nacional por ali, e, naquele mesmo dia que deu no jornal “Turistas malucos nadam em chafariz de mais de 50 anos”, desculpe, mas foi essa a chamada que deu no jornal. Esse meu amigo veio me dizer que os Granger haviam entrado no seu comércio para agendar uma excursão. Detalhe é melhor você se informar direto com ele.

— Onde fica a praça central? – perguntou Hermione angustiada e esperançosa na mesma intensidade.

—Esperem aqui. Vou pegar o cartão da agência na minha bolsa, e um papel e caneta para fazer um mapa para vocês!

— Ela até que é bem simpática. – disse Rony inocentemente, quando Charlene se afastou.

Hermione não argumentou sobre aquela observação, a seu ver, desnecessária.


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