Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 91
Conselhos de Amigas


Notas iniciais do capítulo

Quem nunca pediu conselhos as amigas e cada uma te "mandou" fazer coisas diferentes e ainda ficaram discutindo entre elas tentando te convencer que "ela estava certa"?
É, amigas são isso...rs Por isso as amamos!



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#16/03#

< AAAAHHHHHHHHHHHHH! > — gritaram alto e enviaram o áudio para a amiga assim que ela chegou à parte do selinho.

< Aiii! Loucas. Querem me deixar surda! > — disse Sol depois de ouvi-los, recolocando os fones de ouvido. Ela sorriu de orelha a orelha só por compartilhar com suas melhores amigas o que para ela foi o melhor momento daquele dia.

< Mas é claro que foi intencional, Sol! Deixa de ser ingênua. > — disse Mila após ter ouvido as dúvidas da amiga. — < Ele está afim de você, é óbvio! >

Sol ficou feliz com a dedução da amiga, mas logo colocou os pés no chão. Ana era mais realista.

< Calma ai, Mi. Não faz ela se iludir. Não esqueça que o garoto tem namorada. >

< Iiii. Já vem você, Ana. E daí que ele tem namorada. Isso não o impede de se apaixonar pela Sol e dispensar a outra para ficar com ela! >

< E quem garante que o beijo foi intencional. Pode muito bem ter sido acidental. >

< Caracas, Ana. Vai ser estraga prazer assim lá na China! > — reclamou.

Ouvir aquilo fez o coração de Emília apertar. E se Ana estivesse certa? E se foi acidental e ela estava imaginando coisas? Mas e tudo o que houve antes? Seria Nath um galinha ou seria como disse Mila, ele estava apaixonado por ela, embora fosse namorado da Melody?

< A Ana tem razão, Mi ... Eu não posso ficar me iludindo com um selinho. >

< Viu só o que você fez, Ana! Acabou com a alegria da Sol. > — ralhou a mulata ao perceber pela voz da amiga que ela perdera a animação. — < Sua insensível! >

< Eu não sou insensível. Eu só estou sendo sincera e realista. > — rebateu. Sol ficou calada. Ela estava pensando no que Ana dissera.

< Realista e estraga prazeres! Um pouquinho de ilusão não mata ninguém, sabia? >

< Se não querem a minha opinião, então que não perguntem e nem me chamem pra conversa. > — reclamou, dando a entender que ia desligar o WhatsApp, mas antes que fizesse isso Sol se manifestou.

< Por favor, meninas, não discutam por causa disso. Não vale a pena! > — pediu, amuada. — < Somos melhores amigas desde crianças. Pra mim a opinião e os conselhos das duas são igualmente importantes. Eu posso até não concordar com uma ou com outra e nem seguir os conselhos, mas as duas me ajudam a ver as coisas de formas diferentes e isso é importante. Então, por favor, não briguem. > — gravou, aparando uma lágrima antes que ela caísse sobre o tablet, pois ela estava deitada de bruços, com os braços apoiados na cama e o tablet a sua frente, embaixo do seu rosto, soltando o ícone do áudio, para que ele fosse enviado. Ela levantou e sentou com os joelhos flexionados, apoiando as costas na cabeceira e o tablet sobre os joelhos.

< Desculpa, Sol. Você tem razão. Mas não se preocupe com a Ana e eu. Você sabe que nós duas brigamos o tempo todo, mas nos amamos.>

< É verdade. Antes vocês ainda tinham o Ken e eu para equilibrar as coisas, mas agora, sendo só vocês duas, não sei como ainda estão vivas.> — comentou voltando a sorrir, lembrando das calorosas discussões entre Mila e Ana quando discordavam de alguma coisa. Ambas têm a opinião forte e custam a dar o braço a torcer.

< Isso é verdade, Solzinha. Sempre que Mila e eu engatávamos numa discussão sem sentido você e o Ken davam um jeito de apaziguar nossos ânimos.> — lembrou, saudosa. < Eu sinto falta destes momentos. Eu queria que o Ken participasse destas nossas conversas "made in WhatsApp." > — comentou. Sol sabia que a mudança no tom de voz dela era mais que saudade do "amigo".

< Eu também queria que estas nossas conversas fossem como antes, em quarteto. > — Sol também sentia falta do amigo, embora não fosse o mesmo tipo de saudade que Ana sentia. < Ele devia pelo menos ligar para dizer como esta. > — Desde que a visitou ele não ligou mais, para nenhuma das três. Elas só sabiam que ele não as havia esquecido porque a mãe dele dizia que ele sempre perguntava delas quando ligava para ela.

< Ei, vocês duas, vamos parar com a seção nostalgia que vocês estão quase me fazendo chorar. > — pediu Mila limpando os olhos marejados. Sua saudade era tanta quanta das amigas, menor apenas que da Ana, mas o foco daquela conversa era outro. < Vocês sabem que a escola militar não está sendo moleza, então deixemos o Kenzito quietinho lá com o pai dele. Tenho certeza que na primeira oportunidade ele vai entrar em contato com a gente.>

< Você tem razão, Mi. > — disse Ana enxugando as lágrimas. Seu maior medo era ser esquecida pelo amigo. Seu maior arrependimento era ter sido medrosa. Sua maior esperança era vê-lo de novo e poder dizer que o que sentia por ele, sem medo.

< Eu sempre tenho razão, Aninha. Sempre! > — vangloriou-se sem um pingo de humildade. As três riram. < Agora voltemos ao foco da conversa. O que você pretende fazer, Solzinha? >

< E-Eu? Ai, Mi. Eu não sei. > — respondeu, mostrando-se totalmente confusa. < É tão confuso. Eu não sei o que ele sente. Eu não sei o que ele quer. Eu não sei nem se ele quer alguma coisa.>

< Calma, Sol. Ou você vai ter um ataque de nervos, de novo! > — lembrou Mila. < Olha, se eu fosse você, não ia ficar pensando muito não. Eu sei que ele tem namorada e que ela é sua amiga, mas se ele gosta de você e você dele, não é justo ficarem separados. Ela que entenda e abra mão dele. > — aconselhou-a.

Mila, como qualquer garota não concorda com traição, mas como grande parte das garotas, acha justificável quando é de interesse pessoal. Isso não fazia dela uma traîte, até porque ela era sincera e jogava limpo.

< Mas nada de jogo sujo. Não faça nada pelas costas dela. Converse com ele ante e se resolvam. E se decidirem ficar juntos, converse com a garota, fale a verdade. Ela vai cortar a amizade com você, isso é fato, mas nunca vai poder te acusar de ter sido desonesta. >

< M-Mas ... >

< Nada de mas, Sol. Você gosta ou não deste garoto >

< Você sabe que sim, Mila. Mas...>

< Então não tem 'mas'. Ou você cai para cima e pega ele para você, ou fica choramingando pelos cantos sofrendo. Ou pega logo, ou esquece!>

< Nossa, Mila. Que belo conselho! Pegar ou largar! Esta parecendo até você com seus chocolates.> — ironizou Ana, sem se alterar, pois não queria começar outra discussão.

< Então me diga, senhorita certinha. O que você faria se fosse ela e estivesse morrendo de amor pelo garoto? > — perguntou estralando os dedos, louca para abrir a gaveta do criado mudo e pegar uma de suas trufas diets, controlando-se, pois ela já tinha comido uma, sua cota diária. "Que droga Ana, por que me fez lembrar deles?" pensou sentindo sua boca salivar.

Diferente de Mila, Ana abominava traição de qualquer tipo numa relação a dois, ainda mais vinda de amiga. Ao ver dela, Sol não podia cobiçar Nathaniel sendo ele namorado da Melody.

< Eu não posso te dizer o que fazer, Sol, pois não estou no seu lugar, mas posso te dizer que se você namorasse um garoto que eu gostasse muito, eu nunca iria me atravessar entre vocês dois. > — comentou, pensando no Ken. Sol entendeu o recado. < Eu mesmo que vocês terminassem, eu ia evitar de todas as formas me envolver com ele antes de você superar o término.>

< Mas e a sua felicidade, onde fica nesta história? > — perguntou Mila, que não concordava com aquilo, embora entendesse.

< Felicidade não se constrói destruindo a felicidade do outro, ainda mais de uma amiga. > — sua voz estava séria. Ela parecia saber bem como era aquilo. < Eu sei que você gosta desse garoto, Sol, mas se a tal Melody é sua amiga, mesmo não sendo uma amizade forte, se ele namorado dela, já é errado cobiçá-lo. Mas isso, até é aceitável, porque a gente não manda no coração; mas mandamos nas nossas ações e se você "cair para cima" como disse a Mila, vai estar se comportando como uma convoité[1], e pior, como uma traîte. Se coloque no lugar dela. Como você se sentiria? >

Ana conseguiu confundir ainda mais os pensamentos da Emília. No fundo ela sabia que querer o Nathaniel para si era errado, pois Melody era sua amiga, mas a cada dia estava mais difícil se manter afastada dele, e depois daquele beijo, mesmo sendo só um selinho, só em pensar em não tê-lo para si era doloroso. Ela realmente não sabia o que pensar ou fazer. Sua razão dizia para ela se afastar, mas seu coração a fazia querer esquecer a Melody.

< Pois eu discordo de você, Ana. Nós viemos a este mundo para ser felizes. É chato quando a nossa felicidade leva outra pessoa a sofrer, mas assim é a vida. E ninguém sofre a vida inteira por amor. A tal Melody vai chorar um pouco, mas depois vai esquecer e partir pra outra. > — disse, tentando justificar sua forma de pensar e agir. Emília concordou em seu íntimo, sem coragem para verbalizar. Ela preferiu acreditar que não falou "eu também acho" para não contrariar a Ana, mas na verdade ela não queria admitir para si mesma que estava com a consciência pesada.

< Você diz isso porque não sabe o que é ser traída por uma amiga e nem o quão grande pode ser este sofrimento. > — Tanto Sol quanto Mila estranharam o tom de voz da amiga. Ana pareceu estar falando de algo que lhe era familiar.

< E por acaso você sabe? Você nunca teve um namorado e é tão BV quando a Sol. > — Mila estaba desconfiada da amiga ter escondido o jogo e já ter se relacionado com um garoto sem contar nada para elas. < Não vá me dizer que você já ficou com um garoto e escondeu isso da gente? > — indagou. Nunca houve segredos entre o quarteto, salvo a paixão de Ana por Ken por razões 'especiais'; ele fazia parte do quarteto e era apaixonado pela Sol.

O silêncio se instalou naquela conversa. Ana não respondeu e Sol se preocupou.

< Ana. Você esta bem? Nós somos amigas, lembra? Você pode nos contar qualquer coisa. >

Nada de resposta.

< Ana... >

< Esquece Sol, ela saiu da conversa. > — Mila ficou mais do que desconfiada. < Aquela filha da mãe esta escondendo o jogo. Ela não confia na gente! > — ralhou, possessa, sentindo-se traída. < Nós nunca escondemos nada dela e ela não nos contou que teve um namorado. Filha da p... >

< Engole o xingo, Mila! > — pediu Sol, interrompendo a amiga no meio da ofensa. < A Ana não é assim. Deve ter acontecido alguma coisa para ela não nos contar. >

< É, eu sei. Mas mesmo assim estou indignada. E aquela sale[2] vai nos contar tudo e é hoje! E se alguma amiga nossa da escola fez ela sofrer eu vou arrancar os cabelos da pétasse! > — ameaçou a possível ladra de namorados, contradizendo naquele instante sua teoria de que no amor vale tudo. Sol a questionou quanto a isso e sua resposta foi rápida:

< O fato de eu não discordar deste tipo de atitude não quer dizer que eu aceite de bom grado ser passada para trás, tampouco ver uma das minhas melhores amigas ser passada pra trás. Ninguém faz você ou a Ana sofrer! > — pela voz ela estava visivelmente irritada.

< Mas e aquele papo de felicidade? > — questionou. Sol estava ficando mais confusa. Mila a estava deixando mais confusa.

< Aiii, Sol. Como você é confusa. Se você gosta do tal Nathaniel e o quer, abre o jogo com a tal Melody e cai para cima; mas se ela não aceitar e declarar guerra a você é um direito dela. Simples assim! É um risco e você corre se quiser, ou não. Tudo depende do tamanho do seu amor por este garoto e principalmente do que ele sente por você! > — Sol ficou de boca aberta, ela sabia que Mila era bem direta, mas não imaginou que ela fosse capaz de sair no tapa por conta de um garoto.

< E não faz essa cara! Posso não estar te vendo, mas te conheço bem e sei que está com uma enorme cara de taxo agora! >

< É que você falou com tanta firmeza que eu achei que você seria capaz de trocar socos por causa de um garoto. >

< Ah, me poupe, Sol. Você sabe muito bem que eu não vou sair no tapa com ninguém, ainda mais por conta de garoto. É só força de expressão, mas que eu vou dizer umas verdades para a talzinha, ah, vou sim! > — disse, aproveitando para alertar a amiga. < Mas não seja boba, amiga. Você sabe que tem garotas capazes de bater na rival pra valer, pra machucar mesmo, então fica esperta. Eu não conheço essa tal de Melody, e de certa forma, nem você. Então fica esperta! >

Sol levou o dedo a boca para roer a unha, preocupada.

"Melody não seria capaz disso! Ela não tem cara de barraqueira, muito menos de encrenqueira. Se fosse a Ambre podia até ser. Mas a Mel? Não, a Mel não!" pensou mordiscando a unha do dedão.

< Pensa bem antes de tomar uma atitude em relação a esse garoto. E enquanto você pensa eu vou ligar para a Ana. Ela vai nos contar esta historia direitinho antes da meia noite de hoje! Aguenta ai que já volto! > — disse, saindo do grupo para fazer a chamada telefônica.

Ana titubeou quando viu a foto da amiga na tela do seu Moto G amarelo, mas atendeu, pois não importava o que estava acontecendo, estando eles bem ou não, nunca ignoravam um chamado dos membros do quarteto; este era um dos mandamentos seguidos por aquelas três jovens – além do Ken –, antes inseparáveis, agora unidas pelas redes sociais.

 

 

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Notas finais do capítulo

[1] Convoité: expressão francesa que quer dizer que a pessoa quer algo ou alguém ardentemente, invejando e cobiçando o que pertence à outra pessoa, equivalente a gíria brasileira talarico(a).

[2] Sale: safada. Pétasse: Piriguete.


Quem é que nunca manteve segredo até mesmo da melhor amiga?
Isso é natural. Há coisas que devemos compartilhar apenas conosco mesmo, pelos motivos que apenas a gente conhece e entende. Ser amiga(o) é respeitar a individualidade de cada um e entender que o outro não tem a obrigação de escancarar sua vida só porque é seu amiga(o).
Quando esta(e) se sentir pronta(o), irá compartilhar, e se não o fizer, não significa que não confie em você, ela(e) apenas se reserva o direito de manter sua privacidade.



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