Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 89
De patricinha a cobra borralheira


Notas iniciais do capítulo

Fim de festa, começo da faxina!



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#16/03#

— Eu não vou usar isso! — reclamou Ambre ao ver que teria que usar o mesmo uniforme usado pelos funcionários da limpeza. — É ridículo!

— Você que sabe minha jovem. É a sua pele que vai ressecar como terra sem água em dia de sol quente. — disse o encarregado de supervisionar o trabalho dela e da Li, entregando-lhes o kit. — Fora o estrago que os produtos vão fazer às suas roupinhas da moda. — debochou. Li segurava as luvas com as pontas dos dedos, torcendo o nariz.

— Ahhhhh. Que ódio! — resmungou tomando o uniforme das mãos dele, indo para o banheiro se trocar.

— Eu nunca mais abro a minha boca nas aulas da prof.ª Nancy, nunca mais! — disse Li enquanto se olhava no espelho após se trocar. Ambre só conseguiu praguejar a professora.

Ao sair do banheiro deram de cara com Nathaniel que estava indo a lanchonete da esquina comer alguma coisa. Como ele não participou da confraternização estava morrendo de fome.

— Você está com fome, Ambre? Vou à lanchonete. Quer que eu te traga um lanche? — perguntou preocupado, pois ela também estava sem comer. Ele segurou o riso, mas seu rosto não escondeu que achou hilária aquela cena. Ver a irmã trajada num macacão laranja de manga curta, luvas de borracha da mesma cor, com o cabelo feito coque no alto da cabeça e uma máscara branca pendurada no pescoço foi um presente, que só perdeu para o selinho roubado daquela tarde.

— Acho bom você tirar este risinho da sua cara, Nath! Eu sei muito bem o que rolou naquele grêmio hoje e se não quer que eu conte a Sra. Shermansky o tipo de servicinho que você presta às alunas quando ela não está por perto, é bom não me provocar. — ameaçou quadruplamente irritada, pois além de ter sido desclassificada, ofendida pelo ruivo e obrigada a faxinar as duas salas, soube que o irmão ficou se "amassando" com Emília na sala do grêmio. Na verdade ela ouviu a Iris sabatinando a Sol enquanto colocavam as caixas no carro e já imaginou mais do que realmente aconteceu. Nath se perguntou como e o que ela ficou sabendo, mas preferiu não perguntar. Ele não queria dar margem para ela se intrometer na vida dele, ainda mais entre ele e Emília. Tarde demais, ela já estava decidida a fazer isso.

— Já que não quer nada, tchau. Boa faxina pra vocês duas! — ele saiu de perto delas antes que a irmã lhe respondesse malcriadamente novamente.

O funcionário que estava supervisionando as duas, um homem extremamente chato quando se referia a limpeza foi bem categórico ao explicar o que elas deveriam fazer. Como Ambre tinha aprontado na competição, Nancy queria que ela recebesse uma "atenção especial" do funcionário. Ela ficou enlouquecida. Além de receber ordens de um faxineiro e ser obrigada a fazer faxina, coisa que nunca fez nem mesmo no seu quarto, ainda ficou com a pior parte do trabalho.

— Li, você vai limpar a sala de Artes. — falou orientando-a sobre tudo o que devia ser feito naquele ambiente. — E não esqueça de encerar o chão e depois polir para dar brilho. — Aquela sala estava tranquila para limpar.

A chineisinha foi para a sala com seu kit de limpeza e encarou o trabalho, cheia de dedos e nojo.

— Enquanto a você, Srta Ambre, vai limpar a cozinha. Antes de limpar o chão, todos os eletrodomésticos precisam ser limpos e lustrados, fogões, fornos, geladeiras e micro-ondas, pois são de inox e a Sra. Shermansky gosta de tudo brilhando. Tudo que foi usado e lavado por seus colegas deve ser seco e guardado no lugar, desde talheres a panelas. Também não pode ter sobra de nenhum alimento na geladeira, então é bom começar limpando ela por dentro e se desfazendo das sobras. — orientou-a. Nem dormindo ela teve pesadelo pior que aquele. — O lixo deve ser separado, orgânicos e recicláveis, e depois descartado nos tambores certos.

— Você está achando que eu sou o quê? — questionou, mas antes mesmo dela terminar sua reclamação ele a respondeu:

— Você é a aluna que atrapalhou a aula de uma professora e que trapaceou numa competição de culinária. Mas não se preocupe, a profª Nancy disse que se a senhorita não quiser realizar as tarefas, eu posso liberá-la, pois não é sua obrigação fazer isso. — informou. Ambre já estava caminhando na direção da porta, toda sorridente, mas antes mesmo de conseguir atravessar, voltou para trás. — Eu só preciso informar a professora para que ela possa comunicar seu pais e pedir que ele venha até a escola para resolverem isso da forma tradicional, com uma reunião na sala da direção. — contou debochadamente. Nath havia dito à professora que tinha que citar o nome do pai ao falar com a Ambre e não da mãe, porque ela tinha medo mesmo era do pai deles.

— Será que você pode calar a boca e me deixar trabalhar pelo menos. — pediu grosseiramente, abrindo a geladeira para começar, a contragosto, seu trabalho.

— Isso mesmo, nada melhor que a vontade de trabalhar. — ironizou, rindo da cara dela. — Eu vou ver sua amiga. E não esqueça, depois de tudo limpo, brilhando e guardado, lave o chão, seque, encere e lustre. A cozinha experimental é um local que deve ser impecável de tão limpo, então nada de corpo mole. Eu voltarei aqui para verificar e se estiver mau feito, vai fazer de novo. — avisou, saindo da sala. A loira rosnou como uma cadela zangada de tanta raiva, depois se ateve ao seu trabalho.

Ela não sabia por onde começar, eram tantas coisas para fazer. O pior era o material de limpeza, ela não sabia o que era nada daquilo nem para o que servia. Ela devia ter prestado mais atenção nas aulas de Economia Doméstica. Nancy havia ensinado sobre os cuidados com a casa.

Escondida do lado de fora da cozinha estava Rosa e seu Galaxy S4 com capa recoberta de strass. Ambre estava protagonizando o melhor filme já capturado pelo celular da colega de escola. "Desta vez você me paga, Ambre. Nunca mais você vai sacanear o Lys!" pensou enquanto filmava a loira, lembrando do cunhado se matando sozinho na biblioteca, segurando-se para não rir alto a cada idiotice que a cabeça oca fazia, entregando-se quando não conseguiu segurar mais e gargalhou ao vê-la se esborrachar no chão, por conta do piso molhado.

Descabelada, molhada, suja, exausta e irritada, Ambre gritou de onde estava, caída perto da geladeira, mandando quem estava rindo dela dar as caras. Rosa desligou o celular, pois não queria que ela soubesse que estava sendo filmada, e apareceu na porta, rindo descaradamente.

— POSSO SABER O QUE VOCÊ AINDA FAZ AQUI, ROSA? VOCÊ NÃO TEM CASA NÃO? — bradou enquanto se levantava.

— Sabe Ambre. Eu estava muito chateada com o Lys porque ele foi embora com o Castiel e me largou aqui sozinha, e mais ainda com meu amorzinho porque ele não veio me buscar, me mandando ir embora de taxi; mas agora eu estou feliz. Como o Leigh não veio me buscar eu pude presenciar este momento hilário da história do Sweet Amoris. Você está divina! — debochou, sem conseguir controlar o riso. Ambre estava vermelha como pimenta, com tanta raiva da cunhada do Lysandre que atirou uma esponja molhada nela, sujando seu vestido.

— Se você acha que isso vai tirar o meu bom humor, Ambre, não vai não. Mas não se preocupe, eu vou embora, preciso contar ao Lys-fofo. Ele vai adorar saber que você finalmente teve o que merece. — falou, pensando: "E ainda vai ter.".

— SOME DAQUI SUAAAAAHHHHHHH!

Ambre até tentou ir até a colega de classe para lhe dizer uns desaforos, mas o piso molhado não deixou. Ela literalmente beijou o chão, de novo.

— Você devia ter colocado as botas de borracha. Este seu sapatinho não é antiderrapante. — comentou Rosa antes de sair, acabando-se de tanto rir.

— SAI DAQUIIIIIII! — Vociferou. Rosa foi embora satisfeitíssima. Ambre não perdia por esperar.

— Posso saber o que está acontecendo aqui, Srta Ambre? — perguntou o encarregado daquele serviço que a ouviu do outro corredor. Ela contou de Rosa, mas ele não quis saber.

— Não me interessa se uma colega te viu e riu da sua cara. Nós não temos o dia todo, então TERMINE LOGO O SEU TRABALHO! — ordenou em voz elevada, calando-a, fazendo-a voltar ao trabalho. Ela contaria tudo ao pai se isso não significasse tirar sua máscara de boa moça.

Quando Li terminou sua parte Ambre ainda estava na metade do trabalho. Ela passou pela frente da cozinha sem o seu uniforme, prontinha para ir embora, e a loira a viu, chamando-a.

— Como assim, você vai embora? Você não pode ir embora e me deixar aqui, sozinha? — reclamou.

— M-Mas eu já terminei a minha parte! — contou a chineisinha.

— Mas eu não terminei a minha! Você tem que me ajudar, então pode tratar de colocar aquele macacão horroroso de volta! — ordenou, mas Li se recusou.

— C-Como assim, não pode me ajudar? Que papo é este que tem que ir embora?

— E-Eu tenho um compromisso mais tarde. Se eu ficar para te ajudar vou me atrasar. — mentiu tentando se livrar do trabalho.

— Compromisso? DEIXA DE SER MENTIROSA! — berrou, indignada, puta da vida. Li queria se mandar e ela não ia deixar. — Você não quer me ajudar, isso sim. E se eu estou com mais trabalho que você é por culpa sua!

— M-Minha culpa? M-Mas eu não fiz nada. Foi você que sabotou a receita da Emília e do Castiel. — embora Li estivesse com medo de contrariar a amiga, não queria ter que limpar mais nada, ainda mais se ela não tinha mais a obrigação de fazer aquilo. — O s-seu castigo é maior que o meu por conta disso.

— Você não fez nada? Sínica! Você estava comigo!

— M-Mas foi você que estragou a receita. Eu só estava vigiando porque você me pediu.

— Pior ainda. Se eu fui pega foi porque você não vigiou direito, então a culpa é sua! — ralhou.

— M-mas, Am-mbre... — tentou argumentar, mas a loira não a deixou falar.

— Mas, nada. Você tinha que ter vigiado e não ter ido atrás do cunhado daquela idiota. — reclamou. — Então a culpa é sua e você vai me ajudar, ou eu juro que vou contar para a escola inteira que você morre de amores pelo Lysandre! — ameaçou.

Li já estava com os olhos cheios d'água. Além de não gostar de brigar com a amiga, ela tinha medo das ameaças da loira, pois sabia que ela sempre cumpria o que prometia. Ela não queria que ninguém soubesse dos seus sentimentos pelo irmão do estilista e dono da Lemaitre.

— M-Mas você jurou que nunca contaria pra ninguém. — lembrou a chineisinha com os olhos a marejar.

Li podia ser descolada, desbocada e tão ousada quanto Ambre, mas justamente por ser como é, Charlote, a mais centrada das três, a convenceu que Lys nunca lhe daria bola, pois além dele ser um garoto difícil, afinal nenhuma garota que se jogou para cima dele conseguiu alguma coisa, ele parecia ser do tipo conservador, pela forma de se vestir e se comportar, então não ia dar bola para uma "espivitada" e que já havia trocado beijos com "alguns" garotos da escola, inclusive da turma dele. E depois que Emília apareceu ela reforçava aquele "conselho", dizendo que ele preferia as garotas certinhas e sem graça.

— V-Você não pode quebrar uma promessa de melhores amigas. — pelo menos, enquanto ele não soubesse, ela poderia interagir com ele de vez em quando.

— O que foi? Está com medo do avoado começar a te evitar? Porque é exatamente isso que ele vai fazer quando descobrir que você é caidinha por ele. — ironizou. — E quer saber de uma coisa. Eu quero mais é que ele te ignore e que você sofra! — disse com raiva, lembrando do ruivo. — Por sua culpa o meu Cast está com raiva de mim, então pode se preparar, porque se eu for ignorada, você também vai ser! — ameaçou com mais ênfase.

Li cobriu o rosto com as mãos para esconder o choro e saiu correndo pelo corredor. Ambre gritou a mandando voltar e a ajudar, mas não adiantou. Ela teria ido embora, mas teve medo do que a "amiga" de infância faria se ela não a ajudasse com a faxina, então se trancou no banheiro para chorar e tentar pensar numa solução.

— Li! Eu sei que você está ai! — disse Ambre batendo na porta do boxe do banheiro, ordenando que ela saísse. — Sai daí e vem me ajudar!

Li enrolou por alguns minutos e depois saiu. Em meio aos seus soluços ela prometeu a Ambre que daria um jeito de arrumar as coisas entre ela e o ruivo.

— M-Mas, por favor, não conte a ninguém sobre o Lysandre. — implorou. A loira aceitou, mas deu um prazo para ela reverter aquela situação, do contrário seu segredo não seria mais um segredo.

Li respirou um pouco mais aliviada, embora não tivesse a mínima ideia de como faria aquilo. Naquele momento ela só queria ganhar tempo e conseguiu.

Enquanto voltavam para a cozinha o faxineiro encarregado da supervisão cruzou com as duas no corredor e as repreendeu, Ambre pela demora em realizar suas tarefas e Li por não ter ido embora. Ela disse que iria ajudar a amiga, mas ele, seguindo as recomendações de Nancy, não permitiu. Ambre tinha que fazer tudo sozinha.

— Mas eu não vou terminar sem ajuda! — reclamou, sem êxito.

— Se eu consigo limpar aquela cozinha e outras salas em poucas horas, você consegue faxinar somente a cozinha. Então pare de choramingar e volte ao seu trabalho. Eu fico na escola até as 19h00min, sendo assim, você ainda tem uma hora e meia.

— Mas com ajuda é mais rap... — tentou argumentar, mas não teve acordo. Ele mandou Li embora e ela, aproveitando a situação se mandou, com cara de "eu não tenho escolha, ele não me deixa te ajudar." Ambre ficou emputecida, mas não disse nada, só voltou para a cozinha e retomou seu trabalho. Ela chorou de raiva.

Nathaniel a viu chorando enquanto fazia a faxina e teve dó. Ele não gostava de vê-la sofrendo, apesar dela ser como era. Ele a amava e havia jurado cuidar dela, então, movido pelo seu coração mole, arregaçou as mangas e a ajudou.

O funcionário que supervisionava a loira não queria deixar o presidente do grêmio ajudar a irmã, mas ele insistiu.

— Você não entende, Nathaniel. São ordens da prof.ª Nancy.

— Eu sei e entendo, mas está ficando tarde. Ela não vai terminar antes das dezenove se eu não a ajudar. E isso significa que você terá que ficar na escola depois do seu expediente, sem hora extra, pois você sabe bem que a cozinha tem que estar impecavelmente limpa e a responsabilidade é sua. — argumentou e mediante tais palavras o faxineiro permitiu, com a promessa do loiro que ele mesmo ia falar com a professora e explicar a situação.

Com a ajuda do irmão o trabalhou rendeu e eles terminaram minutos antes das 19h00min., para alegria do faxineiro.

Nem mesmo um obrigado Nathaniel ouviu. Ele não ligou; já estava acostumado.

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Notas finais do capítulo

Entendeu agora o porque de cobra ao invés de gata?...
Quem tem uma amiga como a Ambre esta feito na vida!...
Mas é como dizem, cada um tem a amiga que merece!....kkkkkkkkkkkkkkk



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