Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 83
Lys sendo Lys


Notas iniciais do capítulo

Quem mandou mexer com quem estava quieto, tão quietinho que estava até dormindo...

A data no alto do capítulo indica que a ação aconteceu depois da meia noite



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/452438/chapter/83

#15/03#

Lysandre teria se enfiado dentro de um dos provadores se pudesse, de vergonha, pois assim que Rosa o avistou, não se segurou e lhe chamou a atenção, achando que ele estava sozinho, mas além de Leigh estar com uma cliente no ateliê, ele mesmo estava atendendo, estando sua cliente no provador. Ela estava tão puta que nem deu bola para a máscara descartável embaixo do queixo dele.

— Você esqueceu como a prof.ª Nancy é chata com trabalho em grupo? Que merda, Lysandre! Eu passei mó carão por sua causa! Custava me avisar!?

— Está tudo bem, meu rapaz?

Rosa quase engasgou ao engolir o xingo. Ela não esperava que ele estivesse atendendo.

— Er... S-Sim, Sra. Scott. Não se preocupe. — respondeu-a, cobrindo novamente parte do rosto com a máscara, para evitar passar sua gripe para aquela cliente. Embora estivesse sem graça Lysandre manteve a pose. — A senhora gostou do tailleur?

— Sim. Ele tem um ótimo caimento e se ajustou perfeitamente no meu corpo. Nem vai precisar fazer ajustes. Como sempre, você acertou no modelo e no tamanho.

— Que bom que a senhora gostou. Deseja ver mais alguma peça além dessa? — perguntou, pegando o tailleur da mão dela, ajeitando-o no braço para não amarrotar.

— Não. Mas também vou levar a calça que experimentei há pouco. — ele não lembrava que calça era. Rosa o fez quebrar a atenção por um instante, mas foi suficiente para ele se desligar do atendimento e esquecer o modelo da calça.

— A senhora poderia me dizer qual o modelo da calça, Sra. Scott? Perdoe-me por minha distração, mas eu realmente esqueci.

— Não se preocupe, meu rapaz. Nós a deixamos no balcão, separada. — lembrou-o, indo na direção do balcão. — E não se desculpe. O estresse tira a concentração de qualquer um. — lançando um olhar pouco amistoso para Rosa.

Lys fechou o pedido daquela senhora de meia idade, envolveu as peças individualmente com o papel de seda timbrado da loja, com todo cuidado que as criações do irmão mereciam, colocou a tag, que além do timbre e endereço da loja, tinha algumas orientações importantes sobre como lavar, passar e secar as roupas adequadamente, e envolveu com uma fita fina de tafetá, e depois, cuidadosamente, colocou-as nas sacolas cartonadas da loja, entregando para sua cliente, que antes de sair mediu Rosa de cima a baixo, fazendo-a saber apenas no olhar que não aprovara seu comportamento. A albina só ficou mais fula da vida.

Centrado no seu trabalho, tirando a máscara novamente do rosto, descendo-a para baixo do queixo, Lysandre acabou ignorando a cunhada, que o encarava fixamente, querendo que ele parasse por um instante para conversarem, mas ao invés disso ele pegou o livro de registro da loja e anotou sua venda e forma de pagamento, para que Leigh não errasse ao fechar o caixa no final do dia. Para não esquecer nenhum pequeno detalhe Lysandre era extremamente metódico no trabalho.

— Interessante como você é atencioso com umas coisas e outras não. Não é Lysandre?! — ironizou, cansada de esperar ele se tocar que eles tinham um assunto pendente. Mas como ele não respondeu, terminando sua anotação, ela se irritou.

— Estou falando com você, Lysandre! — elevou a voz, conseguindo, enfim, sua atenção.

—Desculpe-me, Rosa. Não foi minha intenção te ignorar. Mas você sabe que eu não posso me distrair quando estou fazendo o registro. Um detalhe que eu esqueça pode dificultar para o Leigh fechar o caixa e até conferir o estoque mais tarde. — justificou-se, fechando o livro, pois já tinha terminado de fazer o registro.

— É. Eu sei. Pena que você não é tão cuidadoso quando se trata da escola. Nós quase fomos desclassificados porque você não me contou que tinha feito o trabalho e que enviaria para a professora por e-mail. — reclamou.

Lysandre se sentiu super mal por ter pisado na bola com a cunhada e se desculpou novamente. Mas antes que ele pudesse se explicar Leigh saiu do ateliê acompanhado da sua cliente. Ele a acompanhou até a porta, com um sorriso na face, e assim que ela saiu ele voltou-se para aqueles dois, que só pelo olhar dele já sabiam que estavam ferrados. Ele passou por eles, entrou no ateliê e da porta os mandou entrar.

— Só vou lembrá-los de uma coisa. Esse local aqui é o meu trabalho, a minha loja, resultado de muito esforço e muitas horas de sono e lazer perdidas. Não me interessa quais problemas vocês tenham. Nunca mais os tragam para cá! — chamou-lhes a atenção, super nervoso. — Nossos problemas devem ser resolvidos em casa!

Tanto Rosa quanto Lys não tentaram se justificar, envergonhados por aquela chamada de atenção. Muito sem graça, Lysandre se desculpou com o irmão e saiu, indo para a copa, querendo ficar um pouco sozinho. Rosa também se desculpou, mas Leigh não a deixou sair.

— O que te deu na cabeça para você entrar na loja brigando com o Lysandre daquele jeito, Rosa? Ainda mais estando ele com uma cliente! — indagou-a, sem se alterar, mas sério e com ar de quem estava bravo com ela.

— Me desculpe, vida. Mas hoje ele me tirou do sério. Vira e meche ele faz as cosias sem me contar e eu sempre relevo; mas hoje eu tomei um tremendo esculacho da professora por conta disso e ainda vou ter um desconto na minha nota! — ela ainda estava irritada, mas manteve o tom de voz controlado, pois não era com Leigh que ele estava irritada. — E eu não sabia que ele estava com uma cliente.

— Ele ter vacilado ou não, você estando ou não zangada com ele, não me interessa! Não quero saber desse tipo de postura aqui na loja, nem da sua parte e nem da dele! — repreendeu-a.

Rosa entendeu a postura do namorado com ela, mas ouvir Leigh lhe chamar a atenção só a deixou mais 'P' da vida com o cunhado, que deveria estar ali, sendo repreendido com ela, e mais, se desculpando com ela.

— Você está sendo injusto brigando só comigo, vida. — chateou-se.

— Mas foi você que fez a bagunça, Rosa. O Lysandre manteve a postura, terminou o atendimento e assim que a cliente dele foi embora você recomeçou. Você nem mesmo parou pra pensar que eu poderia estar com uma cliente.  E eu estava. — Rosa não disse nada, só baixou o olhar, puxou o cabelo para frente e começou a alisar algumas mechas com os dedos. — A sua postura foi inadequada e gerou incômodo às clientes. A Sra. Loris preferiu parar a prova de roupa para que eu pudesse resolver a discussãozinha de vocês dois no balcão, e isso porque ela percebeu no meu rosto que eu estava sem graça diante dela.

— Desculpa, vida. Eu não queria te constranger. — se ele continuasse chamando a atenção dela o dia ia acabar em choro. — Mas você sabe como eu sou quando fico nervosa. Eu ajo sem pensar.

Leigh não era um cara insensível, apesar de não ser muito bom em demonstrar seus sentimentos.

— Ah, minha Rosa. O que eu faço com você? — abraçou-a, perguntando o que, afinal de contas, o irmão dele havia feito para ela estar tão zangada com ele, que apesar de achar que, diante dos fatos, ela havia exagerado, não a repreendeu mais. Ele não queria magoá-la. Mas ele precisava justificar o irmão.

— Rosa. Eu entendo que você tenha se chateado por ele ter esquecido de te avisar e até que tenha ficado nervosa por ter sido repreendida por sua professora. Mas você parou pra pensar, por um único instante, que ele podia ter desistido desse concurso, por não estar bem, mas que não o fez porque você quer muito ir àquele restaurante? E olha só. Nem é com ele que você quer ir, é comigo. Depois de nos recolhermos ele lembrou que precisava tirar uma foto do prato pronto e ao invés de deixar para fazer isso pela manhã, ele levantou da cama e foi cozinhar, só pra poder tirar uma foto. Ele teve uma crise de tosse e eu acabei acordando, e para minha surpresa ele estava na cozinha. — contou e Rosa começou a se sentir uma idiota egoísta. — Foi eu quem tirou a foto, Rosa. Eu não podia ir me deitar e deixá-lo fazer tudo sozinho, ainda mais sabendo que ele fazia aquilo por nós dois e não por ele. Fui eu quem fez as pesquisas, hoje de manhã. Antes dele acordar eu sai, fiz as pesquisas e quando voltei montei a planilha e digitei a receita pra vocês. E foi eu quem enviou a sua professora e não o Lysandre. Eu peguei o e-mail dela na agenda escolar dele.

Rosa deu um suspiro longo, envolta pelos braços do namorado, sentindo um aperto no peito. Arrependimento não era um sentimento muito confortável de se sentir.

— Eu vou me desculpar com ele, vida. Prometo. — ela não queria deixar aqueles braços. O cunhado podia esperar um pouquinho.

Leigh sorriu e também se desculpou com ela, por ter se estressado e até por também não ter pensado em ligar para ela avisando que estava fazendo o trabalho deles.

— Eu só aceito as suas desculpas com uma condição, vida. — ela olhou para ele, séria. — Que você me dê um beijo. — então sorriu.

— Só um?

O sorriso dela enlanguesceu e ele a beijou, envolvendo-a mais em seus braços. Ele gostava de senti-la coladinha a ele. Minutos depois a porta da loja se abriu e o aviso sonoro tocou. Leigh tinha que trabalhar, então Rosa foi falar com o cunhado.

Lysandre estava saindo da copa para ir ver se Leigh precisava de ajuda quando Rosa o abordou. Sem aviso ela se pendurou no pescoço dele, num abraço apertado, desculpando-se por sua estupidez.

Ainda sem graça por ter esquecido de avisá-la pela manhã, ele se desculpou e depois de sair daquele abraço, explicou-se.

— Eu só lembrei que tinha que enviar uma foto do nosso prato ontem à noite e como era tarde não quis te incomodar. Mas pela manhã eu acabei esquecendo de te avisar porque foi o Leigh que fez a pesquisa e a parte escrita.

— Eu sei. O Leigh me contou. Eu só pensei em mim e agora estou me sentindo uma idiota. E eu devia saber que se você esqueceu de me avisar foi por ser apenas você. — disse ela, tentando descontrair o clima. Lysandre não ouviu aquilo como um elogio, mas também não encarou como um insulto, embora não gostasse muito daquele tipo de comentário. — E eu também vacilei. Eu mesma podia ter feito a pesquisa e a parte escrita sozinha. Eu vi que você estava melhorando, então achei que podíamos fazer isso hoje, depois que eu saísse da escola, e entregar amanhã. No fim eu fui pedir isso a professora e o resto você já sabe. Eu enfiei na cabeça o que ela havia dito, de termos que fazer tudo juntos, fiquei encucada com isso e não usei o cérebro. Ela nem ia saber se eu fizesse sozinha.

— Bom. Vamos esquecer isso. O que importa é que está tudo certo para amanhã.

— Sim. Vamos esquecer isso, Lys-fofo. — sorriu. — Mas me conta. Se você fez tudo de madrugada, antes do Leigh fazer a pesquisa de preços e saber o custo dos ingredientes que você ia usar, como sabia que não ia ultrapassar o valor? Você inventou os preços? — ela estava tomada pela curiosidade.

— É claro que não, Rosa. Isso seria trapaça. — respondeu, mostrando-se incomodado com a desconfiança. Lys era integro em todos os sentidos, como um típico cavaleiro inglês do século XIX.

— Desculpa. Eu esqueci que você é um lord. — brincou, sentando na cadeira da copa, esperando ele revelar o que havia feito.

— Eu só abri os armários e peguei o controle contábil da casa. — contou, lembrando a cunhada que Leigh fazia a contabilidade das despesas da casa, guardando todas as notas de compras e cupons fiscais até fechar o mês. — Em cima do que tínhamos na dispensa eu fui montando kits de ingredientes que eu pudesse combinar numa mesma receita e que ficasse dentro do valor exigido e ai fui testando algumas ideias. Deu um pouco de trabalho para criar a receita, passei a madrugada cozinhando, mas nada que não pudesse ser feito.

— Criar? Eu ouvi bem? Nossa receita é uma criação sua? — perguntou quase eufórica. — O que você fez, Lysandre?

— Na verdade eu só modifiquei uma receita que eu gosto, por conta dos produtos. — respondeu, sem entender o porquê de tanta euforia. Para ele era natural modificar as receitas.

— Nossa, Lys-fofíssimo! Você é demais! — elogiou-o empolgada, abraçando-o novamente, louca para experimentar a receita. — Eu quero comer o que você fez!

— Não vai dar, Rosa. Fiz só uma poção para testar e fotografar e o Leigh já comeu. E os produtos que tem são para o concurso. — respondeu, mas Rosa estava decidida. Ela queria experimentar, então, como a loja estava tranquila, e com a permissão do Leigh, o arrastou até o mercadinho há duas quadras dali, comprando tudo o que precisava, brincando com o fato de ter que guardar o cupom fiscal para que Leigh mantivesse a contabilidade em dia.

Naquela noite, como de costume, Lys fez o jantar, e mostrando-se ser uma boa ajudante, Rosa o auxiliou no que pode, inclusive lavando a louça. Leigh ficou feliz por vê-los em paz.

Depois do jantar Leigh levou Rosa, que estava sonhando com a vitória, para casa, depois, ao chegar em casa, pegou a travessa na geladeira e jantou novamente, deixando uma pequena poção para o irmão que já havia se recolhido.

Lysandre demorou para pegar no sono aquela noite, pois o irmão trancou sua janela e ficou com a chave. Ele sentiu falta do toque da brisa em sua pele. Ele não tossiu naquela noite, mas teve um sonho estranho. Ao abrir os olhos pela manhã ele não lembrava da música, mas lembrava da sombra de uma mulher trajada de preto dançando enquanto o vento agitava seu cabelo e a longa e fluida saia do seu vestido. Lembrança que se perdeu assim que ocupou sua mente com outros pensamentos, como o concurso.

~~~~§§~~~~


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Segredos e Bonecas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.