Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 63
Vestindo as luvas - parte 9/10 - Vingança


Notas iniciais do capítulo

Eis aqui, depois de ler e reler, corrigir e re-corrigir...rs, o penúltimo capítulo deste flashback. Penúltimo porque passou das 5 mil palavras e eu não gosto de postar capítulos com mais que isso, salvo se não tiver jeito. Capítulos longos tendem a ser cansativos, então gosto de quebrá-los para que a leitura flua melhor.

Espero que gostem...



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CONTINUAÇÃO DO FLASHBACK

Passado uma semana, tendo a dor dos hematomas sumido, ficando uma ou outra marca mais resistente ao gelo, Nathaniel retornou para a escola, daquela vez, acompanhando a irmã, que tinha ordens claras do pai para ficar com o irmão, que deveria cuidar dela.

Aquele não foi uma semana divertida para nenhum dos dois irmãos. Ambre não aguentava ficar grudada com Nathaniel, que pegava no pé dela em relação aos garotos. Ela adorava jogar charme - da última vez a coisa complicou para o lado dela - e bancar a santinha na frente dele a estava aborrecendo. Ela também odiava seu papo cabeça, ter que ficar na secretaria esperando ele terminar de "puxar o saco" da diretora arrumando todos aqueles documentos e ficar muda na biblioteca enquanto ele estudava ou apenas lia seus romances policiais idiotas. E como não podia ser diferente partindo dela, tratou de transformar aqueles momentos do dia nos mais desagradáveis possíveis. Ela queria se livrar do irmão, mas isso teria que partir dele, pois ela ainda estava em baixa com os pais.

Para Nath aquela semana foi difícil de encarar. Além da tristeza pelo desligamento de seu professor, ele tinha que evitar usar o vestiário na presença dos outros alunos e aguentar as chatices da irmã. Ter que ouvir suas futilidades e reclamações já era difícil, mas ter que ouvir as de suas amigas era enlouquecedor. Nem na biblioteca ele tinha paz, sendo convidado a se retirar a semana inteira porque ela não calava a boca nem um minuto sequer. Nem mesmo para o porão ele podia fugir estando grudado a ela.

Mais para o final da semana, Ambre se arriscou pedindo ao irmão que a deixasse ficar no pátio no horário de almoço, com suas amigas. Na verdade ela queria testá-lo, saber se sua tolerância a sua presença já estava no limite. Como Nath estava louco para ficar sozinho e assim conseguir ouvir seus próprios pensamentos e estudar, pois com a irmã por perto era difícil até para pensar, permitiu, fazendo ressalvas sobre seu comportamento, pois se ela aprontasse e fosse descoberta o pai deles seria comunicado e os dois estariam ferrados. Ela jurou que ia se comportar e assim foi feito. No almoço ele foi para a biblioteca fazer uma pesquisa escolar e ela para o pátio com as amigas, mas por pouco não aprontou uma das suas, sendo contida por suas amigas.

Ao ver Castiel sentado sozinho criou coragem e sentou ao seu lado, mas ao contrário de como era com os outros garotos, ela não conseguia jogar charme sobre ele, na verdade ele a fazia tremer e tudo o que dizia soava infantil. Suas amigas diziam que era porque ele era debochado, sarcástico, mas na verdade era sua paixão por ele que a fazia agir como idiota na frente dele. E como sempre, depois de uns 10 minutos sendo invisível a ele, que nem mesmo bom dia dizia a ela, levantou de cara emburrada e voltou para junto das amigas.

— Ah, Ambre, Ambre! Você acha mesmo que o cabeludinho do time de Wrestling vai querer alguma coisa com você? — debochou Guilhermo parando atrás dela. — Ele pode ter qualquer garota que quiser, até as do lycée. — referiu, levando em consideração o fato de o garoto ser bonito, destaque do time de luta greco-romana, das meninas viverem em volta dele e principalmente, dele desprezar garotas oferecidas. — Ele nunca vai querer nada com uma oferecida como você! — alfinetou-a, ofendendo-a, deixando nítida sua opinião sobre ela, que outrora cometeu a besteira de dar a ele seu primeiro beijo. — Nem todo garoto é como eu, que pega qualquer uma, desde que seja bonitinha... e fácil! — murmurou em seu ouvido, indo embora, rindo da cara dela.

Ambre ficou possessa, ela teria voado no pescoço dele, arranhado sua cara todinha, mas Charlote e Li a contiveram. Se ela se metesse em encrencas, ainda mais com Guilhermo, na certa seu pai lhe daria uma surra daquela vez, e se lembrando do irmão, temendo passar pelo mesmo que ele, controlou-se, jurando as amigas que ia se vingar, proferindo os palavrões que seus pais nem sonhavam que ela conhecia. – Ela nunca contou às amigas o que aconteceu naquele dia, por vergonha e pena do irmão.

No final do período, loucos para se livrarem um do outro, Ambre jogou verde e Nath colheu o fruto docinho. Ela deu a dica e ele proferiu o acordo. Eles sairiam de casa juntos, iriam até a escola juntos, mas passando pela portaria do S.A. era cada um por si, cada um para um lado, de preferência o lado contrário ao outro, depois eles voltariam para casa juntos. E como Ambre de boba não tinha nada, tratou de impor uma condição.

— Se vamos ficar separados, não tem como você me vigiar, então se eu fizer alguma coisa que você não goste, não poderá contar aos nossos pais! — disse ela com um sorriso que denunciava sua manipulação. — Se contar eu direi a eles sobre esta proposta que fez, de me deixar sozinha e querer que eu minta para eles.

Nath se odiou por cair naquela conversa, mas como ele queria se livrar dela, aceitou, com a condição de que ela parasse de tentar prejudicá-lo, que um não se meteria na vida do outro, e principalmente, eles resolveriam os problemas entre eles, lógico, desde que as coisas não fugissem do controle.

Naquele meio de tarde, enquanto caminhavam de volta para casa os irmãos Chevalier selaram seu primeiro acordo de irmãos. Claro que Ambre nunca cumpriu a parte de não tentar prejudicá-lo, mas como ela vivia aprontando ele sempre tinha uma carta na manga contra ela, que era obrigada a deixá-lo em paz por um tempo, até que a poeira baixasse. Depois ela aprontava de novo, pois carta antiga não podia mais ser usada no jogo, isso denunciaria que eles não estavam cumprindo as ordens do pai.

Na semana seguinte, depois que todos saíram do vestiário, após uma aula exaustiva de Educação Física com o novo substituto, que apesar de não ser tão legal quanto Guerin, era um bom professor, Nath foi tomar sua ducha. Enquanto procurava sua camisa limpa no armário, vestido apenas com sua calça de sarja azul marinho e de chinelos, alguém se aproximou com passos leves.

— Belas marcas Nathaniel! — debochou ao ver as marcas nas costas do rapaz, que apesar de ter sumido metade devido às compressas de gelo que sua mãe fazia todos os dias, ainda tinham algumas mais resistentes.

Nath não queria que ninguém soubesse, que ninguém falasse sobre aquilo, ainda mais aquele garoto, pois tudo havia começado por culpa dele.

— Deixe-me em paz, Guilh...

— PLAFT!

Nath não teve tempo nem de pensar, quanto mais de completar sua frase. Ele mal se virou para olhar para o Guilhermo e sentiu o tapa da toalha molhada e torcida no rosto. Ele só não caiu porque se chocou com os armários. Com a vista embaçada pelo toque ardido do tecido felpudo embebido da água gelada do bebedouro, ele se virou para Guilhermo novamente, mas antes que pudesse reagir sentiu outra toalha molhada envolvendo seu pescoço, obrigando-o a se ajoelhar, sentindo o tênis do amigo daquele idiota na sua nuca, sobre o cruzamento do tecido.

— Qual o problema Nathaniel? Não consegue ficar de pé? — debochou Guilhermo, de frente para ele, rindo daquele que outro dia havia lhe arrebentado o nariz, tocando o seu que ainda estava com a tala nasal. — Quer que eu peça para o Gerard soltar a toalha? — riu-se da própria covardia. Por ter levado a pior da vez anterior, apesar de Nathaniel ser mais magro e mais novo, não quis se arriscar, então chamou seu melhor amigo para evitar que o loiro o acertasse novamente.

Gerard não dizia nada, só ria e mantinha a toalha engravatada no pescoço do desafeto de Guilhermo, que covardemente socou o rosto de Nath, duas vezes, pois queria ouvir o som do nariz do rapaz quebrar, como ouviu o seu próprio, dias antes daquele. Ele só não deferiu o terceiro porque sentiu seu pescoço ser abraçado pelo braço do único garoto de cabelos compridos do time de Wrestling, que entrou no vestiário em busca da sua jaqueta do time esquecida sobre o banco.

— P-Porra, Cas-stiel. Me solta! — pediu Guilhermo, sentindo-se sufocado naquela gravata. O moreno de rabo de cavalo era um dos garotos mais fortes do time, na sua categoria dificilmente alguém conseguia dominá-lo na luta. — Isso não é assunto seu!

— Nem da sua namoradinha! — respondeu apertando mais a gravata, levando Guilhermo a ajoelhar. — Se ela pode participar da festinha, eu também posso! — ironizou. Guilhermo já estava vermelho por conta da gravata. Naquele momento ele e Nathaniel estavam na mesma situação.

— Solte-o, Castiel! — ordenou Gerard, apertando mais a toalha de banho cruzada no pescoço de Nathaniel, que tentava se livrar daquele grosso tecido branco que já se embebecia do sangue de seu nariz quebrado, mas o máximo que conseguiu foi tocar o pé de Gerard sobre sua nuca, pois este se valia do tamanho da toalha para se distanciar dele. — Guilhermo só está dando o troco no mauricinho!

— E você está fazendo o quê aqui? Contando as moedinhas? — satirizou. Ele odiava covardia. — Se quer que eu vá embora é só soltar o loirinho e sair daqui, comigo! — deixou claro sua posição, com um sorriso que só ele tinha, sorriso que ele dava em meio a luta, antes do golpe de finalização. Gerard, que assistia todas as lutas da equipe de Wrestling sabia exatamente que expressão era aquela na face de Cast, mas se ele soltasse o Nath e fosse embora, deixando-o sozinho com Guilhermo, na certa seu amigo levaria a pior.

— Você é quem vai embora, Castiel. Ou eu sufoco seu amiguinho até ele desmaiar por falta de ar. — ameaçou, morrendo de medo do jovem lutador pular em cima dele assim que soltasse Guilhermo, que mesmo sem conseguir respirar direito, proferia xingamentos e umas cotoveladas fraquinhas ao seu opressor, que estava se divertindo com aquele pequeno confronto.

— HÁ HÁ HÁ! — gargalhou alto, espontâneo. — Ok, então! Vamos ver quem é o mais forte? — apertando ainda mais o pescoço de Guilhermo, gargalhando ainda mais; e seu riso alto e debochado não minaram sua força, pelo contrário.

— Me... me sol-lta... — pediu Guilhermo engasgando pela pressão da chave de braço. As lágrimas já lavavam seu rosto. Ele não conseguia respirar direito e estava com medo, como todo idiota metido a valentão, cuja coragem sempre esta no respaldo dos amigos, igualmente idiotas. — Cas-stiel... por favor... — seu engasgo não era mais apenas pela falta de ar.

— Ah, Guilhermo. Que feio! Eu não estou vendo o mauricinho chorando! — debochou do valentão, ameaçando Gerard apenas com os olhos. — E olha que você quebrou o nariz dele!

O olhar de Castiel para Gerard o fez se apavorar. Ele soltou a toalha e empurrou Nath com o pé, que caiu na frente de Cast e Guilhermo, tossindo, puxando a toalha do pescoço, depois correu para fora do vestiário, com medo do campeão da equipe de luta greco-romana soltar Guilhermo e ir para cima dele, mas Cast ficou.

— Ele é todo seu, mauricinho! — disse ao soltar Guilhermo, que permaneceu de joelhos e cabeça baixa, chorando, com a mão no pescoço, tossindo mais pelo choro do que pelo ar que voltava a fluir em seus pulmões.

Nathaniel olhou para Guilhermo cheio de raiva, não pelo que o garoto lhe fez, mas porque sabia que iria ter problemas com o pai por conta daquilo. Na certa o pai o transferiria de escola, isso se não o surrasse de novo e esta hipótese fez Nath puxar Guilhermo pelo colarinho e levantar o punho para ele. Sua raiva estava expressa em seu rosto. Mas ao contrário do que imaginou, ao ver o outro às lágrimas diante dele, morrendo de medo de apanhar, lembrou do que seu professor lhe ensinou, então abriu o punho trêmulo, levou-o ao rosto e limpou o sangue sobre sua boca.

— Patético! — disse, soltando-o e se levantando, passando por ele em direção a pia, lanvando o sangue do rosto, mas só o excesso, pois seu nariz ainda sangrava devido a artéria rompida. E pressionando-o com a camisa limpa se direcionou à saída do vestiário. Guilhermo já havia se mandado.

Enquanto Nathaniel lavava o rosto Cast notou as marcas em suas costas, deduzindo que eram cintadas pela forma das marcas, perguntando-se que tipo de pais aquele CDF tinha.

— Ei, Nathaniel! — chamou-o enquanto este saía do vestiário. — Pretende ir aonde sem camisa? A praia? — perguntou, rindo. Nath estava tão nervoso que esqueceu de suas marcas. Ele olhou para a camisa que estava usando para tamponar o nariz e percebeu a besteira que fez. Cast percebeu que ele não tinha outra camisa limpa.

— Pode usar a jaqueta. — ofereceu, jogando-a sobre ele, andando na frente, deixando-o para trás. — Mas não vá sujá-la com seu sangue! Não quero me contaminar e virar um CDF!

Nathaniel vestiu a jaqueta com cuidado. Ele sabia que Castiel havia visto suas marcas e por isso havia lhe emprestado a jaqueta. Ele só desejou que o colega de escola não comentasse nada com ninguém.

Já era horário de almoço, o corredor estava cheio. Nathaniel teria enrolado até o final do almoço para entrar, mas o sangramento não cessava nem diminuía, então se viu obrigado a ir até a enfermaria e por cada um que passava os murmurinhos começavam e os olhares o seguiam, até que deu de cara com o inspetor que foi logo lhe pegando pelo braço, indagando sobre o que havia acontecido, julgando que ele havia arrumado briga com alguém, querendo saber com quem, berrando pelo corredor, enquanto o arrastava até a inspetoria, que ia comunicar a direção para que o pai fosse avisado.

Castiel, que estava por perto, ouvindo aquilo, deduzindo que se o garoto apanhava do pai ao ponto de ser marcado e que chamá-lo por conta daquela rusga idiota ia ser motivo de novas marcas como às que havia visto, interferiu.

— A culpa é minha, inspetor. Fui eu quem quebrou o nariz do mauricinho! — acusou-se, assumindo a culpa. Guilhermo e Gerard observavam de longe, com medo de serem acusados, mas ao ouvirem que Cast assumiu a bronca, se mandaram para o refeitório, dando uma de desentendidos.

— Por acaso ele roubou sua jaqueta e por isso o agrediu? É isso? — acusou-o vendo que ele estava vestido com a jaqueta que só os atletas da escola tinham, querendo de todas as formas colocar a culpa em Nath. — Vamos, Nathaniel. Devolva a jaqueta! — bradou, obrigando-o a tirar a jaqueta e devolver, mas Castiel não deixou.

— NÃO! Eu emprestei a jaqueta para ele! — disse, evitando que Nath a tirasse. — Ele sujou a camisa de sangue e como não se pode andar pela escola semi nu eu emprestei minha jaqueta para ele.

— Como assim. Não estou entendendo! Você não acabou de afirmar que brigaram? — questionou o inspetor, sem soltar o braço do aluno que ele tinha mais implicância.

Nath não dizia nada, primeiro porque precisava tamponar o nariz, segundo porque sabia que para o inspetor ele era culpado e pronto.

— Não! Eu disse que quebrei o nariz dele; mas foi sem querer. Eu esqueci minha jaqueta no vestiário, então fui buscar, e a merda da porta do meu armário estava emperrada, a tranca não abria de jeito nenhum. Quando eu puxei com força, ela soltou e meu cotovelo acertou o nariz desta anta que resolveu passar atrás de mim justo naquela hora.

Como Nath e Castiel não eram amigos, tampouco inimigos naquela época, o inspetor acreditou, mas deu um tremendo esporro em Nathaniel por ele ser descuidado e por ter enrolado no vestiário, pois a aula de Educação Física já havia terminado há mais de 40 minutos.

Melody, que era da mesma turma que Ambre, ao ver Nath naquele estado correu e avisou a enfermeira Fran que tinha iniciado seus serviços no Sweet Amoris naquele mês, como estagiária do último ano de enfermagem. Ela foi até o corredor, deu um esporro no inspetor por não tê-lo levado até ela na mesma hora em que o encontrou sangrando daquele jeito.

— Desculpe, Srta Fran. Mas eu tinha que resolver este assunto primeiro. Nathaniel sempre foi um aluno problema e as coisas tinham que ser esclarecidas. — justificou-se cheio de arrogância para com ela, como se ele fosse o dono do corredor.

— Eu não quero saber! A saúde do aluno é prioridade. Você devia tê-lo levado até a enfermaria primeiro e só depois se ater ao problema! — bradou. Só espero que não seja nada grave, porque se for, você responderá por esta omissão! — ameaçou-o. Ele foi para sua sala com o rabinho entre as pernas, pensativo, pois se realmente houvesse alguma complicação com Nathaniel ele estaria ferrado, com a direção e até com o pai do garoto, que não era homem para se brincar. Na certa aquilo podia lhe custar o emprego.

Na enfermaria Fran fez a assepsia e constatou que o nariz do garoto estava realmente quebrado e com a artéria rompida, mas uma fratura simples, nada que alterasse a estética do rosto dele e que algumas semanas de imobilização não resolvessem. Ela colocou um tampão na narina dele, deu-lhe um analgésico e o deixou deitado com o travesseiro enrolado sob o pescoço, para que seu rosto pendesse para trás e seu nariz ficasse para cima, evitando assim o sangramento, que cessaria logo. Depois foi a secretaria e solicitou que avisassem os pais dele e chamassem uma ambulância para que fosse levado a um Pronto Socorro, retornando para a enfermaria.

Enquanto ela preenchia a ficha de anamnese do Nathaniel percebeu a marca da toalha em seu pescoço, questionando-o sobre aquilo. Ele não queria contar, mas infelizmente não era um bom mentiroso e se atrapalhou todo ao tentar arrumar uma desculpa, e pressionado pela enfermeira, acabou contando a verdade, omitindo apenas que a jaqueta foi emprestada para esconder as marcas em suas costas.

— Você sabe que infelizmente terei que contar aos seus pais e a direção. Mas não se preocupe, você foi uma vítima e Castiel te ajudou. Quem terá que se explicar são os outros dois. — referiu colocando a folha de anamnese sobre sua mesa, — Agora descanse e deixe o travesseiro sob o pescoço. Quando eu voltar, verei se o sangramento parou. — saindo em direção a sala da Sra. Shermansky, colocando-a a par do ocorrido, inclusive da negligência do inspetor.

Assim que Nicole foi avisada que Nathaniel havia se machucado na escola e que um dos responsáveis precisaria ir até lá para acompanhá-lo até o Pronto-Socorro, embora não fosse nada grave, pediu a Deus que tivesse sido um acidente qualquer em aula, tudo, menos outra briga. Noutro momento ela teria avisado o esposo na empresa, mas daquela vez foi diferente. Ela precisava saber com detalhes o que havia acontecido, como e porque, para depois contar ao esposo, em casa. Naquele momento ela só se preocupou com o bem estar do filho, indo de imediato até a escola.

Ao saber o que aconteceu de verdade Nicole ficou indignada, possessa. Culpou a escola por não garantir a segurança do filho dela, que se não fosse pela ajuda de um colega, teria sido espancado por dois delinquentes no vestiário. Pela primeira vez a Sra. Shermansky viu a mãe de Nathaniel perder o controle, proferindo sua indignação em voz alta, e ao ouvir a ameaça de um processo contra a escola por negligência, arregalou os olhos e rapidamente informou que puniria severamente os outros alunos, cujos pais já haviam sido chamados.

Assim que a Ambulância chegou, Nathaniel foi levado, acompanhado da mãe e da irmã, que apesar das rusgas com o irmão, que desde o dia que a defendeu, cuidava dela de longe, não gostou nadinha do que Guilhermo fez a ele; e juntado aquilo a ofensa que lhe preferiu outrora não pensou duas vezes em se vingar dele.

A jovenzinha, enquanto o irmão mais velho fazia o raio-X, aproveitou para contar sua versão da história com Guilhermo para a mãe enquanto esperavam do lado de fora. Ela não mentiu em relação a ter ficado com ele, nem sobre os amassos, mas se fez de enganada, ludibriada, iludida, seduzida.

Chorando como se seu pequeno coração estivesse despedaçado Ambre contou à mãe que o rapaz lhe fazia juras de amor e que ia pedir permissão ao pai dela para namorá-la e ela acreditou. Ela jurou que aquela tinha sido a primeira vez que havia ficado com ele e que nunca havia beijado outro garoto - o que não era mentira; mas acrescentou outros fatos ao seu drama de garotinha enganada. Ela disse que gostava dele e que só o deixou agarrá-la "daquele jeito", mostrando-se envergonhada ao dizer aquilo, referindo-se as encoxadas que levou, sem mencionar tal palavra, porque ele lhe dissera que se ela gostasse dele de verdade deixaria, pois aquilo era uma prova de amor.

— Eu não queria que ele achasse que eu não gostava dele. Eu não sabia que era errado. Ele disse que estava tudo bem porque a gente se gostava. — mentiu descaradamente, aos prantos, jogando a culpa toda sobre o rapaz, isentando-se da sua própria safadeza, pois apesar de ter apenas 11 anos, ela já era bem assanhadinha e sabidinha, graças a internet. — Desculpa, mamãe. Eu não sabia que ele era ruim. Mas agora eu estou com raiva dele, porque ele machucou o meu irmão. Eu não gosto mais dele, mamãe, eu juro.

Foi uma cena digna de um Oscar! Nicole caíra como uma pata, afinal de contas, se Guilhermo teve coragem de se juntar com outro garoto e traiçoeiramente tentar surrar Nathaniel, o que ele não faria com uma garotinha linda e inexperiente como Ambre, que ainda estava na "idade da inocência".

Em casa, com calma, a Sra. Chevalier contou ao esposo o que havia acontecido com o filho na escola, que por pouco não surtou, contendo-se, mas só porque acreditou na esposa quando disse que Nath não teve culpa. Mas quando ela repetiu para ele a história da Ambre o homem surtou. Guilhermo havia virado o único vilão daquela história e Ambre a grande vítima de tudo, Nath foi mais uma vítima, mas não como Ambre.

— Moleque desgraçado! — proferiu. Por causa dele fazia dias que ele não tinha paz, corroendo-se por ter perdido o controle com o filho. — Ele vai pagar por machucar meus filhos. Ah, vai!

Depois de se acalmar ele foi ver a filha, que estava em seu quarto, cumprindo seu castigo, sentada na cama, ansiosa por saber se o pai cairia na sua história da carochinha e ao ver que sim, retomou seu teatrinho, agarrando-se a ele, aos prantos. Apesar dela já ser bem grandinha ele a pegou no colo e jurou que Guilhermo ia pagar por tê-la feito sofrer e por ter tentado enganá-la. Ela havia ganhado o dia!

Depois que saiu do quarto de Ambre, já livre do castigo, Jhonatan entrou no quarto de Nath sem bater na porta, encontrando-o se trocando, e as marcas de suas costas ainda visíveis o incomodaram de novo, mas manteve-se firme. Ele olhou para o rosto do rapaz com seu nariz quebrado protegido por uma pequena tala, e sentiu uma raiva tão grande que sua vontade foi marcar Guilhermo inteirinho, dos pés a cabeça. Ele tremia quando tocou a face do filho, que por um instante achou que ia ser punido sentindo o medo percorrer sua espinha. Jhonatan percebeu o medo nos olhos de Nath, sentindo aquilo agulhar seu peito, pois era o mesmo olhar que ele lançava ao pai quando tinha a idade dele.

— Sua mãe me contou que você não revidou, mesmo depois que seu amigo o ajudou. — comentou, tentando mudar aquele clima. — Por quê? — quis saber.

— E-eu me lembrei do que o... — titubeou, lembrando que o pai não gostava de Guerin e do que resultou a última vez que falou sobre ele. — O senhor uma vez me disse que para ser um homem é preciso saber se controlar. — disse, levando Jhonatan a abraçá-lo. Na verdade aquelas palavras espetaram ainda mais agulhas no peito dele.

— Estou orgulhoso de você, filho. — disse segurando a cabeça do garoto, mantendo seu rosto recostado em seu ombro, sendo apenas 8 cm mais alto que o filho. Ele não queria que Nath olhasse para ele, pois isso o faria fraquejar e ele não queria se deixar tomar pela emoção. E para evitar exatamente isso, o deixou sozinho rápido.

Nathaniel não acreditou no que ouviu. Ele sentou na cama, surpreso, como se aquela frase não tivesse sido dita, repetindo-a em sua mente. Mas proferi-la, mesmo que num múrmuro, fez uma emoção que estava guardada há anos, quase uma vida inteira, emergir. Nath não sabia se ria ou se chorava, fazendo os dois. Ele estava alegre, eufórico e até confuso, pois ficou feliz por Guilhermo ter lhe sacaneado; aquilo foi o que proporcionou a ele ouvir a frase que tanto desejava da boca do pai. Naquele instante ele se viu tomado por um sentimento de gratidão, repetindo a si mesmo, baixinho:

— Obrigado professor! — diversas vezes, pois estava acontecendo exatamente como Guerin havia lhe dito. Primeiro os professores e funcionários da escola, depois sua mãe e agora seu pai. Com certeza, depois daquele momento, ele nunca mais voltaria a ser aquele garoto que só queria saber de chamar a atenção da forma errada.

Naquela noite, na reunião do Vasltis Club da cidade, o Sr. Chevalier teve uma conversa séria com o pai de Guilhermo, exigindo que o garoto fosse punido. Este referiu que o mesmo já havia sido punido o suficiente, pois havia sido expulso do Sweet Amoris, que mancharia seu currículo escolar. Mas para Jhonatan não era o suficiente, pois o garoto havia tentado abusar da sua garotinha, ele tinha que ser punido também em casa. Mas o pai do garoto não estava querendo fazer isso, então ele se viu obrigado e se valer do seu cargo no clube, e como presidente teve uma conversa "ginecológica" com o aquele sócio.

Jhonatan deixou claro que a postura do rapaz colocava a prova a autoridade daquele pai em sua casa e se este o educava da forma correta. Com isso ele exigiu uma punição mais severa, do contrário levaria o caso ao conselho e estes decidiriam, pois se o filho continuasse a fazer coisas como aquela ia se tornar um delinquente e naquela família – referindo-se ao Vasltis – não tinha lugar para este tipo de pessoa, muito mesmo para aqueles que apoiavam tal comportamento. O pai de Guilhermo entendeu o recado.

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Notas finais do capítulo

Com a Ambre não se brinca.....rs (Só se bulina...rs)

Guilhermo: pai omisso e permissivo = filho folgado.

Conversa ginecológica quer dizer, teth-a-teth, sem rodeios ou meios termos, típica conversa entre patrão e empregado, pais e filhos.