Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 162
Tão perto e tão distante.


Notas iniciais do capítulo

Olá meninas...
Sentiram minha falta?...rs
Enfim, será que a Nina vai contar onde o Lys esta? Como será o reencontro destes dois?...



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Era 5ª feira. Duas noites já haviam passado desde que Lysandre saíra de casa. Leigh só havia conseguido se manter de pé graças ao apoio de pessoas que ele nunca poderia imaginar que estariam ao seu lado num momento tão difícil. Kage, Jhonatan, Maitê... Porém, ele não suportaria mais uma noite. Mesmo se o colocassem para dormir novamente, ele não suportaria mais uma noite sem notícias do irmão.

Quando Castiel invadiu o banheiro dizendo que haviam encontrado o Lysandre ele sentiu como se alguém fizesse com que o elástico do bung jump parasse de ricochetear, pois era assim que ele estava se sentindo até aquele momento, como se alguém o tivesse jogado ponte abaixo e algo o mantivesse preso no ar, jogando-o de um lado para o outro, com um nada gigantesco a sua volta e a água límpida e cristalina abaixo dele, dura como uma fina camada de vidro, pronta para se estilhaçar ao recebê-lo, quebrando seus ossos junto.

Ele não acreditou quando a viu.

— Você!? — Castiel também não acreditou quando aquela pequena tiete passou pela porta da cozinha.

Nina sempre sonhou em conhecer a casa de seu divo vitoriano, mas não numa situação como aquela.

— Desculpe-nos por não ter vindo antes, Leigh. Mas eu estava viajando e cheguei há pouco mais de duas horas. — disse Gerrard, avô de Nina, nada feliz com aquela situação, aborrecido com a neta e sentindo-se um tanto que envergonhado por ela ter mentido. — Eu não tinha ideia do que estava acontecendo.

— V-Vocês s-sabem onde o meu irmão está?

— Sei, mas não vou contar! O Lysandre não quer que ninguém saiba onde ele está! — além de não querer quebrar sua promessa, Nina estava com raiva daquele estilista. Seu amado Lysandre estava sofrendo por causa dele.

— C-Como assim, Nina? Você sabia onde o Lysandre estava este tempo todo e mentiu para mim? E-Eu fui a sua casa, falei com você e com o seu pai. Você viu como eu estava preocupado e mesmo assim mentiu? — Leigh não podia acreditar que aquela garotinha podia ser tão cruel. Ela viu como ele estava abatido e mesmo assim mentiu com a maior frieza e tranquilidade.

— Por favor, Leigh. Não se zangue com minha neta. Ela é uma criança mimada que não pensa nas consequências do que faz. Se o pai dela tivesse desconfiado que ela estava escondendo o Lysandre já a teria obrigado a contar, mas ao que parece, somente eu consigo perceber quando esta senhorita está aprontando alguma. — disse o senhor de cabelos brancos, olhando para a neta com desaprovação.

— Tudo bem. Nada disso importa agora. Eu só quero saber onde está o meu irmão. — Leigh estava se segurando para não perder a cabeça com aquela garotinha, mas se ela se recusasse novamente a revelar o paradeiro do Lysandre ele não ia mais se segurar e provavelmente ia acabar dizendo algo que Gerrard se ofenderia. — Então, por favor, Nina. Diga! Onde está o Lysandre?

— Não te interessa! — a garotinha sabia ser malcriada quando queria. — Por sua culpa o Lys está muito triste. Ele até chorou e muito. Eu não vou contar onde ele está! — se dependesse daquela lolita, Leigh só veria o irmão de novo se este voltasse para casa por conta própria.

— P-Por favor!

— Uhn!

Ver a garota lhe mostrar a língua como resposta teria sido como riscar um fósforo e jogar sobre o estopim.

— NINA SAINT’ANNA, COMPORTE-SE! — mas por sorte Gerrard não era do tipo que passava panos quentes sobre as peripécias da neta, muito pelo contrário.

— Desculpe-me novamente, Leigh. O Lysandre está no teatro. Nina deu as minhas chaves a ele. — contou. — Eu mesmo o teria buscado e trazido pra casa, mas achei por melhor você mesmo fazer isso. É melhor que vocês dois resolvam o problema que os está afastando um do outro, sozinhos. Pegue! Estas são as chaves reservas do teatro. — entregando-lhe o molho de chaves que Nina estava usando para ver o platinado. — Ele deve estar na sala de figurinos.

— Não, vovô! O Lysandre não quer vê-lo! — Nina até tentou pegar as chaves da mão do avô, mas este puxou a mão e só com o olhar, nada amistoso, a fez se encolher ao lado dele, com cara de choro, um pouco por medo do que lhe esperava, pois sabia que o avô não ia deixar aquilo passar batido e também por achar que Lys se zangaria com ela por ter contado onde ele estava. Fora que assim que o pai descobrisse, seu castigo seria duplicado.

Leigh pegou as chaves e sem perguntar mais nada se direcionou para a porta; ele conhecia o teatro, pois além de Lysandre bater cartão lá uma vez por semana, ele mesmo já usou alguns figurinos como fonte de pesquisa para as criações de uma suas coleções.

— Leigh, espere! — pediu Gerrard, tocando a mão no peito dele para barra-lo. — Se me permite um conselho, vá com calma com seu irmão. Pelo que a Nina me contou ele está muito deprimido. Esqueça por um momento todo esse estresse e converse com ele, com calma. Não esqueça que vocês são irmãos. Não esqueça que aquele garoto te venera. Seja lá o que for que aconteceu entre vocês, não pode ser maior que o amor que os une.

Leigh não disse nada, mas ouviu cada palavra. Assim que ele saiu Nina resmungou baixinho e seu avô a repreendeu novamente. O único motivo de ele a ter levado junto para contar ao Leigh onde Lysandre estava foi para evitar que ela desse um jeito de avisá-lo. Eles foram para casa e a garota, depois de ter tomado outra tremenda bronca, ficou proibida de usar celular, tablet, computador, de ouvir música, ver TV e sair de casa. Pelos próximos 15 dias a pequena lolita ficaria de castigo e nem ao teatro poderia ir. Sua vidinha seria de casa para a escola e da escola para casa, e ainda assim com o avô levando e buscando. Ela se trancou no quarto e desaguou a chorar, pois além de ficar sem poder ver o Lysandre por duas semanas, ainda não poderia ouvi-lo cantar. Ela teve tanto trabalho para gravá-lo cantando pelo teatro e por conta do castigo não ia poder matar a saudade nem com a voz dele. Pelo menos ela tinha as fotos.

Castiel e Kage resolveram esperar na casa.

Enquanto dirigia até o teatro, sem correr, pois queria acalmar seu coração que por si só já estava acelerado, Leigh só conseguia pensar no conselho do Sr. Saint’anna. Eles tinham que conversar. Ele precisava entender o que tinha feito de errado para o irmão não ter se sentido à vontade para conversar com ele quando começou a se chatear.

Ao chegar no teatro ele não estacionou na frente do prédio, preferindo parar um pouco antes e seguir a pé, para evitar que Lysandre ouvisse o barulho do carro e ao ver que era ele chegando desce um jeito de fugir de novo. Ele não ia suportar perde-lo novamente.

A cada passo que Leigh deu em direção ao palacete, repetiu em sua mente, um pedido a Deus, de que o irmão ainda estivesse no local.

Leigh, assim como seus pais, sempre teve medo de que a distração do irmão o levasse a se perder e por isso sempre esteve por perto quando eram crianças. Lysandre nunca ficou perdido por mais que uma ou duas horas. Leigh sempre o encontrou, até porque, ele sempre soube onde procurar. Lysandre nunca foi a lugar nenhum sem lhe contar e nunca se distanciou da propriedade da família sem o irmão. Salvo quando ele resolveu se embrenhar na floresta próxima a fazenda, onde Leigh e ele tinham uma casa na árvore. Ele devia ter esperado pelo irmão, mas como este demorou, resolveu ir sozinho e por não recordar o caminho acabou se perdendo. Foi Leigh quem o encontrou e naquele dia jurou que nunca mais o deixaria sozinho, pois nunca mais queria sentir o que sentiu.

Leigh não conseguiu manter a promessa. Anos mais tarde ele foi embora e deixou o irmão para trás. Mas parte do seu coração ficou com ele e só o teve de volta quando voltou para buscá-lo. Novamente ele prometeu que não mais o deixaria e nada o faria quebrar aquela promessa. Saber que Lysandre, provavelmente, estava imaginando que ele havia quebrado sua promessa o fez se perguntar se, sem perceber, ele havia se distanciado do irmão, por causa do trabalho e até da namorada.

Fazia tanto tempo que Leigh não ia àquele velho teatro que acabou se perdendo lá dentro, demorando um pouquinho para encontrar a sala dos figurinos, encontrando-a apenas porque cada porta ainda mantinha sua plaquinha de identificação fixada a ela, embora com as letras desbotadas e algumas até apagadas.

Assim que ele se viu diante da porta que estava procurando seu coração acelerou mais. Se Lysandre não estivesse lá dentro ele ia revirar aquele teatro de cabeça para baixo, pois não cogitava a ideia de não encontrá-lo. Isso faria aquela dor que ele desejou nunca mais sentir, ainda quando garoto, terminar de devorá-lo. Ele pensou no que o Sr. Saint’anna lhe dissera novamente e tomou uma decisão. Ele se manteria calmo e conversaria com o irmão, como sempre fizeram quando um deles tinha algum problema. Ele não ia perder a calma, não ia lhe chamar a atenção nem nada do tipo. Eles apenas conversariam, até tudo se esclarecer e se resolver.

Com as chaves na mão ele se perguntou qual delas abriria aquela porta, mas por sorte ela estava destrancada, pois teria errado na primeira tentativa. Ele respirou fundo e a abriu com cuidado, adentrando naquele cômodo cheio de araras e vestimentas teatrais. Noutro momento ele teria prestado atenção em cada traje, mas naquele só o que lhe interessava era encontrar o fujão.

A princípio ele pensou que Lysandre não estaria ali, sentindo um aperto no peito, mas não tardou para encontrá-lo, dormindo de lado sobre um amontoado de veludo bordô. Numa de suas mãos uma caneta que repousava sobre uma folha parcialmente escrita – ele dormiu enquanto escrevia –. Em volta dele mais papéis, desde pequenas páginas coloridas a sulfites com impressos de um lado e rabiscos violeta do outro. O semblante dele estava pesado, abatido. Em volta dos olhos as marcas escuras e fundas do sofrimento. Leigh só tinha visto olheiras nos olhos do irmão uma única vez, por culpa daquela garota.

Leigh não imaginou que teria aquela reação ao encontra-lo. Seu estresse desde a noite que Lys saiu de casa foi tão grande e ele teve tanto medo de perdê-lo que ali, diante do garoto, só o que quis foi se certificar que ele não sumiria de novo. Então fez o que era habitual entre os dois desde pequenos, deitou ao lado dele, que no mesmo instante, ao sentir a presença de alguém ao seu lado, acordou.

O primeiro pensamento que veio a mente de Lysandre, antes mesmo de abrir os olhos, foi “Nina”, mas assim que os abriu, antes mesmo de balbuciar qualquer coisa, Leigh, desatando a chorar com o rosto escondido em sua nuca, o abraçou tão rápido e tão forte que dificilmente ele sairia dali, até porque, ao se sentir abraçado pelo irmão, ele mesmo não aguentou e chorou.

Leigh queria dizer ao irmão que quase morreu de preocupação, que o procurou sem descanso, tendo ido a lugares que nem ele sabia que havia em Nice, que havia espalhado fotos dele pelo comércio, bares, bancas de jornal, abrigos. Até desabrigados ele abordou nas ruas a procura dele, mas quanto mais ele lembrava o que passou, mais forte ele o abraçava e mais ele chorava. Ele estava se livrando daqueles sentimentos; o medo, a angústia, uma dor tão grande que pareceu querer tragá-lo para o fundo da terra. Ele nunca imaginou que outro medo fosse superar o que ele sentiu quando Lys se perdeu na floresta. 

Quando mais Leigh o apertava e encharcava as madeixas prateadas de sua nuca, mais Lys se angustiava e até se sentia um pouquinho egoísta. Ele sabia que o irmão estava daquele jeito por causa dele, o que significava que ainda era amado, então não tinha como ele não se sentir, de certa forma, feliz. Mas aquilo não mudava o fato do irmão e Rosa terem agido nas costas dele e de terem decidido descartá-lo.

— S-Solte-me, L-Leigh... — pediu, tentando se acalmar. Ele não via mais sentido naquele abraço. Ele estava feliz por se sentir amado, mas ainda estava ferido por achar que seria mandado de volta para a fazenda e que por um momento, mesmo que motivado pelo calor da discussão, Leigh quis lhe bater e lhe indicara a porta “da rua”.

— N-Não! — respondeu com a voz trêmula, sentindo aquela angústia voltar ao seu coração. Seu irmãozinho parecia não querer ficar perto dele.

— P-Por favor, Leigh... Solte-me! — pediu novamente, um pouco mais sério, forçando um pouco os braços para tentar se soltar, o que angustiou Leigh ainda mais.

— N-Não... V-Você não sai mais de p-perto de mim... Não s-sem me prometer que vai ficar aqui e... e q-que vamos conversar. — ele estava com medo do irmão ir embora assim que o soltasse. — P-Por f-favor...

Lys apenas assentiu com a cabeça e voltou a chorar. Ele não estava preparado para ouvir os motivos que levaram o irmão a decidir ir para Paris com Rosa e o mandar de volta para Chénérailles. Mas aquela conversa teria que acontecer cedo ou tarde, então que fosse logo.

Leigh respirou fundo e conforme foi se acalmando foi afrouxando os braços, soltando o irmão aos poucos, morrendo de medo dele desistir da conversa e sair correndo dali, como fez naquela noite. Lys também foi se acalmando e conforme foi se sentindo livre foi relaxando o corpo e se virando, até que seus olhos inchados fitaram o teto, assim como os do irmão. Ambos estavam criando coragem para se encararem. Quando foi que eles se distanciaram daquela forma? Até aquele problema acontecer eles achavam que estava tudo bem, que ainda eram como sempre foram.

Puxando os cabelos para trás, pressionando a ponta dos dedos no couro cabeludo, Leigh sentou e logo levantou. Ele pegou a cadeira cujas roupas do irmão estavam penduradas, posicionou-a de frente para ele e sentou, fixando o olhar em Lysandre, que permaneceu no chão, porém sentado e ainda cabisbaixo. Por alguns minutos eles ainda permaneceram assim, silenciosos. Leigh buscava serenidade para saber conversar com o irmão e Lys, força para ouvir o que acreditava que ia ouvir.

Enquanto isso, por telefone, Kege contara a Jhonatan que eles haviam encontrado o Lysandre e que Leigh fora ao encontro dele. Jonathan ficou muito feliz, como se tivessem encontrado seu próprio filho. Ele podia ter esperado, mas sabia o quanto Nathaniel estava preocupado, então enviou uma mensagem para o celular dele, para não atrapalhá-lo na aula, o que não deu muito certo, pois assim que a recebeu disse “graças a Deus!” em voz alta, chamando a atenção dos colegas e até do professor. Todos na turma sabiam que Lysandre havia sumido, na verdade, boa parte da escola já sabia. Não tinha meio mais rápido que espalhar uma notícia que através de WattsApp de celular de adolescente. Bastou Leigh entrar em contato com o primeiro para a notícia ir se espalhando.

Faraize teve que intervir e pedir silêncio, pois não faltaram especulações, uma mais criativa que a outra, sobre o lugar onde o colega de classe estaria e em que estado ele havia sido encontrado.

Na quadra, Li gritou de alegria ao ler a mensagem no celular, enviada por Charlotte. Boris só não lhe chamou a atenção porque também ficou feliz por terem encontrado o garoto.

Mas o coração de Nathaniel não era só alegria. Ele não pôde evitar pensar que Emília estava na casa do Lysandre, esperando por ele, afinal de contas ela não teria bolado aula, ainda mais perdendo uma avaliação importante, só para ficar em casa vendo TV. Ela fez aquilo pelo Lysandre, porque não se aguentava de preocupação. Inventando uma desculpa qualquer sobre algo relacionado à formatura ele saiu da sala e se trancou no grêmio. Ele precisava ficar sozinho; ele precisava ocupar a mente com o trabalho.

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Notas finais do capítulo

Por vezes acreditamos que tudo esta bem porque tudo caminha bem, mas assim que um problema maior surge, descobrimos que nem tudo estava bem, mas por algum motivo, não percebemos os pequenos sinais.
Não importa quanto anos tenhamos, atenção é algo que desejamos, uns mais que outros, mas todos desejamos.



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