Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 160
Sobre as cortinas.


Notas iniciais do capítulo

O que será que Lysandre fez?
(como se não desse para adivinhas....rs)



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15 minutos depois – ainda há duas noites (# 02/04 #):

— Desculpe a demora, Lys. Eu tive que esperar meu pai dormir para poder descer. Aqui está a chave. — disse a jovem, entregando ao amigo o molho de chaves do avô, mais uma pequena sacola cartonada com o desenho de uma lolita de alguma animação japonesa estampada.  Nela continha um conjunto de potinhos com comida e duas maçãs para ele jantar, pois pensou que ele podia estar com fome, e uma lanterna para ele usar no teatro, pois se ligasse alguma luz o vigia noturno que fazia ronda naquela região ia perceber pela janela.

— Você tem certeza que não terá problemas por causa disso, Nina? 

— Claro, Lys. Fique lá o tempo que quiser. O vovô só volta em uma semana e meia ou duas. Até lá você pode ficar no teatro.

Lysandre nunca teria aceitado aquilo se não estivesse se sentindo um fardo na vida do irmão. Ele estava cansado e precisava relaxar, descansar, mas na rua ia ser impossível, além de perigoso, e ele não queria cruzar com Leigh, muito menos com a Rosa, tampouco com os dois juntos. Para não segurar mais a jovem amiga fora de casa ele se despediu, dando-lhe um abraço apertado e um beijo no rosto em agradecimento, indo embora, mas não antes de pedir que ela não contasse a ninguém onde ele estava. Ele não queria ver ninguém. Ele nem precisaria ter pedido.

Nina entrou e dormiu com a mão na bochecha.

Lys caminhou por 1 hora, talvez um pouco mais que isso, visto o cansaço. O antigo Théâtre de Mont-Boron[1] que o avô de Nina “zelava” durante o dia e que ele costumava passar suas tardes de 4ª feira quando não estava com os amigos, ficava em Mont-Boron, há uns 30 metros após a última construção da área residencial da Route Forestière du Mont-Boron, antes da estrada adentrar a mata rumo ao restante do bairro.

De frente àquela antiga propriedade que há 7 anos não mais proporcionava emoção aos que ali adentravam, através das belas peças teatrais que eram encenadas em seu tablado de madeira encerada e polida, Lys observou se vinha alguém de algum dos lados da rua e sem ouvir nada além dos sons da natureza e sua própria respiração ofegante pelo medo de ser pego, abriu rapidamente o portão principal e entrou, trancando-o e seguindo para a lateral esquerda do prédio, onde ficavam o bar e os toaletes. Assim que entrou ligou a lanterna e seguiu em direção ao seu lugar predileto, a sala dos figurinos. Ele conhecia aquele teatro e todas as chaves. Ele já as havia usado antes. Ele podia até esquecê-las pelo caminho, mas não esquecia as portas que cada uma abria, devido à sensação de bem estar que sentia quando estava ali, embora naquela noite ele não a estivesse sentindo.

A cada passo que deu, observando com cuidado o que estava a sua frente para não esbarrar em nada que pudesse quebrar, Lysandre se perguntou como eles podiam deixar aquele lugar sem um vigia noturno, confiando apenas num vigia de bairro. Tudo bem que tudo o que tinha um valor monetário mais alto estava em posse da família, provavelmente bem protegido, visto que não podiam ser vendidos antes da morte da matriarca da família e dona daquele lindo palacete do meio do século XIX, mas ali ainda tinham coisas de valor, que individualmente podiam valer pouco, mas em lotes valiam muito. Fora que vândalos podiam depredar o lugar. Se ele entrou com tanta facilidade, independente de ter as chaves, imagine um ladrão.

Quase tudo naquele lugar estava coberto por plásticos baratos ou tecidos velhos e empoeirados. O avô de Nina fazia o que podia para manter longe do pó o máximo de coisas que podia, mas era difícil, mesmo com a ajuda do Lysandre. Nina também ajudava, mas só se dedicava mesmo quando o rapaz estava lá, fora isso dava suas escapadas. Como toda adolescente de 12 anos, ela queria mais diversão e menos obrigação.

Assim que pisou no salão principal, lugar onde as peças eram encenadas ele apontou a luz para o tablado, cujo piso de madeira há muito tempo não brilhava. As cortinas, inclusive das janelas, estavam guardadas, parte na sala dos figurinos, parte atrás do palco, em meio ao que sobrou do último cenário usado.

Deixando aquela área de lado Lys se direcionou para a pequena copa que era usada pelo zelador. Ele precisava usar o banheiro e estava com sede, além de fome. Embora a sala fosse voltada para os fundos do teatro e a visão das janelas fosse para a vegetação ele preferiu não se arriscar acendendo a luz, usando apenas a lanterna. Ele sorriu, um sorriso meio triste, mas ainda assim um sorriso, ao ver o cuidado que sua pequena amiga teve ao colocar cada tipo de alimento num potinho diferente. Ela lembrou que ele gostava de tudo separadinho no prato. O pai da garota não era muito bom na cozinha, mas não era dos piores e com a fome que ele estava, aquele arroz branco com batatas amanteigadas e picadinho de carne lhe pareceu um banquete. Até o suco de maça em caixinha ela lembrou de colocar na sacolinha, mas como estava quente ele colocou na velha geladeira daquele lugar, pegando um pouco d’água gelada.

Depois de limpar e organizar sua pequena bagunça, Lys foi para o único lugar daquele teatro que ele se sentia totalmente inebriado, a sala dos figurinos.

Como a paixão da proprietária do teatro eram os figurinos, aquela sala e roupas eram cuidadas pelo zelador como se o lugar ainda estivesse ativo. Era comum estudantes de moda e teatro pegarem peças emprestadas. 

Trancando-se dentro daquele enorme cômodo que era dividido ao meio por uma divisória de madeira, separando o lado masculino do feminino, Lys fez o que lhe era habitual quando estava lá e queria devanear a vontade, pegou algumas das cortinas de veludo bordô das janelas daquele teatro que estavam dobradas e guardadas numa estante daquela sala, desdobrou o enfesto – como estava sempre naquele lugar, ele o mantinha organizado e dobrava as cortinas como dobrava os tecidos da loja – e jogou no chão, entre duas araras, bagunçando-o para ficar macio, como um gato afofando seu canto de dormir. De certo também devia estar meio empoeirado e com ácaros, pois fazia 1 mês que ele não aparecia naquele lugar, sendo assim, aquelas cortinas não foram lavadas, mas não se importou. Tudo o que ele queria era dormir e esquecer.

Ao se deitar ele ainda manteve a lanterna ligada por uns minutos. Aquele lugar de quase 40 m2 lhe pareceu pequeno demais naquela noite. Era a primeira vez que ele dormia fora de casa sem avisar o irmão, era a primeira vez que ele nem se quer dissera ao irmão onde estava; mas nada disso era importante. Ele estava se sentindo sufocado, angustiado, mas sua mágoa e sua raiva não lhe permitiu perceber que na verdade ele estava sentindo falta de ouvir um simples boa noite, dito por Leigh, assim como dele abrindo a porta do quarto no meio da madrugada para trancar a janela, sem conseguir deixar de cobri-lo direito ao passar por ele, que sempre acordava quando o irmão entrava no quarto, mas se mantinha adormecido, fingindo, para não demonstrar que gostava daqueles cuidados exagerados, afinal, ele não era um bebezão. Ao invés disso ele só conseguiu pensar que estava na hora de esquecer tudo aquilo, pois precisava se acostumar a estar, novamente, sozinho.

Assim que a luz da lanterna se apagou, o breu tomou conta do lugar que ainda mantinha as cortinas nas janelas, e definitivamente aquela escuridão abraçou o rapaz com braços gelados e fortes, tão fortes que ele não conseguiu se soltar, só se encolher e chorar quietinho enquanto aguardava o piedoso sono o libertar daquela angústia. Ele nunca se sentiu tão sozinho quanto naquela noite. Ele nunca sentiu tanto medo quando naquela noite; nem quando a pickup o deixou para trás naquele dia, pois ainda tinha seus pais no quarto ao lado e a esperança que a avó e o irmão voltariam para buscá-lo. Agora seus pais estavam a quilômetros dali, sua avó no plano superior e seu irmão tinha aberto mão dele.

Nem quando ele foi traído da forma mais vil pela garota que um dia amou doeu tanto; e ele acreditou que não existia dor de traição maior que aquela. Ou ele não amou incondicionalmente aquela garota como acreditou ter amado ou o amor que ele sentia por Leigh era definitivamente, muito maior. Ele dormiu antes de pensar no peso dos dois.

O dia amanheceu. Lysandre despertou com a sensação de ter tido o pior dos pesadelos, mas ao abrir os olhos e ver onde estava lembrou que sua realidade era o seu pesadelo, então voltou a fechá-los. Ele não queria acordar, mas o desconforto daquele chão duro embaixo das cortinas parecia querer obrigá-lo a levantar. Foi a primeira vez que aquelas cortinas tão macias deixaram seu corpo dolorido; também, pudera, ele nunca tinha dormido para valer sobre elas, no máximo um cochilo mais longo. Por quase meia hora ele tentou dormir novamente, mas além de desanimado, triste e com dor de cabeça, estava suado e com a bexiga cheia.

Enquanto se colocava de pé, sentindo como se algo o puxasse para baixo, obrigando-o a se manter deitado, Lys se perguntou que horas eram e como estava o dia do lado de fora. Ele olhou para as cortinas que iam do alto da janela ao chão, mas se manteve longe delas. Não importava como estava o dia ou que horas eram. Nada mais lhe importava. Ele só queria dormir novamente, mas antes se arrastou a um dos camarins, pois neles tinham banheiros. Ele poderia ter ido à copa, ao lado da sala do zelador, mas seu desânimo e sua tristeza não lhe permitiram andar uma distância maior.

Sentindo-se incomodado com o suor em sua pele ele resolveu se banhar, mas ao abrir o boxe do pequeno banheiro viu que não tinha chuveiro, só o cano. Ele havia esquecido deste detalhe. Ele tinha duas opções, descer para o piso térreo e usar o chuveiro quente do zelador ou encarar a água gelada do cano. Ele não gostava de banho gelado... Despido e encostado na parede ele observou a água gelada e suja[2] cair com força; sua mente estava vazia; até que depois de alguns litros perdidos ela ficou límpida e ele colocou a nuca no caminho dela, arrepiando-se inteiro, lembrando de imediato da avó lhe dizendo que se deve molhar as mãos e pés primeiro, quando se está com o corpo quente, antes de se banhar com água gelada. Ele apenas cruzou os braços, meio que encolhido, e deixou a água tocar sua pele com força, inclusive na cabeça, até acostumar com a temperatura. Ele sentiu falta do seu gel de banho, mas a falta que já estava sentido de tudo e todos era maior. Como ensinado por sua mãe, ele lavou sua boxer, apenas com água por ali não ter nenhum tipo de sabão, e depois a usou para esfoliar sua pele.

Ao sair do banho ele nada tinha para se secar, a não ser suas roupas. Ele não podia se secar com tecidos empoeirados. Sem se preocupar com mais nada ele apenas se vestiu, deixando a própria roupa suada absorver aquela água, depois voltou para a sala dos figurinos. A boxer molhada ele apenas colocou sobre o encosto de uma cadeira. Sua intenção não foi estender para secar, ele apenas a soltou ali, de qualquer jeito. Depois ele largou seu corpo sobre as cortinas, encolheu-se, cobriu-se com uma delas, pois o banho o deixou com frio, e fechou os olhos, buscando a escuridão e o silêncio do sono. Manter-se acordado o fazia ouvir seus pensamentos e literalmente, sofrer por antecipação machucava.

Num suspiro forte e assustado ele despertou com menos de 5 minutos que havia pego no sono.

— Desculpa, Lys. Eu não queria te acordar. — Nina apareceu e ao vê-lo dormindo encolhidinho o tocou na face, num carinho, acordando-o. Ele devia ter trancado a porta quando voltou do camarim.

— Oi, Nina. — cumprimentou-a, amuado, sem a menor empolgação, sentando-se. — Como você entrou aqui? — perguntou, esquecendo por um instante que ela lhe deu as chaves, portanto, era óbvio que ela iria atrás dele no dia seguinte.

— Eu peguei as chaves extras do meu avô. — contou. — Sua roupa esta úmida. — percebendo que ele estava molhado pela aparência da camisa. — É suor? Você está com febre? — quis tocá-lo novamente, mas disfarçadamente, ele esquivou.

— Não é nada. Eu tomei banho e vesti a roupa sem me secar, só isso.

— Mas assim você vai ficar doente. E você não pode ficar doente. — disse, correndo dali sem dizer onde ia. Ele queria voltar a dormir, então deitou novamente.

— Pegue, vista isso! — disse-lhe ao voltar com uma calça e uma camisa do figurino masculino. Ele não recusou, pois ele não podia se arriscar a ficar doente.

Por quase 1 minuto ele ficou olhando para as roupas, esperando ficar sozinho para vesti-las, mas como a garotinha não se tocou se viu obrigado a pedir que saísse.  Sem rubor nenhum ela riu e foi esperar do lado de fora.

— Já posso entrar? — perguntou ela após alguns minutos, mas ele não respondeu. — Lys. Já posso entrar? Você já se trocou? — insistiu e ele autorizou.

— Nossa. Você ficou tão bonito. Parece um pirata, mas sem a capa, o chapéu e a perna de pau. — Lys teria rido daquela observação se não estivesse triste demais para aquilo. Aquela calça curta e aquela camisa branca de babados realmente fazia parte do figurino de um pirata.

— Por que você veio até aqui, Nina? Seu avô já voltou?

— Não. Eu vim te trazer um pouco de comida, — contou, abrindo a sacolinha que ela havia deixado no chão perto dele quando o tocou e que ele nem viu por estar com os pensamentos confusos. — E isso aqui. — entregando-lhe também uma cadernetinha com folhas coloridas e uma caneta violeta. Ela sabia que ele relaxava quando escrevia.

Ele pegou os dois itens da mão dela, observou por um instante e depois a agradeceu. Podia não ser o seu bloco de notas, nem sua caneta, mas era papel e caneta e ele precisava colocar pra fora o que o estava sentindo.

Como ele ignorou a comida ela insistiu e ele acabou comendo, pois embora estivesse sem vontade de comer, estava com fome. Ela não tirou os olhos dele, vidrada.

Terminado ele, gentilmente, disse a ela que estava cansado e deitou. Ela continuou sentada ao lado dele.

— Nina. Eu sei que quer ficar comigo, mas eu preciso ficar sozinho para conseguir descansar. — disse, numa forma gentil de pedir que ela fosse embora. — Você entende, não é?

— Mas você está triste e eu quero cuidar de você!

— Mas eu não quero ser cuidado, Nina. Eu posso me virar sozinho!

— Mas eu fico quietinha. Prometo.

— Tudo bem, Nina. — concordou que ela ficasse, levando-se novamente. — Você pode ficar com as chaves do seu avô. Eu vou embora. — direcionando-se para a porta, sem nem lembrar que havia deixado o molho de chaves no camarim.

— NÃO! Fica aqui. — pediu, não querendo que ele fosse embora, pois além dele estar triste e ali ser um lugar que ele gostava, ela queria saber onde ele estava.

— Desculpe-me, Nina. Mas eu preciso ficar sozinho para pensar e descansar. Se você quer ficar aqui, não posso te proibir, mas posso ir para outro lugar.

Sem escolha a garota concordou em deixá-lo sozinho e foi embora, prometendo que voltaria à noite para levar-lhe algo para comer. Assim que ela o deixou ele deitou e fechou os olhos.  Ele chorou novamente. Ele queria tê-la ouvido dizer que foi até ele para dizer que Leigh estava preocupado, que o havia procurado na casa dela, pois ele sabe da amizade dele com o avô dela, ele os conhece. Ele teria perguntado se não estivesse com medo de ouvir um ‘não’ como resposta.

Quando ela voltou, por voltas das 19h00, levando-lhe quatro fatias de pizza e uma lata de refrigerante e dois talheres pegos na copa, o encontrou dormindo, sobre o tecido aveludado e em meio a papéis amassados e soltos. Nada sobrara do caderninho. Ela colocou a badeja de pizza na cadeira, riu sem corar da boxer dele pendurada no encosto da cadeira, pegando-a, querendo um pedacinho dela como suvenir; então pegou a faca e cortou a etiqueta, deixando-a cair ao se sentir flagrada, mas por sorte ele apenas se mexeu. Sem querer se arriscar mais ela colocou a cueca no lugar que estava, guardou a etiqueta na sua bolsinha e correu até a sala do avô, depois voltou para onde o amigo estava, com um maço de papel para rascunho nas mãos.

Ao colocar as folhas perto dele ela resolveu pegar algumas folhinhas escritas para guardar para si, mas antes que ela pudesse escondê-las em sua bolsinha ele despertou e a flagrou.

— Por favor, Nina. Deixe isso ai. — pediu, sentando-se. — Você sabe que eu não gosto que leiam o que eu escrevo sem que eu permita. — ele não dormira bem.

— Mas você jogou fora. — comentou, com base por estarem amassados e soltos sobre as cortinas e chão.

— DEIXE ISSO AI! — gritou com ela, que no susto largou os papéis. Ele nunca havia gritado com ela, nem quando aprontou das suas, seguindo-o para todo lado. Ele estava descontando nela sua raiva, sem perceber.

— D-Desculpa. Eu... eu trouxe pizza para você comer. — contou, magoada. — E-Eu preciso ir embora. S-Se eu demorar meu pai vai me procurar. — sentindo-se sem graça para continuar ali. Ela não gostava de chateá-lo.

— É só isso? Você não tem mais nada para me dizer? — ele só queria ouvir que Leigh também estava preocupado, embora não conseguisse ser direto em sua pergunta, porque ao sê-lo poderia receber duas respostas curtas, o ‘sim’ que o deixaria feliz e o ‘não’ que o machucaria ainda mais.

— N-Não. E-Eu trouxe refrigerante também. D-Desculpa por não ser suco, mas não tinha nenhum do que você gosta.

Por um instante ele pensou que ela diria outra coisa.

— Está bem. Boa noite, Nina. — ele nem se deu conta que ela havia encaixado a lanterna na tomada, deixando-a carregando e iluminando aquele pedaço do lugar ao mesmo tempo.

— Boa noite, Lys. Eu te amo! — disse, correndo dali. Ela chorou um pouco, mas depois de acalmou. Ela nem conseguiu contar que o Leigh havia ligado para a casa dela e perguntado dele para o pai dela, à tarde, e que ela fez o que ele pediu e não contou nada.

Assim que Lys viu o refrigerante e a caixa de pizza sobre a cadeira sentiu raiva de si mesmo. Como ele pôde gritar com ela. Ao abrir a caixa ficou com mais raiva, pois não eram sobras, mas fatias compradas avulso, o que significava que ela tinha gastado o dinheiro dela com ele. Ele não conseguiu comer, nem beber o refrigerante.

Ao voltar para o seu leito, em meio aos seus riscos e rabiscos não aguentou e chorou novamente ao ver as folhas de rascunho ao lado de onde ele estava dormindo.

— D-Desculpa, Nina. — murmurou em meio ao choro, deitado ao lado daquele maço de papel, cheio de remorso por ter despejado sobre ela sua frustração pelo irmão não estar nem ai para ele. Ele só queria voltar para casa, mas estava com medo de não ser bem recebido. Ele só queria abraçar o irmão e se desculpar pelas besteiras que disse e fez, mas estava com medo de não ser acolhido. Ele só queria dizer ao Leigh o quanto o amava e que entendia o fato de Rosa ser importante na vida dele, ao ponto dele não conseguir ficar longe dela e por isso resolver viver em Paris, mas estava com medo dele o mandar de volta para a fazenda antes do fim do semestre por todas as coisas que fez e disse, impedindo-os de estarem juntos por mais tempo, até o momento de dizer adeus. Ele não queria vê-lo partir, ele estava com medo de não conseguir dizer adeus.

Quando não se consegue vencer a tristeza dormir parece a melhor solução. A 4ª feira passou que Lysandre nem viu, tendo dormido praticamente o dia todo, rabiscando um papel ou outro daquele bloquinho a cada vez que despertava para ir ao banheiro e a ansiedade lhe tomava de conta, mas logo que esta dava indícios que ia vencê-lo ele fechava os olhos e buscava o sono. Ele dormiu novamente. Outros riscos e rabiscos nasceram, se afogaram e padeceram no chão.

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Notas finais do capítulo

O sono é um tipo de mecanismo de fuga da tristeza. Ao dormirmos não pensamos, não sentimos.

[1] O Théâtre de Monte-Baron não existe, tampouco qualquer construção na sua localização. Ele é totalmente fictício.

[2] Encanamento que fica sem uso por muito tempo acumula sujeira, que é retirada com a pressão da água quando este volta a ser usado.



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