Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 158
Debaixo do Travasseiro


Notas iniciais do capítulo

Eis mais um momento Leigh....
Aqui as coisas começam a ser entendidas.
Aqui eu revelo um segredinho do Lys para vocês...rs
Revelo também uma das poesias ousadas dele...rs
IMPORTANTE: A poesia deste capítulo, assim como todas as outras que o Lys escreve são de minha autoria, então, por favor, caso queiram usá-las para o que for, deem-me os devidos créditos. Se forem usar em outra fic com o Lys, façam referência a qual fic a poesia pertence originalmente.



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O relógio marcava 8h30 quando Leigh abriu os olhos. Ele fitou a porta do guarda-roupa por alguns instantes, perguntando-se como foi parar ali.

— O chá... — murmurou, indo ao banheiro esvaziar a bexiga, cambaleando, ainda grogue, não pelo remédio, mas por ter dormido demais, lembrando do Jhonatan o forçando a tomar a bebida, igual se faz com uma criança, depois que percebeu o gosto estranho e se recusou a bebê-la.

Ele não estava zangado com o pai do Nathaniel. Jhonatan fez o que tinha que fazer, visto que ele estava fora de si e querendo sair para procurar novamente.

Embora tenha dormido praticamente 12 horas ele ainda estava muito cansado. Seu corpo doía por ter passado muito tempo deitado, coisa que ele não fazia nem quando estava doente, e também por todo aquele estresse que estava vivendo por conta do irmão. Irmão este que ele queria de volta, perto dele.

Enquanto ajeitava o cabelo com os dedos, vendo no espelho o quão abatido estava com aquelas olheiras que demorariam para sumir, ele ouviu o toque do telefone na sala e reconheceu a voz que o atendeu. Era Kage. Mal tendo passado uma água no rosto para despertar totalmente, pois tinha pressa em querer notícias do irmão, ele foi para a sala, e assim que o metaleiro o olhou sentiu um frio percorrer sua espinha. A expressão dele era de preocupação.

— Espere só um instante, Sra. Ainsworth. Vou verificar se ele já acordou. — o coração do estilista disparou ao ouvir que era sua mãe ao telefone.

Kage achou por melhor não passar o aparelho para Leigh direto, sem colocá-lo a par da situação. Cobrindo a entrada de som com a mão, em voz baixa ele explicou o que estava acontecendo ao filho mais velho daquela mulher impaciente ao telefone.

— Depois que a polícia foi informada que o Lysandre pode ter ido para a fazenda, o delegado achou por melhor entrar em contato com o a polícia local e eles procuraram os seus pais, contando-lhes o que aconteceu. Eles só não vieram para cá porque o delegado os orientou a ficarem por lá, pois se o Lysandre foi mesmo para a fazenda era importante ter alguém da confiança dele para recebê-lo.

Leigh sentou no sofá, sentindo as pernas bambearem só de imaginar como seus pais estavam reagindo àquilo. Lysandre não era só o caçulinha da família inteira, – os primos e primas por parte de pai eram mais velhos – ele era o xodó de todo mundo, apesar de ser muito reservado e só estar com os familiares em épocas festivas; além de ser o garotinho especial da mãe e que ela achava que nunca seria totalmente independente deles.

— Eu sei que vai ser difícil falar com sua mãe, mas acho melhor você atender. Já é a 4ª vez que ela liga pra cá em 2 horas.

 Leigh pegou o telefone, deu uma inspirada longa e depois soltou o ar pausadamente, buscando calma e coragem, pois de certo, sua mãe estaria uma pilha de nervos do outro lado da linha, triste, preocupada, assustada e zangada, muito zangada com ele.

— O-Oi, m-mãe.

Ele mal terminou de cumprimentá-la e a ouviu chorar do outro lado da linha, querendo saber onde estava o Lysandre.

Ouvi-lo dizer que não sabia foi o suficiente para aquela mãe perder a cabeça e esquecer que Leigh também estava preocupado, sofrendo e principalmente, que ele também amava o caçula daquela família, tanto quanto ela.

Castiel e Kage deduziam o que aquela mulher estava falando para o filho pela dor que viam nele, apesar da mão estar cobrindo seus olhos marejados.

As lágrimas corriam a face dele, enquanto ouvia, calado, a mãe dizer que nunca devia ter permitido que Lysandre fosse viver com ele, que ela e o pai deles erraram ao dar a ele a guarda do irmão, que ele foi irresponsável, não soube cuidar do caçula, que ele sabia que Lysandre não tinha boa memória, o que prejudicava seu senso de direção e o levava a se perder fácil, que ele devia ter prestado mais atenção, ficado de olho, pois Nice não era como a pequena Chénérailles e seus menos de 800[1] habitantes, onde todo mundo se conhecia e portanto o ajudaria a voltar para casa caso se perdesse.

Cada palavra da mãe feria mais profundamente o coração de Leigh. Ela não tinha noção do tamanho do mal que estava fazendo a ele, cujos últimos 10 meses só o que fez foi zelar por aquele irmão que ele tanto amava. Sem se dar conta, motivada pelo medo de perder o filho caçula, ela estava destruindo o mais velho.

— P-Por favor, m-mãe. Não d-diz i-isso... — pediu, quase como uma súplica, não aguentando mais ouvir aquelas cobranças. — A s-senhora sabe que eu amo o Lysandre e que eu n-nunca deixaria nada de ruim acontecer com ele.

— Mas deixou! S-Seu irmão sumiu há d-duas noites e a culpa é s-sua e daquela sua namorada espevitada. S-Se alguma coisa de ruim acontecer a ele a culpa será s-sua e você vai t-ter que carregar esse peso pelo resto da sua vida.

Para Leigh aquelas palavras foram as últimas, o limite. Ele não ia mais conseguir falar com a mãe depois daquilo. A dor, o medo e a culpa não cabiam mais dentro de seu peito, então se entregou e chorou. E seu sofrimento era tanto que nem mesmo o telefone conseguiu manter na mão, deixando-o cair sobre o tapete. Com medo dele acabar passando mal Kage lhe deu um calmante fitoterápico composto por florais – comprado naquela manhã ­–, que ele não se recusou a tomar como outrora.

Pegando o telefone do chão Castiel o levou ao ouvido para ver se ainda tinha alguém na linha, e para sua surpresa, a mãe de seu amigo não havia desligado. Ela pôde ouvir o desespero do seu primogênito e sentiu o coração doer. Arrependimento foi o que ela sentiu. Podendo ouvi-lo chorar, mesmo que distante, deduzindo que ele largou o telefone, ela o chamou e chamou, querendo se desculpar, dizer que não queria ter dito tudo o que disse, mas Castiel não era Leigh.

— Desculpe-me, mas seu filho não está mais em condições de falar com ninguém, graças ao que a senhora disse a ele! Nós ligaremos de volta caso tenhamos notícias do Lysandre.

Noutro momento ela teria achado aquele rapaz petulante, mas estava tão abalada que apenas desligou e chorou, aguardando com o coração apertado o esposo ligar da rodoviária, desejando com fervor que Lysandre aparecesse por lá.

No sobrado dos Lemaitre, Kage pedia a Leigh que tentasse manter a calma; mas como manter-se calmo depois de tudo o que ele ouviu.

— Se não for por você, então que seja pelo seu irmão.

— Meu irmã-ão... — murmurou, olhando para o metaleiro enquanto tentava encontrar em si um pouco de esperança. — S-Será que... que eu ainda t-tenho um i-irmão, Kage? — para não deixar o medo de perdê-lo o consumir.

Castiel não aguentou e saiu.

— Enquanto não tivermos nenhuma informação concreta que você o perdeu, você o tem, sim! Então não pense mais que você o perdeu.

Por mais que ele quisesse acreditar naquilo, por mais que ele quisesse manter sua esperança viva, ele não tinha mais forças. E querendo sentir o caçula perto de novo, ele levantou do sofá e foi para o quarto do irmão. Ao abrir a porta se incomodou com o ambiente fechado. Lysandre gostava de sentir a brisa caminhando por seu quarto, tocando sua pele, brincando com as cortinas e as folhas do seu diário sobre a escrivaninha. Leigh abriu a janela e convidou a brisa a entrar. Mas ela estava tão fraca que nem o voal sobre a cama dançou com ela. Ele sentiu como se ela também estivesse triste.

Sobre a escrivaninha, perto do porta retrato com a foto de Cecília, Leigh avistou o diário do irmão, fechado e protegido por um pequeno cadeado, cujo segredo ele não conhecia. Ele se perguntou o porquê o irmão protegeu seus pensamentos com um cadeado de segredo. Até poucas semanas aquele diário repousava sobre aquela escrivaninha, por vezes aberto, e nunca foi violado. Lysandre havia perdido a confiança nele? Era isso? Pela primeira vez ele se sentiu compelido por seu medo a quebrar sua promessa e violar aquele caderno de capa de couro preta, e o teria feito se as páginas dele não estivessem bem seguras.

Sentindo o cansaço pesar seu corpo ele sentou na cama do irmão, querendo entender e olhando para a foto da avó sobre aquela mesa, ele pediu que ela cuidasse do caçula onde ele estivesse e que o trouxesse de volta pra perto dele. E mal ele rogou pela ajuda da avó, o voal do dossel tocou seu rosto, dançando com a brisa que ficou mais forte, como se tivesse se animado um pouco.

Lembrando das palavras do irmão para explicar o porquê ele gostava de ver a brisa bagunçar as folhas sobre sua escrivaninha, ele desejou que ela contasse ao irmão o quanto ele o queria de volta.

“— Ao brincar sobre a minha mesa a brisa lê meus pensamentos, meus sentimento e depois sai em busca de alguém que os entenda, para sussurrar em seus ouvidos. Eu tenho esperança de um dia ela trazer este alguém para mim.”

Leigh deitou e abraçou o travesseiro do irmão quando ela saiu em busca de ouvidos para sussurrar aquele pedido, deixando algumas lágrimas escaparem. Mas antes que ele voltasse a se sentir sufocado sentiu algo com os dedos, pegando o pequeno objeto que jazia guardado – ou escondido – debaixo do travesseiro. Era um dos blocos de nota do irmão.

Sentando, novamente ele lembrou da promessa que um dia fez, de nunca ler as anotações do irmão sem que ele permitisse e pensou em tudo o que estava acontecendo. Às vezes promessas precisavam ser quebradas.

Leigh desfolhou cada página daquela pequena caderneta de bolso, em busca de uma luz, uma pista ou pelo menos uma resposta, mas só o que encontrava eram versos, rimas, palavras soltas e perdidas em meio às linhas e desenhos de notas musicais. Às vezes Leigh esquecia o quão romântico e apaixonado o irmão era e que seu coração, apesar de já ter sangrado intensamente por uma garota, que por sinal ele não gostava nem de lembrar de tanto que a desprezava por ter feito seu irmão sofrer, ainda acreditava no amor verdadeiro e que transcendia a vida. Um sorriso brotou em seus lábios ao ler uma das poesias.

[É noite,

Ouço a brisa bater à minha janela.

Ai de mim se não a deixar entrar.

A lua esconde parte de sua face envergonhada ao mirar por entre as cortinas,

buscando espiar-me enquanto sinto a brisa acalentar-me,

deitado em minha cama, protegido apenas pelo voal negro

que dança enquanto acalmo minha carne,

que vez ou outra, desperta ao perceber aqueles olhares.

Se ela fosse uma dama gentil

desceria de seu enorme pedestal deixando seu manto gelado para trás,

viria a mim e me permitiria apertá-la nos braços.

Eu fitaria seus vergonhosos e lindos olhos,

beijar-lhe-ia a boca fria até aquecê-la

e com agradável prazer,

mordiscar-lhe-ia, de leve, os 2 pequenos botões

enquanto minhas mãos conhecessem cada centímetro de sua pele macia,

até sua carne inflamar e queimar a minha,

até ver-nos, enfim, rendidos a um Amor que transcende a loucura,

aos limites do coração, da carne e da própria vida.

Se não é este o maior gosto que há no mundo,

então qual é?

 Diga-me dama gelada que insiste em espiar minha nudez

e ouvir meu arfar solitário do alto do seu pedestal,

rodeada de estrelas a lhe bajular.

Se não é este o maior gosto que há no mundo,

então, qual é?]

Por vezes ele esquecia o quão lascivo o irmão era em seus pensamentos e o quanto ele gostava de erotizar seus versos. Ele se perguntou se aquela que ele nem chegou a ter o desprazer de chamar de cunhada realmente havia sido esquecida. Fazia tempo que ele e o irmão não conversavam sobre garotas, desde que passaram a viver juntos. Não teve como ele não se sentir mal por aquela falha.

Mais para o meio do bloco Leigh percebeu que o enredo mudou, ficou estranho, como se Lysandre estivesse chateado e não era com ou por causa de uma garota. Não haviam mais versos ou rimas apaixonadas e quentes. Nada mais parecia fazer sentido e cada frase solta em meio a rabiscos lhe soava mais como sentimentos de um garoto perdido. Lysandre podia ser quieto, mas não era perdido. O que estava acontecendo com seu irmãozinho e que ele foi incapaz de perceber? Ali estaria sua resposta.

Palavra por palavra...

[Adorável, porém...]

Frase por frase...

[O silêncio não fala por mim, ele apenas me resguarda!]

Leigh leu e refletiu...

[A lembrança de uma promessa me atormenta! Ela foi quebrada!]

Tentando entender...

[Eu sorria. Então acordei.]

Mas tudo era vago demais...

[Promessas. Palavras vazias!]

E dava entendimento do que o caçula estava sentindo...

[Sozinho como convém a um louco.] 

Mas não o porquê. 

[Desculpe-me!]

Até que se deparou com as últimas anotações do irmão, páginas e páginas daquele pequeno bloco garranchadas, como se tivessem sido escritas por outra pessoa, cuja caligrafia era grande e corrida. Mas ele sabia, era de seu irmão e que este sofria enquanto escrevia, por isso as letras grandes e os borrões de tinta.

Logo no primeiro parágrafo ele sentiu que aquelas palavras foram direcionadas para ele e a cada linha, enquanto uma lágrima nova lhe corria a face, aquela sensação foi aumentando e aumentando, até que leu seu nome em meio a pedidos de perdão. 

[(...) Perdoe-me, Leigh... Perdoe-me por ser assim... Perdoe-me por ter me apoiado tanto em ti e por não ter me preocupado com nada além de ser feliz.. (...). perdoe-me pelos dias de silêncio que virão... só assim conterei minha raiva, minha frustração, meu ciúme infantil... e juntarei forças para lhe dizer adeus e desejar, do fundo da minha alma, que seja verdadeiramente feliz, porque eu te amo.] (capítulo 132)

Leigh virou todas as outras páginas em busca de uma resposta para aquela enorme dúvida que nascera em seu peito, mas nada achou. Tudo depois daquele desabafo do irmão estava em branco.

— M-Mas... Eu não entendo. O que foi que eu fiz? — ele soube naquelas linhas que a culpa do comportamento estranho do irmão era dele, mas não conseguiu entender seus motivos. Ele estava confuso e agitado e precisava que alguém lhe desse a resposta.

Na sala ele procurou por Castiel. Kage contou que ele havia ido para casa cuidar do cachorro e tomar uma ducha.

— Então ligue pra ele e peça que venha para cá, agora! Eu preciso falar com ele e não vai ser por telefone. Eu quero olhar nos olhos dele!

— Aconteceu alguma coisa, Leigh? Você está bem? — Kage se preocupou com o comportamento do rapaz. Ele estava nervoso e não parava de andar de um lado para o outro. — Por que quer o Castiel aqui? Você descobriu alguma coisa que possa nos dizer onde o seu irmão está?

— Isso é o Castiel que vai me dizer!

Kage não questionou mais e foi buscar o sobrinho. Assim que eles chegaram Leigh deu ao Cast o bloco de notas aberto naquela carta e pediu que lesse. A princípio ele recusou, pois Lysandre ia se aborrecer, mas Leigh o lembrou que aquela não era hora de pensar naquilo, pois Lysandre estava perdido num lugar qualquer.

Castiel leu e sua cara de surpresa fez Leigh perceber que ele não sabia do que se tratava, mas como eram melhores amigos alguma coisa ele devia saber que os fizesse entender o texto.

— Eu sinto muito, Leigh. O Lysandre não me falou nada sobre estar chateado com você.

— Mas vocês estão sempre juntos. E ele estava estranho já há alguns dias, então você deve ter percebido alguma coisa. NÃO É POSSÍVEL QUE VOCÊ NÃO TENHA PERCEBIDO NADA!

— DA MESMA FORMA QUE VOCÊ NÃO PERCEBEU E SENDO IRMÃO DELE! — Leigh podia estar estressado com tudo aquilo, mas Castiel também estava e não ia aceitar ser responsabilizado por mais nada. Já bastava a culpa que ele carregava por ter deixado o amigo sozinho naquela praça.

— PAREM COM ISSO VOCÊS DOIS! — bradou Kage, querendo evitar que eles se estranhassem. — EU SEI QUE ESTAMOS TODOS ESTRESSADOS E CANSADOS, MAS QUEREMOS A MESMA COISA, ENCONTRAR O LYSANDRE E TRAZÊ-LO PARA CASA, SÃO E SALVO. ENTÃO SEGUREM A ONDA! — respirando fundo para ele mesmo se abrandar — E me dá isso aqui! — e ler a carta, mesmo sem o Leigh permitir, admirando a forma com que o garoto se expressava.

Leigh sentou na cadeira, apoiou o cotovelo na mesa e massageou a testa, desculpando-se com Castiel, que também se desculpou.

— Eu não consigo entender. Por que ele escreveu aquelas coisas?

— Olha Leigh. Eu posso não conhecer muito do seu irmão, mas não tem muito que entender, pois o texto esta claro. Você não estÁ conseguindo entender porque não quer enxergar. A verdade é essa. — Kage já não era do tipo que fazia rodeios, e aquela situação pedia respostas sinceras, então, as deu.

— Como assim? Eu sei que desde que ele veio pra cá eu vivo pra trabalhar, mas eu nunca quebrei minhas promessas, eu nunca o deixei de lado.

— Alguma coisa você fez que o feriu profundamente, fazendo-o achar que você não o queria mais por perto. — disse, devolvendo-lhe o bloco de notas.

Leigh deu mais uma lida naquele desabafo e antes mesmo de chegar na parte onde o irmão se desculpava por tudo voltou os olhos para o Castiel e Kage. Ele já tinha sua resposta.

— Droga! — murmurou. — Ele só pode ter descoberto sobre a viagem e deduziu tudo errado.

— Viagem? Que viagem? — para Castiel, numa situação como aquela, viagem só podia significar uma coisa, mudança.

— Rosa ganhou uma bolsa de estudos para fazer um curso de moda da Dupont, em Paris e eu vou com ela, no verão.

— Mas a Rosa não falou nada. E como assim, você vai com ela? E o Lysandre?

— Ele vai comigo! Eu nunca o deixaria para trás! — afirmou, percebendo a confusão do irmão. — Ah, meu Deus. Aquele cabeça de vento deve estar achando que eu não vou levá-lo comigo. Como ele pôde pensar isso!

— Talvez seja porque você não contou a ele. — comentou Cast, chateado em saber que seu melhor amigo não estaria mais no S.A no ano seguinte. Kage percebeu que ele ficou triste com aquilo. — Coisas desse tipo devem ser contadas, para não pegar ninguém de surpresa. Você não acha?

— Mas foi justamente por querer fazer uma surpresa que eu ainda não contei a ele. Desde o collège que ele sonha em ir a Paris e assistir as óperas do Palácio Garnier.

— E olha só onde o seu segredinho nos trouxe. Talvez Paris nunca aconteça.

— Cala essa boca, moleque! — ralhou, Kage.

— Não, Kage. Deixe. Ele está certo. Meu irmão sumiu e a culpa é minha. Só minha! — disse Leigh, aceitando aquela carga, votando ao quarto do irmão, cabisbaixo. Sentado na cama do caçula ele pensou em tudo o que leu e lembrou dos momentos que teve com ele desde que voltaram a viver juntos, e foram tão poucos que ele se perguntou quando o trabalho e a namorada passaram a ser mais importantes que a pessoa que ele mais amava. E chorou novamente, um choro brando e silencioso, pois já não tinha mais forças nem para pra isso. Um banho, qual sabe, o acalmaria um pouco.

Enquanto isso Kage tentava conversar com o sobrinho, que não falava nada, apenas ouvia. Mesmo que Lysandre aparecesse e ele queria muito que aparecesse, ele o perderia, pois Paris era muito longe para se pensar em visitas de final de semana.

O interfone tocou e Kage atendeu, para alívio do sobrinho, pois não queria falar sobre aquilo, não ainda. Era um homem dizendo saber onde o Lysandre estava.

Cast correu até o quarto do amigo, adentrando direto no banheiro do amigo,que estava com  aporta aberta.

— Alguém achou o Lysandre!

Leigh enxaguou o cabelo rápido, e sem se importar se havia ficado resquícios do xampu, vestiu a mesma calça, sem cueca mesmo, sobre o corpo molhado e saiu abotoando a mesma camisa, que absorveu a água de sua pele ficando com marcas que pareciam de suor. Sua menor preocupação naquele momento era com cabelo e roupa.

Kage desceu para receber aquele senhor e sua neta e os levou até Leigh. Ele estava bem sério, enquanto a garota parecia bem nervosa.

— Você! — assim que passaram pela porta a jovem foi reconhecida.

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Notas finais do capítulo

[1] Chénérailles tinha registrado 766 habitantes até o ano de 2013.

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Em momentos de muito estresse grande parte das pessoas reagem da mesma forma, elas se mantém calmas no início, depois elas surtam, e por fim, caem em desânimo, perdem as forças, as esperança, é a fase do pessimismo. Depois de sentir tudo isso algumas reagem e lutam para superar, outras tentam esquecer e tantas outras se deprimem profundamente. Tudo depende da situação como um todo e da própria pessoa. Mas apesar de reagirem da mesma forma, as pessoas externizam de forma diferente. Uns são mais racionais, outros mais emocionais, uns agem com mais frieza e outros com mais emoção, e nada disso é indicador que um sofre mais que o outro, pois ninguém sabe o que está na mente e no coração das pessoas.



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