Entre Segredos e Bonecas escrita por Lize Parili


Capítulo 122
Sem chão.


Notas iniciais do capítulo

Nunca faça juramentos que não possa cumprir...



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# 01/04 #

Lysandre odiava se sentir mal por alguma coisa que fez, mesmo sem querer. Ele não estava preocupado com o que Rosa pudesse pensar, talvez, noutra época, mas naquela noite, não. Sua preocupação era com o irmão. Ele não queria que Leigh pensasse que ele havia feito aquilo de propósito, que ele não tinha respeito por sua namorada, ou pior, que ele pudesse ter gostado de vê-la constrangida.

Ele precisava se desculpar com o irmão, ele tinha que se desculpar com o irmão. "Mas ela ainda está aqui." pensou, pois não ouviu o barulho do carro na garagem, o que significava que apesar de já ter passado da meia noite, Rosa ainda estava na casa e que provavelmente dormiria lá.

Nos 5 minutos seguintes ele rolou na cama, inquieto. Ele não conseguiu esperar até o dia seguinte. Ele levantou e foi falar com o irmão, pois não ia conseguir dormir sem ouvi-lo dizer que o perdoava.

— Leigh. — ele bateu de leve na porta do quarto do mais velho, mas não foi atendido. — Leigh... — bateu novamente e como não houve resposta, girou a maçaneta e a abriu. O quarto estava vazio.

Se Leigh não estava na casa e não havia saído com o carro, ou estava no pátio com a Rosa, ou no ateliê. Lys abriu a janela do quarto do irmão e olhou pela sacada, chamando-o, pois o estilista gostava de ficar com a Rosa na namoradeira que ficava embaixo da sua sacada. Como não teve resposta deduziu que deviam estar no ateliê, indo atrás dele.

— Você tem certeza que é só isso, Rosa? — perguntou Leigh antes de lacrar o envelope com o formulário de matrícula e os documentos da namorada. — Essa é a garantia da sua vaga.

— Sim, vida, tenho. Eu já conferi várias vezes. — respondeu sentada ao lado dele. — Pode lacrar!

Leigh lacrou o envelope pardo tamanho ofício, cujo endereço da namorada e da Dupont ele imprimiu no próprio envelope, e colocou sobre a mesa de corte. Ele mesmo postaria no correio no horário de almoço.

— Você não pode esquecer de ligar para a imobiliária, vida. — lembrou-o. — Se deixar pra cima da hora vai se difícil achar um bom apartamento por um valor maia baixo, ainda mais em Paris.

— Não se preocupe, Rosa. A minha moradia em Paris já está praticamente acertada. Minha preocupação é a loja. — fechou o laptop.

— O que você pretende fazer?

— Eu vou fazer uma grande queima de estoque, entre maio e junho. Isso já vai esvaziar bem as prateleiras e as araras. Vou ter um pouco de prejuízo neste verão, mas fazer o quê. É necessário. — contou, fitando cada canto do seu ateliê. — O problema vai ser encontrar alguém de confiança para tomar conta do imóvel.

— Quanto a isso, não se preocupe, vida. Tenho certeza que minha mãe não vai se importar de dividir a Angela com você. — brincou. Ela já havia pedido à mãe que conversasse com a empregada sobre trabalhar para o seu namorado, só para manter a casa livre do pó.

— Então vou esperar que ela se pronuncie. Caso não tenha interesse, procuro uma agência.

— Você já ligou para os seus pais?

— Ainda não. Estou criando coragem.

— E o Lys. Quando você vai contar a ele? — Rosa não parecia preocupada. Na verdade, ela sorria.

— Não sei. Eu ainda me sinto desconfortável com isso. — Ele sim parecia preocupado. — Eu jurei pra ele que nunca... O que foi isso?

— Isso o que, vida?

— Esse barulho. — Ele ouviu um som baixo do lado de fora do ateliê.

— Eu não ouvi nada, foi impressão sua.

— Fica aqui. — pediu. — Eu vou ver o que foi. — indo para a loja, mas ao acender a luz só o que viu de diferente foram algumas sacolas da loja no chão, ao lado do balcão, que ficava de frente para o ateliê.

— Viu alguma coisa, vida? — Rosa não conseguiu ficar no ateliê, aparecendo na porta.

— Não. Só essas sacolas no chão. — falou ao recolhê-las.

— Então foi isso. Elas caíram do balcão. O pacote é pesado e ele estava na ponta. — comentou.

— Pode ser. Mas vamos pra casa. Está tarde e precisamos dormir. — disse a ela, passando o braço em sua cintura, conduzindo-a para fora do ateliê.

— Eu não me lembro de ter deixado esta porta aberta. — comentou o estilista ao sair da loja pela porta da passaderia, que dava na sua garagem.

— Você só deve tê-la deixado encostada e ela acabou abrindo, vida. Não tem como ninguém entrar aqui. Todas as entradas estão bem trancadas.

— Talvez você tenha razão. Eu me preocupo demais. — concordou, querendo não se preocupar, mas ao subir a escada e encontrar a porta da cozinha igualmente entreaberta, sentiu um frio na espinha, como se a brisa gelada de uma janela aberta pudesse tocá-lo naquela noite. — L-Lysandre... — Ele correu para o quarto do irmão, adentrando-o bruscamente.

Ao ver o caçula bem, dormindo de bruço com o braço sobre o rosto, provavelmente pela claridade que vinha da rua, Leigh inspirou aliviado. Por um instante o coração dele disparou e ele temeu o pior. Sem mais alarde ele caminhou silenciosamente até a janela e a trancou, impedindo assim que qualquer um pensasse em passar por ela, nem mesmo a brisa noturna que Lys tanto gostava de sentir tocando sua pele enquanto dormia poderia entrar naquela noite. Antes de sair ele se aproximou da cama do rapaz e o cobriu.

— Boa noite, Lysandre. — murmurou, saindo em seguida.

— Então, vida. O Lys está bem? — perguntou Rosa, mais por curiosidade que preocupação, pois se algo tivesse acontecido com o cunhado, Leigh teria feito um tremendo alarde no quarto do garoto.

— Está sim, e no 5º sono provavelmente, pois nem se mexeu quando eu entrei.

— Eu não disse, amor. Você deixou as portas apenas encostadas e elas acabaram abrindo um pouco. — deduziu, passando a mão no rosto do namorado. — Você se preocupa demais.

— Eu sei que às vezes pareço um pouco paranoico com a possibilidade de alguém invadir a casa, Rosa. Mas... — silenciou-se e olhou para o quarto do irmão, guardando para si o medo que tinha de que algo de ruim acontecesse a ele. O simples pensamento de perdê-lo já o apavorava, então preferia não pensar e nem verbalizar aquilo.

— Vamos dormir. — disse a ela, esboçando um leve sorriso, forçado. E assim eles fizeram, após trancar a porta da casa.

Enquanto Rosa dormia tranquila em seu pequeno quarto e Leigh tentava não se preocupar até o sono o abraçar, Lys sentia o quarto o sufocar, a noite mais escura e fria, e o silêncio o torturar, pois lhe permitia ouvir seus pensamentos gritando em sua mente, cuja lembrança de uma pickup prata cabine dupla se distanciando dele sem um simples aceno pela janela parecia não querer abandoná-lo naquela noite. Ele teria aberto a janela e se exposto a brisa noturna, mas se sentia fraco demais para levantar da cama; sem chão. Ele havia perdido seu esteio.

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Notas finais do capítulo

Ahhhh, Paris, Paris...

Vive l'amour...



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