Os meninos eram rápidos quando se tratava de COMIDA. Eles correram para a grande casa na árvore (era uma casa dentro, fora e debaixo da árvore, era uma construção surreal e enorme. Era impossível.) Todos os meninos correram pela casa, e pararam numa mesa de jantar vazia. Sem pratos, sem copos, sem talheres e sem comida. Eu fiquei pasma ao ver eles esperarem Peter se sentar no extremo na mesa, como um rei, e esperarem ele levantar um copo imaginário e dizer

– ATACAAAR !

E todos mergulharam sobre a mesa, fazendo como se pegassem coxas de galinha, ou comessem manjar, ou bebessem suco de uva, como se houvesse um enorme banquete ou com algo que desse para se esbaldar.

Até sininho, sentada numa cadeirinha improvisada fingia estar comendo.

– Jenny, algo errado com a comida ?

– Que comida Peter ? não há nada aqui.

Todos pararam e me encararam. E o menino vestido de raposa disse virando-se a Peter.

– Peter ! ela não tem imaginação !

Imaginação. Eu havia brigado com meu irmão sobre imaginação. Danny tinha que aprender. Imaginação não leva a nada, não ia trazer o papai de volta mais rápido. Imaginação é coisa de criança. E sou uma mocinha.

– Jenny, vamos ! imagine ! o que quiser. Poderá comer.

– Eu não quero imaginar. Eu quero comida de verdade.

– Mas Jenny, tudo que você imaginar, vai ser verdade.

– Você é louco. Voar ? Imaginar comida ? Fé ? Confiança ? Pó mágico ? PRA MIM CHEGA. Eu vou embora daqui. Seu grande bobão selvagem !

Nisso sininho que já não gostava de mim se levantou irritadinha em minha direção.

– E EU NÃO ACREDITO EM FADAS !

Saí batendo os pés em direção a praia escura.