E se Eu não Tivesse Me Atrasado pra Formatura? escrita por Tati


Capítulo 40
Eu não me atrasei desta vez




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Duas semanas passaram-se desde o nascimento de Amanda e, como planejado, aquele era o dia em que as duas garotas finalmente iam sair daquele hospital depois de tanto tempo. Pierre saltou da cama cedo para lhe preparar uma surpresa naquele dia e os preparativos fizeram com que ele não conseguisse ir buscá-la antes que fosse noite. Porém, o horário também já fazia parte de seu plano.
Por volta das 19h45mins, Pierre e Matt entraram no quarto dela e viram Alex, pela primeira vez em meses, não mais deitada naquela cama. Ela estava andando pelo quarto e arrumando suas malas com a ajuda da mãe e de todos os outros, que já estavam lá há longas horas. Outra coisa que também chamava a atenção é que as cores aparentavam ter voltado a ela. Não só pelo fato de sua pele não estar mais pálida, mas também por não estar mais usando as camisolas brancas do hospital, mas sim, suas roupas normais, que não haviam sido tocadas havia meses. Ao vê-la daquele jeito, finalmente de volta ao normal, ele sentiu que aquela noite seria ainda mais perfeita do que ele planejava. Era a primeira vez em tanto tempo que ele a via saudável.
“Você fica tão melhor assim.” Ele disse a abraçando pelas costas, com um sorriso no rosto e beijando sua bochecha
“Pierre, eu não tinha percebido que você estava aqui.” Ela respondeu virando-se e abraçando-o ao redor do ombro “Por que demoraram tanto?”
“Você vai ver.” Ele disse sorrindo “Cadê a Amanda?”
“No berçário. Vou buscá-la e então podemos ir.”
“Não vai não. Eu vou buscá-la. Você vai se vestir.”
“Eu já me vesti.”
“Não se vestiu não. Essas roupas não servem para o lugar onde estamos indo. Mas se vista rápido, não podemos nos atrasar.”
“Atrasar-nos para o quê?”
“Atrasar-nos para o quê?! Você não se lembra de que dia é hoje?”
“Não.”
“Agora sim eu estou me sentindo mal amado.” Ele respondeu fingindo uma expressão triste “Vou te perdoar dessa vez, mas se esquecer de novo no ano que vem, eu juro que eu vou chorar. Sorte a sua ter pessoas como a gente para te lembrar dessas coisas, certo, Matt?”
“Certo. Como foi que você esqueceu o dia de hoje, mãe?”
“É primeiro de dezembro.”
“E?” perguntou Pierre
“Sexta-feira.”
“E?”
“E nada.”
“Eu desisto. Provavelmente não é tão importante para você quanto é para mim.” ele respondeu, largando-a
“Do que é que vocês estão falando? Não podem fazer com que eu me sinta culpada por esquecer de alguma coisa se não disserem primeiro do que foi.” Ela protestou
“Bom, Alex, eu vou te levar a um lugar especial essa noite e eu acho que você vai se lembrar do que eu estou falando. Mas, se não lembrar, eu juro que aí sim eu já vou chorar esse ano mesmo. Agora vai se vestir.”
“Eu não sei o que vestir. Tudo o que eu tenho aqui são calças jeans e blusas. O que você quer que eu vista?”
“Isto.” Respondeu Seb, tirando um vestido do guarda-roupa
“Esse vestido… Pierre, por que você quer que eu vista isso?”
“Eu não vou responder. É vingança por ter esquecido que dia é hoje.” Ele respondeu sorrindo “Confie em mim, apenas vista isso.”
“Tudo bem, então. Vai ser um pouco estranho sair do hospital vestida assim, mas…” ela respondeu sentindo-se um pouco confusa e foi para o banheiro se trocar
Seus planos eram colocar o vestido e sair de lá mas, antes que pudesse, sua mãe entrou também e a ajudou a arrumar o cabelo e fazer a maquiagem exatamente como ela fez na primeira vez em que vestiu aquela roupa. Aquilo fez com que ela levasse mais de uma hora naquele banheiro só para se arrumar para sair do hospital. Aquilo realmente fez com que ela percebesse que se esqueceu de algo que era muito importante mesmo para ele.
Ela não entendeu o motivo de tudo aquilo e ficou ainda mais confusa ao sair do banheiro e ver que não havia ninguém além de Pierre a esperando e ele havia trocado as roupas também enquanto esperava.
“Você está linda!” ele disse impressionado
“Obrigada, você também.” Ela respondeu sorrindo “Mas… onde estão os outros e as crianças?”
“Você é muito curiosa, sabia? O Matt e a Amanda estão bem. Vai vê-los daqui a pouco.”
“E os outros…”
“Você vai saber.” Ele respondeu sorrindo e tomando-a pela mão “Vamos. Não tem direito a mais nenhuma pergunta, mocinha.”
Sua mãe, a única que ainda estava por perto, logo entrou em seu próprio carro e foi embora. Ninguém mais que Alex conhecesse estava por perto. Ela simplesmente permitiu que ele a levasse para seu carro e dirigisse para um lugar que ela desconhecia. Ela simplesmente confiou nele.
Depois de algum tempo dirigindo, ela pareceu que ele parecia diminuir a velocidade de propósito. Ela não sabia se ele queria fazer com que o trajeto durasse mais tempo para que ela prestasse atenção no local onde estavam ou para que se demorassem mais a chegar ao seu destino, mas, fossem quais fossem suas intenções, o que ela via do lado de fora da janela do carro rapidamente chamou sua atenção. Ele parecia estar fazendo o caminho desde a casa dos pais dele até a casa onde ela morava quando era mais nova e depois para… Onde? Ela reconhecia aquela vista. Havia novos rostos, novos vizinhos e novas lojas de doces nas quais as crianças passavam o dia, mas o lugar e as memórias que ele guardava estavam todas lá. Eram todas as mesmas. Aquela era a mesma vizinhança onde ela havia crescido. O mesmo lugar onde brincava com os amigos quando era criança e o lugar onde vivera todas as experiências de sua adolescência. O lugar onde vivera até seus 20 anos, quando prematuramente casou-se com Chuck por não enxergar mais chances entre Pierre e ela após o nascimento daquela criança, que deveria ser o filho biológico dele. Depois daquele casamento, seus pais se mudaram e passaram longos anos vivendo em Paris e ela nunca mais viu nem a eles e nem àquela vizinhança novamente. Não até aqueles últimos dias. Ela havia reencontrado tudo o que estava enterrado há tanto tempo em suas memórias graças à pessoa sentada ao seu lado e dirigindo aquele carro e foi então que ela entendeu seus motivos de diminuir a velocidade.
Em alguns poucos minutos, eles chegaram ao destino.
Ele estacionou o carro em frente ao mesmo local que freqüentavam quase todos os dias: a escola onde se formaram juntos no ensino médio. Ela não entendia o motivo de voltarem àquele lugar, mas ainda confiava nele. Foi então que ele desceu do carro e abriu a porta para ela, oferecendo sua mão para que ela se apoiasse.
“Mas que cavalheiro!” ela disse sorrindo e segurando sua mão
“Uma garota especial, uma noite especial… Eu também tinha que ser uma pessoa especial.”
“Não sei o que você está planejando, mas já conseguiu fazer com que eu te ame ainda mais.” Ela respondeu sorrindo
“Eu também te amo muito mais do que antes, sabia? Cada dia você faz com que eu te ame mais.” Ele disse tapando seus olhos “Agora vai ter que confiar em mim. Logo vai ver onde estou te levando.”
“Eu confio.” Ela concordou, caminhando na direção onde ele guiava
Após uma caminhada de alguns poucos minutos, ele tirou as mãos dos olhos dela, permitindo que ela visse o lugar e descobrisse o que ele fez. Foi então que lágrimas encheram seus olhos.
“Se eu tivesse tido a chance de fazer isso há exatos onze anos, eu diria agora ‘Fico feliz que tenha aceitado vir comigo hoje à noite. Eu prometo que você não vai se arrepender’.” Ele sussurrou em seu ouvido, com um sorriso nos lábios
Ela tentou o máximo, mas não conseguiu mais se impedir de chorar. Ele havia levado-a ao ginásio do colégio. O lugar estava exatamente como o lugar em que suas vidas haviam tomado diferentes rumos onze anos atrás. Seus antigos colegas de classe, amigos, antigos professores que lecionavam naquele local e o antigo diretor do colégio que mantinha o local durante sua adolescência, estavam lá. Todos vestidos da mesma maneira que estavam naquela noite. Todos que estiveram lá naquela noite e que ficaram para trás junto com os anos estavam lá de novo, exceto por Chuck e Amanda, que foram substituídos por Matt e uma nova Amanda que, dessa vez, com certeza não tentaria separá-los. Estava em sua formatura do ensino médio mais uma vez.
Logo, ela sentiu as mãos dele em seu rosto, enxugando as lágrimas que ela derramava e, com o sorriso mais sincero que ela já tinha colocado em seu rosto, ela se aproximou dos lábios dele e o beijou planejando jamais ter que parar.
“Será que a garota mais bonita da escola vai aceitar dançar comigo?” ele lhe perguntou
“Claro que vai.” Ela respondeu segurando sua mão e o seguindo até a pista, onde passou os braços ao redor de seus ombros e dançou aquela música lenta sem tirar seus olhos dos dele. Ela sentia que não era possível amá-lo ainda mais do que ela o amava naquela noite.
“Lembra-se agora que dia é hoje?”
“Primeiro de dezembro, a noite da nossa formatura.” Ela respondeu ainda sentindo lágrimas nos olhos
“Exato.”
“Como… como foi que você conseguiu trazer todas essas pessoas de volta para cá e recriar toda a decoração? Aliás, como foi que você encontrou essas pessoas?”
“Fotos; lista telefônica; pessoas que conhecem pessoas, que conhecem pessoas e assim sucessivamente… Mas isso não é importante. A pergunta que você deveria estar me fazendo não é como eu fiz isso, mas sim, por que eu fiz isso.”
“Certo, então por que você fez isso?”
“Primeiro: porque me atrasar para a formatura foi o pior erro da minha vida. A única coisa boa que eu consegui com isso foi o Matt. Mesmo assim, eu jamais consegui me perdoar por aquela noite porque eu te machuquei mais do que nunca na minha vida com o meu atraso. Já que você mesma me confessou, no dia em que demos o nosso primeiro beijo, que passou anos chorando imaginando o que poderia ter ocorrido se eu não tivesse me atrasado para a formatura, eu decidir voltar atrás, não me atrasar e ver o que aconteceria. E, segundo e mais importante: porque foi aqui onde nossas vidas se separaram e é aqui, portanto, onde eu quero que elas, oficialmente, voltem a se encontrar. Foi aqui que, graças a uma armação, as nossas vidas com Chuck e Amanda começaram quando era para ser a noite em que eu ia te pedir em namoro. Mas vai ser aqui onde o próximo passo do nosso relacionamento vai começar. Eu acho que, em resumo, o que eu estou tentando te dizer é que…” ele parou por um instante e mostrou-lhe uma aliança que tirou do bolso “Alexandra Hamilton, quer casar comigo?”
Ela não conseguiu responder a pergunta. As lágrimas que corriam por seu rosto pela segunda vez naquela noite a calaram, mas o sorriso em seus lábios dava-lhe a resposta que ele há tanto esperava. Ele tentou colocar a aliança de noivado em seu dedo, mas ela fechou a mão. Ela queria dizer sua resposta em voz alta antes disso. Aquele era o momento com o qual ela passou anos de sua vida sonhando e ela não acreditava que naquele instante, toda a sua felicidade repousava em uma palavra de três letras. Ela se sentiu vivendo em um conto de fadas.
“Sim!” ela gritou o mais alto que pôde, logo pulando em seus braços
Todos ao redor os aplaudiam enquanto ele colocava a aliança em seu dedo e enxugava suas lágrimas para iniciar um longo beijo que finalmente deu a resposta de uma pergunta que não saiu de sua mente durante aqueles longos anos: E se eu não tivesse me atrasado para a formatura?
Aquela noite jamais teria acontecido, assim como sua história juntos e seu pedido de casamento jamais seriam tão especiais. Ele sabia que, ao se atrasar, ele conseguiu fazer com que ambos percebessem o quanto o outro era importante e perceberem que suas vidas seriam sem sentido sem a companhia um do outro. Naquele momento ele soube, com certeza, que se pudesse voltar atrás no tempo, ele não mudaria nada.

FIM

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Notas finais do capítulo

Bom, gente, como perceberam, esse é o capítulo final de “E se eu não tivesse me atrasado para a formatura?”. Não sei se compreenderam o que eu queria passar com essa história, mas a mensagem principal, escondida em cada linha dessa história, é que não se deve desistir e nem duvidar de um sonho. Para que um sonho seja realizado, basta sonhar. Eu acredito que, como o sonho que a Alex tinha de ser mãe, o sonho dos dois de terminarem juntos e o sonho de Matt de ter uma família são exemplos das coisas que tomamos como impossíveis na vida. Percebi que vocês também pensam assim pelos comentários desses últimos capítulos, quando diziam que duvidavam que tivesse alguma salvação para tudo isso. Eu acredito que quando se estabelece uma meta e não se desiste até que a alcance, milagres podem acontecer. Não duvidem nunca de milagres pois somos nós quem realizamos nossos milagres diários. … por isso que eu acredito que, enquanto estivermos vivos, vamos sonhar, e, enquanto sonharmos, teremos motivação para acordar todos os dias e tentar de novo. Por isso, se tiver um sonho, não importa o quanto seja difícil, o quão longe esteja, o quão doloroso pareça ser o caminho para chegar a ele, não desistam jamais. Sonhos são o que movem nossas vidas. Isso é o que essa história significou para mim. Pode ser apenas uma história, mas não duvidem que coisas como essas, ou ainda mais difíceis, possam já ter acontecido na vida real.

Tati



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