E se Eu não Tivesse Me Atrasado pra Formatura? escrita por Tati


Capítulo 34
Uma promessa que não pode ser quebrada?




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Ele saiu do quarto de Amanda se sentindo confuso e perdido, mas a coisa da qual mais tinha certeza era de que definitivamente sentia pena do que tinha acontecido com ela. Não apenas isso, ele se sentia surpreso quanto a ela. Ficou surpreso com a grande mudança que ela sofreu depois de conhecer o Chuck de verdade. Surpreso que, pela primeira vez, ela ia ajudar Pierre. Mas, infelizmente, aquela não seria apenas a primeira vez, seria também a última. Ele nunca pensou que viveria para ver Amanda ajudando alguém. Alguém que realmente merecesse ajuda.

Antes de deixar o hospital, foi até a lanchonete de lá comer alguma coisa depois das longas horas de viagem, mas o que ele viu o fez instantaneamente perder a fome. Ele viu Matt sentado sozinho em um canto. Havia comida a sua frente mas, evidentemente, ele não havia tocado-a. Lá estava ele: silenciosamente chorando em um canto da lanchonete.

Com o coração nas mãos, Jeff se aproximou dele e o abraçou, sem dizer nem ao menos uma palavra antes que Matt percebesse a presença de alguém ao seu lado. Eles não trocaram nem ao menos uma palavra por algum tempo. Elas não se faziam necessárias. Jeff entendia o que estava se passando pela cabeça de Matt naquele momento e tudo o que aqueles acontecimentos haviam feito com ele. Sabia que conversar faria Matt se sentir aliviado, mas preferiu esperar até que suas lágrimas diminuíssem a intensidade para falar com ele, o que demorou algum tempo.

"O que houve, Matt?"

"Nada." Ele respondeu enxugando as lágrimas

"Não é verdade. Por que não come nada, então?"

"Não estou com fome."

"As pessoas não param de sentir fome no momento em que olham para a comida, por isso somos obrigados a fazer uma coisa que se chama comer. Por que você está chorando ao invés de estar comendo?"

"O problema é que... Não é nada. Eu só não quero perder a minha mãe!"

"E?"

"E a Alex. Eu também não quero perdê-la."

"E?"

"E eu sinto muita falta do meu pai." Ele respondeu chorando mais ainda "Eu quero ver o meu pai..."

"Matt, eu vou fazer uma promessa para você, certo? Eu prometo que você vai ver o seu pai em duas semanas ou menos. Se tudo sair como planejado, ele vai sair daquele lugar feio e vai voltar para casa com você. Agora, quanto a Amanda e a Alex, eu, infelizmente, não posso prometer nada. Mas pode confiar em mim quanto a te levar de volta para o papai."

"Eu não acho que você vai cumprir a sua promessa."

"Como assim?"

"Não é que eu não confie em você, é só que... às vezes as pessoas te prometem de tudo para fazer com que você se acalme, mas tem coisas que são simplesmente impossíveis de ser feitas e pronto. As pessoas têm essa mania chata de prometer coisas que nem elas mesmas se acham capazes de fazer quando começam a achar que você não agüenta a verdade. O meu pai prometeu que nunca ia me deixar, a minha mãe prometeu que nunca mais ia me deixar ver meu pai, a Alex prometeu que nada ia acontecer com ela naquele dia em que meus pais se divorciaram e eu disse que era melhor ela ir embora e procurar por ele mais tarde na casa dele... Tudo terminou com o meu pai preso, a minha mãe mobilizando pessoas que estavam em outro país para me fazer ver meu pai e a Alex morrendo no hospital porque tomou um tiro no dia em que disse que nada ia acontecer com ela. Palavras são só palavras. É simples assim. As pessoas podem te dizer o que elas quiserem, mas não precisam, necessariamente, estar dizendo o que vai acontecer. Ninguém sabe prever o futuro, por isso promessas são inúteis."

"É, realmente você perdeu toda a sua inocência enquanto todo mundo estava preocupado demais em tentar controlar o Chuck e a Amanda. Seja bem-vindo ao mundo dos adultos, onde promessas são inúteis e o que vale é o que está assinado."

"Eu não sou adulto e eu queria parar de viver como um. É tudo tão triste e confuso."

"Não precisa mais viver como adulto, Matt. Está tudo bem agora. Eu sei que você ficou muito assustado durante esses últimos meses e que não tinha ninguém em quem confiar, mas eu... bom, eu não vou dizer que prometo, mas se você quiser, eu assino um papel e autentico no cartório dizendo que nunca vou te deixar sozinho antes de conseguir te levar de volta para o seu pai." Disse Jeff rindo "Pare de se preocupar tanto, Matt, você é uma criança. Porém, para que eu te ajude com o seu pai, você vai ter que comer alguma coisa agora comigo e não vai mais ficar assim tristinho nos cantos porque isso me magoa."

"Tudo bem, então."

"Ótimo. Eu vou buscar alguma coisa para a gente. O que você comprou pelo menos meia hora atrás já está frio."

Em algum tempo, ele voltou para a mesa mas percebeu que, ainda assim, Matt mal tocava sua comida. Porém, ele nem ao menos teve de perguntar o que havia de errado daquela vez.

"Jeff, você acha... acha que o meu pai está comendo alguma coisa agora?"

"Eu não sei, Matt."

"Eu ouvi falar que eles tratam os prisioneiros muito mal. Como você acha que o meu pai está?"

"Eu não faço a menor idéia."

"Faz sim. Você visitou o meu pai na cadeia algumas vezes. Como é que ele estava?"

"Você quer mesmo que eu seja sincero?"

"Quero."

"Ele parecia muito mais magro e bem pálido. Ele disse que não queria comer. Primeiro porque não tinha vontade e segundo porque a comida sempre parecia estragada e ele evitava comer o máximo possível para não adoecer com aquilo mas tinham vezes que ele estava com fome demais para rejeitar, então... Mas, por favor, Matt, coma. O seu pai não gostaria de te ver passar fome por causa dele."

"É, eu sei."

"Matt, quando terminarmos de comer, eu vou ter que ir para uma delegacia e trazer alguns policiais para cá. Sua mãe quer denunciar o Chuck para que o seu pai possa ser liberto."

"Sério?" ele perguntou sorrindo

"É. Depois disso, o papai vai poder sair da cadeia e ele vai te levar para casa."

"Vai ser hoje?!"

"Seria impossível. Mas, como eu te disse, talvez em duas semanas ou menos se tudo der certo."

"Oba!"

"Então... você vai querer vir comigo? Eu sei que a delegacia não é o lugar mais legal do mundo, mas é melhor do que continuar no hospital depois de passar a noite aqui. Aí você também aproveita e dá uma volta de carro por Nova York, já que eu acredito que ninguém tenha te deixado conhecer a cidade até hoje. Quer vir?"

"Claro que sim."

"Certo, então."

Eles saíram rapidamente e voltaram ao hospital em pouco mais de três horas, seguidos por oficias prontos para ouvir o testemunho de Amanda. Mesmo assim, uma surpresa lhes esperava no momento em que eles voltaram...

"Sinto muito, mas... a Srta. Collier passou por uma emoção muito forte e ela está passando por uma cirurgia de emergência agora. Esperamos que ela sobreviva."

"O quê?! Vocês não podem deixar a minha mãe morrer! Vocês não podem esperar que ela sobreviva, vocês têm que salvá-la!"

"Os outros médicos estão fazendo o máximo que podem por ela, mas já sabíamos que ela ia morrer desde o momento em que ela chegou aqui."

"O quê?!"

"Ele não sabia disso." disse Jeff

"E você sabia?!"

"Matt..."

Ele saiu correndo da sala de espera e foi para o banheiro chorando muito. Jeff seguiu seus primeiros passos, mas parou de tentar muito antes de se aproximar de Matt. Ele sabia que o garoto precisava ficar sozinho por um tempo e ele não queria colocar ainda mais pressão sobre ele. Então, ao invés de segui-lo, ele voltou à sala de espera e ficou por lá, esperando por notícias de Amanda, junto com os policiais, e esperando ouvir o melhor. Ele queria ter certeza de que tudo ficaria bem, mas ele não convencia nem a si mesmo daquilo. E a pior parte não era pensar na dor da Amanda, era pensar na dor de Matt. Tudo o que ele tinha por família estava desmoronando em frente aos olhos dele e ele não podia mudar nada. Desde o dia em que Pierre disse "Eu quero divórcio", tudo mudou e Matt foi quem mais sofreu com essas mudanças. Nada curaria as feridas que ficaram nele após aquele dia.

Em pouco mais de meia hora, Matt voltou, com os olhos bem vermelhos e inchados, sentou-se ao lado de Jeff e, em silêncio, o abraçou. Foi dessa simples maneira, sem palavras e nem lágrimas, que ele se desculpou com Jeff e esperou por notícias de sua mãe, finalmente se sentindo protegido por alguém. Ele não queria conversar e Jeff sabia disso, então ele simplesmente passou um dos braços ao redor do garoto e esperou junto com ele por notícias que pareciam nunca vir. Essa foi a maneira simples, sem palavras e nem lágrimas, que Jeff arranjou para dizer que estava tudo bem e que o perdoava já que nunca esteve bravo.

Minutos após a volta de Matt, uma equipe de médicos saiu do quarto de Amanda. A expressão fria em seus rostos não respondia à pergunta principal. Ela era fria como a de alguém que acabara de fazer uma das coisas mais comuns do mundo e eles ficaram esperando para ouvir o que eles tinham para dizer. Esperando e torcendo que a vida dela ainda pudesse ser salva.

A responsabilidade sobre a liberdade de Pierre, a real punição de Chuck e toda a felicidade de Matt dependiam da resposta para aquela pergunta que eles queriam fazer então os segundos que se passaram desde o momento em que os médicos saíram do quarto dela e caminharam até eles pareciam durar horas...

"Como ela está?" perguntou Jeff, segurando firme nas mãos trêmulas de Matt

"Tentamos o máximo que pudemos, mas infelizmente..."

Não há necessidade de completar essa frase. Daquele momento em diante, ele teria que pensar em alguma outra maneira de manter sua promessa a Matt sem a ajuda de Amanda.


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