Mais duas semanas se passaram desde aquela noite e ele ainda não tinha conseguido encontrá-la. Ele estava começando a ficar preocupado com ela, mas, durante aquele dia em particular, sua busca por Alex sofreria uma pausa. Era o dia em que decidiriam a respeito da custódia de Matthew.

Saiu de casa após o almoço e encontrou-se com os amigos e o advogado no tribunal de causas cíveis às 15hs. Após chegar, gastou um longo tempo com conversas banais para poder se acalmar ou até mesmo esquecer o motivo de estar ali, mas aquilo realmente não ia acontecer. Amanda parecia não chegar para que pudessem colocar um ponto-final em todo aquele problema. Apesar de estar cansado da espera, já se acostumava com seus atrasos. Todos fúteis, porém constantes.

Uma hora se passou e, enquanto conversava com seu advogado, sua futura ex-esposa finalmente chegou, de mãos dadas com o ex-marido da ex-namorada dele que era, por acaso, seu antigo melhor amigo. De mãos dadas aos dois, vinha Matt, todos os três em silêncio. Um silêncio, porém, que não duraria muito.

Matt era o que menos tinha intenção de ser discreto dos três e mudou por completo a expressão de seu rosto no momento em que viu seu pai após longos meses. Pierre não o havia percebido até então, mas não se demoraria em fazê-lo logo após Matt quebrar o silêncio com um estridente...

"Papai!"

"Matt!" ele gritou surpreso e com um sorriso no rosto ao mesmo momento em que se ajoelhou e o abraçou firme contra o peito "Você nunca vai conseguir imaginar o quanto eu senti sua falta. Eu não quero te soltar nunca mais."

"Nem eu."

"Nossa, Matt, você está tão magrinho. Está doente?"

"Não, com fome."

"Fome? Mas eles não têm te dado comida?"

"Disseram que não vão gastar dinheiro com as minhas despesas então eu durmo no quintal e como quando eu tenho dinheiro, o que significa quase nunca. Só quando um vizinho nosso não quer cortar a grama e paga para que eu faça isso."

"O quê?! Matt, isso é crime! Ninguém pode fazer isso com uma criança! Aliás, nem ao menos com um adulto."

"Pierre, estamos atrasados uma hora para começar essa porcaria, podemos entrar na corte e começar logo? Eu tenho horário marcado para fazer o cabelo e as unhas, sabia?"

"Nossa, Amanda você sempre está ocupada com as coisas mais relevantes desse mundo... Você se importa tanto com as coisas que realmente significam alguma coisa que eu sei que eu com toda a certeza votaria em você se você quisesse lançar sua candidatura para presidente. Você faria toda a diferença para esse país. Nós não viveríamos se as suas unhas não fossem tão perfeitas. Nossa, Amanda, como é que eu vou viver o resto da minha vida sem você? Ela vai ficar tão... menos fútil." Ele sarcasticamente a provocou se levantando do chão "Foi você quem chegou uma hora atrasada então não me culpe por te atrasar ainda mais."

"Estou atrasada por culpa sua, Pierre. Foi você quem quis essa droga desse divórcio então eu tive que comprar roupas novas. Eu não posso me divorciar com roupas que eu vou querer usar de novo, dá má sorte. Eu vou ter que jogar essa que estou usando agora no lixo depois de sair daqui ou caso contrário eu nunca mais vou conseguir me casar de novo."

"Não são suas roupas que vão te impedir de se casar, é a sua personalidade. Além do mais, se não usar mais a mesma roupa que foi usada no dia de uma desgraça evitasse o azar, a minha vida seria uma das sete maravilhas do mundo. Eu nunca mais usei a roupa que eu usei no nosso casamento..." ele respondeu, logo afastando os olhos dela e tirando algum dinheiro da carteira "Pega, meu amor. Vai almoçar."

"Obrigado, pai." Agradeceu Matt, abraçando-o com um sorriso nos lábios "Eu te amo muito, papai."

"Eu também te amo, meu filhinho. Muito mesmo." Ele respondeu acariciando o cabelo do garoto "Gente, vocês podem, por favor, tomar conta dele enquanto a gente resolve tudo?"

"Claro, não tem problema." Respondeu David

"Então vamos." Disse Amanda entrando na corte, guiando Pierre e Chuck

No momento em que as portas da corte foram fechadas, Matt dirigiu-se para a lanchonete, acompanhado pelos amigos de seu pai e finalmente conseguiu almoçar direito pela primeira vez em meses. Um pouco depois de terminar de comer, sentiu duas mãos cobrindo seus olhos e sentiu um perfume familiar do qual ele já sentia falta. Logo, ouviu uma voz que reconheceu rapidamente próxima a seus ouvidos...

"Adivinha quem é e eu te dou um chocolate."

"Alex!" ele respondeu sorrindo e se virou para abraçá-la o mais forte que pôde "Alex, eu senti saudades!"

"Eu também senti a sua, anjinho." Ela disse sorrindo e entregando um chocolate para ele "Seu presente por ter acertado e se lembrado de mim."

"Obrigado."

"Alex, onde você esteve?" perguntou Seb, não conseguindo acreditar no que via "O Pierre estava desesperado atrás de você. Ele vai acabar ficando louco se não conseguir conversar com você."

"Seb, o Pierre me machucou muito. Eu nunca mais vou conseguir..."

"Não foi ele!" defendeu Matt

"Matt..."

"Meu pai não traiu você."

"O quê?! Matt, como é que você sabe disso? Ele te pediu para dizer isso para mim?"

"O meu pai nem sabia que você viria." Ele respondeu "Eu ouvi o Chuck e a minha mãe conversando um tempo atrás e eles estavam rindo do que fizeram com você e o meu pai. Eles disseram que deixaram um sutiã embaixo da sua cama para fazer você pensar que ele estava te traindo e a minha mãe pediu para que uma amiga dela telefonasse para você e dissesse várias mentiras. Por favor, não acredite neles!"

"Você... você está falando sério?"

"Claro que sim. O meu pai não fez nada para você. Você não o ama?"

"É claro que eu amo, e amo muito mas..."

"Então não deixa ele sem ter motivos. Ele te ama muito, eu sei disso, ele já me falou muitas vezes, e eu também te amo. Eu não queria que vocês dois terminassem porque você é a pessoa mais próxima de uma verdadeira mãe que eu tenho na minha vida e eu queria que algum dia nós pudéssemos ser uma família. Eu sei que você faz o meu pai feliz, então não vai embora, por favor!"

"Eu vou precisar falar com o Pierre, Matt. Eu acho que... acho que então vou esperar até que ele saia de lá para que possamos conversar melhor."

"Não, não faça isso."

"Matt, eu não estou conseguindo te entender. Você quer que eu volte com o seu pai ou não?"

"Eu quero, mas eu não quero que você se encontre com o Chuck e com a minha mãe. Quando eu liguei para você, o Chuck estava apontando uma arma para a minha cabeça e me ameaçando. Eles queriam que você estivesse aqui hoje. Eles vão fazer alguma coisa com você. Vai embora Alex! Vai embora antes que eles voltem! Eu vou dizer que você não veio. Procura pelo meu pai mais tarde. Você sabe onde ele mora."

"Matt, não se preocupe. Eles não vão me machucar em um tribunal de justiça com várias testemunhas por aqui."

"É o tribunal do meu avô, Alex. A minha mãe poderia matar na frente do juiz que ela não seria presa e com certeza o Chuck também não."

"Matt, vai ficar tudo bem."

"Mas, Alex..."

"Não se preocupa, meu amor, eu vou ficar bem."

Naquele mesmo momento, os outros três e seus respectivos advogados estavam, ainda, em frente ao juiz. Pai de Amanda, como esperado e até mesmo mencionado por Matt.

Já estavam divorciados. Nenhum dos dois objetou à assinatura daqueles papeis. Metade do dinheiro de Pierre foi entregue a Amanda sem questionamento algum. Ele não dava importância a isso. Dinheiro era a última coisa que o preocupava, havia assuntos cuja discussão lhe era mais urgente.

Haviam perdido uma hora e meia discutindo o mesmo assunto e não haviam concluído nada ainda. O pai de Amanda queria lhe dar a custódia do filho mas o advogado de Pierre apresentava fortes argumentos então ele sabia que precisava fazer com que aquela seção durasse o máximo de tempo possível para que Amanda tivesse tempo para surgir com algo relevante, mas parecia que ela não queria dar o seu melhor tiro antes que ele se fizesse extremamente indispensável.

"Pierre, eu vou ceder. Eu proponho dividir a custódia." Sugeriu Amanda "Isso é o máximo que você vai conseguir. É pegar ou largar."

"Eu largo. Não vou abrir mão do meu filho. Eu quero a custódia completa, não menos. Não vou dividir custódia para que você o faça passar fome e dormir na grama quinze dias por mês."

"É isso ou ele passa fome e dorme na grama trinta dias por mês. Você não vai ganhar."

"Eu não tenho tanta certeza assim."

"Pierre, você está me obrigando a dizer a verdade e eu não queria fazer isso com você. Você não vai gostar."

"Que verdade é essa, Amanda?"

"Eu não queria fazer isso com você, eu juro. Eu tentei esconder o máximo que eu pude. Escondi isso de você por dez anos para não te fazer sofrer, mas se você realmente quer passar por isso..."

Ela tinha lágrimas nos olhos quando entregou um papel de sua bolsa para o seu advogado. Como ela mesma havia dito antes, ela não amava Pierre, mas também não o odiava tanto. Aquela seria, sem a menor dúvida, a pior coisa que ela já havia lhe feito. E a parte irônica é que aquela era a primeira vez em que ela lhe dizia a verdade.

"Então está decidido. A custódia de Matthew Bouvier pertence à Amanda Collier." Disse o juiz, batendo o martelo, ao ler os documentos

"Mas por quê?" perguntou Pierre, se sentindo desesperado

"Eu disse que você não ia ganhar o caso." Disse Amanda, enxugando suas lágrimas, como se estivesse arrependida de uma mentira de dez anos "Desculpa, Pierre, mas o Matt não é seu filho."