E se Eu não Tivesse Me Atrasado pra Formatura? escrita por Tati


Capítulo 20
A vida com o meu "novo pai"




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/4522/chapter/20

 

Um mês se passou desde que Matt se mudou para a casa de Amanda e Chuck e ele já parecia sonhar com o dia em que completaria 18 anos e poderia sair de lá. Naquele momento, Amanda e Chuck estavam jantando e Matt entrou na cozinha se aproximando deles com medo de olhar em seus rostos.

"Mãe..."

"O que foi, Matt? Não percebeu que nós estamos jantando?"

"Eu sei, mas... é que hoje é dia dos pais. Eu queria falar com o meu pai."

"Você nunca mais vai falar com o Pierre. Eu não me importo o quanto você quer falar com ele. Se ele se importasse com você, ele não teria ido embora. Ele não teria te abandonado."

"Ele não me abandonou, isso não é verdade. Ele abandonou você. Ele pode não te amar mais, mas ele me ama. Eu quero falar com ele. Por favor! Só cinco minutos. Eu estou com saudades do meu pai." Ele pediu enquanto lágrimas se formavam em seus olhos, mas ele as continha

"Você não vai usar o meu telefone para falar com o Pierre." Disse Chuck

"Por que não? Eu pensei que vocês dois fossem melhores amigos."

"E o Pierre também pensou e acabou se dando mal. Viu o que vocês dois têm em comum?" ele perguntou "Você ainda quer incomodar a gente com mais alguma coisa antes de sair daqui? Porque se eu tiver que continuar olhando pra sua cara enquanto eu como eu vou acabar vomitando."

"Eu... eu também estou com fome."

"Eu já te disse que se quiser comer vai ter que trabalhar para pagar por sua comida como um homem de verdade faz." Disse Amanda

"Mas, mãe, eu ainda não sou um homem, eu sou só um menino. Ninguém quer me contratar para fazer nada porque eu sou muito novo."

"Por que não volta a cortar grama?"

"Ninguém quer me contratar pra isso também. Disseram que eu estou tão magro que parece que eu estou doente e eles têm medo que alguma coisa me aconteça enquanto eu estou trabalhando." Ele respondeu "Mamãe, eu estou morrendo de fome. Eu como qualquer coisa, até verdura, mas, por favor, me deixa comer qualquer coisinha."

"Matt, tudo dentro dessa casa foi comprado com o meu dinheiro e eu não vou gastar um centavo com um erro ambulante." Disse Chuck "Se quiser comer, vai trabalhar."

"Eu já te disse que eu não consigo arranjar um emprego. Se você quiser me contratar pra fazer alguma coisa pra você..."

"Você não me serve pra nada. Nem pra limpar o chão onde eu piso. Se não tem dinheiro, eu já te disse que não vai comer da minha comida. Pede pro seu pai te mandar dinheiro pelo correio pra você me pagar por suas despesas."

"Eu sei que ele pagaria se vocês me deixassem falar com ele."

"Então, eu sinto muito mas não vai ter comida pra você, fedelho."

"Quando é que eu vou ver o papai e a Alex de novo?"

"Você? Se dependesse só de mim, nunca." Respondeu Amanda "Eu e Chuck vamos voltar para Montreal na semana que vem para que ele e a Alex assinem o divórcio, mas você não vem com a gente. O meu divórcio e do Pierre só sai no mês que vem porque eu quero metade dos bens dele e a sua custódia, então ambos os nossos advogados pediram mais tempo pra preparar tudo. Você vai ter que ir para Montreal comigo dessa vez porque temos que fingir que o seu pai tem a chance de ganhar a sua custódia e você tem que ir pra casa com quem ganhar, mas eu não vou te deixar chegar perto deles. Vai vê-los de longe. E por que é que você se importa tanto assim em ver a Alex também? Foi ela quem tirou o seu pai da gente, lembra?"

"A Alex é como uma mãe pra mim. Ela é mais minha mãe do que você e eu fico feliz que o meu pai tenha te trocado por ela porque eu prefiro muito mais a Alex do que você. Ela é muito legal e se importa comigo e eu sei que ela nunca me faria passar fome, assim como você fazendo."

"Fique com esse sonho na cabeça, queridinho, porque na vida real quem vai ser substituído aqui é o seu pai, e não eu. É melhor que aceite o Chuck como um pai, porque vou ser eu quem vai continuar representando sua mãe na sua vida."

"O Chuck não é meu pai assim como você não é minha mãe, Amanda! Eu te odeio!"

Depois de ouvir aquelas palavras, ela se levantou da mesa rapidamente e lhe deu um tapa em cada bochecha, fazendo com que ele finalmente derramasse todas as lágrimas que estava segurando desde que entrou na cozinha.

"Você acha que essas palavras me machucam, Matthew? Eu não me importo com o quanto você me odeia porque eu te odeio mais ainda. Você estragou a minha adolescência inteira e todos os meus planos. Se não fosse por culpa sua, eu seria médica hoje. Médica, milionária e à quilômetros de distância do seu pai. Depois de tudo o que você me fez, você nem ao menos foi útil o suficiente para segurar o seu pai em casa. Você é inútil, Matthew. Você foi e ainda é o pior erro de toda a minha vida! A minha vida seria muito melhor se você nunca tivesse existido! Eu queria que você saísse dessa casa e morresse atropelado por um caminhão que quebrasse cada um dos seus ossos antes de te matar!"

"Não é minha culpa ter nascido."

"Cala a sua boca!" ela gritou lhe dando outro tapa

"Eu quero o meu pai!" ele pediu chorando

"Eu não me importo! Você acha mesmo que o seu pai também não está tão nervoso quanto eu pelo que você também fez com a vida dele? Ele deve estar se sentindo aliviado agora. Ele foi muito bonzinho pra você porque não queria te chatear, mas você também acabou com a vida dele. Ele não te ama, Matt. Vai dormir e você vai esquecer que está com saudades do seu pai!"

"Dormir é a única coisa que consegue ser pior do que passar fome. O meu corpo já está doendo bastante de dormir no sofá e a sala é muito gelada à noite. Posso, por favor, pelo menos por uma noite, dormir em um quarto?"

"Você não vai dormir em nenhum dos quartos da minha casa." Respondeu Chuck "Você daria um quarto para o seu cachorro?"

"Se eu tivesse uma casa com mais de 40 quartos, sim, eu daria um para o meu cachorro. Por favor, Chuck, pelo menos um travesseiro e um cobertor."

 "Você vai comprar de mim o travesseiro e o cobertor?"

"Você sabe que eu não tenho dinheiro."

"Então continue se esforçando para conseguir um emprego. Depois disso, você vai poder alugar um quarto na minha casa e comprar sua comida."

"Agora, pare de nos incomodar, Matt. Não está vendo que estamos jantando?" perguntou Amanda "Vai dormir. Você vai ter que levantar cedo amanhã."

"Por quê?"

"Vamos te levar para um hospital. Levante as seis. Depois de amanhã você começa em uma nova escola por aqui. É período integral para você não ficar aqui me incomodando muito tempo."

"Por que você vai me levar no hospital? Eu não estou doente."

"Hospital não é só pra gente doente. Também serve pra outras coisas, aprenda. Vamos te levar para lá amanhã, quer queira, quer não. Preciso que você vá e meu advogado também."

"Ótimo. Talvez eu encontre um biólogo lá que saiba me explicar como as plantas fazem pra realizar fotossíntese. Se eu aprender bem, talvez eu comece a me alimentar assim. Eu vou passar o dia inteiro embaixo do Sol amanhã e jogar meio litro de água na minha cabeça pra ver se dá certo."

Com medo de receber outro tapa após aquela provocação, ele saiu correndo da cozinha e saiu da casa. Sentou-se em um dos dois degraus que davam para o quintal, abraçou seus joelhos e descansou seu queixo sobre eles. Passou um tempo tentando pensar em qualquer coisa menos no quanto ele sentia falta do pai e da Alex, mas isso já seria pedir demais. Era dia dos pais. Todas as crianças da vizinhança estavam voltando para casa com seus pais depois de um dia fora comemorando a data e tudo no que ele podia pensar era em como ele queria estar com o pai naquele momento e sair com ele e com a Alex. Ele se esforçou muito pra não pensar no que estava sentindo, mas aquela cena se repetiu muitas vezes na frente de seus olhos e ele acabou chorando de novo. Sem querer ser visto daquele jeito, ele voltou para dentro de casa. Dividir o mesmo espaço com Chuck e Amanda não era tão ruim assim se comparado com ficar longe do pai.

No momento em que entrou na casa, se lembrou de que Chuck tinha o telefone de Pierre e, sem pensar duas vezes nas conseqüências do que estava por fazer, ele correu para o quarto de Chuck e Amanda e o virou de ponta cabeça procurando por aquele telefone.

Passou dez minutos fazendo algo pelo qual sabia que seria punido, mas ele não se importou mais com isso quando conseguiu achar o telefone de seu pai. Assim que encontrou aquele pedaço de papel, correu para o telefone próximo da cama e discou os números o mais rápido possível. Ele tinha medo de ser pego, mas preferia se arriscar.

"Alô?"

Era ele. Era a voz do pai dele. Ainda assim, ele sentia tanta falta dele que, no momento em que abriu a boca para dizer algo, lágrimas o calaram outra vez naquela noite.

"Alô? Tem alguém na linha?"

"Pai..."

"Matt? Matt, é você?"

"Papai... papai, por favor, vem me buscar."

"Matt, eu adoraria fazer isso, mas eu nem ao menos sei o endereço de onde você está. O que foi, Matt? Por que você está chorando? O que está acontecendo aí?"

Antes que ele pudesse responder algo, sentiu um punho forte atingindo seu rosto e lançando o telefone longe. Ele ficou observando, com medo e sem ação, para o rosto de Chuck enquanto ele desligava o telefone e rasgava o pedaço de papel com aquele telefone.

"Você sabe que não pode entrar no meu quarto. Por que fez isso?"

"Eu estou com saudades do meu pai." Ele respondeu ainda chorando quando ouviram o telefone tocar "Por favor, me deixa atender."

"Não, Matt. Aqui é a minha casa e quem faz as regras aqui sou eu. Espero que se lembre do telefone dele porque, já que eu decorei, não vou escrever de novo. E eu vou mudar o número desse telefone amanhã mesmo para que o seu pai não consiga te encontrar de novo. Graças a você e a essa ligação que você acabou de fazer, ele pegou esse telefone no registrador de chamadas. Agora, vem." Ele disse agarrando seu braço e o tirando do quarto

"Pra onde você está me levando?"

"A sala não era boa o suficiente para você, não é? Tudo bem, então eu espero que você goste mais do seu novo quarto." Ele disse abrindo a porta de casa e o jogando do lado de fora

"Chuck, está frio aqui fora."

"E de acordo com a previsão do tempo, vai chover amanhã à noite. Você nunca fica satisfeito, né? Vai ser aqui que você vai dormir até ter dinheiro para alugar um de meus quartos. Se eu fosse você, arrumaria um emprego antes que chegue o inverno. Aqui neva."

"Quanto custa para alugar um de seus quartos?"

"Normalmente, eu alugaria numa boa por 50 dólares, mas, como é pra você, 500 por mês já está bom."

"De onde é que eu vou tirar 500 dólares por mês?"

"Não é problema meu. Se vira. Agora, boa noite, Matt."

Percebendo que nada mudaria a decisão de Chuck quanto àquilo, ele deitou seu corpo na fria grama úmida e tentou ao máximo conseguir dormir, mas tudo no que conseguia pensar era em como queria voltar para casa e sua mente, mais ativa do que nunca, não o daria tempo para descansar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "E se Eu não Tivesse Me Atrasado pra Formatura?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.