Após a morte de Sakura, Sasuke não sabia mais o que fazer, se seguia os conselhos de Naruto ou seguia os seus próprios, que se resumiam a viver apenas trabalhando e visitando o túmulo daquela que um dia vivera ao seu lado.

Sasuke apenas trabalhava, trabalhava até tarde e voltava para casa apenas para dormir. Quando se alimentava –que eram raras as vezes –era fora, em lanchonetes e restaurantes. Nos fins de semana evitava sair com Naruto e seus amigos, passava horas e horas conversando com sua amada, que um dia partira para deixar saudades e uma culpa imensurável.

Não tinha mais vontade de nada, afinal quem iria querer continuar vivendo alegremente depois que seu amor partira lhe deixando com uma culpa que tantas vezes tentou fazê-lo perceber que não era sua? Sasuke que não, pois tantas vezes tentou fazer Sakura perceber que a culpa não era dele, e ela, ressentida e magoada não queria saber dele. Com motivos, dela, mas motivos. Sabia que a culpa também não era dela, pois se ele visse algum “colega” de Sakura aos beijos com ela no colo, nunca mais iria querer vê-la, talvez teria uma reação pior que a dela.

And now when all is gone
E agora, quando tudo se foi
There is nothing to say
Não há nada a dizer
And if you're done with embarrassing me
E se você já acabou de me envergonhar
On your own you can go ahead tell them
Sozinho você pode ir adiante e dizer-lhes

Depois de descobrir que o filho que Karin levava no ventre não era seu, e sim do companheiro dela, Suigetsu, Sasuke não soube o que fazer. Ou melhor, quem matar. Mas ele não faria nada disso, claro, tudo o que menos precisava agora era ir preso. Ou ter de entrar na justiça por algum ato ridículo como esse. O que Karin pensou que aconteceria? Que ele não iria pedir teste de DNA quando essa criança nascesse? Havia se relacionado apenas uma vez com ela, e pelo que pudesse se recordar, estava bêbado.

— Anda, Sasuke, você tem que sair –ouviu a voz estridente de Naruto ao virar-se para a porta do quarto.

— Não, dobe. Me deixa dormir –falou virando-se de lado novamente para a parede escura do quarto.

Quando Sakura ainda morava com ele, o ambiente era todo detalhado e colorido com cores em tons pasteis e cores claras, para dar um ar animado à casa, como sua rosada havia dito. Após sua partida, o moreno mandou pintarem a casa como ele queria, antes do casamento. Azul escuro e alguns tons em preto. Claro que ele queria se lembrar de sua amada, mas haviam vários retratos espalhados pela casa, as roupas em seu armário, os perfumes em sua cômoda, todos os objetos que um dia pertenceram à Sakura, ainda jaziam pela casa.

— Mas você tem que sair, Sasuke. A Sakura não iria gostar de ver assim –Naruto disse sentando-se na poltrona que havia no quarto, encarando o teto do quarto do amigo.

— Sakura não está mais aqui, Naruto. Você deveria saber disso –disse contendo a onda de lágrimas que mais forte do que das outras vezes, quis irromper por seus olhos. Não queria parecer insensível falando desse jeito, mas já estava cansado de ouvir “Sakura não iria gostar disso” “Sakura não iria gostar daquilo”. Sasuke sabia que ela não gostaria, mas ele não conseguia evitar agir assim, não depois daquele acidente. Também não queria parecer melancólico, seus “amigos” já diziam que ele estava entrando em depressão, mas quem ligava? Sasuke também não tinha mais ninguém com quem se preocupar, nem com ele mesmo.

— Nós sabemos, Sasuke. Por que não sai hoje, comigo? Que tal uma balada? Já faz tanto tempo desde... aquilo. Por que não tenta pelo menos hoje? Só hoje, Sasuke, e eu juro que nunca mais te aporrinho para sair –ele disse olhando para o amigo ainda de costas.

Sasuke nada respondeu, apenas bufou virando-se de barriga para cima.

Por que Naruto ainda teimava em levá-lo para fora de casa? Já tinha problemas demais com a empresa. Pensava em se negar a fechar um contrato para uma propaganda de bebidas, mas os assessores queriam fechar esse contrato. Sasuke precisava de tempo para pensar sobre isso. Mas afinal de contas, quem era o dono daquela porcaria, os assessores ou ele mesmo? Tsc, que se danassem os assessores.

— Então? Sasuke, eu já disse que não te aporrinho mais com isso. Só uma resposta, e se ela for sim, você não ouvirá minha voz aqui para te pedir pra sair de novo –Naruto tentou convencê-lo novamente, não obtendo resposta como da outra vez. Bufou e levantou-se indo em direção à porta do quarto, mas parou ao ouvir a voz rouca e baixa do seu amigo.

— Qual balada? –perguntou sentado na cama esfregando o rosto com as mãos.

Naruto apenas sorriu e esperou o amigo se arrumar.

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Tell them all I know now
Diga-lhes tudo o que eu sei agora
Shout it from the rooftops
Grite de cima dos telhados
Write it on the skyline
Escreva no horizonte
All we had is gone now
Tudo o que tínhamos acabou agora
Tell them I was happy
Diga-lhes que eu era feliz
And my heart is broken
E que meu coração está partido
All my scars are open
Todas as minhas cicatrizes estão abertas
Tell them what I hoped would be
Diga-lhes que o que eu esperava seria
Impossible, impossible
Impossível, impossível
Impossible, impossible
Impossível, impossível
Impossible, impossible
Impossível, impossível
Impossible, impossible
Impossível, impossível

Ao estacionarem o carro, Sasuke percebeu que deixou a porta da sala que dá acesso à cozinha, aberta. A voz de Sakura invadiu sua mente junto com flashes da menina vermelha, falando alto algo sobre Sasuke sempre deixar aquela porta aberta, e que ela sempre o dissera para deixá-la fechada. Nunca soube realmente se era uma mania da rosada ou se ela tinha algum trauma relacionado à portas abertas, por mais estranho que possa parecer.

Fechou os olhos culpando-se por nem após a menina morrer, ele fechar a maldita porta. Seria muito arrancar aquela porta? Não, ele não faria isso.

— Anda logo, Sasuke. Sei que você só veio para eu parar de te importunar, mas você precisa respirar novos ares, vamos lá –Naruto disse abrindo a porta do carro.

Saíram do carro e entraram na “balada”. Os olhos quase fechados devido às luzes do lugar, as cabeças quase começando a doer devido ao barulho repentino de musicas eletrônicas.

— Sabia que não deveria ter vindo –Sasuke resmungou voltando para a entrada do local, sendo parado por Naruto.

— Onde vai? –perguntou alto demais, devido ao barulho.

— Para casa, de onde nunca devia ter saído –Sasuke respondeu no mesmo tom, dando um passo à frente, sendo parado novamente.

— Fique só mais um pouco –Naruto tentou convencê-lo, mas ao perceber que não teria chance, continuou. –Se você for agora, terá de me aguentar mais tarde reclamando, e várias outras vezes pedindo à você para sair de casa –ergueu uma sobrancelha sugestivamente, ao terminar a frase.

Sasuke bufou e voltou ao lugar onde estava, continuou a caminhar até chegar a bancada de um barzinho embutido ali dentro.

— Um uísque –pediu ao barman, franzindo o cenho ao olhar ao redor. Se Hinata ao menos sonhasse que Naruto se enfiava em lugares como aquele, terminaria o relacionamento antes que ele pudesse dizer um “ai”.

— Dois –Naruto completou ao sentar-se do lado do amigo, e procurando o que o mesmo olhava.

— Se a Hinata sonhar que você frequenta esse lugar... –não completou a frase, pois sabia que Naruto desconfiava o final dela.

— Por isso que eu vim aqui, caro amigo. Ela deu um tempo no relacionamento.

Sasuke ergueu uma sobrancelha em resposta.

— Eu quis avançar o sinal, sabe como é... mas ela não é dessas, e pediu um tempo –Naruto disse rindo suavemente arrependido, de cabeça baixa.

— Bem feito para você. Mas, já está na hora de vocês avançarem, quanto tempo faz que estão juntos? –fez uma pergunta retórica, e Naruto apenas sorriu como se dissesse “por isso que eu quis avançar o sinal”.

As bebidas chegaram e eles não se fizeram de rogados, encheram a cara e dançaram a noite toda. Mesmo Sasuke não querendo, as várias doses que tivera tomado fizeram efeito, e tal efeito foi ficar dançando ao som das músicas eletrônicas, enquanto as várias mulheres, com vestidos curtos e colados esfregavam-se nos garotos.

I remember years ago
Eu me lembro, anos atrás
Someone told me I should take
Alguém me disse que eu deveria ter
Caution when it comes to love
Cuidado quando se trata de amor
I did
Eu tive

Sasuke virou-se para trás e deparou-se com um par de íris da cor jade que pensou que nunca mais fosse vê-las. Mas balançou a cabeça ao pensar que seriam daquela que se recusava a frequentar lugares como aquele. Viu os cabelos num preto mais escuro que o normal da garota a sua frente, e viu a mesma ser agarrada por outro rapaz atrás dela.

Virou-se novamente procurando Naruto naquela multidão, avistou várias cabeleiras loiras, mas nenhuma era do seu amigo, finalmente o viu na parede agarrado a uma mulher. Passou por ele pegando-o pela gola da camisa.

— Qual foi, Sasuke? –questionou Naruto, já alto.

— Vou embora –porque iria mesmo? Já esquecera. Sentia que esquecera de algo a mais, mas ignorou esse sentimento, balançando a cabeça de um lado a outro.

— Por que? São só... quatro da manhã –o loiro constatou ao olhar no relógio neon que havia na parede do lugar.

— Por isso mesmo, hoje é quinta, e amanhã eu tenho que ir... –esquecera-se também onde deveria ir, e logo um lampejo de memória invadiu-lhe a mente. –Tenho que ir à empresa.

— Tá louco, Sasuke? Hoje é quarta –o loiro começou a rir, e puxou o amigo para fora do local.

Indo para o carro, mais do que bêbados, conversavam.

— Vai dizer que não foi bom? –Naruto perguntou.

— Bom o que? –Sasuke, mesmo bêbado, continuava de cara amarrada, e arrependido por ter bebido tanto. Poderia ter ficado em casa. Dormindo, e pensando sobre o que fazer naquela empresa.

— Nada, cara. Esquece. Quem dirige, você ou eu? –Naruto perguntou na frente do carro.

— Eu, claro –disse entrando no carro, seguido de Naruto.

Enquanto dirigia, erroneamente, lembrava-se de que não ficara com nenhuma garota lá dentro. Fazia quanto tempo que não sabia o que era sexo mesmo? Nem ligava, pelo menos não se arrependeria disso ao amanhecer.

Tell them all I know now
Diga-lhes tudo o que eu sei agora
Shout it from the rooftops
Grite de cima dos telhados
Write it on the skyline
Escreva no horizonte
All we had is gone now
Tudo o que tínhamos acabou agora

Escutava Naruto reclamar dele tê-lo puxado enquanto o loiro beijava uma mulher qualquer.

Não percebera quando começaram a discutir, apenas que estavam gritando dentro do carro. Nunca gritara com Naruto por um motivo tão besta como o qual não se lembrava.

— Mas podia ter me chamado –Naruto gritou.

— Pra que? Iria me escutar? –Sasuke gritou de volta.

— Quem sabe? Eu saberia se você ao menos me chamasse –respondeu olhando para fora da janela.

— Queria que eu dissesse o que? “Naruto, venha cá, preciso conversar com você, depois você pode voltar para dar uns pegas nessa garota que nem sabe quem é.”? Sendo que eu não ia voltar –Sasuke gritou encarando o amigo.

— Ah, nossa me desculpa por tentar te tirar de casa, eu só queria ajudar um amigo que se culpa pela morte da ex-mulher –Naruto gritou encarando-o de volta.

— Você... pode saber de tudo, mas não pode sair por aí falando essas merdas, como se eu tivesse pedido sua ajuda.

— Não pediu, e eu que fui idiota por ter achado que você ao menos a queria. Fui idiota por agir como o amigo que se preocupa. Olha pra frente antes que... –não terminou de falar.

Sasuke entrou na pista contrária, indo diretamente na frente de um caminhão, o motorista do outro veículo tentou desviar, indo para pista onde Sasuke estava, mas a carga do caminhão acabou atingindo o carro onde eles estavam, empurrando-os para uma ribanceira.

O carro capotou uma, duas, três vezes, até que parou num gramado seco.

Os dois estavam meio inconscientes. Sasuke acordou num rompante, olhou para o lado com as forças que lhe restavam e viu Naruto ainda inconsciente. O lado do carona estava quase destruído, viu uma parte da lataria atravessada no braço do amigo, e sentiu uma dor no peito ao se mexer. Olhou para baixo e percebeu uma parte da lataria de trás, enfiada como estaca em seu peito. Sentiu a consciência esvair-se um pouco, e logo ficar consciente novamente. Desmaiara por umas três vezes, e ouviu sirenes ao longe.

Finalmente lembrou-se do que havia esquecido, quando ainda estava bêbado. Percebera Naruto mexer-se no banco ao lado, tentando tirar o pedaço da lataria que estava em seu braço.

Olhou ao horizonte e viu o sol nascendo. Havia deixado aquela maldita porta.

Sua consciência esvaiu-se ao pouco. E a única coisa que ele conseguia pensar...

Mesmo antes de morrer, eu não fiz o que você pedia enquanto estava viva. Sou mesmo um inútil... me desculpe por não fazer o que você pediu quando estava viva, e nem agora que está morta, Sakura. Me perdoe por tudo o que eu fiz enquanto você estava aqui, eu fui um miserável, não dei atenção à você quando precisava. Me perdoe por tudo, meu amor. Quem sabe eu possa pedir perdão frente a frente a você, no céu. Se eu for pra lá. E você poderá me perdoar, ou não, quando nos virmos novamente. Quem sabe...

Só quero que saiba que eu sempre te am...

Ouviu seu nome ser chamado ao longe, sentiu uma lágrima escorrer do seu rosto, sua respiração falhar, e uma falta de ar imensurável. Sua consciência finalmente ia se esvaindo, para não mais voltar.

— Sasuke –ouviu Sakura o chamar. Abriu os olhos e estava num lugar claro como os céus, claro como as paredes de seu quarto quando a mesma ainda morava com ele em vida.

— Você...

Tell them I was happy
Diga a eles que eu era feliz
And my heart is broken
E que meu coração está partido
All my scars are open
Todas as minhas cicatrizes estão abertas
Tell them what I hoped would be
Diga-lhes que o que eu esperava seria
Impossible, impossible
Impossível, impossível
Impossible, impossible
Impossível, impossível
Impossible, impossible
Impossível, impossível
Impossible, impossible
Impossível, impossível