Capitulo O4 – Inverno

Evan acordou com uma dor nos joelhos, e lembrou-se do acontecimento com Lilian. Ficou um tempo ainda deitado, pensando nela. Quando se levantou e olhou na janela, viu que estava nevando, uma neve densa cobria os céus daquela manha.

O garoto andou até a sala, que era junta com a cozinha, e viu sua mãe fazendo alguma coisa no fogão. Quando se aproximou dela, ela disse:

-Filho, hoje não terá aula devido a essa grande nevasca.

Evan a fitou por uns segundos, triste.

-Então quer dizer que não irei ver Lilian? –Resmungou o garoto.

-Não sei, talvez ela queira ficar sozinha. –Avisou a mãe, colocando alguma coisa na panela. –Mas já que está aqui, me conte mais o que aconteceu ontem.

Então Evan suspirou e começou a contar o fato. Ficaram ali em torno de meia hora, a mãe as vezes o interrompia, para fazer algumas perguntas, e as vezes mexia na panela.

Quando ele terminou de contar, a mãe começou a refletir, e foi distraída com um cheiro doce vindo da panela.

-Que cheiro é esse, mãe? –Disse o garoto. –Parece ser alguma coisa gostosa.

-Quando eu terminar o doce, você vem aqui e pega alguns, agora vai para o seu quarto estudar.

O garoto voltou ao seu quarto, abriu a pasta, tirou os cadernos e começou a estudar. Porém sua atenção era voltada para Lilian, “será que ela está bem?’’ pensou ele.

E então se lembrou daquele dia que ela tinha vindo procurar algum livro de “paixão’’. Largou os cadernos no chão, e foi furtivamente até onde estavam os livros, pois seus pais não o deixavam entrar naquela sala, abriu a porta e sentiu um cheiro de mofo, como se ninguém entrasse ali há anos.

A sala era um cubículo muito pequeno, porém alto e havia milhares de livros empilhados. Foi passando a mão em cada um para tirar aquela poeira que havia neles e para tentar também saber o nome de cada um.

Ficou ali um bom tempo, até ver um que lhe interessou. Na capa havia um casal junto, num cenário esplendido, com belas arvores e plantas. Mas já estava desgastado, e não havia algumas paginas. Decidiu pegar esse, e levou para seu quarto.

Colocou o livro embaixo de sua cama e foi para a cozinha, onde sua mãe já havia terminado o doce.

-Filho, pegue só um, pois não terá para nós três. Acabou o açúcar, talvez o próximo pacote só venha semana que vem. –Disse a mãe com uma cara de tristeza.

Evan pegou o doce e não comeu, levou para seu quarto e decidiu fazer uma visita a Lilian.

Pegou o livro e saiu pelas portas dos fundos. Sentiu a brisa gelada e cortante passar pelo seu rosto, o casaco era velho e já não esquentava mais. Correu para a casa de Lilian e bateu na porta. A mãe dela atendeu:

-Olá Evan, vejo que veio fazer uma visita a minha filha. –Disse. –Vamos entre, está frio ai fora.

A casa de Lilian era muito melhor que a dele, uma lareira esquentava o ambiente, e as paredes vermelhas davam sensação de calor, sem contar no sofá, que parecia muito confortável.

-Ela está lá em cima, no quarto dela. –Disse a mãe, apontando para a escada.

Evan subiu as escadas com cautela, pois elas estavam meio rachadas, e deparou-se com três portas a sua frente, nunca havia entrado no quarto dela antes. Deduziu que a porta que aparentava ser mais cuidada devia ser a dela, e então bateu nesta.

-Entre. –Disse a garota com uma voz fraca.

Evan entrou cuidadosamente, ao vê-la ele tentou esconder o livro atrás das costas e Lilian ficou vermelha, colocando a mão na barriga.

-L-lilian, você está melhor? –Perguntou o garoto.

-Sim Evan, estou melhor. –respondeu a garota olhando-o.

-Eu trouxe algumas coisas para você. –Disse colocando a mão no bolso e tirando o doce de um saco plástico. –Minha mãe fez, tinha apenas três e decidi dar para você que não está bem.

A barriga de Evan roncava de fome, não havia comido desde ontem. Mas se sentia melhor ao dar o doce para ela.

-E também tem esse livro de “paixão’’.

A garota recebeu o doce e o livro com muito carinho, e não disse nada. Talvez estava muito envergonhada para dizer alguma coisa.

Lilian olhou-o e num ato impensável colocou sua mão sobre a dele, estava fria como gelo.

-Você parece estar com frio Evan. –Disse a garota virando o rosto para o outro lado. Estava muito vermelha. –Tome, pegue esse casaco e se cubra.

O garoto pegou a veste, ainda surpreso pela mão dela estar sobre a sua. A acariciou lentamente, como um gesto de obrigado. Evan queria que aquele momento não terminasse, a mão dela era lisa e macia.

-Lilian, eu tenho que ir. –Disse o garoto, soltando a mão dela cuidadosamente.

-Ah, tudo bem Evan, muito obrigado pelas coisas. –Disse Lilian sorrindo.

-Então eu vou indo... –Disse Evan, parado, como se uma vontade superior se apoderasse dele.

Lilian o olhou.

-Até mais Evan!

Evan foi lentamente em direção a porta, e a olhou novamente. Quando virou em direção a porta viu que o desenho estava lá. Um desenho dele e de Lilian de mão dadas, como na capa daquele livro que havia emprestado para ela.