Capitulo O3 – Sintomas de um Passado

Terminada a aula, os dois foram para casa rapidamente para evitar aquela cantoria. Já era tarde, e o dia continuava nublado havia começado a esfriar.

-Me desculpe pelo desenho. –Disse Lilian abaixando a cabeça como um gesto de arrependimento.

-Não foi culpa sua Lilian. –Disse Evan, olhando para a garota com um sorriso no rosto, tentando acalmá-la. –Aliás, eu que comecei a desenhá-la, não devia ter feito isso, peço desculpas.

Lilian olhou para ele e viu que o garoto estava sorrindo. Aqueles lindos olhos e os cabelos que sobravam para fora da boina, faziam o coração da menina bater forte.

-Mas eu não devia ter terminado o desenho.

Evan não havia visto o desenho ainda, apenas deduzira que era um casal de mãos dadas e provavelmente eram eles.

-Eu não vi o desenho ainda, você está com ele ai Lilian?

A menina ficou em silencio por um tempo, e então falou:

-Não. A professora não devolveu pra mim.

A garota começou a andar mais devagar, Evan a observou, ela estava pálida.

-Lilian, você está bem?

-Sim, estou bem, apenas com uma dor de barriga. –Disse a garota, colocando as mãos na barriga.

Eles continuaram andando por um tempo, naqueles passos lentos, até que Lilian parou por um momento.

-Lilian, deve ser o frio, pegue meu casaco. –Disse Evan tirando o casaco das costas e colocando sobre a garota.

-Obrigado Evan.

“Porque estou assim?’’, pensou ela. “Será que é a paixão? Não, não pode ser, a paixão não me dá dor de barriga’’

A garota agora estava ziguezagueando na rua, aparentava estar muito mal, então foi para um canto, e encostou-se no muro, apoiando uma mão na parede, enquanto a outra estava na barriga.

-Lilian! –berrou Evan se aproximando dela. –Você não está bem! Me fale, onde está essa dor?

-Evan... Apenas chame a minha mãe, por favor. –Falou ela reunindo forças para ficar em pé.

Evan saiu correndo na maior velocidade que conseguia alcançar, mas suas pernas curtas não o ajudavam. Então, de repente ele ouviu um estampido forte. Lilian estava estirada no chão, com a mão ainda na barriga.

“Não vou deixá-la ai sozinha’’ Pensou ele, voltando para socorrê-la. “Aqueles garotos podem aparecer ai de novo’’

Evan não sabia o que fazer, ficou alguns segundos parados na frente dela. Reuniu forças e carregou-a no colo. Ele não agüentaria muito tempo também, não tinha muita força nos braços.

Saiu correndo com Lilian nos braços. Ela estava ainda de olhos entreabertos, sussurrando baixo. –Evan... –Parecia estar com uma dor muito forte.

O garoto já não aguentaria mais carregá-la, mas já estava a alguns passos de casa. Suas pernas de repente cederam, e ele caiu no chão de joelhos, fazendo-os ralar gravemente. Lilian ainda estava nos braços dele. Colocou-a no chão carinhosamente e disse:

-Eu já volto, vou chamar sua mãe.

Ela ficou ali parada por algum tempo, e nos últimos momentos que ainda estava acordada, pensou nele. Como havia sido tão caridoso e carinhoso com ela, sacrificara os joelhos, que agora sangravam muito, para salva-la.

Evan voltou com a mãe de Lilian rapidamente, mas a garota já desmaiara. A mãe a carregou para dentro, e disse enquanto corria:

-Obrigado Evan.

Ele ficou olhando as duas se afastarem, e apenas quando entraram em casa, Evan sentiu que os joelhos doíam. Colocou as mãos nos mesmos, que agora estavam encharcados de sangue, da cor do crepúsculo que envolvia aquela tarde cinzenta.