Essa Fruta já Foi Flor escrita por sasaricando


Capítulo 1
Capítulo 1




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- Pimentas são frutas? – Arqueou a sobrancelha e encarou Joel por alguns instantes enquanto batia a ponta do lápis de uma forma repetitiva e irritante no caderno.

- Olha a minha cara de quem sabe isso! - Amassou a lata de cerveja e apanhou outra. – Pimentas são quentes! – Tentou terminar com o silêncio que demoraria a partir.

- Paul? – Olhou para o único ser pensante entre o bando de testosterona que a rodeava.

- Quê? - Saiu de um tipo de transe.

- Vou para casa! Vocês não me ajudam!- Fechou o caderno e jogou a caneta por cima, se levantou e ficou na frente do Joel.

- Docinho, não faça isso. – Sorriu e apoiou as mãos na cintura magra da garota. Pensou na sorte dela de não estar atrapalhando a visão de algum jogo. – A única coisa que eu sei de biologia, é aquela em que nós podemos até brincar agora.

- Não, Joel! – Afastou as mãos. – Hoje não, cansei! – Pegou o caderno e colocou a alça da bolsa sobre o ombro direito. – Dessa vez eu não volto tão cedo.

- Eu te busco. – Sorriu. olhando para os amigos, se estavam-na vendo ir embora daquele jeito.

   Desta vez Joel não se levantou, ele já estava se cansando dela. Inteligente demais para namorar. Era capaz de um dia reclamar para algum jornalista faminto que tinha um caso com ele e que a Hilary só era uma jogada de marketing. Joel sempre cuidou muito bem dos seus casos “extras”, até o E! descobrir que os dois nem tinham o tal relacionamento, o que fez com que terminassem com os anos de mentira. Agora fingia amar uma patricinha, quanto ia durar? Para a senhora Robin quanto menos, melhor.

- Essas mulheres são estranhas demais. – Disse após alguns minutos depois da saída e do estrondo da porta batida.

- Gostosas, mas complicadas.– Benji pegou mais uma cerveja.

- Tem fogo ai? – Enquanto tirava um maço de cigarros do bolso.

- Não. – Olhou sério para o Paul, mesmo ainda fumante teria de conversar com o irmão, ele era o vocalista e acabaria com as cordas vocais daquele jeito. Billy e Paul já estavam putos com a situação.

- Paul? – Joel ainda brincando com o cigarro entre os dedos de um lado para o outro.

- Não fumo. Você a tratou como um objeto! – Franziu o cenho e jogou a cerveja sobre as outras latas jogadas no chão.

- Ah! – Com certo desprezo enquanto arremessava o cigarro no meio das latas.

  Paul parecia estar cansado dos gêmeos. Saiu da casa deles sem se despedir. Saiu pensando o que estava fazendo da vida dele. Lembrou do encarte do último cd lançado pela banda; de que adiantava colocar o nome daquela vadia, Diana, e ela terminar com ele uma semana depois? A primeira namorada, o primeiro beijo.

Já estava há meia hora na estrada, lembrou de algumas entrevistas, do tempo que era um garoto e das besteiras que fazia. Um vômito na cabeça de uma garota e coisas nojentas do tipo nos primeiros shows. Cansou de dirigir e resolveu parar em um bar, desagradável para qualquer pessoa com senso mínimo de higiene. Saiu do carro, ligou o alarme e observou a pouca quantidade de carros em frente, ótimos para uma noite solitária.

A noite seria solitária se não encontrasse outra pessoa tentando o mesmo. Olhou várias vezes para o homem que estava em frente ao balcão, não acreditava que podia ser o mesmo que pensava ser. Não naquela espelunca. Sentou ao seu lado e observou o que bebia. Whisky puro. Ele não devia estar bem.

- Ei, cara. – Bateu com a palma da mão nas costas do homem solitário após ter certeza de estar certo de que sabia com quem estava falando

- Paul? – Estranhou da mesma maneira como o outro. Por que estaria sozinho num bar daquele nível àquela hora da noite.

- O que está bebendo? – A pergunta mais ingênua possível a fazer quando se vê um copo de whisky com whisky dentro.

- Me acompanha? – Tentou arrumar a fisionomia rapidamente, como quem disfarça que apesar do péssimo estado está “bem”. – Uma bebida para o meu amigo. – Disse para o garçom, que também fazia os drinks e talvez fosse cozinheiro e faxineiro.

- Está sozinho? – Achando estranho, ele não parecia ser um cara solitário. O garçom entregou o copo com a bebida pedida e voltou a atender a mesa dos fundos. Paul mexeu com a ponta do dedo o gelo que ocupava quase todo o espaço. – É você estava sozinho. – Sorriu sem graça por ter ficado sem resposta.

- O que você está fazendo aqui? – Como quem está tendo a solidão roubada e não está gostando.

- Gosto de comer amendoins infectados com hepatite. – Tirou alguns de uma vasilha que estava em sua frente. Fechou os olhos e os enfiou na boca, mastigou e engoliu.

- Isso foi nojento. – Fez uma cara estranha em que os dois olhos se aproximaram ao extremo e a testa se franziu por completa. Bebeu todo o pouco que ainda restava em seu copo. Riu um pouco consigo mesmo.

- Você costuma vir aqui? – Olhou mais uma vez para o resto do bar. Não que fosse grande, mas havia muitos detalhes da sujeira impregnada. Duas vadias na mesa dos fundos e três bêbados jogando sinuca. A música era mais deplorável do que as que se ouve em consultórios médicos. Bebeu toda a bebida que tinha em seu copo. Uma expressão facial indicou que aquilo era forte demais para ele.

- Vamos embora? – Sorriu. Já havia percebido que aquele lugar não era para Paul. Até que ele tinha resistido demais naquela noite.  Colocou alguns dólares sobre o balcão.

- Qual é o seu problema? Quando eu cheguei ficou reclamando e agora quer ir embora? – Já estava cansado de ter que sempre seguir os outros, fazer o que queriam.

- Esse bar é uma porcaria. Não me fale que estava adorando. – Levantou do banco de madeira, o qual balançou por já estar em pedaços. Tirou a chave do bolso da calça e ergueu a cabeça. – Vamos logo, cara.

Os dois foram até a parte externa. Ficaram alguns instantes sem falar nada, olharam para o céu no mesmo momento. Em que pensavam, não faço idéia.

As duas vagabundas saíram do bar, alcoolizadas o bastante para irem trabalhar. Sorriram para os dois, e, quando estavam se aproximando, um carro parou logo em frente. Um homem calvo as chamou e elas saíram correndo com aqueles saltos plataformas, dignos de mulheres sem classe.

- Não comia nem pagando. – Ainda observando as duas entrando no carro. Já havia se tornado um costume quando estava com os gêmeos, se olhavam e diziam se “comeriam” ou não.

- Quando se está necessitado, até aquilo serve. – Coçou o olho direito. Arrumou o casaco. Duas coisas que se faz quando não se tem assunto, mas como podia acontecer isso? Nunca ficou sem palavras com alguém.

- Acho que vou embora. – Ele não iria para casa naquela noite, mas precisava de algo para se distrair, e ali não estava encontrando nada.

- Eu também preciso ir. De que adianta chegar ao apartamento vazio, com cheiro de mofo e algumas obras de arte jogadas pela casa?

- Olhar as artes jogadas? – Ficou pensando consigo mesmo, será que ele aproveitaria as novas obras que estavam em seu apartamento fechado há alguns dias?

- Arte? Nada melhor do que sereno, um lago e um céu estrelado. – Sorriu mais uma vez. Um sorriso lindo estava guardado naquela boca cheia de palavras sujas e pensamentos poéticos demais para um cara como ele.

- Foi meio poético isso. – Riu das palavras ditas. Será que aquilo combinava com um cara de meia idade?

- Ei, cara. Vamos até lá, é só atravessar a rodovia. – Apontou para o lado leste.

  Antes de irem, Dean retirou uma garrafa de dentro de seu carro. Atravessaram a rodovia e procuraram um lugar próximo ao lago.

- Fazia tanto tempo que eu não sabia o que era ficar longe de tudo... – Fechou os olhos enquanto apreciava o vinho que Dean trouxera e o oferecera. Podia degustar o vinho tão conhecido da cidade em que vivia e nunca tinha bebido.

- Será que um dia também vou ser assim? – Olhou intrigado para o Paul. Jogou uma pedrinha no lago e esperou o som dela batendo na água. – Não sei se vou agüentar muita pressão, mal lançamos o cd e já vieram me perguntar qual minha cor de cueca preferida.

- Os fãs têm umas loucuras. – Devolveu a garrafa e limpou a boca com a manga do moletom. – Alguns são legais. O  problema é a sujeira que está por de trás de tudo isso.

- Sujeira? – Tomou um pouco de vinho. – Que tipo de sujeira?

- O E! procurando os gêmeos em qualquer lugar em que vão.

- Só os gêmeos? – Seu pavor por perder a privacidade fez com que seu corpo paralisasse.

- Mais ou menos. O Billy, por exemplo, só depois que assumiu seu namoro com a Linzi os caras pararam de segui-lo.  O Bill é quem se incomoda mais com isso. Lembro quando Joel terminou o último namoro e ele pediu que procurasse não arranjar alguém que só se interessasse em aparecer em todas as revistas teens, que não atrapalhasse todo o nosso trabalho. É foda ralar no estúdio por quase um ano e só mostrarem noticias de quem estamos namorando ou deixamos de namorar.

- O Joel parece ser o preferido das groupies. – Fitou o chão como que remetesse alguma memória, como a do ultimo show que fizeram, em que uma garota tinha um cartaz enorme em que estava escrito “Joel, case-se comigo” – Lembra do “Joel, case-se comigo”? O que era aquilo?

- Prepare-se! Por aqueles gêmeos já vi tantas coisas que garotas fizeram... – Balançou a cabeça, talvez lembrando de alguma cena de camarim. – Eles aproveitam, às vezes.

- E aquela história do Benji com o Tony? – Não sabia se devia perguntar. Soube que, desde que havia saído da prisão, Tony não tinha ido à casa do gêmeo.

-Nossa! Essa história é velha, hein?! – Tomou mais uns dois goles de vinho e apoiou a cabeça em uma pedra. – Se você falar algo sobre esse assunto perto dos gêmeos é capaz de sair com um olho roxo.

- Por quê?

- Já deu o que tinha de dar. Até hoje não sei se eles realmente... – Fez uma breve pausa. – Se eles chegaram a ter alguma coisa, entende?

- Entendo, eu acho. Mas e você?

- Eu o quê? – Estranhou. O que ele estava tentando dizer afinal?

- Você só falou dos outros. – Observou o quanto restava na garrafa, era o bastante para libertar mais histórias de Paul, bem que ele já havia tomado demais.

- Eu? Ah, a única garota que me quis me deu o fora, está bem? – Disse como quem não estivesse gostando da conversa, aquilo ainda o machucava de certa forma.

- Recordo de quando aconteceu, desculpa. – Se arrependeu por ter tocado no assunto. Ou talvez nem tanto, pois resolveu continuar. – Mas já deve ter tido melhores. Com a banda, duvido que não tenha uma groupie querendo um “Paul”.

- Ela foi a única. Aquela... – Algo o impediu de terminar a frase, algo prendia o que queria gritar sobre ela.

- Como assim? – Se engasgou com o vinho. – Única?

- É, pode rir. – Um bêbado irritado, era o que quase demonstrava naquele momento.

- Não tive muitas garotas. – Falou rápido, como precisasse corrigir o erro rapidamente.

- Sério? – Virou rapidamente para ver o rosto do corpo ao seu lado e percebeu que não tinha nenhum vestígio de um mentiroso. – Você está falando a verdade ou é um ótimo ator.

- Há. – Respirou um pouco do ar gélido até encher os pulmões. – Eu acho que o Benji tem um caso com o Tony. - Soltou o ar e se sentiu confiante por tirar sua quase certeza que estava guardada esperando um momento talvez próprio, ou impróprio como aquele.

- Por quê? – Riu do jeito como o outro falou a última frase, como que se fosse uma criança apostando algo.

- O jeito como eles se olham. – Abriu a boca para falar mais alguma coisa, mas acabou desistindo.

- Já pensei nisso, mas o Benji? – Encolheu os lábios os guardando dentro da boca. – Será?

- Acho que agora com a Sophie ele o largou, mas antes... Ah, eu acho.

- Mas por que essa convicção toda? – Afinal, Dean estava há tão pouco tempo com eles que não poderia tirar essas conclusões assim. Ele que era o Paul, o amigo de infância, não tinha certeza. – Parece até que é entendido.

- Já saí com alguns caras.

Algumas frases podem fazer congelar a cena de um filme, e esta seria uma delas. Paul arregalou os olhos e tentou acreditar que aquilo era uma piada, mas havia sido dito com uma voz rouca demais e verdadeira.

- Algum problema nisso? – Já esperava a reação do Paul, mas não queria ter falado se não tivesse certeza do que aquilo iria repercutir.

- Problema? Ah, er... – Riu um pouco, ajeitou a franja pro outro lado. – Sei lá.

- Eu sei que no começo é estranho, eu também achava.

- E como parou de achar?

- Já faz alguns anos, quando ainda eu era um desses caras que conta como foi a noite retrasada com a tal mulher para os amigos, daqueles que quase colecionava nomes.

- E os caras? – Havia um interesse naquela pergunta. Talvez parecido como o de quando uma criança pergunta de onde saem os bebês.

- Ah... – Mostrou novamente o sorriso mais bonito da Califórnia. Sabia que tinha chegado onde queria. – Não ache que foi fácil, mas a primeira vez foi um amigo meu que quis ver como era. Percebi que era diferente e como era com as garotas. Velho, é muito diferente. – Tentou controlar o tom de voz, não queria parecer com um tarado ao lado de Paul.

- Acho que eu nunca iria ter coragem. – Pensou alto demais. – Sabe, acho que preciso de mais vinho. – Com voracidade pegou a garrafa, tomou até a ultima gota. – Não pego nem mulher imagine se eu chegando num cara, acho que nunca.

Dean sabia o que tinha de fazer. Apreciou a boca de Paul enquanto fingia pegar a garrafa. Arrastou o braço direito até que ficasse atrás das costas de Paul. Podia nunca admitir, mas naquela noite ele aproveitou a embriaguez do outro.Antes que Paul pensasse em algo, seus lábios estavam colados aos de Dean, que pedia passagem de sua lingua na boca dele, que logo cedeu, não resistiria à tentação de provar o novo. O que seria apenas uma tentativa de Dean já se tornara muito melhor do que imaginara. Os dois se levantaram ainda se beijando, Paul no inicio receava envolver as mãos no outro, mas com tanto álcool em seu sangue sua timidez o largara e só pudera aproveitar o que pela primeira vez na vida algo lhe dava prazer.  Dean percebeu que algo já estava pronto para algo além de um beijo, mas preferiu não naquela hora, mesmo que tivesse medo de que aquilo não fosse acontecer nunca. O garoto tímido tinha a pegada mais forte do que o cara já um tanto experiente tinha experimentado, e o beijo não terminava como se as línguas precisassem ser tocadas, os corpos precisassem ser atraídos, assim tão próximos.

Paul já estava sem ar, e precisava correr para algum banheiro, ou talvez pudesse ser em alguma moita ali perto, mas tinha que tirar aquilo que foi provocado pela melhor coisa já havia sentido.
Dean sabia o que estava acontecendo, pensou em rir, mas a satisfação de tarefa cumprida já lhe estufara o peito. Se teria continuação não sabia. Aproveitou a retirada de Paul para ir embora, sabia que o outro precisava de tempo a sós para pensar no que tinha acontecido.   

Se os dois ficaram muito tempo sem se ver após aquele dia? Dean se arrependeu por ter deixado Paul bêbado como estava, sozinho, mesmo que não estivesse muito diferente. No outro dia pela manhã ligou para a casa de Paul, ninguém atendeu. Ficou sem jeito de falar com Billy e os gêmeos. Dois dias depois, enquanto estava deitado ainda pensando se tinha agido certo, alguém apareceu em seu apartamento, e eu acho que não preciso lhe dizer quem.

Dizer que os dois se beijaram e foram para o quarto seria uma grande mentira. Paul ainda estava nervoso demais com a descoberta, sabia o que sentia, mas não tinha certeza se era correto. Demorou alguns minutos para ter um contato físico entre os dois, mas logo um beijo cessou a dúvida.

Os dois tinham certeza do que estavam fazendo, do que gostavam e o que precisavam. Em poucas semanas se sentiram obrigados a contar para os amigos, Billy foi o primeiro a saber.

Tirando lambidas em lóbulos de orelha no meio dos ensaios e alguns beijos, os dois foram bem “aceitos” pela banda. A forma como os gêmeos descobriram foi estranha. Estavam andando pela cidade quando viram os dois juntos e não conseguiram acreditar. Foi ridícula a maneira como se esconderam atrás de arbustos para não serem vistos. Joel tropeçou caindo sobre o Benji, mas sem fazer barulho algum, como no tempo quando eram crianças.

- Nunca pensei que ficaria feliz vendo uma coisa desse tipo.

- E eu ainda menos. - Tirou a chave do bolso. – Vamos? – Levantou a cabeça e logo a abaixou após confirmar mais uma vez o que os seus olhos estavam presenciando.

- Vamos, antes que eu comece a vomitar. – Riu enquanto cobria a cabeça com o capuz.
Fingiram não saber de nada até que os dois confirmassem tudo.

Paul e Dean resolveram tentar esconder ao máximo tudo, não queriam estragar o trabalho com notícias em todos os cantos da ‘banda que tem um casal homossexual’, eles precisavam de privacidade. Deles não sairia nenhuma notinha tão brega como a do rebeldezinho latino americano.

Pode até existir diferenças quando se compara com todos os outros, mas isso não importa.

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