Falling in Love escrita por Susannah Grey


Capítulo 35
Capítulo 35


Notas iniciais do capítulo

Meus amores, me perdoem pela demora.. Como disse antes, ando muito ocupada com as coisas da escola e do Enem.. Agora, faltando pouco mais de 1 mês, as coisas pioraram drasticamente...
Esse capítulo ficou um pouco grande, mas espero sinceramente que gostem... Desculpem-me qualquer erro, não tive tempo de revisar, então, por favor, me avisem se encontrarem algum que eu corrijo assim que der!
Boa leitura ^^



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Leiam as notas finais

Manter uma relação de amizade com Chris estava mais difícil do que eu imaginava.

Ele conversava tranquilamente comigo e eu fingia prestar atenção enquanto lia meu exemplar de Dom Casmurro. Estava sempre lendo uma obra da literatura brasileira para tentar diminuir a saudade que eu sentia da minha terra natal.

– Você está escutando o que eu estou falando?

– Uhum. - respondi alheia a qualquer coisa dita por ele. Minhas respostas variavam entre: "uhum", "sério?!" ou “não acredito". Eu parei de escutar o que ele dizia quando ele começou a falar o que ele planejava fazer para conversar com a garota dos seus sonhos. Depois de um tempo em silêncio eu parei de ler e olhei-o por cima do livro. Ele me observava. - O que foi?

– Você não escutou uma palavra do que eu disse, né? - Ele não parecia irritado. Um sorriso até brincava no canto de seus lábios. Não que eu estivesse olhando para a boca dele. Droga, Amy! Foco!

– Ahn... - Pensei em mentir, mas pela cara dele não daria certo. Suspirei e fechei o livro. - Não, não ouvi. Digamos que o livro estava mais interessante.

– Que livro é esse? - ele perguntou puxando o livro das minhas mãos e observando a capa, provavelmente tentando ler a sinopse, mas desistiu quando viu que não estava em inglês.

– Dom Casmurro. Literatura brasileira. - respondi somente e peguei o livro de volta, guardando-o na minha bolsa e me levantando. Ele se levantou também. Nosso intervalo já tinha acabado e isso significava que tínhamos que voltar pra sala.

– Não vejo você muito com um livro do Brasil. Sobre o que se trata?

– Você quer mesmo saber ou só está tentando ignorar o fato de que eu não estava prestando atenção no que dizia? - perguntei sorrindo, um lindo sorriso se formou em seus lábios. Eu tinha que parar de olhar para aquela parte do rosto dele.

– Acho que os dois. Depois você me agradece por deixar essa passar.

– Acho que vou agradecer agora! - disse sorrindo e o abracei em um pulo. Ele começou a gargalhar enquanto se equilibrava para não cair, já que eu o tinha pegado desprevenido. - Obrigada.

– Mereço. - Ele riu mais um pouco e bagunçou meu cabelo. Fuzilei-o com os olhos e ele correu para a sala dele.

...

O dia passou relativamente tranquilo, toda vez que eu me encontrava com Chris ou pelos corredores ou em alguma aula ele me provocava de um jeito diferente. Lá no fundo eu agradeci. Isso, de certa forma, diminuiu o clima tenso que havia se instalado entre nós.

Estava em meu habitual lugar da aula de arte, em um banco no fundo do auditório, assistindo a apresentação de dois meninos que eram da minha turma de matemática avançada. A apresentação de Lipe e Ashley era logo depois da deles, por isso estava sozinha, eles já estavam posicionados atrás do palco, só esperando a deixa.

– Sozinha assim até parece que não tem amigos. - Chris disse sentando-se do meu lado. Ignorei o arrepio que percorreu meu corpo quando seu braço tocou o meu.

– Lipe e Ash vão cantar agora. E você estava com seus amigos. Prefiro ficar na minha. - comentei dando de ombros.

– Ciúmes? - ele perguntou presunçoso. Revirei os olhos.

– De você? Sinto dizer, mas não sinto ciúmes de meus amigos.

– Então se eu fosse seu namorado você sentiria?

– Talvez. - Só depois que eu falei percebi o que eu tinha dito. Senti meu rosto esquentar e pelo canto do olho pude vê-lo sorrindo. Senti meu rosto esquentar mais que o normal.

Mexi-me no banco, um pouco desconfortável. Para minha sorte Ashley e Phillipe entraram juntos no palco, desviando a atenção de Chris de mim. Observamos os dois cantando. A sintonia entre eles era mágica, a forma como se olhavam demonstrava exatamente o a música dizia.

Desviei meu olhar deles por um minuto, para olhar para a professora. Ela parecia tão encantada quanto qualquer outro naquele auditório. Um sorriso brotou em meus lábios, um sorriso triste. Eu amava aqueles dois, mas os invejava de certa forma. Eles encontraram o amor, diferente de mim. Talvez eu não estivesse destinada a achar alguém. Eu estava feliz por eles, mas triste por mim.

– Não gosto desse seu sorriso. Aconteceu alguma coisa? - Chris perguntou discretamente ao meu lado. Reprimi um suspiro e apenas neguei com um aceno de cabeça.

Chris permaneceu calado até o final da música, que foi saldada com uma salva de palmas. A professora começou a falar algo com eles, mas não me importei em prestar atenção, já arrumava minhas coisas pra ir pra casa.

Eu já havia cantado com Eric, ele tinha escolhido See you again na versão original. Ele cantou a parte de Wiz Khalifa, a de rap, e eu a de Charlie Puth, acompanhando com o piano. O tom estava um pouco alto, mas eu consegui adaptar a minha voz, mas ainda tive que fazer falsete uma vez ou outra. Encontramos a música certa com nossos gostos musicais, fácil de adaptar e de cantar.

– Já vai pra casa? - Ouvi Chris perguntando do meu lado.

– Já sim, só estou esperando os dois voltarem. - disse guardando meu caderno. As vezes anotávamos algo que a professora falava entre uma apresentação e outra.

– Amy e Chris? - ouvi a professora chamando, parei no mesmo momento de guardar minhas coisas e virei-me para ela. Todos do auditório nos observaram, Ashley e Lipe sorriram. Senti meu rosto esquentar. - Ashley me disse que vocês os ajudaram nessa música. Poderiam nos dar o prazer de ouvi-los cantar?

Olhei para Chris, ele já tinha se levantado e estava com o braço estendido para mim. Desviei os olhos por um minuto dele e acabei encontrando o olhar de Lindsey. Seus olhos reluziam ódio, ela negou discretamente com a cabeça. Engoli em seco e só para contrariá-la aceitei a mão de Chris e fomos juntos nos preparar para apresentar.

– Vamos cantar com quais instrumentos? - Ouvi-o perguntar assim que chegamos atrás do palco.

– Que tal piano e vilão? Não sei se conseguiria cantar olhando para toda aquela gente. - Estremeci só de pensar.

– Você sabe que uma hora ou outra terá que enfrentar seu medo, né? - Ele fitou meus olhos. Senti meu corpo esquentar e meu coração acelerou só com seu olhar. Estava ficando perigoso ficar perto dele. - Por mim tudo bem. Vou pegar o violão.

Nos olhamos por mais um tempo até ele se afastar com um suspiro. Respirei fundo na tentativa de acalmar meu coração que batia acelerado. Eu só precisava fingir que estava no banheiro, não precisava me preocupar com as notas altas. Já tinha feito isso antes.

Fiquei repetindo isso até Chris voltar segurando um violão da mesma cor do piano, preto.

– Não precisa ficar nervosa. - Ele me deu um sorriso encorajador. Como ele sabia que eu estava nervosa? - Olhe nos meus olhos, você consegue. Sua voz é linda, não tem porque ficar assim.

Assenti levemente e corei. Ele sorriu e entrou no palco, entrei logo depois. Posicionei-me na banqueta do piano, Chris puxou um banco e sentou ao meu lado, um lugar onde eu poderia olhá-lo quando quisesse.

Comecei a tocar lentamente, como sempre fiz. Só que dessa vez Chris me acompanhou com o violão. Cantamos exatamente do mesmo jeito que fizemos no vestiário. Só que dessa vez eu pude observá-lo cantar. Segui tocando e cantando por instinto, aqueles olhos me prenderam. Ele me olhava com tamanha intensidade que era difícil dizer o que sentia, parecia que queria dizer algo, mas o que?

Não me importei se tinha gente observando ou não, só cantei com ele e para ele. Seus olhos brilhavam e eu não duvidava que os meus estivessem do mesmo jeito. Só quando terminamos de cantar que eu percebi um sorriso brincando em meus lábios. Chris também sorria, um lindo sorriso de lado. Mas quando me lembrei da turma que nos assistia meu sorriso minguou e senti minhas bochechas corarem.

– Você foi perfeita, não se preocupe. - Chris disse em meu ouvido. Assenti levemente com a cabeça e nos viramos para olhar a professora. Ela nos olhava incrédula, Ash e Lipe que estavam ao seu lado sorriam largamente. Já estava ficando ansiosa com aquele silêncio.

– Acho que temos mais uma dupla fixa. - ela disse simplesmente, sorrindo.

Como assim, produção?! Isso, definitivamente, não poderia estar acontecendo. Eu tentando evitar Chris, agora deveria fazer dupla com ele. Senti um frio percorrer minha espinha só de olhar para o ódio estampado na cara da Lindsey.

– Por hoje é só, turma. Estão liberados. - disse a professora enquanto guardava algumas folhas em sua pasta. - Amy e Chris, preciso falar com vocês antes de irem.

Apenas assenti com a cabeça e desci do palco. Podia sentir todo meu corpo tremendo por causa da adrenalina que se esvaía, por que diabos eu ficava vendo coisas onde não existiam? Chris não sente nada por mim e ponto. Nem tem porque ele ficar me olhando de forma diferente. Quase... Especial.

Ignorei aquele formigamento em meu ventre e fui falar com Ash e Lipe, saber o que eles tinham conversado com a professora pra ela ter me mandado cantar com Chris.

– Amiga! - Ouvi Ashley me chamar, ela estava na lateral do palco, por onde eu tinha subido. Fuzilei-a com o olhar e ela sorriu. Sorriu! Eu ia matar essa traíra. - Não me mate. - ela disse, levantando os braços em sinal de rendição.

– Ainda bem que você sabe exatamente o que eu estou pensando. Poupa-me ter que explicar o que quero fazer. - comentei sarcástica. Ainda estava com raiva. Sabia que ela tinha planejado isso.

– Eu vi que você estava ignorando ele. E também vi ele te dando mole. - Ela estava tentando se explicar. Revirei os olhos. - Eu sei que prometi te ajudar a esquecê-lo, mas e se você estiver errada? Já cogitou essa ideia? E se ele não estiver afim de outra menina?

– Ele me confessou isso, Ashley. Por favor, não dificulte as coisas. - disse antes de virar as costas e ir para onde a professora estava.

– Ah! Aí está ela! Minha brasileirinha talentosa! - A professora estava animada, o porquê eu não sabia. - Vou direto ao ponto já que os dois estão aqui. Eu quero que sejam as vozes principais do festival de inverno. Eu sei que falta muito tempo até lá, mas como é o festival mais famoso e o que abrimos para toda a cidade, quero que saia perfeito. Vocês vão fazer o dueto principal. Primeiro você entra, Amy. Canta um solo. Só voz e piano, como você gosta. - Enquanto eu a observava, incrédula, Chris sorria. Os olhos da professora brilhavam enquanto ela falava. - Depois do seu solo terá uma pequena apresentação de dança, coisa de um minuto e meio ou dois, no máximo. E quando acabar eu quero que façam o dueto. Com playback. - Ela olhou diretamente para mim. Engoli em seco antes de confirmar com um leve aceno. - Depois o mesmo procedimento com você, Chris. Uma pequena apresentação e depois o seu solo. Tudo bem pra vocês? Eu sinceramente não imagino um casal melhor pra fazer isso. A química que vocês têm no palco, a forma como a voz de um completa a do outro, a maneira como se olham. – ela comentou com um ar sonhador, não sabia o que dizer. – Vocês estão namorando? Porque eu pude sentir um sentimento muito forte de onde eu estava sentada.

Senti meu coração disparar e meu rosto esquentar. Estava tão na cara assim? Escutei Chris pigarrear, ele também parecia incomodado.

– Mais alguma coisa, professora? - Chris perguntou, provavelmente para disfarçar o clima que tinha se formado e interromper o olhar questionador da professora. Agradeci mentalmente a ele por isso.

– Não. Só isso mesmo. Durante o ano conversamos mais. Vou dar a chance de vocês escolherem as músicas que irão cantar. Só vou esperar estar mais perto para comunicar a turma, tudo bem para vocês?

– Não vejo problemas nisso. Amy? - Chris olhou para mim.

– Nenhum.

– Ótimo! Estão liberados. Ah! Preparem uma música para a próxima aula, como eu disse, vocês são uma dupla fixa agora. E Amy, quero que cantem com playback e como se fosse a apresentação de vocês, temos que treinar a presença de palco dos dois. - Dito isso ela se retirou, como se nada tivesse acontecido. E Chris ainda sorria levemente. Por que aquele menino tinha que ter um sorriso tão encantador?!

Sem dizer nada eu me retirei também, logo ouvi Chris me seguindo.

– Legal nós sermos uma dupla agora, né? - ele disse numa tentativa, falha, de iniciar uma conversa. Eu definitivamente não estava de bom humor hoje.

– Tanto faz.

– Poderemos ser tipo a Viúva Negra e o Hulk de Os Vingadores. Ou então Felicity e Oliver de Arrow. Ou então...

– Eu já entendi, mas esqueça. Não somos um casal. - cortei ele. Não queria começar a imaginar coisas onde não existiam. E ele estava apenas tentando me enganar. Ele ergueu os braços em sinal de rendição. E sorriu.

...

Minha mãe conseguiu remarcar o compromisso no hospital para a próxima sexta, então nosso dia de mãe e filha seria na nessa sexta, ou melhor, amanhã.

Estava na última aula antes do intervalo para o almoço, matemática avançada. Ashley tinha me convencido a ir almoçar com ela e Lipe no refeitório hoje, como "pessoas normais". Foi o que ela disse. Eu evitava almoçar lá, era a minha maneira de também evitar Lindsey. Não que eu estivesse com medo dela por causa das ameaças, que depois de eu ter virado dupla fixa de Chris nas aulas de arte tinham aumentado, mas sim porque ela não tinha pudor algum. Ela se agarrava com um menino diferente por dia, felizmente só não tirava a roupa na frente de toda a escola. Se ela não tinha vergonha, eu tinha por ela. Esse era um bom motivo pra eu não ir ao refeitório e almoçar no jardim, embaixo de uma árvore e lendo um bom livro.

O professor nos liberou 10 minutos mais cedo que o horário normal. Juntei todos os meus livros e enquanto ia guardar o material no meu armário eu mandei uma mensagem pra Ashley, avisando que a esperaria no refeitório. Ela estava tendo aula com Chris e Lipe, ela poderia avisá-los. Isso pouparia o tempo de Chris, já que ele sempre me esperava sair da sala e me acompanhava até o jardim, onde ficava comigo até o fim do intervalo.

Como ainda estava cedo, não tinha fila no refeitório. Peguei meu almoço e fui me sentar na mesma mesa que eu tinha me sentado na minha primeira vez ali. Não demorou muito para o local começar a encher e meus amigos chegar. O silêncio se transformou em um barulho ensurdecedor, mas, de certa forma, eu me sentia bem no meio daqueles três.

– Aí o professor disse que se ela se pronunciasse mais uma vez na aula, ela iria direto para a sala do diretor! Vocês tinham que ter visto a cara dela! - Ashley estava tentando falar em meio a gargalhadas sobre o que tinha acontecido em sua aula de Filosofia, a única que ela tinha com Lindsey. Ao que parece, Lindsey estava discutindo com o professor sobre homossexualidade e acabou sendo, digamos que, indelicada com ele, que é gay. - Falando no diabo... - ela cochichou, apenas para que eu escutasse. Os irmãos estavam conversando alheios a nossa conversa.

Como eu estava de costas para a porta do refeitório, nem fiz questão de me virar para vê-la entrar e se agarrar com mais outro garoto. Logo senti um líquido gelado escorrendo por minha cabeça e por minhas roupas. Olhei para Ash, que estava com uma cara de espantada, e respirei fundo. Calma, Amy. Não agarre o pescoço dessa cretina. Seja superior a ela.

Contei de 1 até 10 na minha mente, na tentativa de me acalmar. O refeitório tina caído em um silêncio mortal. Aposto que se eu deixasse cair uma agulha no chão poderia escutá-la se chocando contra ele. Assim como todos esperavam a minha reação. Sua voz irritante mente falsa chegou primeiro aos meus ouvidos do que suas mãos em minhas roupas tentando, muito falsamente, diminuir o estrago. Ela estava espalhando seja lá o que ela jogou em mim!

– Desculpa, Amy! Eu escorreguei. Sinto muitíssimo mesmo por isso! - Virei-me, finalmente, para Lindsey. Queria olhá-la nos olhos, só pra confirmar minha suspeita. - Perdoe-me. - disse, olhando-me cinicamente. Isso era outro de seus "avisos" de "fique longe de Chris". Ela queria jogar? Ótimo, vamos jogar. Sei ser tão falsa quanto ela.

– Não tem problema, Lind. - respondi dando de ombros e levantando-me. Pronunciei seu apelido com o ar mais falso que eu pude, só pra deixar claro que eu tinha entendido o que ela queria. Ela podia ser mais alta que eu, mas ela não me intimidava. - Vou ao vestiário trocar essa roupa, não queremos que ela manche, não é mesmo? - Imitei seu sorriso cínico e a vi ficar séria. Será que ela achou que conseguiria me fazer perder o controle? Coitada, mal sabe o quão bem treinada eu fui.

– Se precisar de ajuda é só chamar.

– Não, obrigada. Não queremos que ocorra um outro acidente, né? - Sorri, ela entendeu meu recado. - Se me der licença. - Estava passando por ela quando ela segurou meu braço e me puxou para perto.

– Fique longe dele. Já avisei. - sussurrou em meu ouvido, me soltando logo depois.

– Me force. - respondi e saí de lá de cabeça erguida. Assim que passei pela porta ouvi as pessoas voltarem a conversar normalmente.

Segui direto para o vestiário. Eu precisava pensar, eu não podia ficar para as aulas com as roupas sujas e meu cabelo cheirando a maracujá. Maracujá? Droga, tinha esquecido que ela sabia da minha alergia. Fiz o restante do percurso correndo e fui direto até o chuveiro, tirando minha roupa pelo caminho, deixei do lado de fora do box e entrei. Não demorou muito para alguém entrar no vestuário também.

– Amy? Você tá bem? Eu e os meninos ficamos preocupados, eles queriam vir também e... - Era minha amiga.

– Ela sabe que eu gosto do Chris. - disse enquanto lavava meu cabelo, interrompendo-a.

– Como? - Ashley perguntou enquanto deixava uma toalha para mim estendida do lado de fora do box.

– Ela derrubou suco de maracujá em mim e me mandou ficar longe dele. Ainda me ameaçou, de novo. Ela com certeza sabe que eu gosto do Chris. - Ela já sabia de toda essa confusão com Lindsey e das ameaças.

– Ela é louca, com certeza.

– Esquece isso, preciso pensar em que roupa vou vestir agora. Como hoje a aula de educação física é opcional, eu não trouxe roupa extra. O que vou vestir?

– Também não trouxe. - Ela fez uma pausa como se estivesse pensando. - E se você ligasse e pedisse pra alguém trazer?

– Meus pais estão trabalhando e Will e Samantha estão na faculdade. Nada feito. Ainda tenho que assistir as aulas de hoje. - Ficamos um tempo em silêncio até ela quebrá-lo.

– Espera! Tem uma roupa que você pode usar. - ela disse animada. Peguei a tolha e enrolei em meu corpo para sair do box.

– Ótimo. Qual?

– Você vai querer me matar só por estar sugerindo ela... - Ela fez uma cara maliciosa e logo eu entendi de qual roupa ela estava falando.

– Não. Não, não, não, não e não. Eu me recuso a usar aquele projeto de roupa! - Tinha que haver outra opção.

– Você sabe que é sua única opção. E como você nunca cogitou usá-la a menos que seja necessário, ela ainda está no seu armário. E tenho certeza que o diretor vai gostar de vê-la, finalmente, usando o uniforme das líderes de torcida. Você sabe que temos que usar às vezes.

Droga, ela tinha razão? Quais outras opções eu tinha? Precisava de outras, eu não podia ir pra aula com um projeto de saia e uma blusa que não cobrisse nem um palmo da minha barriga.

– Sem contar que os meninos só terão olhos pra você com aquele uniforme. Ouvi falar que estavam fazendo um bolão. Quem fica mais gostosa no uniforme? Lindsey ou Amy? Eu aposto que você tá ganhando.

Senti meu rosto esquentar, muito.

– Por favor, me diga que eu tenho outra opção. - choraminguei. Não queria usar aquela roupa que não cobria quase nada.

– Você tem dez minutos antes do intervalo acabar. - ela disse indo até meu armário e pegando o uniforme. - Pode usar meu tênis já que usamos o mesmo número.

Terminei de me secar e pentear meu cabelo e Ashley voltou pra sala. Fiquei um tempo encarando o uniforme. A mini blusa, que mais parecia um top, era colada ao corpo e deixava meu umbigo a mostra, por sorte a saia era de cintura alta e não deixava tanto da minha barriga pra fora, mas o que ela escondia em cima, mostrava embaixo. Mas só tinha essa opção, era isso ou perder as aulas. Mesmo contrariada, resolvi vestir o uniforme. A saia tinha um short por baixo, pelo menos isso.

Analisei-me no espelho. A saia ficava pouco mais de um palmo acima do joelho e, graças a blusa curta, uns quatro dedos da minha barriga estavam a mostra também. As cores azul royal e branca do uniforme se destacaram na minha pele alva. Guardei minhas roupas sujas em uma bolsa extra que eu deixava no armário e deixei-a separada, quando eu estivesse indo pra casa eu pegava.

A maioria da escola já te viu de maiô, o que tem te verem com a farda das líderes de torcida? Pensando nisso encontrei minha coragem pra sair do vestiário com aquele projeto de roupa. Faltava um minuto para o intervalo acabar, Ashley e os meninos estavam me esperando no pátio, logo na saída da quadra.

– Ainda esgano aquela garota. - comentei quando estava perto o suficiente dos meus amigos. Phillipe e Chris, que até então estavam de costas, se viraram assustados, e logo senti o olhar de Chris percorrer cada canto do meu corpo. Senti meu corpo esquentar com a intensidade do olhar dele. - Não digam nada. - ameacei os dois, fuzilando-o com o olhar.

– As brasileiras são outro nível. Acho que nem com um ano de academia eu conseguiria ficar com as pernas tão grossas quanto as suas, Amy. - Ashley comentou, também analisando meu corpo.

– Dá pra vocês pararem? Já não estou me sentindo bem com esse projeto de roupa, acabo ficando pior com esses olhares de vocês. - disse, meu rosto esquentando de novo. Droga de pele clara, eu corava com muita facilidade. - Algum de vocês pode me emprestar um casaco? Quero amarrar na cintura pra disfarçar um pouco a indecência dessa roupa.

– Você tá gata com essa roupa, largue de drama. - Ashley comentou com falsa indignação. Fuzilei-a com os olhos e ela sorriu. Revirei os olhos.

Por sorte Phillipe atendeu meus apelos e me emprestou seu casaco, mesmo sob os protestos do irmão e da namorada, que alegavam que eu deveria mostrar mais o corpo que eu tinha. Balela.

Tive que ficar o dia inteiro escutando piadinhas e cantadas sem graça dos meninos da minha turma, principalmente de Eric. Quando a última aula acabou eu por pouco não me ajoelhei para agradecer. Fui direto para o meu armário guardar minhas coisas, não demorou muito para Chris chegar.

– Vamos passar uma música hoje. - Não era uma pergunta. Tentei protestar, mas ele já me arrastava até o auditório. - Nada de reclamação, somos uma dupla, esqueceu? Próxima aula vamos fazer uma demonstração com playback para toda a turma e você só canta se estiver tocando. Então, não. Você não tem a opção: eu não quero ensaiar. - ele disse a última parte com uma voz fina, numa tentativa ridícula de imitar a minha voz. Revirei os olhos e acompanhei-o sem reclamar. De certa forma ele tinha razão.

– Conhece a música A Drop in the Ocean? - ele perguntou assim que subimos no palco do auditório.

– Conheço sim, por quê? - Sentei-me na banqueta do piano, por puro hábito.

– Escolhi essa música para cantarmos. Espera aqui que vou ligar o celular no som para preparar o playback. - Ele sumiu atrás das cortinas, mas não demorou muito para voltar com um controle na mão. - Vamos começar como fizemos com a outra música, você é boa com a divisão.

– Por mim tudo bem. Comece cantando que eu entro.

A letra daquela música tinha um significado, eu sabia disso. Só não entendida o porquê dele tê-la escolhido pra cantar comigo.

Encaixamos nossas vozes como fizemos da outra vez, cantando a capela.

– Ela vai enlouquecer quando ouvir isso. - Ouvi-o comentando consigo mesmo. O que será que ele estava tramando? Será que ele estava pensando em cantar comigo para impressionar a garota que ele gosta? Será que ele seria capaz de fazer isso?

Passamos a música mais duas vezes, só que dessa vez com o playback. Na terceira vez passamos enquanto trabalhávamos nossa presença de palco. Não importava o que fazíamos, nós não quebrávamos nosso contato visual.

But I'm holding you closer than most (Mas eu estou te segurando mais perto que nunca)

Enquanto cantávamos acabamos nos aproximando, ele estava bem próximo, tive que olhar para cima para olhá-lo nos olhos.

'Cause you are my heaven (Porque você é meu paraíso)

You are my heaven (Você é meu paraíso)

Cantamos juntos o final e o último verso ele cantou sozinho, enquanto eu fiz uma segunda voz, causando um arrepio que percorreu todo meu corpo.

A música tinha acabado, mas não nos separamos, muito menos paramos de nos olhar. Quando eu menos esperava ele passou um braço na minha cintura e acabou com qualquer espaço que existia entre nós, avançando em meus lábios.

Todo meu corpo se arrepiou ao entrar em contato com o dele, permiti-me passar meus braços em seu pescoço e enrolar meus dedos em seu cabelo. Como eu queria fazer aquilo! Seu cabelo era macio e sedoso, como eu tinha imaginado. Senti quando sua mão chegou ao meu pescoço e involuntariamente puxei seu cabelo levemente. Ele me empurrou contra o piano e desceu seus beijos pelo meu pescoço. Pude sentir meu ventre formigando e um calor subir por todo meu corpo. Foi quando eu percebi o que realmente estava acontecendo. Chris estava me beijando. Ele gostava de outra. Eu estava sendo apenas mais uma pra ele.

Todo o eu corpo foi inundado por raiva e frustração. Eu, definitivamente, não queria ser mais uma na lista dele. Afastei-o rapidamente, peguei minha bolsa e desci do palco. Precisava ir pra casa e eu iria, nem que eu fosse andando.

– Amy, espera. - Escutei Chris gritando atrás de mim. Ele segurou meu braço e virei-me para ele. O que ele queria agora? Segurei a vontade de chorar e explodi.

– Esquece, Chris. Você já me disse que gosta de uma menina, não vou te deixar fazer besteira por causa do calor do momento. Sou sua amiga, não vou deixar que você estrague alguma coisa a mais por um caso. - disse simplesmente e saí, praticamente correndo, dali. Ele não veio atrás de mim.

Assim que cheguei ao estacionamento do colégio pude ver o carro que meu pai tinha dado para Will e ele estava encostado no capô, como se estivesse esperando alguém. Quando percebeu que eu estava chegando ele se aproximou, analisando-me de cima a baixo, já tinha até esquecido que estava com pouca roupa.

– Por que não avisou que vinha? - perguntei tentando disfarçar minha raiva. Ele não respondeu nada, só se aproximou ainda mais de mim e me beijou! Sério! O que estava acontecendo com esses homens? Não conseguiam mais se controlar?

Não correspondi ao seu beijo, coloquei minhas mãos em seu peito e comecei a empurrá-lo, mas ele rodeou seus braços em minha cintura, me puxando para mais perto e apertando aquela região com força demais. Não sei como aconteceu, apenas senti quando ele me empurrou contra um carro, me prendendo entre ele e seu corpo.

Arfei devido ao impacto.

Como empurrar não estava dando certo, tentei chutá-lo. Droga! Por que eu tinha que ser tão baixa?

Ainda estava com a boca fechada, já começando a ficar sem ar. Eu sabia que se e abrisse a boca, para respirar ou gritar por ajuda, ele iria se aproveitar disso.

Mas eu não estava aguentando mais, precisava respirar. Tudo isso aconteceu em questão de segundos, quando tentei abrir a boca para puxar um pouco de ar ele me calou com um beijo violento. Senti o gosto do álcool, Will estava bêbado. Tentei meu último artificio contra ele, já que nem chutar e nem empurrar estava dando certo. Eu o mordi.

Reuni toda minha força e mordi seu lábio inferior o mais forte que pude. Senti o gosto de sangue, mas mesmo assim ele não se desgrudou de mim, só apertou ainda mais a minha cintura. Por sorte alguém o puxou violentamente para trás. Só então percebi que ele me segurava com tanta força, era ele quem me segurava de pé.

Caí de joelhos no chão, usando minhas mãos para não bater de cara com o concreto. Estava ofegante, sentia o gosto do seu sangue em minha boca e quando levei meus dedos aos lábios, senti-os molhados. Eu o tinha mordido com tanta força que seu sangue escorreu em minha boca.

Quando o choque inicial passou consegui distinguir alguns sons de briga, assim que consegui me levantar, usando o carro como apoio, vi o que estava acontecendo.

Chris estava por cima do Will desferindo socos descontrolados em sua face. Se ele morresse a culpa seria minha.

Imediatamente fui pra cima dos dois, tinha que dar um jeito de acabar com a briga.

– Chris, sai de cima dele. Agora. - exigi enquanto tentava tirá-lo de cima do outro que tentava devolver os socos. - Você vai matá-lo! - Chris saiu bruscamente de cima de Will, me derrubando no chão, e olhando-me incrédulo.

– Não acredito que vai defendê-lo! Ele estava te agarrando! - Chris parecia revoltado. Oi? O que eu tinha perdido, produção? Era a segunda vez que ele ficava assim quando alguém me beijava, ou tentava.

– Ele está bêbado, com certeza alguma coisa aconteceu. - respondi, ignorando sua revolta e os meus pensamentos a respeito do ocorrido. Será que ele estava com ciúmes? Não seja idiota, Emily. Chris não gosta de você.– Você quase o matou.

– Verdade. Deveria ter terminado o serviço, não é mesmo? - ele respondeu sarcástico e virou-se para bater em Will novamente. Corri para ficar entre os dois.

– Nada disso. Fique bem aí! Paradinho! - Chris bufou e cruzou os braços na altura do peito. Só então percebi que Will tinha acertado seu rosto também. - Chris, sua boca. - Tentei me aproximar, mas ele se afastou. Aquilo me magoou um pouco, mas tinha que ser assim. A distancia era a melhor proteção que eu poderia ter do que sentia por ele.

– Não foi nada. Vai cuidar do seu amiguinho aí. - Dito isso ele saiu, sem ao menos olhar pra trás.

Senti como se ele estivesse levando parte de mim junto. Involuntariamente coloquei minha mão na boca, lembrando-me do nosso beijo. Um sorriso bobo brincou em meus lábios com a lembrança, mas ele logo se desfez ao lembrar do porquê eu parei o beijo. Com um suspiro ajudei Will a se levantar e levei-o até o banco do carona do carro.

– Onde você estava com a cabeça quando me agarrou daquele jeito? - perguntei em tom de repreensão. Ele me olhou como se pedisse desculpa. Senti algo estava errado. - O que aconteceu com você?

Ele baixou o olhar com um ar triste. Eu sabia! Alguma coisa tinha acontecido! Abri o porta luvas do carro e peguei um kit de primeiros socorros que eu tinha visto ali outro dia. Levantei seu queixo para ele olhar pra mim e comecei a limpar suas feridas.

– Você sabe que pode contar comigo, né? - perguntei suavemente, vi seus olhos marejados. O medo estava presente neles. - Quer conversar sobre isso? - tentei novamente. Já tinha terminado de limpar seu rosto. Pelo menos ele não tivera nenhum ferimento grave. Guardei tudo no kit e juntei toda a gaze e o algodão que eu usara para depois jogar fora. Fiquei agachada na sua frente, esperando ele se pronunciar de alguma forma.

– Eu... - Sua voz sumiu. Parecia que ele estava em uma batalha interna. Minha preocupação aumentou quando vi uma lágrima solitária percorrer o caminho de seu olho até o queixo, onde ela caiu em sua calça, deixando sua marca lá. - Meu pai tá no hospital. - Ele disse por fim, mais lágrimas caíram. Eu estava chocada. Como assim o senhor David estava hospitalizado? - Ele teve um AVC, eu não vi quando aconteceu, só o encontrei quando já estava caído no jardim. - Enquanto ele falava mais lágrimas caíam. - Ele não tinha me falado nada sobre nenhuma dor, se ele tivesse dito alguma coisa, qualquer coisa, eu o teria levado ao médico.

– Will, não fique se culpando. Isso que aconteceu não foi culpa sua. Você o levou ao hospital não foi? Já fez o que poderia fazer. - disse tentando confortá-lo. A verdade é que eu nunca sabia o que dizer quando alguém era internado ou morria. São meras palavras. Todos dizem que sentem muito quando na verdade mal conheciam a pessoa. E nada do que ninguém disser poderá trazê-la de volta. Eu tinha aprendido aquilo da pior maneira quando meus avós morreram.

– Na verdade, sua mãe ligou para uma ambulância e ela foi com meu pai ao hospital. Eu fiquei muito alterado quando aconteceu, ela disse que seria bom eu me acalmar e só depois ir vê-lo. Acabei entrando no primeiro bar que encontrei aberto e bebi até não aguentar mais. Devo ter vindo pra cá porque queria te ver. Mesmo depois de tudo que aconteceu você não sai da minha cabeça. Acho que estou apaixonado por você, Amy. - Fiquei estática quando ele disse isso. Tudo bem que eu desconfiava, mas era completamente diferente quando ele falava com todas as letras na minha cara. Não sabia o que dizer, eu não sentia o mesmo por ele. Na verdade, eu nem sabia se sentia alguma coisa por ele além daquele calafrio que sempre percorria minha espinha quando o via. - Acho que eu sempre quis te beijar e a quantidade muito alta do álcool no sangue me ajudou a realizar meu sonho. - Ele abaixou a cabeça e sorriu fracamente, um sorriso triste. - Só que cheguei tarde. Digamos que seu namorado é um pouco ciumento e tem uma bela direita.

Pensei em negar, em dizer que Chris não era meu namorado. Mas se eu fizesse isso, será que ele desistiria de correr atrás de mim, um caso perdido, e seguiria com a vida? Não podia arriscar. Eu não tinha nada com Chris, mas também não queria nada com Will. Resolvi não negar e nem confirmar.

– Desculpe por aquilo, ele perde a noção das coisas às vezes. - Sorri fracamente e me levantei. Ajudei-o a entrar no carro, dei a volta e entrei no lado do motorista. Iria levá-lo ao hospital. Tinha que perguntar a minha mãe qual a real situação do pai dele.

– Ele só estava te defendendo. Eu que te devo desculpas por te beijar a força.

– Não vamos falar sobre isso, tudo bem? Agora nós vamos ver como seu pai está. Vamos esquecer que isso aconteceu. - Suspirei. - Temos que dar prioridade àqueles que mais amamos. Seu pai precisa de você forte, tente ser o que ele precisa. - disse simplesmente.

Eu sabia que um AVC era algo grave, nem sempre as vitimas conseguiam escapar ilesas. Ou morriam depois de um tempo ou ficavam com alguma sequela. Eu estava torcendo para que David não tivesse nenhum desses dois fins.

A única coisa que eu queria guardar desse dia, mesmo tendo acontecido sem querer, foi o beijo maravilhoso entre Chris e eu.


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Notas finais do capítulo

Iai, o que acharam? Sei que o primeiro beijo foi um pouco fraco, mas não queria detalhar muito, ela não queria beijá-lo sob essas circunstâncias... Mas o próximo capítulo teremos uma revelação sobre o passado de Chris e sobre quem é Melanie.. Assim que eu terminar de escrevê-lo (quando meu bloqueio resolver ir embora), eu posto..
Mais uma vez, me desculpem pela demora de postar.. Fico com o coração na mão toda vez que atraso tanto com as postagens..
Aah!! Se vocês quiserem que eu coloque alguma música que vocês gostam, é só me pedir.. Não importa se for nacional ou internacional.. Posso tentar encaixá-la de alguma forma na estória ^^