— Este ultimo tiro marcará o fim e o início. O fim da opressão contra os fracos, o fim do abuso daqueles que se colocaram no poder, da ostentação dos ricos, da degradação da alma; e o início de uma vida de igualdade, uma vida sem a miséria que este sistema trouxe à humanidade. Com este tiro, eu declaro o início do fim e instauro um governo que pela primeira vez será verdadeiramente pelo povo e para o povo.

Lá embaixo, a multidão que assistia ao discurso do líder do grupo - o qual apontava a arma para um homem ajoelhado - começou a murmurar. O líder, percebendo a insegurança daqueles que assistiam a tomada do poder, buscou incentivá-los mais uma vez com seu discurso.

— Este homem é o símbolo da velha geração. Ele viveu toda a sua vida apoiando-se na pobreza dos demais e ainda acredita que seu "sangue azul" dá a ele o direito de governar. A nobreza me dá nojo... Enquanto pessoas como ele ainda existirem nesse mundo, nunca seremos capazes de mudar o status quo! Ele acredita que nós não passamos de lixo diante dele, mas eu vou esclarecer as coisas - e nesse momento voltou-se para o homem ajoelhado e de cabeça baixa - "Vossa Alteza" é que é a verdadeira escória da humanidade!

Ele, então, expressou toda a sua raiva em um tiro surdo que silenciou até mesmo a mais discreta respiração. O silêncio invadiu profundamente aquele lugar, deixando nas pessoas apenas os olhos assustados que acompanhavam o corpo que caía da sacada do palácio do governo e pousava sem cerimônias, sem reação, sem censura na escadaria que dava à entrada do prédio. Momentos depois, esses mesmos olhos acompanhariam o líder que, seguido por todo o grupo, voltaria para o interior do local sem dizer mais uma palavra. Talvez estivesse arrependido de ter se precipitado e não esperado o apoio daquelas pessoas, mas agora era tarde e não podia demonstrar fraqueza. Sua imagem estava em jogo, e junto com ela o sucesso de sua revolução.