Achei estranho quando a bibliotecária veio me pedir ajuda. Isso, até saber exatamente para o quê era. Fotos. E por sorte eu havia trago minha câmera, por que com algumas comemorações chegando era meio provável que alguém pedisse minha ajuda.

Nós não íamos ter exatamente uma comemoração, e sim um evento.

Todos os anos, uma lista é anexada no quadro de avisos, completamente vazia e pronta para ser preenchida, com o nome de alunos voluntários. Geralmente apenas eu e Erick nos inscrevíamos com mais uns cinco ou seis alunos da nossa série, para passar um dia em uma instituição social para crianças. Não era exatamente uma instituição, se levar em conta que fora criada pelos próprios moradores da cidade, com o intuito de cuidar de crianças que foram abandonadas ou que não tem onde ficar. Uma vez ao ano, nossa escola se oferecia para ajudar. Nós, os voluntários, líamos historinhas, brincávamos com elas, alguns até levavam animais como gatinhos e cães inofensivos para animar as crianças de lá.

Não vou dar uma de boa menina e falar que eu anseio todo ano ansiosamente para este dia, porque eu não anseio. Sim, eu ajudo e tudo mais, e faço com prazer, mas não é algo que eu queira ficar repetindo sempre, às vezes sou egoísta a ponto de pensar em desculpas para faltar. Mas no último instante minha consciência pesa e eu acabo indo. Alicia não gosta muito de ir, ela nunca se voluntariou, e ela não me decepcionou quando disse que não iria.

Cheguei a biblioteca e encontrei várias faixas, panfletos e cartazes espalhados pelas várias mesas do local. Não entendi muito bem o que a Sra. Walker queria até ela me dizer.

Logo em seguida, comecei a tirar fotos de cartaz por cartaz, faixa por faixa, panfletos misturados, e só pude sair depois de prometer que escolheria as melhores fotos e mandaria para o e-mail da escola para que eles postassem no site. Era mais para incentivar as pessoas a participarem.

Depois disso, aquela semana ocorreu normal sem muitas coisas interessantes. Erick continuava analisando em como falar com Alicia, Lucas estava se ocupando cada vez mais com Brenda, e Thomas sumia todas as noites com Amelia. Até Ryan já havia ido uma ou duas vezes ao cinema com Molly, a garota que ele conheceu na festa.

A única diferença, é que um garoto que eu antes nunca nem reparara na vida, acabou se esbarrando comigo no final de uma aula, e depois de uma rápida conversa com vários “Aham, sei, legal e tenho que ir”, consegui me desvencilhar dele. O que eu não esperava mesmo é saber que eu parecia ser a única a não conhece-lo ali. Os outros e até mesmo Thomas, conseguiram me entregar a biografia quase inteira do rapaz, e todas sempre contendo no final um “Cuidado, ele é safado e sai pegando todas por aí. Você não vai querer entrar na lisa dele”. Ótimo, eu realmente não queria entrar, apesar das vezes em que nos esbarrávamos andavam ficando cada vez mais constantes.

Eu e Sean estávamos cada vez mais afastados. Agora já nem conversávamos mais. Tudo não passava de um breve aceno que começamos a trocar quando nos víamos.

Foi numa terça-feira comum que eu tive a brilhante ideia. Meus pais já estavam em casa a dias, e não se importariam se eu me comprometesse a dormir fora, e apesar de não gostar inicialmente da minha própria ideia, resolvi coloca-la em prática pelo bem maior de Erick e Alicia. Foi difícil, mas consegui convence-la de passar a noite de sexta na casa da Amelia, que aceitou de bom grado, e ainda fez questão de dar umas ajudas para o Erick, que também concordara com o “Plano”. Se isso não desse certo, eu nunca mais tiraria fotos na vida.

E essa foi a promessa mais estúpida que eu já fiz em toda a minha vida.