Culpa. É, eu também sentia isso, mas me lembrava toda a vez que esse sentimento aparecia, de que eu não era a única errada e então respirava fundo. Alicia tinha razão. Eu queria minha consciência limpa o mais rápido possível, tanto que o outro dia na escola fora uma verdadeira tortura para mim.

Nós duas decidimos esperar até o final da aula. Até lá, faríamos o mesmo de sempre, seguindo os mesmos caminhos, sentando na mesma mesa... Mas eles não. O dia foi praticamente como ontem, uma tortura para mim.

Eles não nos evitavam, mas também não olhavam pra nossa cara, e isso me irritava muito. Não diziam nada e definitivamente parecíamos não termos nos conhecido nunca. Que coisa frustrante! E Alicia estava igual. O que não quer dizer que demonstrávamos.

“Não se humilhe, ele também errou” – era a primeira coisa que eu pensava ao sentir vontade de voltar correndo para pedir desculpas.

Como sempre minha mãe tinha razão. Ele não era minha propriedade, portanto não poderia impedi-lo de ter amigos e seguir a sua vida. Mas de qualquer forma eu também queria seguir a minha. Então decidimos esquecer isso durante as aulas e evitar que prejudicasse nossas notas, até porque a minha não era das melhores. Nós duas conversamos sobre outras coisas, rimos da cara do Ryan aquele dia na festa do pijama, e prestamos atenção até onde pudemos, às aulas.

O que não me livrou de toda a angústia e ânsia de que chegasse logo a hora.

Erick e Sean não faziam questão nenhuma de nos encontrar nem nos corredores, o que fazia difícil os encontrar. As poucas vezes que nos víamos não trocávamos nem olhares, até porque é impossível quando apenas uma pessoa olha. Ou seja, eu.

Eu não deixaria transparecer que estava incomodada, seria a Claire de sempre e seguiria a minha vida sempre com aquela frase na mente:“Respira fundo, cabeça erguida, respira de novo, agora expira, respira mais uma vez, e vai na fé que tudo vai dar certo”.

E foi isso que recitei mentalmente para mim ao ouvir o ultimo sinal bater. Era agora.

Eu e Alicia seguimos para o corredor do vestiário, já que agora era aquele o destino deles ao final da aula. Nos apoiamos numa parede próxima e esperamos que eles viessem. O bom é que eles não desapontaram no horário. Em cinco minutos eles estavam avançando por aquele corredor em direção ao vestiário, quando nós bloqueamos sua passagem.

_ Espera. – Alicia falou antes que eles tentassem desviar – Não queremos que diga nada, apenas escute. – ela olhou em direção a Erick.

Ela conseguiu que eles ficassem parados no meio do corredor nos encarando sem expressão. Eu odiava isso. Me impedia de saber o que as pessoas estavam sentindo.

Eles continuaram em silêncio e Alicia também. Então, eu tomei a dianteira.

_ Só queríamos dizer que nós não tínhamos o direito de ter exigido tantas explicações de você aquele dia. E também que soubesse que nós entendemos que nunca merecemos o troféu de “melhores amigas do ano”, já que não fomos exatamente o esperado para um amigo de verdade. – comecei.

_ Nós não te apoiamos, e agora a gente se arrepende disso. O que não justifica a cobrança, o ciúme, e a falta de apoio moral. Só quero dizer que admito meu erro, e sinto muito por aquele dia. – Alicia continuou.

Enquanto isso eu concordei com a cabeça.

_ Só queria ter certeza de que fiz a minha parte. Então me desculpe. – Alicia terminou.

Erick não respondeu. Continuou parado e sem expressão como antes, e admito que aquilo me feriu muito, mas olhei para Alicia e nós duas sorrimos satisfeitas uma para a outra. Quando ela indicou o caminho de volta, pedi que ela esperasse um pouco, e enquanto Alicia seguia silenciosamente, mas satisfeita para a saída, eu os encarei uma ultima vez.

Agora ao invés de olhar para Erick, me virei para Sean.

_ Sinto muito por ter sido grosseira aquele dia. Você não tem nada a ver com isso e foi errado te culpar. – suspirei e me virei para Erick – E só mais uma coisa. Cuidado com Alicia. Pouco a pouco você a está perdendo, e ela não estará disponível para sempre. Acho que ela já esperou demais, e agora vai seguir a sua vida. Pense nisso antes que seja tarde.

A expressão deles não mudou, então eu dei meia volta, e dei as costas.

Mas desta vez, com a consciência limpa.